Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 —
São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um cantor e compositor brasileiro,
frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro.
Também foi
produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é
chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco Beleza". Sua
obra musical é composta por 17 discos lançados em seus 26 anos de carreira e
seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato
conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let me Sing, Let me
Sing". Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), foi produzido
quando ele integrava o grupo Raulzito e os Panteras, mas só ganhou notoriedade
crítica e de público com as músicas de Krig-ha, Bandolo! (1973), como
"Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose
Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de
"contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como
a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por figuras
como o ocultista britânico Aleister Crowley.
Cético
e agnóstico, Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e
ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas ideias dessas
correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou
de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu gozar de uma audiência
relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo
álbuns que venderam bem, como Abre-te Sésamo (1980), Raul Seixas (1983),
Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do Diabo (1989), esse último em
parceria com o também baiano e amigo Marcelo Nova, e sua obra musical tem
aumentado continuamente de tamanho, na medida em que seus discos
(principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos, tornando-o um
símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e queridos entre os
fãs nos últimos anos. Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a
Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou
Raul Seixas figurando a posição 19ª, encabeçando nomes como Milton Nascimento,
Maria Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros. No ano anterior, a mesma revista
promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde dois de seus
álbuns apareceram Krig-ha, Bandolo! de 1973 atingiu a 12ª posição e Novo Aeon
ficou em 53º lugar, demonstrando que o vigor musical de Raul Seixas continua a
ser considerado importante hoje em dia.
Infância
Raul
Santos Seixas nasceu às 8 horas da manhã em 28 de junho de 1945 numa família de
classe média baiana que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador. Seu pai,
Raul Varella Seixas, era engenheiro da estrada de ferro e sua mãe, Maria
Eugênia Santos Seixas, se dedicava às atividades domésticas. No próximo mês ele
foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o nome do pai e do
avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na Igreja Matriz da
Boa Viagem. Em 4 de dezembro de 1948, Raul Seixas ganhou um irmão, o único,
Plínio Santos Seixas, com quem teria um bom relacionamento durante sua
infância. Os estudos de Raul Seixas começaram em 1952, onde frequentou o curso
primário estudando com a professora Sônia Bahia. Concluído o curso em 1956,
fundou o Club dos Cigarros com alguns amigos. O trágico percurso escolar de
Raul Seixas se iniciaria em 1957, quando ele ingressou no ginásio Colégio São
Bento, onde foi reprovado na 2ª série por três anos. Um dos motivos da
reprovação, segundo alguns biógrafos, é que ele, em vez de ir assistir as
aulas, ouvia rock and roll — em seus primórdios — na loja Cantinho da Música.
No mesmo ano, em 13 de Julho, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo
Waldir Serrão. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, é através de Serrão que
Raul Seixas começou a sair de casa e a manter uma vida social mais ampla.
Segundo Raul, o encontro com Waldir foi fantástico: "me preparei todo,
botei a gola pra cima, botei o topete, engomei o cabelo, e fiquei esperando
ele, mascando chiclete". O Elvis Rock Club era como uma gangue, que
procurava brigas na rua, fazia arruaça, roubava bugigangas e quebrava vidraças.
Embora Raul não gostasse muito disso, "ia na onda, pois o rock (pelo menos
a meu ver) tinha toda uma maneira de ser".
Então,
a família resolveu matricular Raul num colégio de padres, o Colégio Interno
Marista, onde ele alcançou a 3ª série em 1960, mas acabou repetindo o estágio
em 1961. Ao que tudo indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar
pela leitura. O pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta
biblioteca em casa. Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a
ler os volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul. Sendo assim, as
histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos
do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao
irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os
esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era um
cientista maluco chamado "Mêlo" (algo como "amalucado"),
que viajava para diversos lugares imaginários como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis
Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua "outra parte, a que
buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma
maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu." Plínio ficava
horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois, e Raul
frequentemente encenava os personagens como um ator. Ambos os irmãos tinham
algo em comum: adoravam literatura, mas odiavam a escola. Mais tarde, já
maduro, Raul Seixas diria: "Eu era um fracasso na escola. A escola não me
dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa
ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na
escola. Minto. Aprendi a odiá-la. "De um modo ou de outro, Raul Seixas
precisava frequentar a escola vez ou outra. Em uma determinada ocasião, o pai
perguntou a Raul como ele ia na escola e pediu seu boletim. Raul mostrou um
boletim falsificado, com todas as matérias resultando em um 10. O pai
questionava se ele havia estudado, mas Maria Eugênia interrompia, dizendo algo
como "Estudou nada, ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria
desse béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e gritando essas
maluquices."Os pais de Raul, como toda a geração da época, estranhavam o
rock e ele não era muito bem-vindo entre as famílias.
Morte
As
50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco
lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que
foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do
dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama , por volta das
oito horas da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada
cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter
tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda
fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um
disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova,
tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira. Raul foi
velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do Anhembi. No dia seguinte
seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no
Cemitério Jardim da Saudade.