Napoleão
Bonaparte (em francês: Napoléon Bonaparte; Ajaccio, 15 de agosto de 1769 —
Santa Helena, 5 de maio de 1821) foi um líder político e militar durante os
últimos estágios da Revolução Francesa.
Adotando o nome de Napoleão I, foi Imperador dos Franceses de 18 de maio de 1804 a 6 de abril de 1814, posição que voltou a ocupar por poucos meses em 1815 (20 de março a 22 de junho). Sua reforma legal, o Código Napoleônico, teve uma grande influência na legislação de vários países. Através das guerras napoleônicas, ele foi responsável por estabelecer a hegemonia francesa sobre maior parte da Europa.
Adotando o nome de Napoleão I, foi Imperador dos Franceses de 18 de maio de 1804 a 6 de abril de 1814, posição que voltou a ocupar por poucos meses em 1815 (20 de março a 22 de junho). Sua reforma legal, o Código Napoleônico, teve uma grande influência na legislação de vários países. Através das guerras napoleônicas, ele foi responsável por estabelecer a hegemonia francesa sobre maior parte da Europa.
Napoleão
nasceu na Córsega, filho de pais com ascendência da nobreza italiana e foi
treinado como oficial de artilharia na França continental. Em 2011, um exame de
DNA de costeletas de Napoleão que eram guardadas em relicário confirmou a
origem caucasiana de Napoleão desmentindo uma possível ascendência árabe do
imperador.
Bonaparte
ganhou destaque no âmbito da Primeira República Francesa e liderou com sucesso
campanhas contra a Primeira Coligação e a Segunda Coligação. Em 1799, liderou
um golpe de Estado e instalou-se como primeiro cônsul. Cinco anos depois, o
senado francês o proclamou imperador. Na primeira década do século XIX, o
império francês sob comando de Napoleão se envolveu em uma série de conflitos
com todas as grandes potências europeias, as Guerras Napoleônicas. Após uma
sequência de vitórias, a França garantiu uma posição dominante na Europa
continental, e Napoleão manteve a esfera de influência da França, através da
formação de amplas alianças e a nomeação de amigos e familiares para governar
os outros países europeus como dependentes da França. As campanhas de Napoleão
são até hoje estudadas nas academias militares de quase todo o mundo.
A
Campanha da Rússia em 1812 marcou uma virada na sorte de Napoleão. Seu Grande
Armée foi seriamente danificado na campanha e nunca se recuperou totalmente. Em
1813, a Sexta Coligação derrotou suas forças em Leipzig. No ano seguinte, a
coligação invadiu a França, forçou Napoleão a abdicar e o exilou na ilha de
Elba. Menos de um ano depois, ele fugiu de Elba e retornou ao poder, mas foi
derrotado na Batalha de Waterloo, em junho de 1815. Napoleão passou os últimos
seis anos de sua vida confinado pelos britânicos na ilha de Santa Helena. Uma
autópsia concluiu que ele morreu de câncer no estômago, embora haja suspeitas
de envenenamento por arsênio.
Origens e educação
Napoleão
Bonaparte nasceu em 15 de agosto de 1769 em Ajaccio, Córsega, um ano após a
ilha ser transferida para a França pela República de Gênova, e foi o segundo de
oito filhos do advogado Carlo Maria Bonaparte e de Maria Letícia Ramolino, uma
família descendente da pequena nobreza da Itália, que chegou à Córsega vinda da
Ligúria ainda no século XVI. Foi batizado Napoleone di Buonaparte,
provavelmente adquirindo seu primeiro nome de um tio (apesar de um irmão mais
velho, que não sobreviveu à infância, também ter se chamado Napoleone), e anos
depois mudou seu nome para Napoléon Bonaparte.
Carlo
Maria Bonaparte, pai de Napoleão, foi nomeado representante da Córsega na corte
de Luís XVI de França em 1777. A influência dominante na educação de Napoleão
foi sua mãe, que criou com pulso firme o indisciplinado filho. Teve os irmãos
José, Lucien, Elisa, Louis, Pauline, Carolina e Jerônimo. Havia também outras
duas crianças, um menino e uma menina, que nasceram antes de José, mas morreram
ainda na infância. Napoleão foi batizado pouco antes de seu segundo
aniversário, em 21 de julho de 1771, na Catedral de Ajaccio.
Seu
passado de relativa nobreza e suas conexões familiares permitiram que ele
tivesse boas oportunidades de educação, acima da média da época para a região. Em
janeiro de 1779, Napoleão estava matriculado em uma escola religiosa em Autun,
para aprender francês, e em maio entrou na academia militar em
Brienne-le-Château. Falava com um sotaque córsego e nunca aprendeu a soletrar
corretamente. Foi provocado por outros estudantes por causa de seu sotaque e
começou a se dedicar à prática da leitura. Ele era notavelmente dedicado em
matemática, e também muito familiarizado a história e geografia.
Ao
completar seus estudos em Brienne, em 1784, Napoleão entrou para a Escola
Militar de Paris, e ainda que sempre tenha se interessado, a princípio, em uma
formação naval, acabou estudando para se tornar oficial de artilharia, e quando
a morte de seu pai reduziu sua renda, foi forçado a terminar o curso de dois
anos em apenas um.
Início da carreira
Ao
se formar, em setembro de 1785, Bonaparte se tornou segundo tenente do
regimento de artilharia de La Fère, e serviu em Valence e Auxonne, até a
eclosão da Revolução Francesa em 1789. Napoleão passou os primeiros anos da
revolução em Córsega, atuando em uma complexa luta entre realistas,
revolucionários e nacionalistas córsegos. Apoiou os jacobinos revolucionários,
foi promovido a tenente-coronel e comandou um batalhão de voluntários. Então,
em julho de 1792 conseguiu convencer as autoridades de Paris a promovê-lo a
capitão. Voltou para a Córsega e entrou em conflito com o líder local Pasquale
Paoli, que sabotou uma investida francesa na ilha italiana de La Maddalena,
onde Bonaparte era um dos líderes da expedição, e por causa disso Bonaparte e
sua família tiveram de fugir para a França continental em junho de 1793.
Cerco de Toulon
Em
julho de 1792, Napoleão publicou um panfleto pró-republicano, Le Souper de
Beaucaire, o que fez com que ele ganhasse a admiração e o apoio de Augustin
Robespierre, irmão mais novo do líder revolucionário Maximilien Robespierre.
Com a ajuda do companheiro corso Antoine Christophe Saliceti, Bonaparte foi
nomeado comandante da artilharia das forças republicanas no cerco de Toulon. A
cidade havia se sublevado contra o governo republicano e foi ocupada por tropas
britânicas. Ele usou um plano para capturar um monte que permitiria que
dominassem o porto da cidade e forçassem os navios ingleses a evacuar. A
ofensiva, durante a qual Napoleão foi ferido na coxa, levou à captura da cidade
e à promoção dele a general de brigada. Suas ações chamaram a atenção do Comitê
de Salvação Pública, e ele foi encarregado da artilharia do exército francês na
Itália. Enquanto esperava pela confirmação do cargo, Napoleão passou um tempo como
inspetor de fortificações costeiras na costa do Mediterrâneo, perto de
Marselha. Arquitetou planos para atacar o Piemonte como parte da campanha
contra a Primeira Coligação e então foi mandado em missão, por Augustin, à
República de Gênova, para entender as intenções do país em relação à França.
13 Vendémiaire
Após
a queda dos irmãos Robespierre no 9 Termidor, em julho de 1794, Bonaparte foi
colocado sob prisão domiciliar em Nice por sua associação com eles. Foi
libertado após duas semanas e devido a sua habilidade técnica foi convidado a
elaborar planos para atacar as posições italianas na guerra da França com a
Áustria. Ele também participou de uma expedição para retomar a Córsega dos
britânicos, mas os franceses foram expulsos pela marinha britânica.
Bonaparte
ficou noivo de Desidéria Clary, irmã de Júlia Clary, esposa de José, o irmão
mais velho de Napoleão; os Clary eram uma família de comerciantes ricos de
Marselha. Em abril de 1795, ele foi designado para o exército do Oeste, que
estava envolvido na Guerra da Vendeia. Para ocupar o comando de artilharia, ele
seria rebaixado do cargo de general de artilharia - cargo em que o contingente
estava lotado - e declarou saúde precária para evitar o destacamento. Ele foi
movido para o Departamento de Topografia do Comitê de Salvação Pública e
tentou, sem sucesso, ser transferido para Constantinopla, a fim de oferecer
seus serviços ao Sultão. Durante este período, ele escreveu uma novela
romântica, Clisson et Eugénie, sobre um soldado e sua amante, em um claro
paralelo à própria relação de Bonaparte com Desidéria. Em 15 de setembro,
Bonaparte foi removido da lista de generais em serviço regular por sua recusa
em servir na campanha de Vendeia. Ele enfrentou então uma difícil situação
financeira e a redução nas perspectivas de carreira.
Em
3 de outubro, monarquistas em Paris declararam uma rebelião contra a Convenção
Nacional depois que eles foram excluídos de um novo governo, o Diretório. Um
dos líderes da Reação Termidoriana, Paul Barras, soube das façanhas militares
de Bonaparte em Toulon e lhe deu o comando das forças improvisadas em defesa da
Convenção no Palácio das Tulherias. Bonaparte havia testemunhado o massacre da
Guarda Suíça naquele mesmo lugar, anos antes, e percebeu que a artilharia seria
a chave para a defesa. Ele ordenou que um jovem oficial de cavalaria, Joaquim
Murat, aproveitasse os grandes canhões e os usou para repelir os agressores em
5 de outubro de 1795 (13 Vendémiaire An IV no calendário republicano francês).
Mil e quatrocentos realistas morreram, e o resto fugiu.
A
derrota da insurreição pró-monarquia extinguiu a ameaça à convenção e deu a
Bonaparte fama repentina, riqueza, e o apoio do novo diretório. Murat se
tornaria seu cunhado e um de seus generais, e Napoleão logo foi promovido a
comandante do exército do interior e recebeu o comando das forças francesas na
Itália (o chamado Armée d'Italie). Em março de 1796, após romper com Desidéria,
Bonaparte se casou com Josefina de Beauharnais, ex-amante de Barras.
Primeira campanha na Itália
Dois
dias depois do casamento, Bonaparte deixou Paris para assumir o comando do
exército francês na península Itálica e o liderou em uma invasão bem-sucedida.
Na Batalha de Lodi, derrotou as forças austríacas e os expulsou de Lombardia.
Foi derrotado em Caldiero por forças de reforço austríacas, lideradas por
Joseph Alvinczy, e recuperou a iniciativa na crucial Batalha da ponte de Arcole
e pôde subjugar os Estados Pontifícios. Bonaparte se posicionou contra a
vontade dos ateus do diretório de marchar para Roma e destronar o papa,
argumentando que isso iria criar um vazio de poder, que seria explorado pelo
Reino de Nápoles. Em vez disso, em março de 1797, Bonaparte levou seu exército
para a Áustria, forçando o país a negociar a paz. O Tratado de Leoben deu à
França o controle da maior parte do norte da Itália e os Países Baixos, e uma
cláusula secreta prometeu a República de Veneza para a Áustria. Bonaparte
marchou para Veneza e forçou a sua rendição, pondo fim em 1100 anos de
independência; ele também autorizou os franceses a saquearem tesouros como os
Cavalos de São Marcos.
Sua
aplicação de ideias convencionais militares para situações do mundo real
possibilitaram seus triunfos militares, assim como o uso criativo da artilharia
como uma força móvel para apoiar a sua infantaria. Ele se refere à sua tática
assim: "Eu lutei sessenta batalhas e não aprendi nada que não sabia no
começo. Olhe para Júlio César; ele lutou a primeira como a última." Nesta
campanha italiana, o exército de Napoleão capturou 150.000 prisioneiros, 540
canhões e 170 bandeiras. O exército francês lutou em 67 ações e venceu 18
batalhas através da tecnologia superior de artilharia e táticas de Bonaparte.
Durante
a campanha, Bonaparte tornou-se cada vez mais influente na política francesa;
ele fundou dois jornais, ambos para as tropas do seu exército e também para
circulação na França. Os realistas atacaram Bonaparte por saques na península
Itálica e alertaram que ele poderia se tornar um ditador. Bonaparte enviou o
general Pierre Augereau para Paris para liderar um golpe de Estado em 4 de
setembro, o chamado Coup d'État du 18 fructidor. Isto levou Barras e seus
aliados republicanos novamente ao poder, mas dependentes de Bonaparte, que dava
continuidade às negociações de paz com a Áustria. Estas negociações resultaram
no Tratado de Campoformio, e Napoleão retornou a Paris em dezembro como um
herói. Ele se encontrou com Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord, novo
ministro do exterior francês (que mais tarde serviria no mesmo cargo ao
imperador Napoleão) e começaram a preparar uma invasão da Inglaterra.
Campanha do Egito
Após
dois meses de planejamento, Bonaparte decidiu que o poder naval da França não
era ainda suficientemente forte para enfrentar a Marinha Real Britânica no
canal da Mancha e propôs uma expedição militar para tomar o Egito e, assim,
prejudicar o acesso da Inglaterra a seus interesses comerciais na Índia.
Bonaparte desejava estabelecer presença francesa no Oriente Médio, com a
intenção de se ligar ao Sultão Tipu, inimigo da Inglaterra na Índia. Napoleão
garantiu ao diretório que "logo que conquistasse o Egito, iria estabelecer
relações com os príncipes indianos e, juntamente com eles, atacar os ingleses
em suas posses." Um relatório de Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord de
fevereiro de 1798 dizia: "Tendo ocupado e fortificado o Egito, vamos
enviar uma força de 15.000 homens de Suez para a Índia, para se juntar às
forças de Tipu Sahib e afastar os ingleses." O diretório concordou, a fim
de garantir uma rota de comércio segura para a Índia.
Era napoleônica
A
sociedade francesa estava passando por um momento tenso com os processos
revolucionários ocorridos no país, de um lado com a burguesia insatisfeita com
os jacobinos, formados por revolucionários radicais, e do outro lado as
tradicionais monarquias europeias, que temiam que os ideais revolucionários
franceses se difundissem por seus reinos.
O
fim do processo revolucionário na França, com o Golpe 18 Brumário, marcou o
início de um novo período na história francesa e, consequentemente, da Europa:
a Era Napoleônica.
Pode-se dividir seu governo em
três partes:
Consulado
(1799-1804)
Império
(1804-1815)
Governo
dos Cem Dias (1815)
O
governo do diretório foi derrubado na França sob o comando de Napoleão
Bonaparte, que, junto com os girondinos (alta burguesia), instituiu o consulado,
primeira fase do governo de Napoleão. Este golpe ficou conhecido como Golpe 18
de Brumário (data que corresponde ao calendário estabelecido pela Revolução
Francesa e equivale a 9 de novembro do calendário gregoriano) em 1799. Muitos
historiadores alegam que Napoleão fez questão de evitar que camadas inferiores
da população subissem ao poder.
Consulado
Instalou-se
o governo do consulado de Napoleão após a queda do diretório. O consulado
possuía características republicanas, além de ser centralizado e dominado por
militares. No poder executivo, três pessoas eram responsáveis: os cônsules
Roger Ducos, Emmanuel Sieyès e o próprio Napoleão. Apesar da presença de outros
dois cônsules, quem mais tinha influência e poder no executivo era Napoleão,
que foi eleito primeiro-cônsul da república.
Criavam-se
instituições novas, com cunho democrático, para disfarçar o seu centralismo no
poder. As instituições criadas foram o senado, o tribunal, o corpo legislativo
e o conselho de Estado. Mas o responsável pelo comando do exército, pela
política externa, pela autoria das leis e quem nomeava os membros da
administração era o primeiro-cônsul.
Quem
estava no centro do poder na época do consulado era a burguesia (os
industriais, os financistas, comerciantes), e consolidaram-se como o grupo
dirigente na França. Abandonaram-se os ideais "liberdade, igualdade,
fraternidade" da época da Revolução Francesa, e mediante forte censura à
imprensa e ação violenta dos órgãos policiais, desmanchou-se a oposição ao
governo.
Projeção da figura de Napoleão
Napoleão
Bonaparte teve sua figura projetada na história francesa, quando recebeu o
poder através do consulado, juntamente com os dois cônsules citados acima.
Reforma dos setores do governo
francês
Durante
o período do consulado, ocorreu uma recuperação econômica, jurídica e
administrativa na França:
Economia - criou-se o Banco da França, em
1800, regulando-se a emissão de moedas, reduzindo-se a inflação. As tarifas
impostas eram protecionistas (ou seja, com aumento de impostos para a
importação de produtos estrangeiros); o resultado geral foi uma França com
comércio e indústria fortalecidos, principalmente com os estímulos à produção e
ao consumo interno.
Religião - com o objetivo de usar a
religião como instrumento de poder político, Napoleão assinou um acordo, a Concordata
de 1801, entre a Igreja Católica e o Estado. O acordo, sob aprovação do Papa
Pio VII, dava direito ao governo francês de confiscar as propriedades da Igreja
e, em troca, o governo teria de amparar o clero. Napoleão reconhecia o
catolicismo como religião da maioria dos franceses, mas se arrogava o direito
de escolher bispos, que mais tarde seriam aprovados pelo papa.
Direito - estabeleceu-se o Código
Napoleônico, um Código Civil, em 1804, representando em grande parte os
interesses dos burgueses, como casamento civil (separado do religioso),
respeito à propriedade privada, direito à liberdade individual e igualdade de
todos ante a lei. Está em vigor até hoje, embora com consideráveis alterações
legislativas posteriores.
Napoleão
também instituiu em 1809 um código penal, que vigorou até 1994, quando a
Assembleia Nacional aprovou o novo código.
Educação - reorganizou-se o ensino e a
prioridade foi a formação do cidadão francês. Reconheceu-se a educação pública
como meio importante de formação das pessoas, principalmente nos aspectos do
comportamento moral, político e social.
Administração
- Indicavam-se pessoas da confiança de Napoleão para cargos administrativos.
Após
uma década de conflitos gerais no país, com a Revolução Francesa, as medidas
aplicadas deram para o povo francês a esperança de uma estabilização do
governo. Os resultados obtidos neste período do governo de Napoleão agradaram à
classe dominante francesa. Com o apoio desta, elevou-se Napoleão ao nível de
cônsul vitalício em 1802, podendo indicar seu sucessor. Esta realização
implicou na instituição de um regime monárquico.
Venda da Luisiana para os Estados
Unidos
Em
1803, durante o governo de Napoleão, a França vendeu seus territórios na
América para os recém-fundados Estados Unidos. Isso permitiu a expansão das
fronteiras dos Estados Unidos para o oeste.
A
maior parte do dinheiro obtido na venda foi direcionada ao fortalecimento do
exército francês para sua expansão territorial no continente europeu.
Império
A
opinião pública foi mobilizada pelos apoiadores de Napoleão, que levou à
aprovação para a implantação definitiva do governo do Império. Em plebiscito
realizado em 1804, aprovou-se a nova fase da era napoleônica com quase 60% dos
votos, reinstituiu-se o regime monárquico na França e indicou-se Napoleão para
ocupar o trono.
Realizou-se
uma festa em 2 de dezembro de 1804 para se formalizar a coroação do agora
Napoleão I na catedral de Notre-Dame. Um dos momentos mais notórios da História
ocorreu nesta noite, onde, com um ato surpreendente, Napoleão I retirou a coroa
das mãos do Papa Pio VII, que viajara especialmente para a cerimônia, e ele
mesmo se coroou, numa postura para deixar claro que não toleraria autoridade
alguma superior à dele. Logo após também coroou sua esposa, a imperatriz
Josefina.
Concederam-se
títulos nobiliárquicos aos familiares de Napoleão, por ele mesmo. Além disso,
colocou-os em altos cargos públicos. Formou-se uma nova corte com membros da
elite militar, da alta burguesia e da antiga nobreza. Para celebrar os triunfos
de seu governo, Napoleão I construiu monumentos grandiosos, como o Arco do
Triunfo que, como outras grandes obras da época, por sua grandiosidade e por
criar empregos, melhorava a imagem de Napoleão ante o povo.
O
Império Francês atingiu sua extensão máxima neste período, em torno de 1812,
com quase toda a Europa Ocidental e grande parte da Oriental ocupadas,
possuindo 150 departamentos, com 50 milhões de habitantes, quase um terço da
população européia da época.
Expansão territorial militar
Neste
período, Napoleão realizou uma série de batalhas para a conquista de novos
territórios para a França. O exército francês (chamado agora de Grande Armée,
ou "Grande Exército") aumentou o número de armas e de combatentes, e
tornou-se o mais poderoso de toda a Europa.
Pensando
que a expansão e crescimento econômico-militar da França era uma ameaça à
Inglaterra, os diplomatas ingleses formaram coligações internacionais para se
opor ao novo governo francês e a seu expansionismo. Também acreditavam que o
governo francês poderia influir em países que estavam sob doutrina absolutista
e assim causar uma rebelião. A primeira coligação formada para deter os
franceses era formada pela Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia.
Em
outubro de 1805, os franceses usaram a marinha para atacar a Inglaterra, mas
não obtiveram êxito, derrotados pela marinha inglesa, comandada pelo almirante
Nelson, batalha que ficou conhecida como Batalha de Trafalgar, firmando-se o
poderio naval britânico.
Ao
contrário do malogro com os ingleses, os franceses venceram seus outros
inimigos da coligação, como a Áustria, em 1805, na Batalha de Austerlitz, além
da Prússia em 1806 e Rússia em 1807.
Bloqueio Continental
Na
busca de outras maneiras para derrotar ou debilitar os ingleses, o Império
Francês decretou o Bloqueio Continental em 1806, em que Napoleão determinava
que todos os países europeus deveriam fechar os portos para o comércio com a
Inglaterra, debilitando as exportações do país e causando uma crise industrial.
Um
problema que afetou muitos países participantes do bloqueio era que a
Inglaterra, que já passara pela Revolução Industrial, estava com uma
consolidada produção de produtos industriais, e muitos países europeus ainda
não tinham produção industrial própria, dependendo da Inglaterra para importar
este tipo de produto, em troca de produtos agrícolas. Napoleão pretendia, dessa
forma, enfraquecer a economia britânica, que precisava de mercado consumidor
para os seus produtos manufaturados e, assim, impor a superioridade francesa em
toda a Europa. O decreto, datado de 21 de novembro de 1806, dependia, para seu
real vigor, de que todos os países da Europa aderissem à idéia. O Acordo de
Tilsit, firmado com o czar Alexandre I da Rússia, em julho de 1807, garantiu a
Napoleão o fechamento do extremo leste da Europa. A França procurou
beneficiar-se do bloqueio com o aumento da venda dos produtos produzidos pelos
franceses, ampliando as exportações dentro da Europa e no mundo. A fraca
quantidade de produtos manufaturados deixou alguns países sem recursos
industriais.
O
governo de Portugal relutava em concordar ao Bloqueio Continental devido à sua
aliança com a Inglaterra, da qual era extremamente dependente. O príncipe D.
João, que assumira a regência em 1792, devido ao enlouquecimento de sua mãe, a
rainha D. Maria I, estava indeciso quanto à alternativa menos arriscada para a
monarquia portuguesa.
Fuga da família real portuguesa
para o Brasil
O
governo português possuía relações privilegiadas com a Inglaterra, depois da
assinatura do Tratado de Methuen, em 1703, e ainda graças à velha Aliança que
vinha dos tempos da dinastia de Avis.
Portugal
tinha então a Inglaterra como principal parceira para seus negócios.
Pressionados por Napoleão, os portugueses não tiveram escolha: como não podiam
abdicar os negócios com a Inglaterra, não participaram do Bloqueio Continental.
Insatisfeito
com a decisão portuguesa, o exército francês começou a dirigir-se a Portugal.
Napoleão forçara uma aliança, sob a forma do Tratado de Fontainebleau com a
casa real espanhola (onde veio a forçar a abdicação do trono de Carlos IV para
o seu irmão, José Bonaparte) para a Invasão de Portugal, apesar de se saber que
havia já planos anteriormente delineados para conquistar tanto Portugal, como
Espanha. A ideia era a de dividir Portugal em três reinos distintos:
Lusitânia Setentrional, a ser governado pela filha de
Carlos IV, Maria Luísa;
Algarves, a ser governado por Manuel de
Godoy com o título de rei;
O resto do país, a ser administrado diretamente
pela França Imperial até ao fim da guerra.
Nesse
sentido, realizaram-se três expedições militares a Portugal, conhecidas em
Portugal pelo nome de Invasões Francesas.
Numa
jogada de antecipação estratégica, pensada e planeada para evitar que a família
real portuguesa fosse aprisionada e obrigada a abdicar, como virá a acontecer
com Fernando VII e Carlos IV de Espanha, e sabendo-se que o Brasil era
considerado, na época, a pérola da coroa portuguesa, toda a corte portuguesa,
incluindo o príncipe-regente D. João VI, saiu para o Brasil, instalando o
governo português no Rio de Janeiro em 1808, tornando-a capital do que vem a
ser um sonhado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1816-1826), que o
rei acalentou e para o qual institui um nova bandeira com a esfera armilar.
A
saída foi precipitada, com as tropas francesas já em solo português, mas
conseguiu-se que cerca de 15 mil pessoas saíssem para o Brasil, transferindo
praticamente todo o quadro do aparelho estatal. Além de pessoas do governo,
saíram muitos nobres, comerciantes ricos, juízes de tribunais superiores, entre
outros.
Os
setores afrancesados em Portugal chamaram a esta retirada estratégica "a
fuga para o Brasil", frustrados pelas tropas de Napoleão não terem
conseguido aprisionar e depor a família real portuguesa. Com a corte e a
capital de Portugal no Brasil, passaram a considerar-se sem rei nem lei,
pedindo de imediato ao General Junot que Napoleão lhes desse um novo rei e uma
nova constituição. Este episódio da saída da família real portuguesa para o
Brasil, assim como a dificuldade encontrada por Napoleão em, por um lado,
invadir Portugal e por outro, dominar Espanha, pode ser visto como uma das
maiores falhas estratégicas de Napoleão que, aliás, referiu-se a ele, nas
Memoires de Ste. Hélène como: c'est ça qui m'a perdu (tradução: foi isso que me
fez perder).
Derrota francesa na Rússia
Em
1812, a aliança franco-russa é quebrada pelo tzar Alexandre I da Rússia, que
rompe o bloqueio contra os ingleses. Napoleão empreende então a campanha contra
a Rússia, à frente de mais de 600.000 soldados oriundos dos mais diferentes
recantos da Europa. Sem saída, a Rússia usa uma tática de guerra chamada terra
queimada, que consistia em destruir cidades inteiras para criar um campo de
batalha favorável aos defensores. Aliada com o inverno rigoroso, a Rússia
consegue vencer o exército napoleônico que sai com apenas 120.000 homens (o
restante ou morreu ou se dispersou pelo continente). Enquanto isso, na França,
o general Malet, apoiado por setores descontentes da burguesia e da antiga
nobreza francesa, arma uma conspiração para dar um golpe de Estado contra o
imperador. Napoleão retorna imediatamente a Paris e domina a situação.
Invasão dos aliados e derrota de
Napoleão
Tem
início então a luta da coligação europeia contra a França na Batalha das Nações
(Confederação do Reno) que acabou com a derrota de Napoleão. Com a capitulação
de Paris, o imperador é obrigado a abdicar.
Governo dos Cem Dias
Exílio em Elba
O
Tratado de Fontainebleau, de 1814, exila Napoleão na Ilha de Elba, mas lhe dá o
direito a uma pensão de 2000 francos e o de poder levar uma escolta com 400
militares; além disso, o seu título de imperador é mantido. Quando chega na
ilha, em 4 de maio de 1814, ele acaba por passar dificuldades lá, pois a sua
pensão não é paga. Separado da esposa e do filho e sabendo de rumores de que
ele iria ser banido para uma ilha remota no meio do oceano Atlântico, Napoleão
escapa de Elba em 26 de fevereiro de 1815. Ele aportou em Golfe-Juan, na
França, dois dias depois. O 5º Regimento foi enviado para interceptá-lo.
Napoleão encarou toda a tropa sozinho, desmontou de seu cavalo e, quando
encontrou-se sob a linha de fogo, gritou, "Aqui estou eu! Matem seu
imperador, se assim o quiserem!" Os soldados responderam com "Vive
L'Empereur! (Viva o Imperador!)" e marcharam com Napoleão até Paris, de
onde Luís XVIII fugiu. Assim, Napoleão reconquista o poder.
A volta ao poder
Inicia-se
então o "Governo dos Cem Dias". Napoleão então tenta fazer uma
constituição baseada no liberalismo, contrariando as expectativas dos
republicanos, que queriam a volta da revolução e a perseguição aos nobres. A
Europa coligada retoma sua luta contra o Exército francês. Napoleão entra na
Bélgica em junho de 1815, mas é derrotado por uma coligação anglo-prussiana na
Batalha de Waterloo e abdica pela segunda vez, pondo fim ao império
napoleônico. Mas a expansão dos ideais iluministas continuou.
Exílio em Santa Helena
Napoleão
foi preso e então exilado pelos britânicos na ilha de Santa Helena, na costa da
África, em 15 de outubro de 1815. Lá, com um pequeno legado de seguidores,
contava suas memórias e criticava aqueles que o capturaram.
Morte
Até
hoje, não há certezas sobre a causa da morte de Napoleão. Na década de 1960,
pesquisadores investigaram a sua casa na ilha de Santa Helena e identificaram
restos de arsênio (veneno letal) sobre as suas roupas, cabelo, nos móveis,
pratos e talheres. Então, deduziu-se que o seu organismo fora danificado aos
poucos por esta substância, até sua morte.
Porém,
hoje em dia, já se sabe que Napoleão tinha câncer no estômago e, provavelmente,
foi tratado com um remédio da época que, possuía, na sua constituição, arsênio
e solventes. Como ingeriu esse remédio por um período grande e constantemente,
acredita-se que o arsênio se acumulou no seu organismo. Ele está sepultado no
Hôtel des Invalides em Paris.
Suspeitas depois da morte
Em
1955, surgiram documentos em que Napoleão era descrito meses antes de sua
morte, pensando muitos que Napoleão fora morto por envenenamento com arsênio. O
arsênio era usado antigamente como um veneno indetectável se aplicado a longo
prazo.
Em
2001, um estudo de Pascal Kintz, do Instituto Forense de Estrasburgo, na
França, adicionou crença a esta possibilidade com um estudo de um pedaço de
cabelo preservado de Napoleão após sua morte: os níveis de arsênio encontrados
em seu pedaço de cabelo eram de 7 a 38 vezes maiores do que o normal.
Cortar
pedaços do cabelo em pequenos segmentos e analisar cada segmento oferece um
histograma da concentração de arsênio no corpo. A análise do cabelo de Napoleão
sugere que doses altas mas não-letais foram absorvidas em intervalos
aleatórios. O arsênio enfraqueceu Napoleão e permaneceu em seu sistema. Lá,
poderia ter reagido com mercúrio e outros elementos comuns em remédios da
época, sendo a causa imediata de sua morte.
Outros
estudos também revelaram altas quantidades de arsênio presentes em outras
amostras de cabelo de Napoleão tiradas em 1805, 1814 e 1821. Ivan Ricordel
(chefe de toxicologia da Polícia de Paris), declarou que se arsênio tivesse
sido a causa da morte, ele teria morrido anos antes. Arsênio também era usado
na época em papel de parede, como um pigmento verde, e até mesmo em alguns
remédios, e os pesquisadores sugeriram que a fonte mais provável de todo este
arsênio seja um tônico para cabelo. Antes da descoberta dos antibióticos, o
arsênio fazia parte de um composto químico usado sem muito efeito no tratamento
da sífilis, levando à especulação de que Napoleão poderia estar sofrendo de
sífilis, uma doença venérea muito comum naquela época.
Em
2005 pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça e do Hospital
Universitário da Basiléia divulgaram um estudo que indica uma perda de peso
acentuada de Napoleão em seu último ano de vida (1821), após a análise de doze
calças usadas por ele, antes e durante o exílio na Ilha de Santa Helena, e
também a usada no momento de sua morte. As estimativas apontam perda de ao
menos onze quilos, o que seria compatível com a situação de quem sofre com
câncer gástrico.
Legado
Napoleão
Bonaparte tornou-se uma figura histórica ambígua. Na França, tornou-se um
símbolo de orgulho nacional, frequentemente revivido na cultura popular.
Contudo, nos últimos anos, tem-se assistido a um incômodo crescente relativo
aos efeitos que da política napoleônica sobre outros países europeus. Na
verdade, em embora não seja detestada como a de Hitler, existe hoje um
desconforto relativo a esta memória na maior parte da Europa. Embora com
algumas exceções, como é o caso da Polônia (onde Napoleão significou um breve
regresso da liberdade depois da repartição do país entre a Prússia, a Rússia e
a Áustria), na maior parte dos estados europeus Napoleão foi sinônimo de
agressão, ocupação e destruição. No caso de Portugal, as três invasões não
causaram apenas a retirada da corte para o Brasil, mas destruíram também o
desenvolvimento industrial deixado pelo Marquês de Pombal, contribuindo de
forma decisiva para o atraso econômico do País no século XIX.