Há 11 anos, o
juiz Sergio Moro, escreveu o artigo “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”
(Operação Mãos Limpas), a megainvestigação nos anos 1990 que desvendou um
esquema de corrupção na Itália.
Hoje, ele usa os
princípios defendidos em 2004 como uma espécie de manual para a Operação Lava
Jato.
Operação Mãos Limpas ou Mani pulite
Operação Mãos
Limpas ou Mani pulite foi uma investigação judicial de grande envergadura na
Itália, tendo início em Milão, que visava esclarecer casos de corrupção durante
a década de 1990, na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982, que
implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a loja maçônica P2.
A Operação Mãos
Limpas levou ao fim da chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento
de muitos partidos políticos. Alguns políticos e industriais cometeram suicídio
quando os seus crimes foram descobertos.
No início dos
anos 90, o dissidente da KGB Vladimir Bukovsky trouxe dos Arquivos de Moscou as
provas de que praticamente toda a imprensa social-democrata da Europa tinha
sido financiada pela KGB durante a década de 80.
No começo, as
denúncias de Bukovsky não estavam despertando interesse, pois havia uma recusa
generalizada movida pelo pretexto de que não se deveria reabrir "velhas
feridas", e de que o assunto sobre a guerra fria era um assunto superado.
Até que pouco a pouco, os jornais passaram a dar atenção aos documentos de
Bukovsky e suas as graves implicações. Chegou a ser revelado que o o Partido
Comunista Italiano havia recebido pelo menos quatro milhões de dólares da KGB.
O Parlamento Italiano foi então pressionado pela opinião pública a realizar uma
devassa fiscal em todos os envolvidos o que provocou a reação do Partido
Comunista Italiano.
Como resposta o
PCI convocou juízes que estavam em seu quadro de colaboradores, para que
organizasse uma campanha de grande repercussão publicitária na mídia
internacional com objetivo mudar a estrutura polarizada que tradicionalmente
caracterizava a vida política da Itália, baseada na oposição entre regimes
democráticos e comunistas, tendo como resultado o descrédito de toda
reivindicação fundamentada no anticomunismo.
Assim, todos os
partidos políticos, com exceção do PCI, acabaram por serem investigados, ao
mesmo tempo que a campanha operação Mãos Limpas tomou para si, por meio de um
golpe publicitário, o mérito pelo combate a máfia, uma luta que já estava sendo
realizada desde a década de 1980 quando ficaram notórios os trabalhos
solitários de magistrados como Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, este ultimo
realizando seu combate contra a máfia durante onze anos em seu
escritório-fortaleza, e o testemunho do ex-mafioso Tommaso Buscetta por ser o
primeiro "capo" da máfia italiana a quebrar o código de silêncio ou a
omertà se tornado então um pentiti.
Durante a
campanha da operação Mãos Limpas, 2.993 mandados de prisão haviam sido
expedidos; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários,
1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido
primeiros-ministros.
A publicidade
gerada pela operação Mãos Limpas revelou à opinião pública que a vida política
e administrativa de Milão, e da própria Itália, estava mergulhada na corrupção,
com o pagamento de propina para concessão de todo contratos do governo, sendo
este estado de coisas apelidado com a expressão Tangentopoli ou "cidade do
suborno".
A operação Mãos
Limpas chegou a alterar a correlação de forças na disputa política da Itália,
reduzindo o poder de partidos que haviam dominado o cenário político italiano.
Todos os quatro partidos no governo em 1992 - a Democracia Cristã (DC), o
Partido Socialista Italiano (PSI), o Partido Social-Democrata Italiano e o
Partido Liberal Italiano - desapareceram posteriormente, de algum modo. O
Partido Democrático da Esquerda, o Partido Republicano e o Movimento Sociale
Italiano foram os únicos partidos de expressão nacional a sobreviver, e apenas
o Partido Republicano manteve a sua denominação.