Muitos
podem acreditar ser difícil e sensível falar sobre a Ética e Moral no
Candomblé, haja vista não ter um código de conduta que os rege. De fato,
não é fácil e, não somente para o credo, mas sim, em tudo o que tange a
Ética e Moral de modo geral.
No entanto, apesar da inexistência de um código formal, há sim parâmetros convencionados que podem e devem servir como um norte à busca da formação de uma religião mais forte e convergida.
No entanto, apesar da inexistência de um código formal, há sim parâmetros convencionados que podem e devem servir como um norte à busca da formação de uma religião mais forte e convergida.
Vamos
falar sobre o momento de maior dificuldade e dor de um Terreiro, a morte da sua
Ìyálòrìsà/Babalòrìsà.
A
convenção Ética Moral do Candomblé, prega que nesse momento, os Sacerdotes mais
próximos da Ìyálòrìsà/Babalòrìsà que faleceu, devem prestar solidariedade à
casa que perdeu o seu esteio e que ficará de luto.
A
Ética Moral que deve ser intrínseca de um verdadeiro Sacerdote, diz que nesse
momento, devem prestar não somente homenagens ao falecido por meio das
obrigações fúnebres (Àsèsè), mas também, solidariedade e orientações aos que
ficaram, contribuindo assim, para a continuidade daquela casa.
Entretanto,
o que observamos com bastante pesar e com certa frequência é que, quando um
Babalòrìsà/Ìyálòrìsà falece, muitos “Sacerdotes” se aproveitam para: “Convencer
os filhos de santo a ir para sua casa (deixando a casa da pessoa que faleceu)”;
“Cobrar fortunas para as exéquias, esquecendo-se do momento de dor e de grandes
custos”; “Usurpar os bens do (a) falecido (a) -, roupas, joias, fios, etc”;
“Impor seus costumes deixando de lado e esquecendo-se das tradições da casa e
da pessoa que faleceu”. É triste discorrermos sobre isso, no entanto é algo
muito comum, mas que deve ser repudiado.
A
Ética Moral diz que esse é um momento em que o Sacerdote/Sacerdotisa, de
postura fundamentada na religião, deve seguir justamente de forma contrária ao
listado acima.
No
momento de maior dor de um Terreiro, os Sacerdotes/Sacerdotisas que vão à casa
do confrade religioso falecido, em primeiro lugar devem manter respeito às
tradições daquela casa, que não devem ser suprimidas em razão da vontade dos
amigos que deveriam estar lá para somar e não subtrair. Aqui, vale lembrar que,
mesmo as casas matrizes da Bahia, possuem ainda que imperceptíveis aos olhos da
maioria, algumas diferenças em seus costumes, mas todos se respeitam e se
admiram.
Deve
se lembrar que, àqueles que lá estão, perderam seu alicerce, seu norte, a sua
estrutura e, necessitam de palavras de conforto, verdadeiras e amigas que as
motivem a continuar, mesmo diante das dificuldades que invariavelmente
surgirão.
A
Ética Moral, prega que não se deve tirar proveito para caçar a cabeça dos
filhos recém órfãos. A Ética Moral reza que não se deve usurpar dos bens do
falecido e da família. A Ética Moral e Religiosa diz que, àqueles que ficam
devem ser orientados, instruídos, aconselhados, de modo que tenham
discernimento e forças.
No
período em que o Terreiro fica de luto (alguns terreiros até 7 anos), os
Sacerdotes com postura ética e religiosa devem orientar aos filhos daquela
casa, que mesmo sem tocar, sem realizar obrigações, a casa está viva, pois o
Òrìsà jamais morre e que devem respeitar o luto.
A
Ética Moral Religiosa, diz também, que o Terreiro em luto deve estar voltado à
sua ancestralidade pelo período convencionado (no mínimo 1 ano), respeitando o
Esá do Sacerdote/Sacerdotisa. A Ética Moral e Religiosa apregoa que esse
período deve ser respeitado à risca, pois mesmo os Deuses ficam em luto em
razão da pessoa que os cultuou em vida.
Amanha,
vamos falar sobre a incessante busca pelo falso prestígio, em que muitas
pessoas ditas Sacerdotes, não se furtam em “caçar cabeças” para poder ostentar
uma grandiosa roda de iyawos, nem que para isso, tenham que ignorar a Ética e
Moral que deveriam existir entre casas e, sobretudo, entre Sacerdotes.