Darcy
Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de
1997) foi um antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu
foco em relação aos índios e à educação no país.
Suas
ideias de identidade latino-americana influenciaram vários estudiosos
latino-americanos posteriores. Como Ministro da Educação do Brasil realizou
profundas reformas que o levou a ser convidado a participar de reformas
universitárias no Chile, Peru, Venezuela, México e Uruguai, depois de deixar o
Brasil devido ao golpe militar de 1964.
Darcy
Ribeiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Filho
de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes
Claros fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves
Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros.
Foi
para Belo Horizonte estudar Medicina, porém ao cursar disciplinas de Ciências
Sociais, decidiu-se por esta área. Em 1946, formou-se em antropologia pela
Escola de Sociologia e Política de São Paulo e dedicou seus primeiros anos de
vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da
Amazônia (1946-1956).
Notabilizou-se
fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia
e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem admirava Anísio Teixeira, um
dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início
da década de 1960, ficando também na história desta instituição por ter sido
seu primeiro reitor. Redigiu o projeto, como funcionário do Serviço de Proteção
ao Índio, do Parque Indígena do Xingu, criado em 1961. Também foi o idealizador
da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Publicou vários livros,
vários deles sobre os povos indígenas.
Darcy
Ribeiro foi ministro da Educação durante Regime Parlamentarista do Governo do
presidente João Goulart (18 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de 1963) e
chefe da Casa Civil entre 18 de junho de 1963 e 31 de março de 1964. Durante a
ditadura militar brasileira, como muitos outros intelectuais brasileiros, teve
seus direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar, vivendo durante
alguns anos no Uruguai.
Durante
o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy
Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a implantação dos
Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e
revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo
atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando
concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio.
Nas
eleições de 1986, Darcy foi candidato ao governo fluminense pelo PDT
concorrendo com Fernando Gabeira (então filiado ao PT), Agnaldo Timóteo (PDS) e
Moreira Franco (PMDB), mas foi derrotado nas urnas, com a eleição de Moreira.
Foi
responsável pela criação e pelo projeto cultural do Memorial da América Latina,
centro cultural, político e de lazer, inaugurado em 18 de março de 1989, no
bairro da Barra Funda, em São Paulo, assim como foi responsável pelo projeto de
lei que deu origem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB),
lei 9394/96 aprovado pelo senado brasileiro.
Exerceu
o mandato de senador pelo Rio de Janeiro de 1991 até sua morte em 1997 -
anunciada por um lento processo canceroso que comoveu o Brasil. Darcy, sempre
polêmico e ardoroso defensor de suas ideias, teve, em sua longa agonia, o
reconhecimento e admiração até dos adversários. Publica O Povo Brasileiro em
1995, obra em que aborda a formação histórica, étnica e cultural do povo
brasileiro, com impressões baseadas nas experiências de sua vida.
Universidade Estadual do Norte
Fluminense "Darcy Ribeiro"
A
implantação de uma universidade pública já era um sonho antigo da população de
Campos dos Goytacazes (RJ) quando uma mobilização da sociedade organizada
conseguiu incluir na Constituição Estadual de 1989 uma emenda popular prevendo
a criação da Universidade Estadual do Norte Fluminense. O movimento envolveu
entidades, associações e lideranças políticas. Seriam necessárias pelo menos 3
mil assinaturas, mas os organizadores conseguiram 4.141, sem contar milhares de
outras não qualificadas.
No
início da década de 1990, o grande desafio do movimento popular pró-UENF foi
cumprir o prazo legal para a criação da Universidade, sob pena de o artigo
constitucional tornar-se letra morta. Este prazo se extinguiria em 1990. Após
um intenso esforço coletivo de sensibilização das autoridades, finalmente foi
aprovada pela Assembleia Legislativa a lei de criação da UENF, sancionada pelo
então governador Moreira Franco em 8 de novembro de 1990. A Lei 1.740
autorizava o Poder Executivo a criar a Universidade Estadual do Norte Fluminense
- UENF, com sede em Campos dos Goytacazes. Em 27 de fevereiro de 1991, o
Decreto 16.357 criava a UENF e aprovava o seu Estatuto.
Com
a eleição de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio de Janeiro e sua
posse em 1991, o projeto da UENF ganhou novos rumos. Cumprindo compromisso de
campanha assumido em Campos (RJ), Leonel Brizola pôs em execução a implantação
da UENF, delegando ao professor Darcy Ribeiro a tarefa de conceber o modelo e
coordenar a implantação. Darcy fora o criador e o primeiro reitor da
Universidade de Brasília (UnB) e autor de projetos de instauração ou reforma de
universidades na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru.
Ao
receber a missão de fundar a UENF, Darcy se impôs o desafio de fazer da nova
universidade o seu melhor projeto. Concebeu um modelo inovador, onde os
departamentos - que, na UnB, já tinham representado um avanço ao substituir as
cátedras - dariam lugar a laboratórios temáticos e multidisciplinares como
célula da vida acadêmica. Cercou-se de pensadores e pesquisadores renomados
para elaborar o projeto da UENF e apresentou-a como a 'Universidade do Terceiro
Milênio'. Previu a presença da UENF em Macaé (RJ), onde viriam a ser
implantados os Laboratórios de Engenharia e Exploração do Petróleo (Lenep) e de
Meteorologia (Lamet).
As
marcas da originalidade e da ousadia que Darcy imprimiu a seu último grande
projeto de universidade se tornaram visíveis. A UENF foi a primeira
universidade brasileira onde todos os professores têm doutorado. A ênfase na
pesquisa e na pós-graduação, sem paralelo na história da universidade
brasileira, faz da UENF uma universidade para formar cientistas.
Em
23 de outubro de 2001, através da Lei complementar n.° 99, sancionada pelo
governador Anthony Garotinho, a Universidade conquista sua autonomia
administrativa, separando-se da antiga mantenedora. Ao conquistar a autonomia,
a instituição incorpora na prática o nome do seu fundador, passando a se chamar
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, conforme já previsto
pela Lei n.º 2.786, de 15 de setembro de 1997.
A
conquista da autonomia, marco na história da jovem universidade, veio após uma
luta sem tréguas de professores, estudantes e servidores
técnico-administrativos, com apoio da comunidade campista e setores importantes
da imprensa. A partir do reconhecimento de sua autonomia administrativa, a UENF
inicia um vigoroso movimento de aproximação com a sociedade regional, incluindo
as prefeituras, as agências de desenvolvimento, as instituições de ensino
superior e as entidades da sociedade organizada.
Cumpriu-se,
assim, mais uma etapa na história da obra-prima de Darcy Ribeiro no Norte
Fluminense. Se a criação da UENF nascera de um movimento épico da sociedade
campista, confluindo-se com os mais legítimos anseios da comunidade científica
brasileira, a conquista de sua autonomia administrativa e patrimonial seria
fruto de uma campanha heroica da própria comunidade acadêmica, de braços dados
com a sociedade regional.
No
IGC/2011, divulgado em 2012, a UENF foi considerada a melhor universidade do
Rio de Janeiro e a 11ª melhor do país.
Academia Brasileira de Letras
Darcy
Ribeiro foi eleito em 8 de outubro de 1992 para a cadeira 11, que tem por
patrono Fagundes Varela, sendo recebido em 15 de abril de 1993 por Cândido
Mendes.[5]
Em
seu discurso de posse, deixou registrado:
“Confesso que me dá certo tremor
d'alma o pensamento inevitável de que, com uns meses, uns anos mais, algum
sucessor meu, também vergando nossa veste talar, aqui estará, hirto, no
cumprimento do mesmo rito para me recordar. Vendo projetivamente a fila
infindável deles, que se sucederão, me louvando, até o fim do mundo, antecipo
aqui meu agradecimento a todos. Muito obrigado.
Estou certo de que alguém, neste
resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes
menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome.
Nisto consistirá minha imortalidade.”
Obras
Com
obras traduzidas para diversos idiomas (inglês, o alemão, o espanhol, o
francês, o italiano, o hebraico, o húngaro e o checo), Darcy Ribeiro figura
entre os mais notórios intelectuais brasileiros. Divididas tematicamente, foram
elas:
Etnologia
·
Culturas
e línguas indígenas do Brasil – 1957
·
Arte
plumária dos índios Kaapo – 1957
·
A
política indigenista brasileira – 1962
·
Os
índios e a civilização – 1970
·
Uira
sai, à procura de Deus – 1974
·
Configurações
histórico-culturais dos povos americanos – 1975
·
Suma
etnológica brasileira – 1986 (colaboração; três volumes).
·
Diários
índios – os urubus-kaapor – 1996, Companhia das Letras
Antropologia
·
O
processo civilizatório – etapas da evolução sócio-cultural – 1968
·
As
Américas e a civilização – processo de formação e causas do desenvolvimento
cultural desigual dos povos americanos – 1970
·
O
dilema da América Latina – estruturas do poder e forças insurgentes – 1978
·
Os
brasileiros – teoria do Brasil – 1972
·
Os
índios e a civilização – a integração das populações indígenas no Brasil
moderno – 1970
·
The
culture – historical configurations of the American peoples – 1970 (edição
brasileira em 1975).
·
O
povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil – 1995.
Romances
·
Maíra
– 1976
·
O
mulo – 1981
·
Utopia
selvagem – 1982
·
Migo
– 1988
Ensaios
·
Kadiwéu
– ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza – 1950
·
Configurações
histórico-culturais dos povos americanos – 1975
·
Sobre
o óbvio - ensaios insólitos – 1979
·
Aos
trancos e barrancos – como o Brasil deu no que deu – 1985
·
América
Latina: a pátria grande – 1986
·
Testemunho
– 1990
·
A
fundação do Brasil – 1500/1700 – 1992 (colaboração)
·
O
Brasil como problema – 1995
·
Noções
de coisas – 1995
Educação
·
Plano
orientador da Universidade de Brasília – 1962
·
A
universidade necessária – 1969
·
Propuestas
– acerca da la renovación – 1970
·
Université
des Sciences Humaines d'Alger – 1972
·
La
universidad peruana – 1974
·
UnB
– invenção e descaminho – 1978
·
Nossa
escola é uma calamidade – 1984
·
Universidade
do terceiro milênio – plano orientador da Universidade Estadual do Norte
Fluminense – 1993
Homenagens
O
campus principal da Universidade Estadual de Montes Claros se chama Darcy
Ribeiro.
Do
mesmo modo, o campus principal da Universidade de Brasília se chama Darcy
Ribeiro.
A
Universidade Estadual do Norte Fluminense se chama oficialmente
"Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro".
A
Usina de Biodiesel da Petrobras Biocombustível, em Montes Claros, se chama
"Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro"
É
o Patrono da Cadeira 28 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
O
famoso Sambódromo (passarela de samba) da Av. Marques de Sapucaí, tem como nome
original passarela professor Darcy Ribeiro
Faculdade
de Tecnologia Darcy Ribeiro (FTDR). Em Fortaleza hoje Faculdade Padre Dourado -
FACPED
A
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) possui um programa de licenciatura
nomeado "Programa Darcy Ribeiro".
O
Edifício onde a Controladoria-Geral da União é sediada, em Brasília, se chama
Ed. Darcy Ribeiro.
Em
Goiânia, existe uma escola municipal em sua homenagem, se chama Escola
Municipal Senador Darcy Ribeiro.
Escola
Municipal Darcy Ribeiro, em São Gonçalo
Câmara
dos Deputados: Prêmio Darcy Ribeiro de Educação
A
premiação consiste na concessão de diploma de menção honrosa e outorga de
medalha com a efígie de Darcy Ribeiro a três (03) pessoas físicas ou jurídicas,
escolhidas por este Colegiado entre aquelas indicadas por membros do Congresso
Nacional, cujos trabalhos ou ações mereceram especial destaque na defesa e
promoção da educação brasileira, a fim de concorrerem ao Prêmio Darcy Ribeiro
de Educação.