Guerra do Vietnã foi um conflito armado ocorrido
no Sudeste Asiático entre 1955 e 30 de abril de 1975. A guerra colocou em
confronto, de um lado, a República do Vietnã (Vietnã do Sul) e os Estados
Unidos, com participação efetiva, porém secundária, da Coreia do Sul, da
Austrália e da Nova Zelândia;
e, de outro, a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte) e a Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL). A China, a Coreia do Norte e, principalmente, a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietnã do Norte, mas não se envolveram efetivamente no conflito.
e, de outro, a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte) e a Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL). A China, a Coreia do Norte e, principalmente, a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietnã do Norte, mas não se envolveram efetivamente no conflito.
Em
1965, os Estados Unidos enviaram tropas para sustentar o governo do Vietnã do
Sul, que se mostrava incapaz de debelar o movimento insurgente de nacionalistas
e comunistas, que se haviam juntado na Frente Nacional para a Libertação do
Vietname (FNL). Entretanto, apesar de seu imenso poder militar e econômico, os
norte-americanos falharam em seus objetivos, sendo obrigados a se retirarem do
país em 1973 e dois anos depois o Vietnã foi reunificado sob governo
socialista, tornando-se oficialmente, em 1976, a República Socialista do
Vietnã.
Na
guerra, aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados
morreram, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos, arrastados
para a guerra com a propagação do conflito, e também cerca de 58 mil soldados
dos Estados Unidos.
Durante
o conflito, as tropas do exército da Vietnã do Norte travaram uma guerra
convencional contra as forças norte-americanas e sul-vietnamitas, e as milícias
da FNL menos equipadas e treinadas, lutaram uma guerra de guerrilha na região,
usando as selvas do Vietnã, espalhando armadilhas mortais aos soldados
inimigos, enquanto os Estados Unidos se armaram de grande poder de fogo, em
artilharia e aviação de combate, para destruir as bases inimigas e impedir suas
ofensivas.
À
exceção das linhas de combate ao redor dos perímetros fortificados de bases e
campos militares, não houve nesta guerra a formação clássica de linhas de
frente e as operações aconteceram em zonas delimitadas; missões de busca e
destruição por parte das forças norte-americanas, com o uso de bombardeios
maciços com armas químicas desfolhantes e sabotagens da guerrilha na retaguarda
das zonas urbanas.
Travada
com uma grande cobertura diária dos meios de comunicação, a guerra levou a uma
forte oposição e divisão da sociedade norte-americana, que gerou os Acordos de
Paz de Paris em 1973, causando a retirada das tropas do país do conflito. Ela
prosseguiu com a luta entre o norte e o sul do Vietnã dividido, terminando em
abril de 1975, com a invasão e ocupação comunista de Saigon, então a capital do
Vietnã do Sul e a rendição total do exército sul-vietnamita.
Para
os Estados Unidos, a Guerra do Vietnã resultou numa das maiores confrontações
armadas em que o país já se viu envolvido, e a derrota provocou a 'Síndrome do
Vietnã' em seus cidadãos e sua sociedade, causando profundos reflexos na sua
cultura, na indústria cinematográfica e grande mudança na sua política
exterior, até a eleição de Ronald Reagan, em 1980.
Antecedentes
Em
1950, a República Democrática do Vietnam e a República Popular da China de Mao
Tsé-Tung, fizeram um reconhecimento diplomático mútuo, apoiado pela União
Soviética. O Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, respondeu
reconhecendo o governo fantoche francês na Indochina. Washington, parecendo
desconhecer a longa antipatia histórica entre o Vietnam e a China, temia que
Hanói fosse um peão chinês e, por extensão, da União Soviética, o que era
considerado impensável por analistas conhecedores da história da Indochina e
seus vizinhos asiáticos. De qualquer maneira, o apoio chinês era muito
importante para o sucesso do Viet Minh e os chineses deram grande apoio
material e logístico aos comunistas vietnamitas durante a guerra.
O
início da Guerra da Coreia, em 1950, foi um ponto decisivo na situação local do
Sudeste Asiático do ponto de vista político. Pela perspectiva de Washington, o
que havia sido uma guerra colonial na Indochina, havia se transformado em outro
exemplo da expansão comunista dirigida pelo Kremlin.
Neste
mesmo ano, um grupo de conselheiros e analistas militares norte-americanos
chegou à região para analisar a situação local e os pedidos de ajuda dos
franceses em suprimentos e estratégia e treinar soldados vietnamitas. Quatro
anos depois, os Estados Unidos haviam fornecido trezentas mil armas de pequeno
porte e gasto um bilhão de dólares em apoio ao esforço militar francês e o
então governo Eisenhower estava bancando 80% do custo da guerra. Por outro
lado, o Viet Minh recebia apoio crucial de soviéticos e chineses, estes
enviando equipamentos pela fronteira dos dois países, graças a um acordo entre
os dois governos.
A
Batalha de Dien Bien Phu, em março e maio de 1954, marcou o fim do envolvimento
francês na Indochina. O Viet Minh e seu comandante, Vo Nguyen Giap, impuseram
aos franceses uma grande derrota militar, com a rendição da guarnição francesa
em 7 de maio. Em Genebra, a França negociou um acordo de cessar fogo com os
vietnamitas e a independência foi garantida ao Laos, ao Camboja e ao Vietnã. Mais
de 400 mil soldados e civis morreram durante o conflito de nove anos.
O
país foi temporariamente dividido em dois no Paralelo 17 e, de acordo com os
termos da Convenção de Genebra, os habitantes de um lado e de outro tinham o
direito de se moverem livremente entre os dois estados provisórios e eleições
deveriam ser realizadas no país. Entretanto, isso nunca teve lugar. No norte,
cerca de um milhão de habitantes, a grande maioria deles católicos, fugiram
para sul temendo o novo regime de Ho Chi Minh, que estabeleceu no país um
estado socialista – a República Socialista do Vietnã – e o engajou num grande
programa de reforma agrária. No sul, um estado não-comunista havia sido
estabelecido sob o Imperador Bao Dai, um antigo fantoche dos franceses e dos
japoneses e Ngo Dinh Diem se tornou primeiro-ministro.
Além
da fuga em massa dos católicos para o sul, mais de 90 mil combatentes do Viet
Minh foram para o norte, para o ‘reagrupamento’ entre as forças comunistas
previsto em Genebra; entretanto, em desacordo com as decisões conjuntas na
Suíça, o Viet Minh deixou no sul cerca de 5 a 10 mil células de simpatizantes,
como uma “substrutura político-militar com o objetivo de fazer uma
insurreição”.
A Era de Diem (1955-1963)
A
Conferência de Genebra foi realizada com a participação do Camboja, República
Democrática do Vietname, França, Laos, China, República do Vietname, União
Soviética, Reino Unido e Estados Unidos da América com o objetivo de restaurar
a paz na antiga Indochina e na Coreia, e previa que:
1.
O Vietnã seria momentaneamente dividido em duas partes, a partir do paralelo
17. A parte norte ficaria sob o governo de Ho Chi Minh, enquanto o sul ficaria
sob o domínio do imperador Bao Dai (dependente dos franceses);
2.
Entre as duas partes, haveria uma Zona Desmilitarizada (ZDM);
3.
Seriam realizadas eleições, em 20 de julho de 1956, para unificar o país, sob
supervisão internacional.
No
entanto, apenas a França e o Vietname do Norte assinaram a declaração, a
primeira porque pretendia restabelecer o domínio colonial ou, pelo menos
neocolonial, o segundo porque esperava ganhar tempo para reforçar a sua posição
no norte e eventualmente ganhar as referidas eleições.
De
fato, não tardou para que Washington promovesse um golpe militar em Saigon.
Mediante um Plebiscito (reconhecidamente fraudulento), Bao Dai foi deposto e o
poder foi entregue ao líder católico, Ngo Dinh Diem, comprometido com os
norte-americanos. Diem implantou uma ditadura militar, proclamou a independência
do Vietnã do Sul e cancelou as eleições previstas pelo Acordo de Genebra,
porque havia a convicção de que ela daria a vitória a Ho Chi Minh.
Para
justificar-se perante a opinião pública nacional e internacional, que lhe
cobrava por impedir que o povo vietnamita escolhesse, livremente, seu regime de
governo, o presidente Eisenhower apelou para uma Teoria do Dominó:
"Se vocês colocarem uma série
de peças de dominó em fila e empurrarem a primeira, logo acabará caindo até a
última... se permitirmos que os comunistas conquistem o Vietnã, corre-se o
risco de se provocar uma reação em cadeia e todo os estados da Ásia Oriental
tornar-se-ão comunistas um após o outro".
Contando
com a colaboração intensiva dos EUA (muitas armas e muito dinheiro), o governo
de Diem caracterizou-se pelo despotismo e pela mais ampla corrupção. Reprimiu
as seitas sul-vietnamitas, indispôs-se com os budistas e perseguiu violentamente
os nacionalistas e comunistas, levando esses dois grupos a se unirem, em 1960,
na Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL), adotando a luta de
guerrilha para opor-se ao governo sediado em Saigon.
Vietcong
Os
membros da FNL passaram a ser chamados de "Vietcongs", pelos
norte-americanos e seus aliados. Este termo, abreviado para "VC", deu
origem ao termo (utilizando a fonética militar) "Victor-Charlie" de
onde surgiu o nome "Charlie" também como apelido dos membros da FNL.
O
termo "Vietcong" tinha o propósito de desacreditar os guerrilheiros,
aplicando-lhes a pecha de "vietnamitas comunistas". Seus criadores
basearam-se no cenário vigente nos Estados Unidos, onde o termo
"comunista" alarma a opinião pública e conduz, não raro, a reações
histéricas. Mas naquela região da Ásia, o efeito não era o mesmo, até porque,
em muitos casos, os comunistas se identificavam com movimentos nacionalistas
que lutavam pela independência de povos submetidos ao domínio estrangeiro.
Ao
se dar conta de seu engano, Washington tentou retificar a situação, promovendo
um concurso público, nos Estados Unidos, para escolha de outro nome.
Oferecia-se prêmio em dinheiro por um "termo
camponês coloquial, que implicasse em algo de repulsivo ou ridículo",
porém o concurso não produziu o resultado desejado, e o termo
"Vietcong" continuou a ser usado.
Os
membros da FNL nunca assumiram esse "apelido" que lhes foi conferido.
Insurgência no sul (1956-1960)
Em
1956, um dos líderes comunistas do sul, Le Duan, retornou a Hanói para
incentivar a liderança comunista no norte a tomar uma posição firme para a
reunificação do país sob regime comunista, mas Hanói (então passando por uma
severa crise econômica) hesitou em lançar um confronto militar em larga escala.
Os comunistas nortistas temiam a intervenção dos EUA e acreditavam que as
condições no Vietnã do Sul ainda não estavam prontas para uma ‘revolução do
povo’. Entretanto, em dezembro de 1956, Ho autorizou que as células do Viet
Minh ainda no sul começassem uma insurgência de nível moderado, chamada de
propaganda armada, constando principalmente de sequestros e atentados.
Quatrocentos
funcionários do governo sulista foram assassinados apenas em 1957 e a violência
cresceu gradualmente; começando contra autoridades dos governos locais, os
atentados rapidamente se espalharam a outros símbolos do status quo
sul-vietnamita, como professores, funcionários da área de saúde e proprietários
agrícolas. Segundo estimativas, 20% dos prefeitos ou líderes de pequenas vilas
rurais do Vietnã do Sul foram assassinados em 1958. A insurgência tentava
destruir completamente o controle do governo nas áreas rurais do país e
substituí-lo por um governo-provisório.
Finalmente,
em 1959, sob a pressão das células sulistas que estavam se tornando alvos da
polícia secreta de Diem, o comitê central do norte publicou uma autorização
secreta autorizando uma sublevação armada. Isto autorizou o sulista Viet Minh a
começar operações em larga escala contra o exército do Vietnã do Sul e provocou
a decretação de leis anticomunistas mais duras pelo presidente Diem.
Entretanto, o Vietnã do Norte enviou tropas e suprimentos para corroborar sua
decisão, e homens e armas começaram a entrar no Vietnã do Sul pela Trilha Ho
Chi Minh. Notando a crescente impopularidade no sul do corrupto e violento
governo de Diem, em 12 de dezembro de 1960 Hanói autorizou a criação da Frente
Nacional de Libertação, o grupo de frente do exército comunista no sul, também
chamado de Vietcong.
Sucessivos
governos norte-americanos superestimaram o controle e a influência do Vietnã do
Norte sobre o vietcong, como observou Robert McNamara, secretário de defesa dos
governos de John F. Kennedy e Lyndon Johnson. A paranoia de Diem, a repressão,
violência e corrupção que marcavam seu governo, influíram mais nos sentimentos
de revolta da população do sul contra o regime, do que a influência direta de
Hanói
John Kennedy e a escalada da
guerra (1960-1963)
Quando
John F. Kennedy venceu as eleições presidenciais americanas de 1960, um dos
principais pontos de preocupação levantados por ele, era se a União Soviética
havia ultrapassado os Estados Unidos em seus programas balístico e espacial.
Apesar dos avisos de Dwight Eisenhower, seu antecessor no cargo, sobre o Vietnã
e o Laos, para Kennedy a Europa e a América Latina deveriam ser os focos
principais de atenção de sua administração. Seu governo permaneceria
comprometido com a política da Guerra Fria, herdada dos governos anteriores de
Eisenhower e Truman.
Em
1961, ele enfrentou uma crise em três partes: o fracasso na Invasão da Baía dos
Porcos, para depor o governo de Fidel Castro em Cuba, a construção do Muro de
Berlim pelos soviéticos e alemães orientais e o acordo negociado entre o
governo pró-ocidental do Laos e o movimento comunista Pathet Laos no país.
Estes fatos lhe fizeram crer que uma outra falha dos Estados Unidos em deter a
expansão comunista que acontecia no mundo iria fatalmente afetar a
credibilidade do país como líder do mundo ocidental perante seus aliados e sua
própria reputação como dirigente da nação. Kennedy estava determinado a ‘riscar
uma linha na areia’ e impedir uma vitória comunista no Vietnã.
Sua
política para o Vietnã do Sul recaía na crença de que Diem e suas forças
conseguiriam derrotar as guerrilhas comunistas sozinhos. Ele era contra o envio
de tropas norte-americanas e observou que ‘introduzir forças militares
americanas em grande número hoje no Vietnã, apesar de produzir um grande
impacto militar inicial, iria certamente levar a uma política adversa e, a
longo prazo, em consequências militares adversas’.
A
qualidade das forças armadas do Vietnã do Sul, entretanto, permanecia de baixo
nível. Liderança deficiente, corrupção e interferência política, faziam a sua
parte na contaminação do exército. A medida que a insurgência se solidificava,
aumentava a frequência dos ataques dos guerrilheiros. O apoio logístico do
Vietnã do Norte à Frente de Libertação Nacional tinha um papel significativo,
mas o ponto central da crise era a incompetência do governo sul-vietnamita. Conselheiros
da Casa Branca recomendaram ao presidente que os EUA enviassem soldados ao país
disfarçados de funcionários da defesa civil, para ajuda e resgate nas enchentes
que aconteciam no país. Kennedy rejeitou a ideia, mas aumentou a assistência
militar. Na metade de 1962, o número de conselheiros militares norte-americanos
no Vietnã do Sul havia aumentado de 700 para 12 mil.
No
ano anterior, havia sido iniciado um programa estratégico conjunto dos dois
governos, o Strategic Hamlet Program, que consistia em proteger a população
rural do país, eminentemente rural, em campos fortificados. O objetivo era
isolar estas populações da insurgência comunista, prover educação e assistência
médica e aumentar o controle do governo no interior do país. O programa, entretanto,
foi rapidamente infiltrado pela guerrilha. Os camponeses se ressentiam de serem
desalojados das vilas de seus ancestral|ancestrais. O governo se recusava a
fazer uma reforma agrária, o que fazia com que os pequenos e médios fazendeiros
fossem obrigados a continuar pagando altas taxas de ocupação a grandes senhores
de terras. A corrupção minava o programa e intensificava a oposição a ele,
enquanto funcionários públicos enviados para supervisioná-lo viravam alvos de
assassinato, o que levou a iniciativa ao fracasso, dois anos depois de
implementada.
Em
23 de julho de 1962, quatorze nações, incluindo a China, URSS, Vietnã do Sul,
Vietnã do Norte e os Estados Unidos, assinaram um acordo se comprometendo a
respeitar a neutralidade do Laos.
Analistas
políticos em Washington concluíram que o presidente Ngo Dinh Diem era incapaz
de derrotar os comunistas e até em conseguir algum acordo com Ho Chi Minh. Ele
parecia preocupado apenas em evitar um golpe de estado contra si e seu governo.
Durante o verão de 1963, autoridades norte-americanas começaram a discutir a
possibilidade de uma mudança no regime. O Departamento de Estado dos Estados
Unidos era a favor do encorajamento de um golpe. O Pentágono e a CIA eram mais
receosos das consequências desestabilizadoras que tal ato pudesse provocar e
preferiam continuar aplicando pressão pelas reformas políticas no sul.
A
maior das mudanças propostas pela política norte-americana era a remoção do
poder do irmão mais novo do presidente, Ngo Dinh Nhu, chefe da polícia secreta
do país e o homem por trás da repressão contra os monges budistas do Vietnã.
Como conselheiro mais poderoso de Diem, Nhu se tornou uma figura odiada no
Vietnã do Sul e sua influência contínua era inaceitável para o governo Kennedy,
que acabou eventualmente concluindo que o presidente não o substituiria. Assim,
a CIA entrou em contato com os comandantes militares sul-vietnamitas que
planejavam depor o presidente e lhes fez saber que os Estados Unidos não se
oporiam à ação. Em 1 de novembro de 1963, Diem foi deposto e executado no dia
seguinte junto com seu irmão, dentro de um blindado nas ruas de Saigon, a
caminho do quartel-general do exército. O embaixador norte-americano Henry
Cabot Lodge, que havia sido proibido por Kennedy de qualquer encontro pessoal
com os militares nas semanas antecedentes, convidou os golpistas à embaixada e
os congratulou, enviando a Kennedy – chocado com um assassinato com o qual não
tinha concordado – a mensagem de que agora ‘as possibilidades são de uma guerra
curta no Vietnã.’.
Em
seguida ao golpe, o caos se instalou no país. O Vietnã do Sul entrou num
período de grande instabilidade política, com governos militares sendo
substituídos uns pelos outros em rápida sucessão e disso se aproveitou o
governo de Hanói, que aumentou seu apoio aos guerrilheiros do vietcong. Kennedy
aumentou mais ainda o número de militares no país, oficialmente conselheiros
militares para as forças armadas do Vietnã do Sul, para lidar com o aumento da
atividade guerrilheira. Seus militares eram infiltrados em todos os níveis das
forças armadas sulistas. Porém, eles eram totalmente ignorantes da natureza
política da insurgência, que era um movimento de desestabilização política no
qual confrontos militares não eram o principal objetivo. O governo Kennedy
colocou todos os seus esforços na pacificação do país e em ‘conquistar os
corações e mentes’ da população.
A
liderança militar em Washington, entretanto, era contra qualquer papel por
parte de seus militares no Vietnã que fosse diferente de ajudar no treinamento
de tropas e o comandante destes homens no Vietnã do Sul, general Paul D.
Harkins, confidencialmente previu uma vitória sobre a guerrilha ‘na época do
Natal de 1963’. A CIA, entretanto, era menos otimista e produzia relatórios
avisando que ‘o vietcong tem o controle de fato de largas porções do território
sul-vietnamita e tem aumentado consideravelmente a intensidade de suas
atividades armadas contra o governo’. Kennedy introduziu os helicópteros
militares na guerra, criou uma força aérea conjunta EUA-Vietnã do Sul,
basicamente formada por pilotos norte-americanos e enviou os Boinas Verdes ao
país.
Numa
conversa com o primeiro-ministro do Canadá e Nobel da Paz Lester Pearson, o
presidente pediu seu conselho sobre a situação e ouviu de volta: ‘Caia fora de
lá’. Ao que respondeu: ‘Esta é uma resposta estúpida, todos sabemos disso, a
questão é: como cair fora de lá?”.
John
Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963, três semanas após Ngo Dinh
Diem. Foi substituído pelo vice-presidente Lyndon Johnson, que reafirmou o
apoio norte-americano ao Vietnã do Sul e aumentou a ajuda militar ao país para
U$500 milhões no fim do ano.
Os Estados Unidos entram
oficialmente na guerra
Lyndon
Johnson, quando tomou posse na presidência após a morte de Kennedy, não
considerava o Vietnã uma prioridade, mais preocupado com a criação do que
chamava de ‘Grande Sociedade’ e de programas sociais progressivos. Entretanto,
em 24 de novembro ele reuniu um grupo de conselheiros em torno do embaixador
Lodge, retornado à pressa de Saigon, para ouvirem as notícias trazidas pelo
embaixador e conhecer mais profundamente a situação do que ocorria no Vietnã e
prometeu se empenhar em ajudar os vietnamitas do sul a vencerem a guerra contra
os comunistas. Mas esta decisão veio numa ocasião em que a situação no país
estava já deteriorada, especialmente em locais como o delta do Mekong, graças
ao recente golpe contra Diem.
O
conselho militar revolucionário, na falta de um grande líder sul-vietnamita,
era composto de doze membros, chefiados pelo general Minh – considerado por
correspondentes da imprensa estrangeira em Saigon como ‘um modelo de letargia’.
Seu regime foi deposto em janeiro de 1964 pelo general Nguyen Khanh.
Em
agosto de 1964, o destróier norte-americano USS Maddox, numa missão de
espionagem ao largo da costa do Vietnã do Norte, disparou e danificou diversos
barcos torpedeiros que se aproximavam dele no Golfo de Tonkin. Um segundo
ataque de lanchas torpedeiras foi noticiado dois dias depois envolvendo o USS
Turner Joy e o Maddox na mesma área. As circunstâncias destes ataques são
obscuras. O segundo ataque levou a uma retaliação aérea dos americanos,
apressou o Congresso a aprovar a Resolução do Golfo de Tonkin e deu ao presidente
poderes para conduzir operações militares no Sudeste Asiático sem uma
declaração de guerra formal.
Em
2005, entretanto, documentos secretos liberados pela Agência Nacional de
Segurança, revelaram que não houve nenhum ataque a barcos americanos no dia 4 de
agosto de 1964, mas, muito antes disso, este fato já vinha sendo contestado. ‘O
Incidente do Golfo de Tonkin’, escreveu Louise Gerdes, ‘é um exemplo sempre
citado de como Lyndon Johnson enganou o povo americano para conseguir apoio
para a sua política no Vietnã’. George C. Herrings afirma, ‘que o Pentágono e
McNamara não reconhecidamente mentiram sobre os alegados ataques, mas eles
estavam obviamente com um espírito beligerante com relação aos vietnamitas e
provavelmente selecionaram as evidências e relatos chegados a eles, aquilo que
lhes interessava acreditar e difundir à opinião pública’.
O
Conselho Nacional de Segurança recomendou uma escalada em três estágios do
bombardeio aéreo ao Vietnã do Norte. Em 2 de março de 1965, seguindo-se a um
ataque vietnamita ao acampamento dos marines em Pleiku, as operações começaram.
A campanha de bombardeios, que duraria três anos, tinha o objetivo de obrigar o
governo de Hanói a suspender seu apoio à Frente Nacional para a Libertação do
Vietnã do Sul (o Vietcong sulista) ameaçando destruir suas defesas aéreas e sua
estrutura industrial e ao mesmo tempo dar uma injeção de moral no povo
sul-vietnamita. Entre março de 1965 e novembro de 1968, a operação ‘Rolling
Thunder’, como foi chamada, contemplou o norte do país com um milhão de
toneladas de mísseis, foguetes e bombas.
O
bombardeio não se limitou ao norte do Vietnã, atingindo também áreas do sul
onde havia alvos militares do vietcong ou de sua infra-estrutura, além da
trilha Ho Chi Minh, que em diversas partes de sua extensão penetrava no Laos e
no Camboja. O objetivo, porém, nunca foi alcançado. Como observou um oficial,
‘esta é uma guerra política e ela pede por mortes seletivas. A melhor arma pode
ser uma faca..... a pior, um avião’. Entretanto, o chefe do estado-maior da
força aérea Curtis LeMay, que há tempos pregava que o Vietnã do Norte fosse
saturado de bombas, escrevia ‘vamos bombardeá-los até fazê-los regredir à Idade
da Pedra’.
A
escalada da Guerra do Vietnã começou oficialmente na manhã de 31 de janeiro de
1965, quando foram dadas ordens a um esquadrão de caças F-105, baseado em
Okinawa, no Japão, para que se transferisse para a base aérea de Da Nang, no
Vietnã do Sul. A missão da operação (Operation Flaming Dart), era cruzar o
Paralelo 17, e havia sido planejada antes do ataque vietcong aos marines em
Pleiku em 6 de fevereiro. No dia seguinte, 49 destes caças levantaram voo de
Danang para atacar alvos do Vietnã do Norte. A partir deste dia, a guerra não
ficou mais restrita ao território sul-vietnamita.
Depois
do ataque em Pleiku, o comando da força aérea decidiu que suas bases precisavam
de mais proteção, já que o exército sul-vietnamita era incapaz de fazer a
segurança; 3 500 fuzileiros americanos foram então enviados ao Vietnã do Sul e
esta ação marcou o início da guerra terrestre. A opinião pública
norte-americana apoiou o envio de tropas; se baseando na premissa de que o
Vietnã era parte de um esforço global para combater o comunismo. Numa
declaração similar a que havia feito aos franceses anos antes, Ho Chi Minh
declarou que "se os americanos querem fazer a guerra por vinte anos, então
nós a faremos por vinte anos; se eles querem fazer a paz, nós faremos a paz e
os convidaremos para um chá à tarde".
O
primeiro desembarque de 3 500 soldados em março, havia se transformado em 200 mil
em dezembro. A missão dos marines, entretanto, era defensiva. As forças armadas
americanas eram treinadas e instruídas para guerras ofensivas e seus
comandantes eram psicológica e institucionalmente pouco qualificados a ações
defensivas. Em maio e junho, as forças sul-vietnamitas sofreram derrotas com
pesadas baixas em duas batalhas, fazendo a moral cair e as deserções aumentarem
entre as tropas.
O
general William Westmoreland, comandante das forças norte-americanas no país,
informou ao comando das forças dos EUA no Pacífico que a situação era crítica:
"estou convencido que as nossas tropas, com sua energia, mobilidade e
poder de fogo, podem assumir a luta contra a FNL com sucesso". Com esta
recomendação, ele advogava uma mudança agressiva na postura defensiva dos
Estados Unidos na guerra e sua entrada em combate ao lado dos sul-vietnamitas.
Um plano seu de três fases, destinado a ganhar a guerra até 1967, foi enviado a
Lyndon Johnson e, aprovado pelo presidente, provocou uma profunda mudança na
postura americana na guerra e na visão da Casa Branca de que o governo do
Vietnã do Sul deveria ser o responsável por derrotar as guerrilhas comunistas.
Porém, Johnson não comunicou esta mudança de estratégia militar à mídia e
continuou a enfatizar a continuidade da guerra de prevenção.
Em
breve, os guerrilheiros do vietcong começaram a se engajar em pequenas unidades
guerrilheiras, o que os permitia controlar tempo e andamento dos combates. Ao
contrário dos soldados da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia, as
tropas americanas eram vulneráveis a ataques de surpresa onde quer que se
encontrassem, sem conseguir relaxar mesmo na retaguarda.
Seguindo
a política de 'conquistar corações e mentes' da população sul-vietnamita,
imaginada por Kennedy anos antes, o Vietnã do Sul foi inundado por bens
manufaturados norte-americanos. A injeção de produtos e de dinheiro americano
no país, transformou a economia e causou profunda impressão na sociedade
sul-vietnamita, causando também uma grande onda de corrupção local. O país foi
invadido por civis especialistas em quase toda e qualquer área de conhecimento,
para aconselhar o governo local e melhorar sua performance econômica.
Washington
encorajou seus aliados da SEATO (Organização do Tratado do Sudeste Asiático) a
contribuir com tropas para o esforço de guerra. Austrália, Nova Zelândia,
Coreia do Sul, Tailândia e Filipinas, todos concordaram em enviar tropas ao
Vietnã. Entretanto, os grandes aliados da OTAN, e principalmente o Canadá e a
Grã-Bretanha, declinaram o pedido. Também foi pedido o enviou de tropas do
Brasil, mas o pedido não foi atendido. Os Estados Unidos e seus aliados
montaram complexas operações de combate terrestres contra os guerrilheiros
vietcongs, mas a guerrilha continuava iludindo seus inimigos e demonstrando
grande flexibilidade tática na selva. Pesadas campanhas de bombardeios aéreos
(como a Operação Rolling Thunder) devastaram a infra-estrutura do Vietnã do
Norte e infligiram grandes perdas aos militantes comunistas do sul, mas
falharam no seu objetivo de submete-los a rendição.
Enquanto
isso, a situação política no Vietnã do Sul começava a sofrer alguma
estabilização, com a chegada ao poder em 1967 do vice-presidente e depois
primeiro-ministro Nguyen Cao Ky e do presidente Nguyen Van Thieu. Este governo
encerrava uma longa linha governamental de juntas militares que haviam começado
com o assassinato de Ngo Dinh Diem. A calma relativa permitiu ao exército
sul-vietnamita a colaborar de maneira mais efetiva com seus aliados e a se
aprimorar como força de combate.
A
administração Johnson tinha uma 'política de sinceridade mínima' em seus
encontros com a imprensa. As autoridades militares procuravam dirigir a
cobertura de mídia enfatizando histórias que mostravam o progresso na guerra.
Com o tempo, esta política começou a provocar a desconfiança do público nos
pronunciamentos oficiais e a medida em que a cobertura da guerra feita pelos
correspondentes e as notícias do Pentágono começaram a divergir, a falta de
credibilidade do cidadão comum começou a aumentar. Notícias de que apesar de
todo o esforço, de todas as vidas perdidas e de todo o dinheiro gasto, o
resultado do conflito não parecia bom e uma vitória no curto e médio prazo
parecia distante contra um inimigo obstinado e fanático que, apesar das pesadas
baixas que sofria, não queria ceder. Em outubro de 1967, uma grande
manifestação antiguerra aconteceu nas escadas do Pentágono, em Washington, e
alguns manifestantes entoaram o canto que se tornaria comum nos protestos
vindouros: "Hey, Hey, LBJ! How many kids did you kill today?"
("Ei, Ei, LBJ! — as iniciais de Lyndon Baynes Johnson — quantas crianças
você matou hoje?").
Ofensiva do Tet
Em
fins de 1967, o general Giap concebeu um plano extremamente audacioso, cuja
concretização viria a tornar-se o marco decisivo da guerra. Depois de atrair as
forças de Westmoreland para o interior do país, e cercá-las em Khe Sahn, na
província de Quang Tri, ele desfechou um ataque surpresa contra mais de cem
cidades no Vietnã do Sul, inclusive Saigon, onde os guerrilheiros chegaram a
ocupar, por algumas horas, o quartel-general do general Westmoreland e a
embaixada dos Estados Unidos, cujos ocupantes tiveram que fugir, apressadamente.
A ofensiva ocorreu em 30 de janeiro de 1968, no feriado do ano novo lunar
chinês (Tet), e embora pagando um pesado preço em vidas, provou-se ter sido um
enorme sucesso propagandistico, principalmente de ordem moral, na medida em
que:
Mostrou
aos militares e ao público americano que, apesar de todo o esforço e todo o
sangue derramado, a guerra não ia bem (contrastando com o que o governo falava
até então);
Também
deixou claro que os Estados Unidos, embora sendo a maior potência militar do
planeta, não conseguiriam vencer a guerra contra os vietnamitas nem no curto ou
médio prazo;
Na
antiga capital imperial de Hué, as tropas combinadas de norte-vietnamitas e
guerrilheiros da FNL, capturaram a cidadela imperial e maior parte da cidade, o
que deu início à Batalha de Hué. Neste ínterim entre a captura da cidade e sua
retomada pelas forças americanas, os ocupantes insurgentes massacraram milhares
de civis sul-vietnamitas nela residentes, num número estimado de seis mil.
Mas
a Ofensiva do Tet haveria de produzir outros efeitos significativos: as quedas
do general Westmoreland e do presidente Johnson.
Westmoreland
havia se tornado a face pública da guerra. A revista TIME o havia escolhido O
Homem do Ano de 1965, descrevendo-o como a vigorosa personificação do guerreiro
americano. Em novembro de 1967, ele comandou uma campanha de relações públicas
para o governo, de modo a conseguir um apoio embandeirado do público americano
à guerra. Num discurso a jornalistas em Washington, ele afirmou que 'a guerra
havia atingido um ponto em que o fim estava próximo.' Então, com a Ofensiva do
Tet, o público ficou confuso e chocado com as errôneas previsões do general. A
imprensa do país, que até então havia em sua maioria apoiado os esforços de
guerra americanos, promoveu um cerco ao governo em busca das razões para tal
falha nas informações otimistas transmitidas até então sobre a guerra. Diante
disso, Westmoreland foi removido do comando no Vietnã.
Quanto
ao presidente Johnson, seu índice de popularidade despencou de 48% para 36%,
levando-o a desistir de concorrer à reeleição no fim de 1968.
O
Tet causou profundas implicações domésticas no apoio ao conflito, sendo
considerada uma falha da inteligência comparável a Pearl Harbor. Numa das mais
polêmicas e célebres frases da guerra, um certo major Brown, na frente de
combate, declarou ao jornalista Peter Arnett, então correspondente da AP e que
anos depois transmitiria ao vivo pela CNN o ataque americano a Bagdá no início
da Guerra do Golfo, que a cidade de Ben Tre precisou ser destruída para poder
ser salva, eufemismo que passou a fazer parte da 'lógica' de guerra, de que era
melhor destruir algo completamente, do que deixá-lo ser útil ao inimigo.
Westmoreland
foi empossado como chefe do estado-maior do exército em março, o que
tecnicamente era uma promoção, quando a resistência vietnamita havia sido
subjugada. Sua posição entretanto, tinha ficado insustentável, por causa da
ofensiva e porque seu pedido secreto de reforço de mais 200 mil homens para o
Vietnã havia vazado para a mídia. Foi substituído por seu segundo em comando,
general Creighton Abrams, um militar menos afeito a declarações à imprensa.
A
10 de maio de 1968, a despeito da baixa expectativa de algum resultado,
conversações de paz começaram a acontecer entre os EUA e a República
Democrática do Vietnam. As negociações ficaram estagnadas por cinco meses até
que Johnson desse ordens para que o bombardeio aéreo do Vietnã do Norte fosse
suspenso. O candidato democrata à presidência, vice-presidente Hubert Humphrey,
estava disputando a eleição com o ex-vice-presidente republicano Richard Nixon.
Através de intermediários, Nixon avisou ao governo do sul que se recusasse a
participar das negociações com o norte até depois das eleições, dizendo que
daria a eles um melhor acordo se fosse eleito.
O
historiador Robert Dallek escreveu:' a escalada da guerra no Vietnã promovida
por Lyndon Johnson dividiu os americanos em campos opostos, produziu 30 mil
mortos até sua saída da Casa Branca e destruiu sua presidência. Sua recusa em
enviar mais tropas ao Vietnã após o pedido de Westmoreland, foi uma admissão de
que a guerra estava perdida.' Como o Secretário de Defesa Robert McNamara
observou mais tarde, a perigosa ilusão de uma vitória por parte dos Estados
Unidos estava, dali em diante, morta.
Vietnamização (1969–1973)
Durante
a eleição presidencial de 1968 nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon,
então o candidato republicano, havia feito uma campanha baseada no lema ‘paz
com honra’ no Vietnã. Seu plano era reforçar as forças armadas sul-vietnamitas
de maneira que eles pudessem levar adiante sozinhos a defesa do país. Esta
política foi chamada de vietnamização e tinha muito em comum com a política de
John Kennedy. Entretanto, havia uma importante diferença. Enquanto Kennedy
pregava que os sul-vietnamitas deveriam lutar a guerra por si sós, ele também
tentava limitar o tamanho do conflito. Nixon, ao contrário, em busca de uma
retirada com honra, tinha a intenção de empregar táticas variadas para isso,
inclusive aumentando o alcance geográfico da guerra.
Nixon
também tentou estabelecer negociações, procurando uma 'détente' com a União
Soviética, que levou a uma redução de armas nucleares pelas superpotências, e
uma reaproximação com a China, numa política que ajudou a diminuir as tensões
internacionais. Entretanto, os dois países continuaram a enviar ajuda aos
norte-vietnamitas. Em setembro de 1969, Ho Chi Minh morreu em Hanói, aos 79
anos.
Neste
meio tempo, o movimento antiguerra crescia nos Estados Unidos com manifestações
constantes. Nixon apelou para a maioria silenciosa de americanos em apoio à
guerra. Porém, as revelações do massacre de civis, mulheres e crianças
principalmente, na aldeia de My Lai, provocou uma revolta nacional e
internacional, aumentando a pressão pela paz.
O
príncipe Norodom Sihanouk havia proclamado a neutralidade do Camboja no
conflito da Indochina desde 1955. Entretanto, tolerava a presença de forças do
vietcong e do exército norte-vietnamita em seu território porque desejava
evitar que seu país fosse arrastado a um grande conflito regional. Sob pressão
de Washington, porém, ele mudou esta política em 1969 e o Exército Popular do
Vietnam e o vietcong deixaram de ser bem-vindos.
Nixon,
então, aproveitou-se da oportunidade para lançar um bombardeio maciço e secreto
contra os santuários comunistas na fronteira dos dois países, o que violava uma
longa sucessão de discursos anteriores apoiando a neutralidade cambojana. Ele
havia escrito a Sihanouk em abril de 1969, assegurando-lhe que ‘os Estados
Unidos respeitarão a soberania, a neutralidade e a integridade territorial do
Reino do Camboja’. Mas sem o conhecimento da opinião pública americana, durante
quatorze meses mais de 2.700 mil toneladas de bombas foram lançadas na área. Em
1970, devido à sua tibieza no trato com as questões internacionais, Sihanouk
foi deposto por seu primeiro-ministro Lon Nol, favorável aos Estados Unidos, e
a fronteira cambojana fechada. Os EUA e o exército sul-vietnamita lançaram
então incursões militares ao Camboja, para atacar diretamente as bases
comunistas ali instaladas e ganhar tempo para o Vietnã.
O
exército sul-vietnamita lançou uma grande ofensiva na fronteira, apoiados pelos
americanos, determinado a cortar e interromper o fluxo de soldados e armas do
Norte na Trilha Ho Chi Minh, o que era uma clara violação à neutralidade
laosiana, desrespeitada pelos dois lados nos combates. Depois de encontrarem
forte resistência, as forças sul-vietnamitas se retiraram em confusão, fugindo
através de estradas cobertas por seus próprios mortos. Quando seus caminhões e
blindados ficaram sem combustível, os soldados abandonavam os veículos e
seguiam se arrastando e cambaleando por quilômetros até o helicópteros Huey
americanos enviados para evacuar os feridos. Muitos deles se agarravam nas
sapatas de pouso dos helicópteros levantando voo, na tentativa de se salvarem.
Aviões americanos tiveram que destruir tanques e caminhões abandonados na rota
de fuga para impedir que caíssem em mãos dos inimigos e metade das tropas
sulistas foram mortas ou aprisionadas. A operação foi um fiasco e representou
uma clara falha na vietnamização da guerra levada a cabo por Nixon. O estrago
foi monumental. Os oficiais de alto escalão do Vietnã do Sul tinham sido
tutorados pelos americanos por mais de dez anos, muitos deles cursando escolas
de treinamento militar nos EUA, mas aprenderam muito pouco e fracassaram quando
tiveram que fazê-lo sozinhos.
A
invasão do Camboja provocou protestos em todos os Estados Unidos. Durante uma
manifestação estudantil em Ohio, quatro estudantes da Universidade de Kent
foram mortos pela Guarda Nacional, enraivecendo a opinião pública americana
contra o governo. A reação que Nixon teve sobre este episódio em Kent foi
considerada indiferente, aumentando ainda mais o ímpeto dos protestos
antiguerra. Em 1971, documentos secretos do Departamento de Defesa foram
vazados para o jornal The New York Times. Chamados de ‘Pentagon Papers’ (Papéis
do Pentágono), a história ultra-secreta do envolvimento dos Estados Unidos no
Vietnã, promovida pelo Departamento de Defesa, foi trazida a público mostrando
a deliberada fabricação de razões que levaram os EUA a entrarem na guerra, e
provocou uma longa série de decepções entre a opinião pública.
Em
1971, a Austrália e a Nova Zelândia retiraram suas forças do Vietnã e as tropas
dos Estados Unidos foram reduzidas a um total de 196 mil homens, com uma data
limite de fevereiro de 1972 para a retirada de mais 45 mil soldados. A medida
que os protestos contra a guerra cruzavam os EUA, a desilusão crescia e a moral
caía entre a tropa, com o aumento do uso de drogas, conflitos raciais e
desobediência aos oficiais.
Uma
nova ofensiva no início de 1972 pelas tropas norte-vietnamitas, partindo do
Camboja e do interior do Vietnã do Norte tentando cortar o sul em dois, foi
salva apenas pela intervenção aérea dos Estados Unidos, deixando claro que, com
a retirada contínua das tropas americanas, só o poder de fogo aéreo de seu
aliado poderia salvar o Vietnã do Sul. As últimas tropas americanas foram
retiradas em agosto de 1972, deixando apenas conselheiros militares e funcionários
civis do Estados Unidos no país.
A
guerra foi o tema central das eleições de 1972. O oponente de Nixon, George
McGovern, tinha uma plataforma de retirada do Vietnã. O conselheiro de
segurança nacional de Nixon, Henry Kissinger, continuava porém em negociações
secretas com o representante do Vietnã do Norte, Le Duc Tho, e em outubro eles
chegaram a um acordo. Entretanto, o presidente sul-vietnamita Nguyen Van Thieu
exigiu mudanças significativas no acordo. Quando o Norte tornou públicos os
detalhes do acordo, a Casa Branca afirmou que os norte-vietnamitas tentavam
embaraçar o presidente e as negociações estancaram, com os comunistas desejando
novas mudanças.
Para
mostrar seu apoio aos sulistas e forçar Hanói a voltar à mesa de negociações,
Nixon deu ordens para um bombardeio maciço da capital inimiga e do porto de
Haiphong. A ofensiva destruiu a maior parte da capacidade industrial e
econômica remanescente dos nortistas. Simultaneamente, Nixon pressionava Thieu
ameaçando concluir um tratado bilateral de paz com os norte-vietnamitas e
retirando qualquer auxílio ao sul.
Em
15 de janeiro de 1973, o presidente Nixon anunciou ao mundo a suspensão das
operações ofensivas norte-americanas no Vietnã. Os Acordos de Paz de Paris
foram assinados em 27 de janeiro, encerrando oficialmente o envolvimento dos
Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Um cessar-fogo entrou em vigor entre os
países do norte e do sul e os prisioneiros de guerra foram libertados, com a
integridade territorial do Vietnã sendo garantida. Como depois da Convenção de
Genebra em 1954, eleições foram marcadas para os próximos seis meses nos dois
países. O acordo também previa a retirada completa das forças dos EUA em
sessenta dias e este artigo acabou sendo o único integralmente cumprido.
Retirada das tropas e do auxílio
material dos Estados Unidos (1973–1975)
Sob
as condições do Acordo de Paris, os norte-americanos retiraram suas tropas do
Vietnã e prisioneiros de guerra foram trocados. O Vietnã do Norte teve permissão
para continuar suprindo as tropas comunistas no sul, mas apenas para fazer a
reposição do que estava sendo consumido. No fim do ano, Henry Kissinger e Le
Duc Tho dividiram o Prêmio Nobel da Paz, mas o negociador norte-vietnamita o
recusou, dizendo que uma paz verdadeira ainda não tinha sido conseguida.
Os
líderes comunistas esperavam usar o cessar-fogo em proveito próprio, mas
Saigon, escorada por um grande aporte de armas e equipamentos feito pelos EUA
pouco antes da trégua entrar em vigor, começou a empurrar os vietcongs para o
norte. Os comunistas responderam com uma nova estratégia, estabelecida em uma
série de encontros da liderança norte-vietnamita realizados em Hanói, em março
de 1973. Com a suspensão dos bombardeios americanos, os trabalhos na Trilha Ho
Chi Minh e em outras estruturas logísticas deveriam continuar
ininterruptamente, até que o norte estivesse em condições de lançar uma
ofensiva em massa contra o sul, projetada para a estação seca de 1975-76. O
comando militar acreditava ser esta a última oportunidade de decidir o
conflito, antes que o exército sul-vietnamita estivesse completamente treinado.
Um oleoduto de 3 000 milhas de extensão deveria ser construído entre o interior
do Vietnã do Norte e o quartel-general da FNL em Loc Ninh, cerca de 120 km a
noroeste de Saigon.
Apesar
do democrata George McGovern não ter sido eleito em 1972, as eleições
presidenciais estabeleceram grande maioria democrata nas duas casas do
Congresso americano, sob o lema da campanha de McGovern, 'Come Home America', o
que dificultava qualquer ação ofensiva do governo que dependesse da aprovação
congressional. Em 15 de março de 1973, Nixon declarou que os EUA voltariam a
intervir militarmente caso os nortistas violassem o cessar-fogo, mas recebeu
críticas tanto do Congresso quanto da opinião pública pela declaração e em
abril a Casa Branca indicou Graham Martin como novo embaixador em Saigon. Como
Martin era um diplomata de segundo escalão, comparado aos embaixadores
anteriores, sua indicação pareceu um sinal claro de que os Estados Unidos
estavam desistindo do Vietnã. Durante a audiência ao Senado de sua confirmação
como novo secretário de defesa, James Schlesinger afirmou que ele recomendaria
a volta dos bombardeios sobre o Vietnã do Norte, caso os comunistas lançassem
alguma ofensiva sobre o sul. Em 4 de junho, o Senado dos Estados Unidos aprovou
uma lei proibindo tal ato.
A
crise do preço do petróleo de outubro de 1973 provocou graves danos à economia
do Vietnã do Sul. O Vietcong reiniciou suas operações ofensivas quando a
estação das secas começou e em janeiro de 1974 havia recapturado todo o
território perdido no ano anterior. Após dois confrontos onde 55 soldados
sul-vietnamitas morreram, o presidente Thieu anunciou que a guerra havia
recomeçado e que os Acordos de Paris não tinham mais efeito. Durante o cessar-fogo,
os sul-vietnamitas sofreram mais de 25 mil baixas.
Em
9 de agosto de 1974, Gerald Ford assumiu a presidência dos Estados Unidos, após
a renúncia de Nixon causada pelo escândalo do Caso Watergate. Nesta época, o
Congresso havia cortado a ajuda financeira ao Vietnã em 300 milhões de dólares
e, com as eleições secundárias de metade de mandato em 1974 aumentando a
maioria democrata, ele tornou-se mais determinado a confrontar as políticas de
guerra da Casa Branca.
Embalados
pelo sucesso da ofensiva na estação das secas, em dezembro de 1974 os
norte-vietnamitas e o vietcong atacaram a província de Phuoc Long, e a capital
provinciana Binh Phuoc caiu em 6 de janeiro de 1975. Ford pediu
desesperadamente ao Congresso que autorizasse os fundos necessários para
reequipar o sul, mas teve seu pedido negado. A queda de Phouc Binh e a falta de
assistência americana deixaram a elite sul-vietnamita desmoralizada e a
corrupção e o desespero campearam.
A
velocidade de seu sucesso fez o comando norte-vietnamita repensar suas
estratégias. Foi decidido que as operações militares contra as terras altas
centrais ficariam a cargo do general Văn Tiến Dũng e que a cidade de Pleiku -
onde anos antes havia sido iniciada a guerra terrestre no Vietnam - deveria ser
cercada e tomada se possível. Antes de partir para o sul, Dung foi aconselhado
por Le Duan: "Nunca tivemos a vantagem estratégica que temos agora, nem
houve condições políticas e militares tão perfeitas como no momento, para
vencermos a guerra".
Em
10 de março de 1975, as forças norte-vietnamitas iniciaram uma ofensiva através
do interior do Vietnã, que os levou a capturar Hué e Danang em 31 de março,
provocando a rendição de 100 mil soldados do Vietnã do Sul e o controle de
metade do país.
Com
a metade do sul em suas mãos, as tropas receberam ordens de lançar a ofensiva
final contra Saigon. Em 7 de abril, três divisões do EPV atacaram Xuan Loc, 64
kms a leste da capital, onde enfrentaram uma resistência desesperada durante
duas semanas, na última tentativa dos sulistas barrarem o avanço
norte-vietnamita. Em 21 de abril, com a rendição dos esgotados defensores, o
presidente Thieu renunciou ao cargo, acusando os norte-americanos de tê-los
traído, fugindo para Taiwan e deixando o controle do governo nas mãos do
general Duong Van Minh.
No
fim de abril, o Exército da República do Vietnã do Sul entrou em colapso
completo em todas as frentes de guerra. Milhares de civis fugiam pelas estradas
em direção a parte sul do país, à frente das tropas comunistas que se
aproximavam. Em 27 de abril, 100 mil soldados nortistas cercaram Saigon,
defendida por 30 mil soldados do sul. Para apressar o colapso e aumentar o
pânico, o vietcong começou a bombardear o aeroporto e forçou seu fechamento.
Com a fuga por ar fechada, milhares de civis em desespero se viram sem saída do
Vietnã.
A Queda de Saigon
Com
o cerco dos norte-vietnamitas e do vietcong, o caos se instalou na capital e
civis e militares histéricos tentaram sair da cidade de qualquer maneira. A lei
marcial foi declarada e helicópteros começaram a evacuar autoridades e civis
vietnamitas, norte-americanos estrangeiros, partindo de várias pontos da cidade
e do complexo da embaixada. A Operação Vento Constante (Operation Frequent
Wind) havia sido adiada, porque o embaixador Graham acreditava ainda ser
possível que Saigon resistisse até que algum acordo político impedisse a
invasão da capital. Por outro lado, a Operação Babylift - implantada no começo
de abril de 1975 - ainda persistia, trasladando órfãos de Saigon em aviões C5-A
Galaxy para países mais seguros.
Família durante a guerra |
Em
26 de abril de 1975 a Operação Babylift terminaria com um saldo de mais de 3
mil órfãos resgatados, apesar da queda desastrosa do avião no primeiro dia da
operação. Pouco depois, na manhã de 29 de abril de 1975, o secretário John
Schlesinger anunciou o fim daquela que foi a maior operação de resgate por
helicópteros da história, e que ocorreu em meio a uma atmosfera de completo
caos e medo, com multidões lutando desesperadamente por lugares limitados em
helicópteros americanos. Ela correu contra o relógio, enquanto os tanques
comunistas forçavam as entradas e as defesas nos subúrbios da cidade. Nas
primeiras horas da manhã do dia 30, os últimos marines foram evacuados da
guarda da embaixada, enquanto civis invadiam o perímetro e se espalhavam pelo
gramado. Muitos deles tinham trabalhado para os norte-americanos e foram
deixados para trás, entregues ao seu destino.
Ao
fim da manhã, as tropas do Exército Popular do Vietnã venceram toda a
resistência em Saigon, capturando rapidamente edifícios e instalações chaves da
cidade. Um tanque arrebentou os portões do Palácio Presidencial as 11:30, hora
local, e uma bandeira da Frente Nacional de Libertação foi hasteada sobre ele.
O sucessor de Thieu, general Minh, tentou fazer uma rendição formal, mas lhe
foi dito que nada mais havia pelo que se render. Minh então deu seu último
comando, ordenando a rendição geral de todas as tropas sul-vietnamitas.
A
guerra do Vietnã chegava ao fim depois de quatorze anos de sangue, sofrimento e
atrocidades.
Efeitos no Sudeste Asiático
Após
a guerra, em 2 de julho de 1976, foi proclamada a República Socialista do
Vietnã. Mas o país estava arrasado, com a maior parte de suas terras
agriculturáveis queimada e envenenada (pelo bombardeio de agentes químicos)
deliberadamente pelos norte-americanos. Além disso, sob pressão dos Estados
Unidos, o mundo ocidental negou-se a prestar socorro aos vietnamitas. Quem os
ajudou nesse período de terríveis carências, foram as nações comunistas,
especialmente a União Soviética. O socorro soviético estreitou as relações
entre os dois países, mas provocou o afastamento da China (rival da URSS).
Milhares
de sul-vietnamitas, particularmente militares e funcionários do governo de
Nguyen Van Thieu (que se refugiou em Taiwan e, depois, nos Estados Unidos),
fugiram do país em barcos, sendo que muitos deles morreram tentando escapar
pelo mar. Os que ficaram foram aprisionados, sendo mantidos, por algum tempo,
em Campos de Reeducação. Estima-se que cerca de dois milhões de sul-vietnamitas
deixaram o país.
Ao
ampliar o alcance da guerra para toda a Indochina, bombardeando o Cambodja e o
Laos, o presidente Nixon acabou contribuindo, indiretamente, para a vitória das
guerrilhas comunistas naqueles países, na medida em que os camponeses
(principais vítimas dos bombardeios) passaram a apoiar, maciçamente, os
guerrilheiros.
No
Laos, o governo monárquico foi derrubado pelo Pathet Laos, instalando-se a
República Democrática do Povo do Laos.
Em
15 de maio de 1975, 41 militares estadunidenses foram mortos na tomada do navio
mercante SS Mayaguez por tropas do Khmer Vermelho. Dois dias após, Phnom Penh,
a capital do Camboja, foi tomada pelo Khmer, que proclamou a fundação do
Kampuchea Democrático.
Inspirado
na Revolução Chinesa e disposto a tornar o país exclusivamente campesino, o
líder do Khmer, Pol Pot, fez deportar as populações urbanas para as áreas
rurais, submetendo-as a trabalhos forçados nos arrozais, a torturas e a
fuzilamentos sumários. Segundo a Anistia Internacional, algo em torno de 1,4
milhão de cambodjanos foram mortos, incluindo 15 a 20 mil professores e 90% dos
monges budistas. Esse banho de sangue só foi estancado em 1979, quando tropas
da República Socialista do Vietnã invadiram o país, obrigando Pol Pot e muitos
de seus seguidores a se refugiarem na fronteira com a Tailândia, onde apenas
sobreviveram graças ao apoio da China e à ajuda econômico/militar dos Estados
Unidos da América.
Em
represália, a China invadiu o Vietnã (pretextando questões de fronteiras), mas
enfrentou séria resistência. Diante disso, após tomarem algumas poucas pequenas
cidades no interior do país, os chineses proclamaram-se vitoriosos e se
retiraram.
Efeitos nos Estados Unidos
No
pós-guerra, os norte-americanos se esforçaram para absorver as lições do
conflito. Como observou o general Maxwell Taylor, um dos principais arquitetos
da guerra, "em primeiro lugar, nós não nos reconhecemos no Vietnã.
Pensamos que estávamos entrando em uma nova Guerra da Coreia, mas este era um
país diferente. Em segundo lugar, nós não conhecíamos nossos aliados
sul-vietnamitas e conhecíamos ainda menos o Vietnã do Norte. Quem era Ho Chi
Minh? Ninguém realmente sabia. Sendo assim, até que pudéssemos conhecer melhor
nossos amigos e inimigos, e conhecer melhor a nós mesmos, nós deveríamos ter
nos mantido fora deste negócio sujo. Era muito perigoso."
Manifestação contra a guerra em 1969 |
Nas
décadas passadas desde o conflito, as discussões acontecem sobre se a retirada
norte-americana foi uma derrota política ao invés de uma derrota militar.
Alguns estudiosos sugerem que "a responsabilidade pelo fracasso desta
política, cai nos ombros não dos homens que a lutaram, mas nos daqueles do
Congresso dos Estados Unidos." A história oficial da guerra, nos anais do
Exército dos Estados Unidos, afirma que "as táticas da guerra
frequentemente pareciam existir à parte das estratégias e dos objetivos
maiores. No Vietnã, o exército experimentou uma vitória tática e uma estratégia
fracassada. A lição a ser aprendida é que os fatores sociais, culturais,
políticos, humanos e históricos devem sempre se sobrepor sobre o fato militar.
O sucesso não recai apenas num progresso militar, mas numa análise correta da
natureza de um conflito em particular, entendendo a estratégia inimiga e
reconhecendo as forças e deficiências dos aliados. Uma nova humildade e uma
nova sofisticação de métodos, devem formar a melhor parte de uma herança
complexa deixada para o exército americano pela longa e amarga guerra no
Vietnã." Mesmo o Secretário de Defesa McNamara concluiu que "o
objetivo de uma vitória militar dos Estados Unidos no Vietnã foi uma perigosa
ilusão".
Quase
três milhões de norte-americanos serviram no Vietnã. Entre 1965 e 1973, os
Estados Unidos gastaram 123 bilhões de dólares com a guerra e a ajuda econômica
ao Vietnã do Sul, o que resultou num grande déficit no orçamento federal do
país. A guerra demonstrou que nenhuma potência, mesmo sendo uma superpotência,
era capaz de dispor de força e recursos ilimitados. Mas talvez mais
significativamente, a guerra do Vietnã demonstrou que a vontade política,
talvez mais que o poder material, é o fator decisivo no resultado de um
conflito.
Manifestação |
Em
1977, o presidente Jimmy Carter instituiu o perdão a cerca de 10 mil desertores
do serviço militar exilados, permitindo-lhes a volta para casa.
Efeitos na China
O
Envolvimento da República Popular da China no Vietnã começou em 1949, quando os
comunistas de Mao Zedong tomaram o poder no país. O Partido Comunista Chinês
logo providenciou apoio material e técnico aos comunistas vietnamitas. Em 1962,
Mao concordou em enviar a Hanói 90 mil rifles e armas menores, sem custo. Após
o começo das operações aéreas de bombardeio do norte do Vietnã, a China enviou
unidades antiaéreas e batalhões de engenheiros militares ao país, para ajudar a
reparar estradas, pontes e ferrovias destruídas pelos norte-americanos, o que
liberou grandes contingentes de soldados norte-vietnamitas para o combate no
sul. Entre 1965 e 1970, mais de 320 mil chineses serviram no norte do Vietnã.
Apesar
da assistência chinesa, os vietnamitas sempre mantiveram uma atitude de
desconfiança de seus grandes vizinhos, pela histórica antipatia mútua entre as
duas nações. Com a China se tornando após a guerra na principal força de apoio
ao Khmer Vermelho cambojano, a relação entre os dois países deteriorou-se a
ponto dos chineses lançarem uma invasão ao Vietnã em 1979, após a entrada
destes no Camboja um ano antes, invasão esta considerada um fracasso militar
por suas parcas conquistas. As duas nações continuaram com escaramuças
militares durante os anos 1980, com a China capturando algumas ilhas vietnamitas
na zona de fronteira.
A reação contra a guerra e a contracultura
Enquanto
o morticínio vitimou, massivamente, os "piolhos humanos" asiáticos, a
opinião pública norte-americana apoiou a luta "em defesa da liberdade e da
democracia". Mas quando uma quantidade cada vez maior de jovens americanos
passou a retornar dentro de sacos fúnebres, a guerra foi se tornando antipática
e os protestos cresceram. Ao lado disso, a divulgação de atrocidades praticadas
pelos soldados americanos no Vietnã - bombardeios indiscriminados, uso de
napalm e outros agentes químicos proscritos pela Convenção de Genebra,
instituição de Campos de Concentração (eufemisticamente chamados de
"aldeias estratégicas") e massacre de civis, sobretudo camponeses
(dentre os quais o de Mi Lay tornou-se emblemático). - fez com que surgisse uma
crescente rejeição à guerra, inserida no contexto maior do grande movimento da
contracultura, que revolucionou a década de 1960, na maior parte do mundo
ocidental.
Uma
das vertentes da contracultura foi o movimento hippie, iniciado num distrito de
São Francisco, na Califórnia - o Haight-Ashbury -, com "as crianças das
flores" (flower children), quando gente jovem lançou o movimento "Paz
e Amor" (Peace and Love), rejeitando o projeto da Grande Sociedade do
presidente Lyndon Johnson. Data desse tempo a afirmação do feminismo e o
surgimento dos Panteras Negras (The Black Panthers) que, abandonando a
não-violência pregada por Martin Luther King Jr (assassinado em 1968), propunha
o confronto aberto com a cultura racista do país.
O
repúdio à guerra foi também um dos estopins da revolta que explodiu nas Cidades
Universitárias, particularmente em Berkeley e na Universidade de Kent, onde
vários jovens morreram num conflito com a Guarda Nacional. Passeatas e
manifestações espalharam-se por todo o país, irradiando-se para outros continentes.
Vítimas
O
total de vítimas da Guerra do Vietnã entre os anos de 1964 até 1975 é
impreciso, oscilando entre 1 milhão e meio a dois milhões de vietnamitas
mortos, entre civis e militares. Parte considerável da população economicamente
ativa do país morreu durante o conflito. Este fato provocou uma grave crise
econômica nos anos seguintes ao término do conflito.
Morreram
aproximadamente 58 000 soldados estado-unidenses até a retirada dos Estados
Unidos do conflito em 1973.
Embargo comercial
Quando
os vietnamitas começaram a construir o socialismo no país unificado,
primeiramente eles optaram pelo velho modelo soviético que, por não levar em
conta as peculiaridades e as realidades nacionais, fracassou. O país então entrou
em uma crise econômica que agravou ainda mais sua situação social. Em 1987 o
Vietnã enfrentava uma inflação de quase 700% ao ano, uma grande carência no
abastecimento de mercadorias e artigos de primeira necessidade como o arroz,
por exemplo, estavam sendo importados. Além disso, o país só mantinha relações
comerciais e diplomáticas com países socialistas, pois sofria o embargo de
países capitalistas, sob imposição dos EUA.
Forças envolvidas
·
Estados
Unidos: 2 300 000 homens serviram no Vietnã de 1961 a 1974, com 58 203 mortos e
303 635 feridos.
·
Coreia
do Sul: 4 960 mortos e 10 962 feridos
·
Nova
Zelândia: 37 mortos, Tailandia: 351 mortos, Filipinas: 7 mortos
·
Austrália:
520 mortos e 2 940 feridos
·
Vietnã
do Sul: 1 048 000 homens (Exército regular e Forças Populares), com 184 000
mortos.
·
Vietnã
do Norte e Vietcong: cerca de 1 100 000 homens, com 900 000 mortos no total.
·
Estima-se
que 2 000 000 de civis vietnamitas morreram no conflito.
Equipamentos
A
arma mais simbólica desta guerra, o helicóptero Huey, teve um papel decisivo na
remoção de combatentes feridos, desembarque de tropas na selva e fornecimento
de suprimentos e munição às tropas em terra, sendo durante o decorrer da guerra
modernizado em sua capacidade de combate, com foguetes e metralhadoras para
apoio aos combates terrestres.
Alguns
equipamentos e armamentos são considerados símbolos da Guerra do Vietnã. Abaixo
uma relação das principais aeronaves, tanques e equipamentos militares
imortalizados pelo conflito:
Aeronaves
·
UH-1B/C/D/H
Huey (Iroquois),
·
AH-1
Cobra,
·
F-4Phantom
II,
·
A-4B/C/E/F
Skyhawk,
·
A-7A/D
Corsair II,
·
A-6A/E Intruder,
·
F-105A/D/F Thunderchief,
·
F-111A Aardwark,
·
B-52A Stratofortress,
·
Bird Dog,
·
O-2
Skymaster,
·
OV-10
Bronco,
·
F-100A/D/F
Super Sabre,
·
C-130
Hercules,
·
MiG-17
Fresco,
·
MiG-21
Fishbed.
Veículos
·
M113,
·
M48A3 Patton,
·
M551 Sheridan,
·
M88A1
Hercules,
·
M35,
·
M54,
·
M151
Mutt,
·
M606,
·
M577,
·
M107,
·
M108
- 105mm,
·
M109
- 155mm,
·
M110.
·
M-49
Armamento
·
Fuzil
M-14
·
Fuzil
M-16A1
·
Ar.15
·
Metralhadora
M-60
·
AK-47
·
Pistola
M-1911
·
Capacete
de aço M1
·
Fuzil
M40A1
·
Metralhadora
M3A1
·
Metralhadora
PPSH-41
·
Fuzil
Mosin-Nagant
·
Fuzil
Dragunov
·
Metralhadora
leve RPK
·
Metralhadora
Swedish K
·
Fuzil
Tipo .56
·
Lança
granada 40mm M79
·
Lança
foguete law 66mm
·
Metralhadora
Thompson A1
·
Lança
foguete RPG-7
·
Lança
foguete RPG-7v
·
Carga
C4
·
MP-40
·
Mina
claymore
·
Metralhadora
de apoio leve PKM
·
Metralhadora
Degtyarov RPD
·
Pistola
Makarov
·
Pistola
Tokarev
·
Fuzil
SKS
·
Metralhadora
Dshk 12,7mm
·
Granadas
de palo, Mk26, Mk94,fumaça e de fosfóro branco
·
Fuzil
Car-15
·
Escopeta
Calibre 12mm
·
Faca
KA-BAR
·
Morteiro
40mm
·
Metralhadora
Mat-49
·
revolver
S&W .50
·
Lança
granada M203
·
Bomba
de napalm
Armas químicas
Apesar
de proscritas pelas Convenções de Genebra, armas químicas foram fartamente
usadas pelos EUA, durante a Guerra do Vietnã. A mais conhecida delas foi o
napalm, uma mistura de gasolina com uma resina espessa da palmeira que lhe deu
o nome e que, em combustão, gera temperaturas a 1.000 °C. Se adere à pele,
queima músculos e funde os ossos, além de libertar monóxido de carbono, fazendo
vítimas por asfixia.
Além
do napalm, o exército norte-americano despejou sobre o Vietnã, desde 1961 (com
a aprovação do presidente John Kennedy) até 1971, cerca de 80 milhões de litros
de herbicidas. Entre eles, o mais utilizado, devido à sua terrível eficácia,
foi o agente laranja, que é uma combinação de dois herbicidas: o 2,4-D e o
2,4,5-T, sendo que a síntese deste último gera um subproduto cancerígeno, a
Dioxina tetraclorodibenzodioxina, considerada uma das substâncias mais
perigosas do mundo.
O
impacto ecológico do uso dessas armas químicas foi catastrófico para a
cobertura vegetal e para a população que habitava a região.
Mais
de 40 anos depois da guerra, a dioxina produzida pelo agente laranja continuava
biologicamente ativa. E, atualmente, as concentrações encontradas em várias
regiões do Vietnã superam em 400 vezes o limiar de toxicidade, conforme
evidenciado pela Canada Hatfield Consultants.
A
dioxina foi culpada pela alta incidência de doenças de pele, malformações
genéticas, câncer, incapacidades mentais e outros problemas que afetam a população
vietnamita (e ex-militares dos EUA). Milhares de crianças nasceram com
problemas de pais que não foram expostos ao herbicida durante a guerra, mas que
comeram alimentos contaminados por ele. Como de praxe, a maioria das vítimas
pertence às famílias mais pobres.
Em
2005, a Associação Vietnamita do Agente Laranja moveu uma ação judicial contra
as companhias químicas norte-americanas produtoras do Agente Laranja. Mas o
juiz federal, Jack Weisntein, não acolheu a queixa, alegando que não havia, nos
autos do processo, "nada que comprovasse que o Agente Laranja tenha
causado as doenças a ele atribuídas, principalmente pela ausência de uma
pesquisa em larga escala".
Curiosamente,
em 1984, uma ação judicial movida por veteranos de guerra norte-americanos
contra as mesmas companhias, pelos mesmo motivos, resultou em um acordo de 93
milhões de dólares em indenizações aos soldados.