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PRIMEIRA CATILINÁRIA
Primeiro discurso contra Catilina de Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), cônsul de Roma, recitado no Templo de Júpiter em 8 de Novembro de 63 a.C., local para onde tinha sido convocado o Senado de Roma.
«JÁ
NÃO PODES VIVER MAIS TEMPO CONOSCO»
I
Até
quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de
zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua
audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade,
nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este
local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto
destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus
planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada
todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que
fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem
convocaste, que deliberações foram as tuas?
Oh
tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos
diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no
Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado, aponta-nos e marca-nos,
com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir
o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. à morte,
Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul;
contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas
contra todos nós.
Pois
não é verdade que uma personagem tão notável. como era Públio Cipião, pontífice
máximo. mandou, como simples particular, matar Tibério Graco, que levemente
perturbara a constituição do Estado? E Catilina. que anseia por devastar a
ferro e fogo a face da terra, haveremos nós, os cônsules, de o suportar toda a
vida? E já não falo naqueles casos de outras eras, como o facto de Gaio
Servílio Aala ter abatido, por suas próprias mãos, Espúrio Mélio e, que
alimentava ideias revolucionárias. Havia, havia outrora nesta República, uma
tal disciplina moral que os homens de coragem puniam com mais severos castigos
um cidadão perigoso do que o mais implacável dos inimigos. Temos um decreto do
Senados contra ti, Catilina, um decreto rigoroso e grave; não é a decisão clara
nem a autoridade da Ordem aqui presente que falta à República; nós, digo-o
publicamente, nós, os cônsules, é que faltamos.
II
Decidiu
um dia o Senado que o cônsul Lúcio Opímio velasse para que a República não
sofresse dano algum. Pois nem uma noite passou. Gaio Graco, apesar da sua tão
nobre ascendência, de pai, de avô e de seus maiores, foi morto por causa de
certas suspeitas de revolta; juntamente com os filhos foi executado Marco
Fúlvio, um consular. Com um mesmo decreto do Senado, foi a República confiada
aos cônsules Gaio Mário e Lúcio Valério. Acaso adiaram eles mais um dia sequer
a pena de morte, por crime de lesa-república, a Lúcio Saturnino, um tribuno da
plebe, e a Gaio Servílio, um pretor?
Nós,
porém, há já vinte dias que consentimos no enfraquecimento do vigor de decisão
destes homens. Temos um destes decretos do Senado, mas está fechado nos
arquivos como espada metida em bainha; e, segundo esse decreto senatorial, tu,
Catilina, deverias ter sido imediatamente condenado à morte. E eis que
continuas vivo, e vivo, não para abdicares da tua audácia, mas para nela te
manteres com inteira firmeza. É meu desejo, venerandos senadores, ser clemente;
é meu desejo, no meio de tamanhos perigos da República, não parecer indolente;
mas já eu próprio de inacção e moleza me acuso.
Há
acampamentos em Itália contra o povo romano. estabelecidos nos desfiladeiros da
Etrúria, aumenta em cada dia o número dos inimigos; e, no entanto, o general
desses acampamentos e o comandante desses inimigos, eis que o vemos no interior
das nossas muralhas e dentro do próprio Senado, urdindo a cada instante algum
atentado contra a República. Se. neste momento eu te mandar prender, Catilina,
se eu decretar a tua morte, o que sobretudo terei de temer, tenho a certeza, é
que todos os bons cidadãos me censurem por ter actuado tarde, e não que haja
alguém a dizer que usei de crueldade excessiva.
A
mim, porém, aquilo que já há muito deveria ter sido feito, fortes razões me
levam a não o fazer ainda. Hás de ser morto, sim, mas só no momento em que já
não for possível encontrar-se ninguém tão perverso, tão depravado, tão igual a
ti, que não reconheça a inteira justiça desse ato.
Enquanto
houver alguém que ouse defender-te, continuarás a viver, e a viver como agora
vives, cercado pelas minhas muitas e fiéis guardas, para não poderes
sublevar-te contra o Estado. É até os olhos e os ouvidos de muita gente, sem
disso te aperceberes, te hão de espiar e trazer vigiado como até hoje o têm
feito.
III
Que
há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite com suas
trevas pode manter ocultos os teus criminosos conluios, nem uma casa particular
pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração, se tudo vem à
luz do dia, se tudo irrompe em público? É tempo, acredita-me, de mudares essas
disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os
lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia, e
importa que os recordes comigo nesta hora.
Não
te lembras de eu dizer no Senado, no dia 12 antes das Calendas de Novembro,
que, em dia determinado, dia esse que havia de ser o sexto antes das Calendas
de Novembro , haveria de pegar em armas Gaio Mânlio, um lacaio e instrumento da
tua audácia? Enganei-me, porventura, ó Catilina, não só quanto a um
acontecimento tão importante, tão horroroso e tão incrível, como também. o que
é muito mais para admirar, quanto ao próprio dia? Fui eu ainda que disse no
Senado teres tu fixado para o dia 5 antes das Calendas de Novembro a chacina da
aristocracia. justamente na altura em que muitas das altas personalidades do
Estado fugiram de Roma, não tanto por motivo de segurança pessoal, como para
reprimirem as tuas maquinações. Serás capaz de negar que nesse mesmo dia,
estando tu cercado pelas minhas guardas e pela minha vigilância, te não pudeste
insurgir contra a República, quando tu, perante o afastamento dos restantes,
dizias no entanto que a morte de quem tinha ficado, que éramos só nós, bastava
para te contentar?
Pois
quê? Quando tu, nas próprias Calendas de Novembro, estavas plenamente seguro de
que tomarias Presente num ataque noturno, não deste conta, porventura, de que
tinha sido por ordens minhas que aquela colônia fora guarnecida pelos meus
destacamentos, sentinelas e rondas noturnas? Nada fazes, nada intentas, nada
imaginas que eu não só não oiça, mas veja e disso tenha pleno conhecimento.
IV
Recorda
comigo, por fim, aquela noite famigerada de anteontem e logo verás que eu velo
com mais ardor pela segurança do Estado que tu pela sua ruína. Afirmo que tu,
na noite anterior a esta, vieste aos Cuteleiros (não vou falar por meias
palavras), a casa de Marco Leca, e que no mesmo local se reuniu grande parte
dos cúmplices da mesma criminosa loucura. Ousas, porventura, nega-lo? Porque te
calas? Se o negas, eu to provarei, pois que vejo aqui presentes no Senado
alguns dos que lá estiveram juntamente contigo.
Oh
deuses imortais! Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o
nosso? Em que cidade vivemos nós? Estão aqui, aqui dentro do nosso número,
venerandos senadores, neste Conselho. mais sagrado e mais respeitável da face
da terra, aqueles que meditam a morte de todos nós, aqueles que trazem no
pensamento a destruição desta cidade e até a do mundo inteiro. É a estes que
eu, como cônsul, tenho na minha frente e lhes peço conselho acerca dos
interesses do Estado, a eles, que deveriam ser passados a fio de espada e que
eu nem com a palavra atinjo ainda.
Estiveste,
pois, Catilina, em casa de Leca nessa noite; procedeste à partilha das regiões
da Itália; determinaste para onde gostarias que cada um partisse; escolheste
quem deixarias em Roma, quem levarias contigo; designaste os bairros da cidade
destinados a incêndio; afirmaste que, por ti, já estavas disposto a partir;
disseste que ainda te demorarias, contudo, um pouco, porque eu continuava vivo.
Encontraste dois cavaleiros romanos, para te aliviarem" desta preocupação
e se comprometerem a assassinar-me no meu próprio leito nessa mesma noite,
pouco antes da alvorada.
Tudo
isto eu vim a saber mal tinha ainda sido dissolvida a vossa reunião; guarneci e
reforcei a minha casa com mais guardas; e àqueles que tu me enviaras pela manhã
para me saudarem, tranquei-lhes a porta quando eles chegaram, a esses mesmos cuja
intenção de me visitarem àquela hora eu já havia previamente comunicado a
muitas e das mais altas personalidades.
V
Sendo
assim, prossegue, Catilina, o caminho encetado; sai da cidade de uma vez para
sempre; as portas estão abertas; põe-te a caminho. Há muito que te reclamam
como general supremo esses teus acampamentos manlianos. Leva também contigo
todos os teus; se não todos, pelo menos o maior número possível. Limpa a
cidade. Libertar-me-ás de um grande receio quando entre ti e mim um muro se levantar.
Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não
o consinto.
Grande
deverá ser o nosso reconhecimento para com os deuses imortais, particularmente
para com o próprio Júpiter Estátor aqui presente, o mais antigo protetor desta
cidade, por tantas vezes termos escapado a esta peste tão abominável, tão
horrorosa e tão hostil à República. Nunca mais a suprema segurança do Estado
deve ser posta em perigo por causa de um homem apenas. De tantas vezes que tu,
Catilina, me armaste ciladas quando eu era cônsul designado, não foi com a
guarda pública, mas com os meus próprios meios, que eu procurei defender-me.
Quando, por ocasião dos últimos comícios consulares, tu pretendeste matar-me no
Campo de Marte, a mim que era cônsul e aos teus competidores, reprimi os teus
criminosos intentos com a ajuda e recursos dos amigos, sem proclamar
oficialmente o estado de sítio; numa palavra, todas as vezes que me atacaste,
foi por mim mesmo que te resisti, muito embora eu visse que a minha morte
ficaria ligada a uma grande desgraça do Estado.
Mas
agora é a toda a República que tu diriges abertamente o teu ataque; são os
templos dos deuses imortais, são as casas da cidade, é a vida de todos os
cidadãos, é a Itália inteira, é tudo isto que tu arrastas para a ruína e a
devastação. E, uma vez que não ouso ainda pôr em prática o que se imporia em
primeiro lugar e que é próprio destes poderes" e da tradição dos nossos
maiores, tomarei uma posição mais moderada quanto ao rigor, porém mais útil no
que toca à salvação comum. É que, se eu te matar, continuará na República o
restante bando dos teus conjurados; mas, se tu saíres, como já há muito te
estou convidando, a cidade ficará vazia dos teus sectários, dessa profunda
sentina que empesta o Estado.
Então,
Catilina, que se passa? Hesitas em fazer por minha ordem o que tu já te
dispunhas a realizar por tua livre vontade? É a um inimigo público que o cônsul
manda sair da cidade. Perguntas-me se para o exílio? Não to ordeno, mas, se
pedes o meu parecer, aconselho-te.
VI
Que
há, ó Catilina, que ainda te possa causar prazer nesta cidade, em que não há
ninguém, fora desta conjuração de homens depravados, que te não tema, ninguém
que te não deteste? Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo
na tua. vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação?
Que sensualidade esteve longe de teus olhos? Que ação infamante deixaram de
perpetrar as tuas mãos algum dia? Que torpeza esteve ausente de todo o teu
corpo? Que jovem haverá a quem não tenhas laqueado nas seduções da tua
imoralidade, guiado o ferro na rebeldia ou o archote. na libertinagem?
Pois
quê? Há pouco, quando, com a morte da tua primeira mulher, esvaziaste a tua
casa com vista a um novo casamento, não acumulaste ainda sobre este delito um
outro atentado inacreditável, que eu não refiro e acho melhor deixar passar em
silêncio, para que não conste que nesta cidade se verificou a barbaridade de um
crime tamanho, ou que este ficou sem castigo? Nem menciono a perda dos teus
haveres, que tu verás todos confiscados nos próximos Idos; refiro-me a fatos
que dizem respeito não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria
doméstica e à tua má fama, mas, sim, aos superiores interesses do Estado e à
vida e segurança de todos nós.
Podes
tu, Catilina, sentir prazer na luz deste dia ou no ar deste céu que respiras,
ao saberes que ninguém dos presentes desconhece que, na véspera das Calendas de
Janeiro", durante o consulado de Lépido e Tulo, te apresentaste armado no
local dos comícios do povo; que tinhas um grupo de homens preparado para dar a
morte aos cônsules e aos principais da cidade e que não foi nenhuma
reconsideração da tua parte nem o teu medo, mas, sim, a deusa Fortuna do povo
romano que impediu o crime da tua loucura? E já nem conto pois que não são nem
desconhecidos nem poucos os delitos cometidos depois quantas vezes, sendo eu cônsul
designado, quantas vezes mesmo durante o meu consulado, me tentaste matar!
Quantos golpes, vibrados de tal maneira, que parecia impossível escapar-lhes,
eu não evitei com um pequeno desvio ou, como costuma dizer-se, só com o corpo!
Nada adiantas, nada consegues, e, contudo, não desistes de tentar e de querer.
Quantas
vezes já esse punhal de assassino te foi arrancada das mãos! Quantas vezes, por
um mero acaso, ele te escapou e caiu aos pés, esse punhal que, sinceramente,
não sei em que iniciações mistéricas e a que deus o terás tu consagrado, para
julgares necessário cravá-lo no corpo do cônsul.
VII
E
agora, que vida é esta que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se
veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão
que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão
vasta assembleia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou? Se isto,
desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te
insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação
do silêncio? E que dizes ao facto de, à tua chegada, esse lugar ter ficado ao
abandono, e ao facto de todos os consulares, que tantas vezes figuraram nos
teus planos de assassino, mal te havias sentado a seu lado, terem deixado
deserta e vazia essa zona da bancada? Com que coragem, afinal, julgas tu que
hás de suportar tal afronta?
Se
os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te
receiam, eu, por Hércules!, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu,
a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda
que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos,
preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a
gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes,
que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a
hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na
alma e no coração? Se teus pais te temessem e odiassem e tu não os pudesses
apaziguar de modo nenhum, retirar-te-ias, penso eu, do seu olhar para outra
qualquer parte. Pois agora é a Pátria, mãe comum de todos nós, que te odeia e
teme, e sabe que desde há muito não pensas noutra coisa que não seja o seu
parricídio; e tu, nem respeitarás a sua autoridade, nem acatarás as suas
decisões, nem te assustarás com o seu poder?
Eis
que ela a ti se dirige, ó Catilina, e, no seu silêncio, como que fala:
«Há
vários anos já que nenhum crime se viu cometido senão por ti; nenhum escândalo,
sem ti; só tu cometeste, sem castigo e com toda a liberdade, o assassino de
muitos cidadãos, a opressão e saque dos nossos aliados; só tu te atreveste não
só a desprezar, mas até a subverter e a infringir as leis e os tribunais. Esses
crimes de outrora, posto que não devessem ter sido suportados, eu os suportei
como pude; mas agora, estar eu toda em sobressalto somente por causa de ti, ser
Catilina objeto de medo ao mínimo ruído que surja, não se poder descobrir
conjura alguma tramada contra mim em que não esteja implicada a tua intenção
criminosa, não, isso é que não devo suportar. Por isso, vai-te daqui e afasta
de mim este receio; se ele tem fundamento, para eu não andar oprimida; se é ilusório,
para eu, enfim, deixar de uma vez esta vida de medo.»
VIII
Se
tais palavras, como disse, a Pátria te pudesse dirigir, não deveria ela
conseguir o seu intento, muito embora não pudesse fazer uso da força?
E
que dizer do facto de tu próprio te haveres entregado sob guarda provisória e
teres dito, a fim de evitares suspeitas, que desejavas ficar em casa de Mânio
Lépido? Como este não te recebeu, até a mim tiveste cara de te dirigir e de me
pedir que te guardasse em minha casa. E, como também de mim levaste a resposta
de que eu não podia de modo nenhum sentir-me seguro contigo dentro das mesmas
paredes, porquanto já eu corria grande perigo pelo facto de estarmos metidos
dentro das mesmas muralhas, foste a casa do pretor Quinto Metelo. E, repudiado
por ele, imigraste para casa do teu comparsa Marco Metelo, esse grande homem de
quem pensaste, claro está, que havia de ser o mais cuidadoso em te guardar, o
mais esperto para te vigiar e o mais enérgico para te defender. Mas em que
medida parece justo estar afastado da prisão e das cadeias quem se julgou, por
si mesmo, digno de detenção?
Uma
vez que assim é, Catilina, se não és capaz de esperar pela morte de coração
resignado. ainda hesitas em partir daqui para outras terras e em entregar ao
exílio e à solidão essa vida, subtraindo-a a muitos castigos justos e
merecidos?
«Propõe-no
ao Senado», dizes tu. É isto, com efeito, o que reclamas, e dizes que, se esta
Ordem de senadores vier a decidir que é sua vontade a tua partida para o
exílio, estás na disposição de obedecer. Não, não vou propor uma coisa que é
contra os meus princípios, mas, sim, farei com que vejas o que estes pensam
acerca de ti. Sai de Roma, Catilina; liberta o Estado destas apreensões; parte
para o exílio, se é esta a palavra de ordem que esperas. Então? Não vês? Não
dás conta do silêncio dos presentes? Se estão calados, é porque consentem.
Porque esperas pela autoridade das palavras, quando percebes muito bem pelo seu
silêncio o que têm na vontade?
Ora,
se eu tivesse dito estas mesmas palavras a um jovem tão cheio de qualidades
como Públio Séstio aqui presente, se as tivesse dirigido a Marco Marcelo, varão
da mais alta virtude, já o Senado, apesar de eu ser cônsul, teria, com plena
justiça, lançado contra mim, neste mesmo templo, a sua força e o seu poder. A
teu respeito, porém, Catilina, a sua imobilidade é uma aprovação; o seu
consentimento, um decreto; o seu silêncio, um clamor. E não apenas estes aqui
presentes, cuja autoridade tens, pelos vistos, em grande estima, mas a vida em
vil apreço; também aqueles cavaleiros romanos, homens da maior honestidade e
excelência, e os restantes cidadãos tão valorosos que de pé circundam este
Senado, e de quem tiveste ensejo, há momentos, de ver não só a afluência, mas
até de reconhecer claramente as disposições e ouvir distintamente os clamores.
É com dificuldade que desde há muito detenho suas mãos e suas armas aparelhadas
contra ti; mas, se abandonares estes sítios que há largo tempo pretendes
devastar, é com facilidade que os poderei levar a escoltarem-te até às portas
da cidade.
IX
Mas
de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar?
Tu, como poderás algum dia corrigir-te? Tu, como tentarás planear alguma fuga?
Tu. como podes pensar nalgum exílio? Oxalá os deuses imortais te inspirassem
tal propósito, muito embora eu veja que, se tu, apavorado com as minhas
palavras, te decidires a partir para o exílio, uma enorme tempestade de ódios
ameaça desabar sobre nós, se não no tempo presente, por causa da fresca
lembrança dos teus crimes, pelo menos para o futuro. Vale, porém, a pena, desde
que essa desgraça seja particular e se não misture com os perigos do Estado.
Mas a ti, o que não se deverá exigir é que te afastes dos teus vícios, que
alimentes profundo receio dos castigos da lei, que recues perante as conjunturas
críticas da República. Nem tu, Caulina, és de molde que a vergonha te afaste da
infâmia; ou o medo, do perigo; ou a razão, da loucura.
Por
isso mesmo, parte, como já tantas vezes te disse, e, se pretendes, conforme
apregoas, atear o ódio público contra mim, teu inimigo, avança já direito ao
exílio; se o fizeres, muito me custará suportar a censura dos homens; se
partires para o exílio por ordem do cônsul, muito me custará sentir o fardo
dessa impopularidade. Se, porém, preferes servir o meu prestígio e a minha
glória, sai juntamente com o indesejável bando dos celerados, refugia-te junto
de Mânlio, convoca os cidadãos perversos, separa-te dos homens de bem, move
guerra contra a Pátria, exulta com uma sacrílega revolta de bandidos, para que
se veja que não foste expulso por mim para o meio de estranhos, mas, sim,
convidado a partir para junto dos teus.
De
resto, para quê convidar-te a isso, uma vez que tenho conhecimento de que tu
enviaste homens à frente para te esperarem armados junto do Fórum de Aurélio, e
sei que tu combinaste e fixaste a data com Mânlio, e sei que até enviaste à
frente aquela famosa águia de prata", uma águia que, assim o espero, há-de
tornar-se ruinosa e fatal para ti e para todos os teus, uma águia à qual esteve
levantado em tua casa um criminoso santuário? Como é que tu poderás passar mais
tempo sem aquela que costumavas adorar ao partir para a carnificina, tu que
tantas vezes fizeste passar essa dextra sacrílega, do seu altar para a chacina
de cidadãos?
X
Irás,
enfim, de uma vez para sempre, para onde há muito tempo te arrastava essa tua
paixão desenfreada. e louca, pois não é pesar o que esta partida te causa, mas
um estranho e inacreditável prazer. Foi para semelhante loucura que a natureza
te gerou, te preparou a vontade, e o destino te guardou. Tu, não só nunca
desejaste o tempo de paz, mas nem sequer uma guerra que não fosse criminosa.
Topaste uma corja de bandidos formada de gente perversa, enjeitada não só de
toda a sorte, mas até de toda a esperança.
Ah!
que alegria não experimentarás, com que júbilo não hás de exultar, com que.
prazer tamanho andarás em orgiástico delírio, quando, entre o número tão
avultado dos teus, não conheceres nem vires um só homem de bem! Foi por afeição
a tal género de vida que se praticaram aquelas tuas proezas de que se fala:
permanecer prostrado no chão, ou para espreitar o momento azado para algum
atentado contra o pudor, ou mesmo para cometer algum crime; passar as noites em
claro lançando armadilhas não só ao sono dos maridos, mas também aos haveres da
gente pacífica? Tens aí onde possas ostentar essa tua famosa capacidade em
suportar a fome, o frio, a carência de tudo; e em breve perceberás que foi isso
que deu cabo de ti.
Quando
te rejeitei do consulado, uma coisa consegui pelo menos: que tu antes pudesses
atacar a República como exilado do que maltratá-la como cônsul, e que a tua
criminosa empresa mais se pudesse chamar uma arruaça de bandidos que uma guerra
civil.
XI
E
agora, venerandos senadores, a fim de eu poder arredar e esconjurar de. mim uma
censura, de certo modo justa, da Pátria, escutai, por favor, com atenção, o que
vou dizer, e gravai-o bem fundo no vosso coração e na vossa memória. Porquanto,
se a Pátria, que é para mim mais cara que a própria vida, se a Itália inteira,
se toda a República me dissesse:
«Que
estás tu a fazer, Marco Túlio? Então tu vais consentir que aquele que provaste
ser um inimigo público, que tu vês como o futuro comandante de uma revolta, que
tu sabes ser esperado como general no acampamento dos inimigos, ser o
instigador de um ato criminoso, o cabecilha de uma conspiração, um agitador de
escravos e de cidadãos perversos, a esse vais tu deixá-lo partir de tal
maneira, que nem parece ter sido por ti expelido para fora da cidade, mas, sim,
impelido contra ela? Então, não vais mandar que o ponham a ferros, que o
arrastem para a morte, que o imolem no derradeiro suplício?
O
que te impede, afinal? Será a tradição dos antigos? Mas nesta República até
simples particulares puniram muitíssimas vezes com a morte cidadãos
perniciosos. Serão, porventura, as leis que foram propostas acerca do suplício
dos cidadãos romanos? Mas nunca., nesta cidade, os que atraiçoaram a Pátria
continuaram na posse dos direitos de cidadania. Ou é a impopularidade do futuro
que tu receias? Bela maneira essa de agradeceres ao povo romano, ele que te
elevou tão cedo ao supremo poder através de todos os graus da magistratura,
sendo tu um homem conhecido apenas pela tua pessoa sem nenhuma recomendação de
antepassados - se, por causa da impopularidade ou do receio de algum perigo,
desprezas a salvação dos teus concidadãos!
Mas,
se há algum medo de cair em desagrado, dever-se-á, porventura, ter mais receio
da antipatia motivada pelo rigor e pela fortaleza que pela preguiça e pelo
desleixo? Ou, quando a Itália for devastada pela guerra, quando as cidades
forem arrasadas, quando as casas estiverem a arder, acaso pensas tu que nessa
altura não hás-de ser inteiramente devorado pelo fogo do ódio popular?»
XII
A
estes tão augustos clamores da República e ao pensamento daqueles homens que
sentem desse mesmo modo responderei em poucas palavras. Se eu, venerandos
senadores, considerasse que a melhor atitude era castigar Catilina com a morte,
não concederia a esse gladiador nem mais uma hora de vida. É que, se homens da
mais alta categoria e cidadãos dos mais ilustres não só se não mancharam, mas
até colheram honra no sangue de Saturnino, e dos Gracos, e de Flaco, e de
muitos ainda mais antigos, certamente eu não teria que recear que, com a morte
deste parricida dos seus concidadãos, sobre mim se derramasse qualquer ódio da
posteridade. E, mesmo que este me estivesse particularmente iminente, sempre
tive, apesar disso, a convicção de que o ódio alcançado pelo mérito não é ódio,
é glória.
Há,
todavia, nesta Ordem de senadores, alguns que, ou não veem aquilo que nos
ameaça, ou fingem ignorar aquilo que veem; estes, pela moleza das suas
decisões, alimentaram a esperança de Catilina e deram força à conjuração
nascente, não acreditando nela; e, por sua influência, muitos; não apenas os
perversos, mas ainda os mal informados, diriam, se eu tivesse punido Catilina,
que o tinha feito com crueldade e tirania.
Ora
eu penso que, se este der entrada nos acampamentos de Mânlio, que são o seu objetivo, não haverá ninguém tão ingênuo que não veja ter-se armado uma
conjuração, ninguém tão descarado que o não confesse. Por outro lado, penso
que, se for condenado à morte apenas Catilina aqui presente, este flagelo que afeta o Estado pode reprimir-se por um pouco, não suprimir sem para sempre.
Mas, se ele se desterrar a si mesmo e levar os seus partidários consigo, e se
recolher, de toda a parte, os demais naufragados da vida e os congregar no
mesmo lugar, ficará extinta e debelada não apenas esta já tão adiantada doença
do Estado, mas até a raiz e o germe de todos os males.
XIII
É
que nós, venerandos senadores, vivemos desde há muito envolvidos nestes perigos
e nas ciladas de uma conspiração, mas, não sei como, a maturação de todos os
crimes e da antiga loucura e audácia veio a rebentar no tempo do nosso
consulado. E se, de tamanho bando de salteadores, se suprimir apenas este,
poderá parecer talvez que ficamos, por um pequeno espaço de tempo, aliviados da
apreensão e do medo; o perigo, porém, há-de permanecer e ficará profundamente
inculcado nas veias e nas entranhas da República. Tal como, muitas vezes, as
pessoas atingidas por uma doença grave, se, no tumultuar do ardor da febre,
beberam água gelada, parecem aliviadas nos primeiros momentos e logo depois o
mal as oprime mais forte e violento, do mesmo modo esta doença que existe no
seio do Estado. aliviada embora pelo suplício daquele que ali vedes,
agravar-se-á com mais violência ainda se sobreviverem os restantes conjurados.
Por
tudo isto, que os perversos se retirem, se separem dos homens de bem, se juntem
num só lugar e que uma muralha, enfim, como já o proclamei tantas vezes, os
mantenha separados de nós; que deixem de armar traições ao cônsul na sua
própria casa, de bloquear o tribunal do pretor urbano, de assediar com armas a
Cúria, de preparar dardos incendiários e archotes para deitar fogo à cidade;
numa palavra, que na fronte de cada um se mostrem gravados os seus sentimentos
políticos. Garanto-vos, senadores egrégios, que a nossa vigilância de cônsules
há de ser bastante, e espero que haja em vós tal autoridade, nos cavaleiros
romanos tamanha coragem, em todos os homens de bem a conformidade de
sentimentos necessária para poderdes ver que, com a retirada de Catilina, tudo
fica descoberto, esclarecido, subjugado, punido.
Com
estes presságios, Catilina, e para suprema salvação do Estado, para tua
desgraça e ruína e para perdição daqueles que a ti se ligaram por toda a
espécie de crimes e parricídios, parte para essa guerra ímpia e nefanda. E tu,
Júpiter, cujo culto foi estatuído por Rómulo sob os mesmos auspícios, desta
cidade, tu a quem com justiça chamamos o Sustentáculo desta urbe e deste
império, hás de relegar este assassino e os seus comparsas para longe do teu
templo e dos restantes, das casas de Roma e das suas muralhas, da vida e dos
haveres de toda a população; e àqueles que odeiam os homens de bem, aos
inimigos da Pátria, aos salteadores da Itália, unidos entre si por um pacto
criminoso e uma aliança nefanda, a esses, vivos e mortos, hás de puni-los com
suplícios eternos.
(texto
original)
ORATIO
IN L. CATILINAM PRIMA
IN
SENATV HABITA
[1]
I. Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? quam diu etiam furor
iste tuus nos eludet? quem ad finem sese effrenata iactabit audacia? Nihilne te
nocturnum praesidium Palati, nihil urbis vigiliae, nihil timor populi, nihil
concursus bonorum omnium, nihil hic munitissimus habendi senatus locus, nihil
horum ora voltusque moverunt? Patere tua consilia non sentis, constrictam iam
horum omnium scientia teneri coniurationem tuam non vides? Quid proxima, quid
superiore nocte egeris, ubi fueris, quos convocaveris, quid consilii ceperis,
quem nostrum ignorare arbitraris? [2] O tempora, o mores! Senatus haec
intellegit. Consul videt; hic tamen vivit. Vivit? immo vero etiam in senatum
venit, fit publici consilii particeps, notat et designat oculis ad caedem unum
quemque nostrum. Nos autem fortes viri satis facere rei publicae videmur, si
istius furorem ac tela vitemus. Ad mortem te, Catilina, duci iussu consulis iam
pridem oportebat, in te conferri pestem, quam tu in nos [omnes iam diu]
machinaris.
[3]
An vero vir amplissumus, P. Scipio, pontifex maximus, Ti. Gracchum mediocriter
labefactantem statum rei publicae privatus interfecit; Catilinam orbem terrae
caede atque incendiis vastare cupientem nos consules perferemus? Nam illa nimis
antiqua praetereo, quod C. Servilius Ahala Sp. Maelium novis rebus studentem
manu sua occidit. Fuit, fuit ista quondam in hac re publica virtus, ut viri
fortes acrioribus suppliciis civem perniciosum quam acerbissimum hostem
coercerent. Habemus senatus consultum in te, Catilina, vehemens et grave, non
deest rei publicae consilium neque auctoritas huius ordinis; nos, nos, dico
aperte, consules desumus.
[4]
II. Decrevit quondam senatus, ut L. Opimius consul videret, ne quid res publica
detrimenti caperet; nox nulla intercessit; interfectus est propter quasdam
seditionum suspiciones C. Gracchus, clarissimo patre, avo, maioribus, occisus
est cum liberis M. Fulvius consularis. Simili senatus consulto C. Mario et L.
Valerio consulibus est permissa res publica; num unum diem postea L. Saturninum
tribunum pl. et C. Servilium praetorem mors ac rei publicae poena remorata est?
At [vero] nos vicesimum iam diem patimur hebescere aciem horum auctoritatis.
Habemus enim huiusce modi senatus consultum, verum inclusum in tabulis tamquam
in vagina reconditum, quo ex senatus consulto confestim te interfectum esse,
Catilina, convenit. Vivis, et vivis non ad deponendam, sed ad confirmandam
audaciam. Cupio,
patres conscripti, me esse clementem, cupio in tantis rei publicae periculis me
non dissolutum videri, sed iam me ipse inertiae nequitiaeque condemno.
[5]
Castra sunt in Italia contra populum Romanum in Etruriae faucibus conlocata,
crescit in dies singulos hostium numerus; eorum autem castrorum imperatorem
ducemque hostium intra moenia atque adeo in senatu videmus intestinam aliquam
cotidie perniciem rei publicae molientem. Si te iam, Catilina, comprehendi, si
interfici iussero, credo, erit verendum mihi, ne non potius hoc omnes boni
serius a me quam quisquam crudelius factum esse dicat. Verum ego hoc, quod iam
pridem factum esse oportuit, certa de causa nondum adducor ut faciam. Tum
denique interficiere, cum iam nemo tam inprobus, tam perditus, tam tui similis
inveniri poterit, qui id non iure factum esse fateatur. [6] Quamdiu quisquam
erit, qui te defendere audeat, vives, et vives ita, ut [nunc] vivis. multis
meis et firmis praesidiis obsessus, ne commovere te contra rem publicam possis.
Multorum te etiam oculi et aures non sentientem, sicut adhuc fecerunt,
speculabuntur atque custodient.
III.
Etenim quid est, Catilina, quod iam amplius expectes, si neque nox tenebris
obscurare coeptus nefarios nec privata domus parietibus continere voces
coniurationis tuae potest, si illustrantur, si erumpunt omnia? Muta iam istam
mentem, mihi crede, obliviscere caedis atque incendiorum. Teneris undique; luce
sunt clariora nobis tua consilia omnia; quae iam mecum licet recognoscas.
[7]
Meministine me ante diem XII Kalendas Novembris dicere in senatu fore in armis
certo die, qui dies futurus esset ante diem VI Kal. Novembris, C. Manlium,
audaciae satellitem atque administrum tuae? Num me fefellit, Catilina, non modo
res tanta, tam atrox tamque incredibilis, verum, id quod multo magis est
admirandum, dies? Dixi ego idem in senatu caedem te optumatium contulisse in
ante diem V Kalendas Novembris, tum cum multi principes civitatis Roma non tam
sui conservandi quam tuorum consiliorum reprimendorum causa profugerunt. Num
infitiari potes te illo ipso die meis praesidiis, mea diligentia circumclusum
commovere te contra rem publicam non potuisse, cum tu discessu ceterorum nostra
tamen, qui remansissemus, caede te contentum esse dicebas?
[8]
Quid? cum te Praeneste Kalendis ipsis Novembribus occupaturum nocturno impetu
esse confideres, sensistin illam coloniam meo iussu meis praesidiis, custodiis,
vigiliis esse munitam? Nihil agis, nihil moliris, nihil cogitas, quod non ego
non modo audiam, sed etiam videam planeque sentiam. IV. Recognosce tandem mecum
noctem illam superiorem; iam intelleges multo me vigilare acrius ad salutem
quam te ad perniciem rei publicae. Dico te priore nocte venisse inter
falcarios--non agam obscure--in M. Laecae domum; convenisse eodem complures
eiusdem amentiae scelerisque socios. Num negare audes? quid taces? Convincam,
si negas. Video enim esse hic in senatu quosdam, qui tecum una fuerunt.
[9]
O di inmortales! ubinam gentium sumus? in qua urbe vivimus? quam rem publicam
habemus? Hic, hic sunt in nostro numero, patres conscripti, in hoc orbis terrae
sanctissimo gravissimoque consilio, qui de nostro omnium interitu, qui de huius
urbis atque adeo de orbis terrarum exitio cogitent! Hos ego video consul et de
re publica sententiam rogo et, quos ferro trucidari oportebat, eos nondum voce
volnero!
Fuisti
igitur apud Laecam illa nocte, Catilina, distribuisti partes Italiae,
statuisti, quo quemque proficisci placeret, delegisti, quos Romae relinqueres,
quos tecum educeres, discripsisti urbis partes ad incendia, confirmasti te
ipsum iam esse exiturum, dixisti paulum tibi esse etiam nunc morae, quod ego viverem.
Reperti sunt duo equites Romani, qui te ista cura liberarent et sese illa ipsa
nocte paulo ante lucem me in meo lectulo interfecturos [esse] pollicerentur.
[10] Haec ego omnia vixdum etiam coetu vestro dimisso comperi; domum meam
maioribus praesidiis munivi atque firmavi, exclusi eos, quos tu ad me salutatum
mane miseras, cum illi ipsi venissent, quos ego iam multis ac summis viris ad
me id temporis venturos esse praedixeram.
V.
Quae cum ita sint, Catilina, perge, quo coepisti, egredere aliquando ex urbe;
patent portae; proficiscere. Nimium diu te imperatorem tua illa Manliana castra
desiderant. Educ tecum etiam omnes tuos, si minus, quam plurimos; purga urbem.
Magno me metu liberabis, dum modo inter me atque te murus intersit. Nobiscum
versari iam diutius non potes; non feram, non patiar, non sinam. [11] Magna dis
inmortalibus habenda est atque huic ipsi Iovi Statori, antiquissimo custodi
huius urbis, gratia, quod hanc tam taetram, tam horribilem tamque infestam rei
publicae pestem totiens iam effugimus.
Non
est saepius in uno homine summa salus periclitanda rei publicae. Quamdiu mihi
consuli designato, Catilina, insidiatus es, non publico me praesidio, sed
privata diligentia defendi. Cum proximis comitiis consularibus me consulem in
campo et competitores tuos interficere voluisti, compressi conatus tuos
nefarios amicorum praesidio et copiis nullo tumultu publice concitato; denique,
quotienscumque me petisti, per me tibi obstiti, quamquam videbam perniciem meam
cum magna calamitate rei publicae esse coniunctam.
[12]
Nunc iam aperte rem publicam universam petis, templa deorum inmortalium, tecta
urbis, vitam omnium civium, Italiam [denique] totam ad exitium et vastitatem
vocas. Quare, quoniam id, quod est primum, et quod huius imperii disciplinaeque
maiorum proprium est, facere nondum audeo, faciam id, quod est ad severitatem
lenius et ad communem salutem utilius. Nam si te interfici iussero, residebit
in re publica reliqua coniuratorum manus; sin tu, quod te iam dudum hortor,
exieris, exhaurietur ex urbe tuorum comitum magna et perniciosa sentina rei
publicae. [13] Quid est, Catilina? num dubitas id me imperante facere, quod iam
tua sponte faciebas? Exire ex urbe iubet consul hostem. Interrogas me, num in
exilium; non iubeo, sed, si me consulis, suadeo.
VI.
Quid est enim, Catilina, quod te iam in hac urbe delectare possit? in qua nemo
est extra istam coniurationem perditorum hominum, qui te non metuat, nemo, qui
non oderit.
Quae
nota domesticae turpitudinis non inusta vitae tuae est? quod privatarum rerum
dedecus non haeret in fama? quae lubido ab oculis, quod facinus a manibus
umquam tuis, quod flagitium a toto corpore afuit? cui tu adulescentulo, quem
corruptelarum inlecebris inretisses, non aut ad audaciam ferrum aut ad
lubidinem facem praetulisti? [14] Quid vero? nuper cum morte superioris uxoris
novis nuptiis domum vacuefecisses, nonne etiam alio incredibili scelere hoc
scelus cumulasti? quod ego praetermitto et facile patior sileri, ne in hac
civitate tanti facinoris inmanitas aut extitisse aut non vindicata esse
videatur. Praetermitto ruinas fortunarum tuarum, quas omnis inpendere tibi
proxumis Idibus senties; ad illa venio, quae non ad privatam ignominiam
vitiorum tuorum, non ad domesticam tuam difficultatem ac turpitudinem sed ad
summam rem publicam atque ad omnium nostrum vitam salutemque pertinent. [15]
Potestne tibi haec lux, Catilina, aut huius caeli spiritus esse iucundus, cum
scias esse horum neminem, qui nesciat te pridie Kalendas Ianuarias Lepido et
Tullo consulibus stetisse in comitio cum telo, manum consulum et principum
civitatis interficiendorum causa paravisse, sceleri ac furori tuo non mentem
aliquam aut timorem tuum sed fortunam populi Romani obstitisse?
Ac
iam illa omitto--neque enim sunt aut obscura aut non multa commissa postea--quotiens
tu me designatum, quotiens consulem interficere conatus es! quot ego tuas
petitiones ita coniectas, ut vitari posse non viderentur, parva quadam
declinatione et, ut aiunt, corpore effugi! nihil [agis, nihil] adsequeris [,
nihil moliris] neque tamen conari ac velle desistis. [16] Quotiens tibi iam
extorta est ista sica de manibus, quotiens [vero] excidit casu aliquo et elapsa
est! [tamen ea carere diutius non potes] quae quidem quibus abs te initiata
sacris ac devota sit, nescio, quod eam necesse putas esse in consulis corpore
defigere.
VII.
Nunc vero quae tua est ista vita? Sic enim iam tecum loquar, non ut odio
permotus esse videar, quo debeo, sed ut misericordia, quae tibi nulla debetur.
Venisti paulo ante in senatum. Quis te ex hac tanta frequentia totque tuis
amicis ac necessariis salutavit? Si hoc post hominum memoriam contigit nemini,
vocis expectas contumeliam, cum sis gravissimo iudicio taciturnitatis
oppressus? Quid, quod adventu tuo ista subsellia vacuefacta sunt, quod omnes
consulares, qui tibi persaepe ad caedem constituti fuerunt, simul atque
adsedisti, partem istam subselliorum nudam atque inanem reliquerunt, quo tandem
animo [hoc] tibi ferundum putas?
[17]
Servi mehercule mei si me isto pacto metuerent, ut te metuunt omnes cives tui, domum
meam relinquendam putarem; tu tibi urbem non arbitraris? et, si me meis civibus
iniuria suspectum tam graviter atque offensum viderem, carere me aspectu civium
quam infestis omnium oculis conspici mallem; tu cum conscientia scelerum tuorum
agnoscas odium omnium iustum et iam diu tibi debitum, dubitas, quorum mentes
sensusque volneras, eorum aspectum praesentiamque vitare? Si te parentes
timerent atque odissent tui neque eos ulla ratione placare posses, ut opinor,
ab eorum oculis aliquo concederes. Nunc te patria, quae communis est parens
omnium nostrum, odit ac metuit et iam diu nihil te iudicat nisi de parricidio
suo cogitare; huius tu neque auctoritatem verebere nec iudicium sequere nec vim
pertimesces?
[18]
Quae tecum, Catilina, sic agit et quodam modo tacita loquitur: "Nullum iam
aliquot annis facinus exstitit nisi per te, nullum flagitium sine te; tibi uni
multorum civium neces, tibi vexatio direptioque sociorum inpunita fuit ac
libera; tu non solum ad neglegendas leges et quaestiones, verum etiam ad
evertendas perfringendasque valuisti. Superiora illa, quamquam ferenda non
fuerunt, tamen, ut potui, tuli; nunc vero me totam esse in metu propter unum
te, quicquid increpuerit, Catilinam timeri, nullum videri contra me consilium
iniri posse, quod a tuo scelere abhorreat, non est ferendum. Quam ob rem
discede atque hunc mihi timorem eripe; si est verus, ne opprimar, sin falsus,
ut tandem aliquando timere desinam."
[19]
VIII. Haec si tecum, ita ut dixi, patria loquatur, nonne impetrare debeat,
etiamsi vim adhibere non possit? Quid, quod tu te ipse in custodiam dedisti,
quod vitandae suspicionis causa ad M'. Lepidum te habitare velle dixisti? A quo
non receptus etiam ad me venire ausus es atque, ut domi meae te adservarem,
rogasti. Cum a me quoque id responsum tulisses, me nullo modo posse isdem
parietibus tuto esse tecum, qui magno in periculo essem, quod isdem moenibus
contineremur, ad Q. Metellum praetorem venisti. A quo repudiatus ad sodalem
tuum, virum optumum, M. Metellum, demigrasti; quem tu videlicet et ad
custodiendum diligentissimum et ad suspicandum sagacissimum et ad vindicandum
fortissimum fore putasti. Sed quam longe videtur a carcere atque a vinculis
abesse debere, qui se ipse iam dignum custodia iudicarit!
[20]
Quae cum ita sint, Catilina, dubitas, si emori aequo animo non potes, abire in
aliquas terras et vitam istam multis suppliciis iustis debitisque ereptam fugae
solitudinique mandare? "Refer" inquis "ad senatum"; id enim
postulas et, si hic ordo [sibi] placere decreverit te ire in exilium,
optemperaturum te esse dicis. Non referam, id quod abhorret a meis moribus, et
tamen faciam, ut intellegas, quid hi de te sentiant. Egredere ex urbe,
Catilina, libera rem publicam metu, in exilium, si hanc vocem exspectas,
proficiscere. Quid est, Catilina? ecquid attendis, ecquid animadvertis horum
silentium? Patiuntur, tacent. Quid exspectas auctoritatem loquentium, quorum
voluntatem tacitorum perspicis?
[21]
At si hoc idem huic adulescenti optimo, P. Sestio, si fortissimo viro, M.
Marcello, dixissem, iam mihi consuli hoc ipso in templo iure optimo senatus vim
et manus intulisset. De te autem, Catilina, cum quiescunt, probant, cum
patiuntur, decernunt, cum tacent, clamant, neque hi solum, quorum tibi
auctoritas est videlicet cara, vita vilissima, sed etiam illi equites Romani,
honestissimi atque optimi viri, ceterique fortissimi cives, qui circumstant
senatum, quorum tu et frequentiam videre et studia perspicere et voces paulo
ante exaudire potuisti. Quorum ego vix abs te iam diu manus ac tela contineo,
eosdem facile adducam, ut te haec, quae vastare iam pridem studes, relinquentem
usque ad portas prosequantur.
[22]
IX. Quamquam quid loquor? te ut ulla res frangat, tu ut umquam te corrigas, tu
ut ullam fugam meditere, tu ut ullum exilium cogites? Utinam tibi istam mentem
di inmortales duint! tametsi video, si mea voce perterritus ire in exilium
animum induxeris quanta tempestas invidiae nobis, si minus in praesens tempus
recenti memoria scelerum tuorum, at in posteritatem impendeat. Sed est tanti,
dum modo ista sit privata calamitas et a rei publicae periculis seiungatur. Sed
tu ut vitiis tuis commoveare, ut legum poenas pertimescas, ut temporibus rei
publicae cedas, non est postulandum. Neque enim is es, Catilina, ut te aut
pudor umquam a turpitudine aut metus a periculo aut ratio a furore revocarit.
[23]
Quam ob rem, ut saepe iam dixi, proficiscere ac, si mihi inimico, ut praedicas,
tuo conflare vis invidiam, recta perge in exilium; vix feram sermones hominum,
si id feceris, vix molem istius invidiae, si in exilium iussu consulis ieris,
sustinebo. Sin autem servire meae laudi et gloriae mavis, egredere cum
inportuna sceleratorum manu, confer te ad Manlium, concita perditos cives,
secerne te a bonis, infer patriae bellum, exsulta impio latrocinio, ut a me non
eiectus ad alienos, sed invitatus ad tuos isse videaris.
[24]
Quamquam quid ego te invitem, a quo iam sciam esse praemissos, qui tibi ad
Forum Aurelium praestolarentur armati, cui iam sciam pactam et constitutam cum Manlio
diem, a quo etiam aquilam illam argenteam, quam tibi ac tuis omnibus confido
perniciosam ac funestam futuram, cui domi tuae sacrarium [scelerum tuorum]
constitutum fuit, sciam esse praemissam? Tu ut illa carere diutius possis, quam
venerari ad caedem proficiscens solebas, a cuius altaribus saepe istam impiam
dexteram ad necem civium transtulisti?
[25]
X. Ibis tandem aliquando, quo te iam pridem ista tua cupiditas effrenata ac
furiosa rapiebat; neque enim tibi haec res adfert dolorem, sed quandam incredibilem
voluptatem. Ad hanc te amentiam natura peperit, voluntas exercuit, fortuna
servavit. Numquam tu non modo otium, sed ne bellum quidem nisi nefarium
concupisti. Nactus es ex perditis atque ab omni non modo fortuna, verum etiam
spe derelictis conflatam inproborum manum. [26] Hic tu qua laetitia perfruere,
quibus gaudiis exultabis, quanta in voluptate bacchabere, cum in tanto numero
tuorum neque audies virum bonum quemquam neque videbis! Ad huius vitae studium
meditati illi sunt, qui feruntur, labores tui, iacere humi non solum ad
obsidendum stuprum, verum etiam ad facinus obeundum, vigilare non solum
insidiantem somno maritorum, verum etiam bonis otiosorum. Habes, ubi ostentes
tuam illam praeclaram patientiam famis, frigoris, inopiae rerum omnium, quibus
te brevi tempore confectum esse senties. [27] Tantum profeci tum, cum te a
consulatu reppuli, ut exsul potius temptare quam consul vexare rem publicam
posses, atque ut id, quod esset a te scelerate susceptum, latrocinium potius
quam bellum nominaretur.
XI.
Nunc, ut a me, patres conscripti, quandam prope iustam patriae querimoniam
detester ac deprecer, percipite, quaeso, diligenter, quae dicam, et ea penitus
animis vestris mentibusque mandate. Etenim, si mecum patria, quae mihi vita mea
multo est carior, si cuncta Italia, si omnis res publica loquatur:
"M.Tulli,
quid agis? Tune eum, quem esse hostem comperisti, quem ducem belli futurum
vides, quem expectari imperatorem in castris hostium sentis, auctorem sceleris,
principem coniurationis, evocatorem servorum et civium perditorum, exire
patiere, ut abs te non emissus ex urbe, sed immissus in urbem esse videatur? Nonne
hunc in vincla duci, non ad mortem rapi, non summo supplicio mactari imperabis?
[28] Quid tandem te
impedit? mosne maiorum? At persaepe etiam privati in hac re publica perniciosos
cives morte multarunt. An leges, quae de civium Romanorum supplicio rogatae
sunt? At numquam in hac urbe, qui a re publica defecerunt, civium iura
tenuerunt. An invidiam posteritatis times? Praeclaram vero populo Romano refers
gratiam, qui te, hominem per te cognitum nulla commendatione maiorum tam mature
ad summum imperium per omnis honorum gradus extulit, si propter invidiam aut
alicuius periculi metum salutem civium tuorum neglegis. [29] Sed, si quis est
invidiae metus, non est vehementius severitatis ac fortitudinis invidia quam
inertiae ac nequitiae pertimescenda. An, cum bello vastabitur Italia,
vestabuntur urbes, tecta ardebunt tum te non existumas invidiae incendio
conflagraturum?"
XII.
His ego sanctissimis rei publicae vocibus et eorum hominum, qui hoc idem
sentiunt, mentibus pauca respondebo. Ego si hoc optimum factu iudicarem, patres
conscripti, Catilinam morte multari, unius usuram horae gladiatori isti ad
vivendum non dedissem. Etenim si summi viri et clarissimi cives saturnini et
Gracchorum et Flacci et superiorum complurium sanguine non modo se non
contaminarunt, sed etiam honestarunt, certe verendum mihi non erat, ne quid hoc
parricida civium interfecto invidiae [mihi] in posteritatem redundaret. Quodsi
ea mihi maxime inpenderet tamen hoc animo fui semper, ut invidiam virtute
partam gloriam, non invidiam putarem.
[30]
Quamquam non nulli sunt in hoc ordine, qui aut ea, quae inminent non videant
aut ea, quae vident, dissimulent; qui spem Catilinae mollibus sententiis
aluerunt coniurationemque nascentem non credendo corroboraverunt; quorum
auctoritate multi non solum improbi, verum etiam inperiti, si in hunc
animadvertissem, crudeliter et regie factum esse dicerent. Nunc intellego, si
iste, quo intendit, in Manliana castra pervenerit, neminem tam stultum fore,
qui non videat coniurationem esse factam neminem tam improbum, qui non
fateatur. Hoc autem uno interfecto intellego hanc rei publicae pestem paulisper
reprimi, non in perpetuum comprimi posse. Quodsi se eiecerit secumque suos
eduxerit et eodem ceteros undique collectos naufragos adgregarit, extinguetur
atque delebitur non modo haec tam adulta rei publicae pestis, verum etiam
stirps ac semen malorum omnium.
[31]
Etenim iam diu, patres conscripti, in his periculis coniurationis insidiisque
versamur, sed nescio quo pacto omnium scelerum ac veteris furoris et audaciae
maturitas in nostri consulatus tempus erupit. Quodsi ex tanto latrocinio iste
unus tolletur, videbimur fortasse ad breve quoddam tempus cura et metu esse
relevati, periculum autem residebit et erit inclusum penitus in venis atque in
visceribus rei publicae. Ut saepe homines aegri morbo gravi cum aestu febrique
iactantur, si aquam gelidam biberunt, primo relevari videntur, deinde multo
gravius vehementiusque adflictantur, sic hic morbus, qui est in re publica,
relevatus istius poena vehementius reliquis vivis ingravescet.
[32]
Quare secedant inprobi, secernant se a bonis, unum in locum congregentur, muro
denique, [id] quod saepe iam dixi, secernantur a nobis; desinant insidiari domi
suae consuli, circumstare tribunal praetoris urbani, obsidere cum gladiis
curiam, malleolos et faces ad inflammandam urbem comparare; sit denique
inscriptum in fronte unius cuiusque, quid de re publica sentiat. Polliceor hoc
vobis, patres conscripti, tantam in nobis consulibus fore diligentiam, tantam
in vobis auctoritatem, tantam in equitibus Romanis virtutem, tantam in omnibus
bonis consensionem, ut Catilinae profectione omnia patefacta, inlustrata,
oppressa, vindicata esse videatis.
[33]
Hisce ominibus, Catilina, cum summa rei publicae salute, cum tua peste ac
pernicie cumque eorum exitio, qui se tecum omni scelere parricidioque
iunxerunt, proficiscere ad impium bellum ac nefarium. Tu, Iuppiter, qui isdem
quibus haec urbs auspiciis a Romulo es constitutus, quem Statorem huius urbis
atque imperii vere nominamus, hunc et huius socios a tuis [aris] ceterisque
templis, a tectis urbis ac moenibus, a vita fortunisque civium [omnium] arcebis
et homines bonorum inimicos, hostis patriae, latrones Italiae scelerum foedere
inter se ac nefaria societate coniunctos aeternis suppliciis vivos mortuosque
mactabis.
Fontes:
Luiz
Carlos Moniz Barreto (trad.), Historia das Orações de M.T. Cicero ..., Lisboa,
Off. Manoel Antonio, 1772;
Pe.
Antonio Joaquim (trad.), Orações principaes de M. T. Cicero, 3 vols., Lisboa,
Regia Off. Typ., 1779-1780 (2.ª ed, 1807-1808; nova ed., 1848);
Nicolau
Firmino (trad.), As catilinárias de Marco Túlio Cícero, Lisboa, s.n., 1942 (2.ª
e 3.ª eds., 194-; 4.ª ed., 1950/1951)
Pe.
Arlindo Ribeiro da Cunha (trad.), In Catilinam, Marco Tulio Cícero, Braga,
Livraria Cruz, 1944;
Maria
Helena da Rocha Pereira (dir.), Cicero. As Catilinárias, Defesa de Murena,
Defesa de Árquias, Defesa de Milão, Lisboa, Verbo («Série Clássicos Gregos Latinos»), 1974;
Sebastião
Tavares de Pinho (trad.), As Catilinárias, Cícero, Lisboa, Ed