O Egito Antigo foi uma civilização da
Antiguidade oriental do Norte de África, concentrada ao longo ao curso inferior
do rio Nilo, no que é hoje o país moderno do Egito. Era parte de um complexo de
civilizações, as "Civilizações do Vale do Nilo", do qual também
faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia
e Somália.
Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste, e a primeira catarata do Nilo a sul. O Antigo Egito foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contatos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.
Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste, e a primeira catarata do Nilo a sul. O Antigo Egito foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contatos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.
As grandes pirâmides dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos, construídas
nas proximidades de Mênfis, a capital do Egito na época.
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A
civilização egípcia se aglutinou em torno de 3 150 a.C. com a unificação
política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó (Narmer), e se desenvolveu
ao longo dos três milênios seguintes. Sua história desenvolveu-se ao longo de
três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade econômica
e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade
conhecidos como Períodos Intermediários. O Antigo Egito atingiu o seu auge
durante o Império Novo (ca. 1 550–1 070 a.C.), uma era cosmopolita durante a
qual, graças às campanhas militares do faraó Tutmés III, o Egito dominou, uma
área que se estendia desde a Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do rio
Nilo, até ao rio Eufrates, tendo após esta fase entrado em um período de lento
declínio. O Egito foi conquistado por uma sucessão de potências estrangeiras
neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em 31 a.C.,
quando o Egito caiu sob o domínio do Império Romano e se tornou uma província
romana, após a derrota da rainha Cleópatra VII na Batalha de Áccio.
O sucesso da antiga civilização egípcia deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do Vale do Nilo. A inundação previsível e a irrigação controlada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou o desenvolvimento social e cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e nas regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento inicial de um sistema de escrita independente, a organização de construções coletivas e projetos de agricultura, o comércio com regiões vizinhas, e campanhas militares para derrotar os inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefa burocrática dos escribas de elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema de crenças religiosas.
Templo de Luxor
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As
muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas
de extração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de
monumentais pirâmides, templos e obeliscos; um sistema de matemática, um
sistema prático e eficaz de medicina, sistemas de irrigação e técnicas de
produção agrícola, os primeiros navios conhecidos, faiança e tecnologia com
vidro, novas formas de literatura e o mais antigo tratado de paz conhecido, o
chamado Tratado de Cadexe. O Egito deixou um legado duradouro. Sua arte e
arquitetura foram amplamente copiadas e suas antiguidades levadas para os mais
diversos cantos do mundo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação dos
viajantes e escritores ao longo de séculos. O fascínio por antiguidades e
escavações no início do Idade Contemporânea esteve na origem da investigação
científica da civilização egípcia e levou a uma maior valorização do seu legado
cultural.
Os
egípcios usaram vários nomes para se referirem à sua terra. O mais comum era
Kemet, "a Terra Negra" ou "Terra Fértil", que se aplicava
especificamente ao território nas margens do Nilo e que aludia à terra negra
trazida pelo rio todos os anos. Decheret, "Terra Vermelha",
referia-se aos desertos que circundavam o Nilo, onde os egípcios só penetravam
para enterrar os seus mortos ou para explorarem pedras e metais preciosos.
Também poderiam chamá-la Taui ( "as Duas Terras", ou seja, o Alto e o
Baixo Egito), Ta-meri ("Terra Amada") ou Ta-netjeru ("A Terra
dos Deuses"). Na Bíblia o Egito é denominado Misraim. A atual palavra
Egito deriva do grego Aigyptos (pronunciado Aiguptos), que se acredita derivar
por sua vez do egípcio Het-Ka-Ptah, "a mansão da alma de Ptah".
Templo de Abu Simbel
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Os
habitantes atuais do Egito dão o nome Misr ao seu país, uma palavra que em
árabe pode também significar "país", "fortaleza" ou
"acastelado". Segundo a tradição, Misr é o nome usado no Alcorão para
designar o Egito, e o termo pode evocar as defesas naturais de que o país
sempre dispôs. Outra teoria é que Misr deriva da antiga palavra Mizraim, que
por sua vez deriva de md-r ou mdr, usada pelos locais para designar o seu país.
No
final do período paleolítico, o clima árido do Norte da África tornou-se cada
vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem ao
longo do Vale do Nilo, cuja fertilidade assegura o sustento do Egito desde os
tempos dos caçadores e coletores nômades do Pleistoceno Médio (ca. 780-120 mil
anos atrás) até à atualidade. A planície fértil do Nilo deu aos homens a
oportunidade de desenvolver uma economia agrícola sedentária e uma sociedade
mais sofisticada e centralizada que se tornou um marco na história da
civilização humana.
Período pré-dinástico do Egito
Nos
períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito, assim como do Saara como
um todo, sofreu repentinas variações climáticas que provocaram períodos de
extrema seca e desertificação, assim como períodos de clima favorável e úmido:
em fases úmidas o Saara era dominado por uma savana rica em fauna (aves e
mamíferos) e flora. A caça teria sido muito importante entre os egípcios, pois
fornecia carne. As primeiras evidências de domesticação animal são provenientes
do Deserto Ocidental tendo sido datadas de 8 800-6 800 a.C.: os animais
domésticos eram criados com base no modelo de pastoreio africano, no qual os
animais fornecem leite e sangue, e não carne. Por volta de 5 500 a.C., pequenas
comunidades que habitavam o vale do Nilo evoluíram para aglomerados culturais
complexos caracterizados pelo amplo domínio da agricultura (os vestígios mais
antigos de tal prática foram encontrados em Faium) pecuária e por manufatura de
objetos e cerâmica, assim como de um comércio primitivo: a Cultura Faiumiana (5
400-4 400 a.C.) desenvolveu pleno domínio em tecelagem; a cultura Merimde (5
000-4 100 a.C.) construiu os primeiros túmulos egípcios neolíticos conhecidos
(localizados no interior do assentamento), tendo possivelmente desenvolvido
práticas rituais; a cultura Omariana (4 600-4 400 a.C.) produziu os mais
antigos artefatos em cobre do Egito; e a Badariana (4 400-4 000 a.C.) produziu
os primeiros exemplos de faiança e vidro à base de esteatita.
Na
cultura Maadiana (3 800-3 200 a.C.) se verificou o surgimento dos primeiros
cemitérios bem definidos assim como de um intenso comércio: importavam produtos
do Oriente Médio (madeira de cedro, nódulos de sílex, cerâmica, ferramentas de
pedra, resinas, óleos, vinho, cobre, basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica,
marfim, paletas cosméticas, cabeças de clava) e Deserto Oriental (malaquita,
manganês, cornalina, conchas, pérolas); exportavam cerâmica, conchas e cereais
para o Oriente, cobre, basalto e sílex para o Alto Egito. Sítios como Saís e
Buto tornaram-se centros de propagação cultural. A Cultura de Nacada (4 000-3
000 a.C.) foi caracterizada pelo surgimento de elites regionais mercantis
centradas em grandes centros de poder (Nacada, Hieracômpolis, Gebelein, Abadia,
Abidos). Tais centros evoluíram para estados regionais belicosos que disputaram
entre si o poder, terras mais férteis e controle das rotas comerciais.
Possivelmente estes estados delinearam a divisão administrativa egípcia
conhecida como nomos. Durante os 1 000 anos de existência da Cultura de Nacada
os centros regionais variaram em tamanho e poder: em Nacada I o maior centro
era Nacada; em Nacada II (3 500-3 200 a.C.) era Hieracômpolis; em Nacada III (3
200-3 000 a.C.) era Abidos/Tinis. Esses centros tiveram cemitérios relacionados
onde as elites eram sepultadas com rico espólio tumular. No final de Nacada II
e durante Nacada III surgem as primeiras evidências de líderes regionais e,
posteriormente, dos primeiros faraós.
A
Cultura de Nacada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do
crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto, marfim, cobre, osso e cerâmica),
adereços pessoais (em osso, lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira, ouro,
prata e cobre), paletas cosméticas zoomórficas e antropomórficas (em grauvaque
e ardósia), esteatita vítrea, figuras antropomórficas e zoomórficas (em marfim
e terracota), cabeças de clava discoides e depois em forma de pera; esferas de
ferro meteorítico são os mais antigos exemplos do uso de ferro no mundo.
Durante Nacada I os primeiros exemplos de habitações construídas com tijolos
são evidentes.
Durante
o período nacadano algumas transformações socioeconômicas importantes são
evidentes: intensa importação (obsidiana, cobre, vasos, lápis-lazúli, marfim,
ébano, incenso, pele de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas) e exportação
(alabastro, contas de ouro, faiança, lâminas, amuletos de "cabeças
bovídeas") de produtos; surgimento de costumes religiosos (uso de estelas
e sarcófagos) assim como alguns deuses do panteão egípcio (Hórus, Bat, Seth, Nekhbet
e Min); criação da escrita hieroglífica (possivelmente baseada na escrita
mesopotâmica ); arte e iconografia, ambas representadas em paletas cosméticas.
Época Tinita
No
século III a.C., o sacerdote Manetão estabeleceu uma cronologia dos faraós
desde Menés aos seus contemporâneos, agrupando-os em 30 dinastias, um sistema
ainda em uso atualmente. Ele escolheu para começar a sua história oficial o rei
chamado Meni (em grego: Μήνης; transl.: Menés) que se acredita ter sido o
unificador dos reinos do Alto e Baixo Egito (ca. 3 100 a.C.). Na realidade, a
transição para um estado unificado aconteceu de forma mais gradual do que os
escritores egípcios relatam, e não há registro contemporâneo de Menés. Alguns
acadêmicos acreditam, no entanto, que o mítico faraó Menés pode realmente ter
sido o faraó Narmer, que é retratado vestindo trajes reais sobre a cerimonial
Paleta de Narmer em um ato simbólico de unificação, ou então o faraó Hórus Aha.
Durante
o período tinita (ca. 3 150 a.C.), a primeira dinastia de faraós consolidou seu
controle sobre o Alto Egito mudando a capital de Tinis para a recém-fundada
Mênfis, a partir da qual eles poderiam controlar a força de trabalho e a
agricultura do fértil Delta, bem como as rotas do lucrativo e fundamental
comércio com o Levante (especialmente com o corredor sírio-palestino de onde
obtinham a madeira de cedro). Os faraós realizaram ataques contra núbios,
líbios e beduínos, assim como realizaram incursões no Sinai em busca de cobre e
turquesa e no Mar Vermelho para exploração das minas locais. O crescente poder
e riqueza dos faraós durante o período dinástico se refletiu em suas mastabas
elaboradas e em estruturas de culto mortuário em Abidos, que foram utilizadas
para celebrar o faraó endeusado após sua morte. A forte instituição da realeza
desenvolvida pelos faraós serviu para legitimar o controle estatal sobre a
terra, trabalho e recursos que foram essencialmente para a sobrevivência e o
crescimento da antiga civilização egípcia.
Império Antigo
No
Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas
do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios.
Concomitantemente, o comércio com o Oriente Próximo (Líbano, Palestina,
Mesopotâmia) e o Punt intensificou-se e, juntamente com os sucessos militares,
possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e uma frota marítima,
assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, mirra, malaquita e
electro.
Durante
o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou
possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para
impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia. Sob a
direção do tjati (vizir), funcionários do Estado arrecadavam impostos,
coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas,
recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram
um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz. Com os
excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável,
o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a
excepcional comissão de obras de arte para as oficinas reais.
A
par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe
de escribas e oficiais letrados que receberam propriedades do faraó como
pagamento pelos seus serviços. Os faraós também fizeram concessões de terras
para seus cultos funerários e templos locais, de forma a garantir que estas
instituições teriam recursos necessários para a adoração do faraó após a sua
morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais corroeram lentamente o
poder econômico do faraó, e que a economia deixou de conseguir sustentar uma
grande administração central. Com a diminuição do poder do faraó, governantes
regionais designados nomarcas começaram a desafiar a supremacia do faraó. Isso,
em conjunto com um período de secas extremas entre 2 200-2 150 a.C., é apontado
como causa da transição para um período de 140 anos de fome e conflitos
conhecido por Primeiro Período Intermediário.
Primeiro Período Intermediário
Depois
do colapso do governo central do Egito no final do Império Antigo, o governo
não conseguiu sustentar ou estabilizar a economia do país. Os governadores
regionais não podiam contar com o faraó para apoio em épocas de crise, e a
consequente escassez de bens e disputas políticas agravaram-se para situações
de fome e guerras civis de pequena escala. No entanto, apesar dos problemas, os
líderes locais que já não deviam o tributo ao faraó, usaram esta independência
para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez que dominavam os
seus próprios recursos, as províncias desenvolveram-se economicamente, fato
demonstrado por maiores e melhores atos fúnebres entre todas as classes
sociais. Verificaram-se surtos de criatividade, com os artesãos das províncias
a adotarem e adaptarem motivos culturais antes restritos à realeza do Império
Antigo, e os escribas desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo
e a originalidade do período.
Livres
da fidelidade ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si
pelo controle territorial e poder político. Por volta de 2 160 a.C., os
governantes de Heracleópolis controlavam o Baixo Egito, enquanto um clã rival,
baseado em Tebas, a família Intef, assumiu a posse do Alto Egito. À medida que
os Intefs cresceram em poder e se expandiram para norte, um confronto entre as
duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de 2 055 a.C., as forças de
Tebas sob o comando de Mentuotep II derrotaram finalmente os governantes de
Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e dando origem a um período de
renascimento econômico e cultural conhecido como o Império Médio.
Império Médio
Os
faraós do Império Médio restituíram a prosperidade e estabilidade do país,
situação que estimulou um renascimento da arte, literatura e projetos de
construção monumental. Mentuotep II e seus sucessores da XI dinastia governaram
a partir de Tebas, mas o vizir Amenemés I, ao assumir o trono que deu início
início à XII dinastia por volta de 1 985 a.C., mudou a capital do país para a
cidade de Itjtawy, localizada em Faium. De Itjtawy, os faraós da XII dinastia
comprometeram-se a realizar uma recuperação de áreas degradadas e melhorar o
sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola no país. Além disso,
deu-se a conquista militar de toda a Núbia, rica em pedreiras e minas de ouro,
enquanto trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental,
chamada "Muros-do-Rei", para defesa do Egito contra ataques
exteriores.
Tendo
sido garantida a segurança militar e política, e na presença de uma vasta
riqueza agrícola e mineira, a população, a arte e a religião prosperaram
significativamente. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para
com os deuses, no Império Médio assistiu-se a um aumento nas manifestações de
devoção pessoal, e àquilo que pode ser designado por democratização da vida no
além, na qual todas as pessoas possuem uma alma e podem ser recebidas na
companhia dos deuses. A literatura do Império Médio abordava temas eruditos e
personagens complexos, narrados num estilo confiante e eloquente. A escultura
capturou detalhes subtis e distintos que atingiram um novo patamar de perfeição
técnica; os líderes retomam o costume de erigirem pirâmides.
No
Império Médio, como forma de garantir a sucessão, os faraós ainda em vida
dividiram o trono com seu sucessores, mantendo-os como co-faraós. O último
grande governante do Império Médio, Amenemés III, permitiu que colonos
asiáticos se instalassem na região do Delta de modo a ter disponível força de
trabalho suficiente para as suas particularmente ativas campanhas de construção
e mineração. Estas ambiciosas campanhas, porém, em conjunto com cheias
inadequadas do Nilo no seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um
lento declínio no Segundo Período Intermediário durante as posteriores XIII e
XIV dinastias. Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir
o controle da região do Delta, acabando por alcançar o poder no Egito, como foi
o caso dos hicsos.
Segundo Período Intermediário
Por
volta de 1 785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os
imigrantes asiáticos residentes na cidade de Aváris assumiram o controle da
região e forçaram o governo central a se retirar para Tebas, onde o faraó era
tratado como um vassalo e era obrigado a pagar tributo. Os hicsos (Heka-khasut,
governantes estrangeiros) imitaram o modelo de governo egípcio e se
apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura da Idade
do Bronze Médio. Introduziram também elementos novos na civilização egípcia como
o cavalo, os carros de guerra, novos métodos de fiação e tecelagem e novos
instrumentos musicais.
Depois
da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os
aliados núbios dos hicsos, os cuchitas, no sul. Após anos de inatividade, Tebas
reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais
de 30 anos, até 1 555 a.C. Os faraós Taá II e Kamés acabaram por derrotar os
núbios, mas foi o sucessor de Kamés, Amósis, que empreendeu com sucesso uma
série de campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. No
Império Novo que se seguiu, o poder militar se tornou uma prioridade central
para os faraós, que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o
domínio completo do Oriente Próximo.
Império Novo
Os
faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem
precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com
seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando de Tutmés I e
seu neto Tutmés III, alargaram a influência dos faraós para o maior império que
o Egito já havia visto. Quando Tutmés morreu em 1 425 a.C., o Egito
prolongava-se desde Niya no norte da Síria até à quarta catarata do Nilo, na
Núbia, cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais
como bronze e madeira. Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de
construção em grande escala para promover o deus Amon, com culto assente em
Carnaque. Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações,
tanto reais como imaginárias. A faraó Hatchepsut usou tais meios como
propaganda para legitimar sua pretensão ao trono. Seu reinado bem sucedido foi
marcado por expedições comerciais a Punt, um elegante templo mortuário, um par
de obeliscos colossais e uma Capela em Carnaque. Apesar de suas realizações, o
sobrinho e enteado de Hatchepsut, Tutmés III tentou fazer desaparecer o seu
legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação
do seu trono.
Sob
Tutmés IV (1 397-1 388 a.C.) o Egito realizou uma aliança com Mitani para
empreender ataques contra o Império Hitita. Com Amenófis III foram edificados
os templos de Luxor, o palácio de Malacata e o Templo de Milhões de Anos, do
qual atualmente só restam os conhecidos "Colossos de Memnon", além do
templo de Amon em Carnaque ter sido ampliado. Durante seu reinado, colheitas
férteis e excedentes, permitiram a Amenófis III assegurar relações com os
reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de
acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de 1
350 a.C., a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quando Amenófis IV subiu
ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o
seu nome para Aquenáton (O Esplendor de Aton), decretou como a divindade
suprema o até aí obscuro deus Sol Aton, suprimindo o culto de outras divindades
e atacando o poder religioso instalado. Mudando a capital para a nova cidade de
Aquetaton (Horizonte de Áton, atual Amarna), Aquenáton tornou-se desatento aos
negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Aton e pela sua
personalidade de artista e pacifista. Durante seu reinado as relações
comerciais com o Mar Egeu (minoicos e micênios) são cortadas e os hititas
começam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria. Após sua morte, o culto
de Aton foi rapidamente abandonado, e os faraós Tutancâmon, Ay e Horemeb
apagaram todas as referências à heresia de Aquenáton, agora conhecida como
Período Amarna.
Sob
Seti I, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade de Cadexe e a região
vizinha de Amurru, ambas localidades palestinianas. Ramsés II, também conhecido
como Ramsés, o Grande ascendeu ao trono por volta de 1 279 a.C., prosseguindo a
construção de um número significativo de templos, estátuas e obeliscos; foi o
faraó com a maior quantidade de filhos da história (110 filhos). Transferiu a
capital do império de Tebas para Pi-Ramsés no Delta Oriental. Ousado líder
militar, Ramsés II comandou o seu exército contra os hititas na Batalha de
Cadexe em 1 274 a.C. e depois de um impasse, assinou em 1 258 a.C. o primeiro
tratado de paz da história, conhecido como Tratado de Cadexe, onde ambas as
nações comprometiam-se a se ajudar mutuamente contra inimigos internos ou
externos. O tratado foi selado com o casamento de Ramsés II e a filha mais
velha do imperador Hatusil III.
A
riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial de
líbios e dos chamados povos do mar. No reinado de Merneptá ambos os povos se
aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também os núbios à revolta.
Com a sequente derrota dos invasores, os revoltosos acabariam por ser
suplantados. Durante o reinado de Ramsés III o faraó conseguiu expulsar os
povos do mar para fora do Egito em duas grandes batalhas, no entanto, eles
acabariam por assentar na costa palestina e durante o reinado de seus
sucessores tomariam por completo a região. Entretanto é importante lembrar que
o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a morte de
Ramsés II e a subida ao trono de seu filho Merneptá, a instabilidade política
assolou o Egito. Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco
tempo e diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e
roubos de túmulos contribuíram para a instabilidade interna. Como forma de
ganhar popularidade, durante o início da XX dinastia foram concedidas terras,
tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos de Amon, o que fortaleceu o
poder destes, e esse poder crescente fragmentou o país durante o Terceiro
Período Intermediário.
Terceiro Período Intermediário
Após
a morte de Ramsés XI em 1 070 a.C., Esmendes assumiu a autoridade sobre a parte
norte do Egito governando a partir da cidade de Tânis. O sul foi de facto
controlado pelos sumos sacerdotes de Amon em Tebas, que reconheciam Esmendes
apenas formalmente. O sacerdote Piankh conseguiu deter a expansão do Reino de
Cuche que havia dominado boa parte do Alto Egito.
Na
mesma época, os líbios tinham se instalado no Delta Ocidental, e os líderes
destes colonos começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o
controle do delta no reinado de Shoshenk I em 945 a.C., fundando a dinastia
chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca de 200 anos. Shoshenk
também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os seus familiares em
importantes cargos sacerdotais. Invadiu a Palestina durante o reinado do rei
Roboão e restaurou o comércio com Biblos, aumentando a prosperidade da
dinastia.
Sob
Osorcon II, o Egito auxiliando os reinos sírio-palestinos repudiou as primeiras
expedições assírias. As muitas guerras civis que se seguiram causaram a divisão
do Egito em várias dinastias. O poder líbio entrou em declínio à medida que
duas dinastias rivais surgiram, uma centrada em Leontópolis (XIII dinastia) e
outra em Saís (XXIV dinastia). No entanto, a constante ameaça cuchita do sul
forçou a união das três dinastias com vista à sua defesa. Por volta de 727
a.C., o rei cuchita Pié derrotou um exército de oito mil soldados egípcios,
invadiu o norte, tomou o controle de Tebas e do Delta, e formou a XXV dinastia.
O
prestígio secular do Egito diminuiu consideravelmente durante o final do
Terceiro Período Intermediário. Os seus aliados estrangeiros ficaram sob a
esfera de influência assíria, e em 700 a.C. a guerra entre os dois estados
tornou-se inevitável. O faraó Chabataca empreendeu uma batalha contra os
assírios da qual sairia vitorioso. O seu sucessor, Taarca, incentivou revoltas
na Palestina assíria, tendo conseguido expulsar os assírios das imediações em
673 a.C. No entanto, entre 671 e 667 a.C., os assírios iniciaram ataques contra
o Egito. Os reinados dos reis cuchitas Taarca e do seu sucessor Tanutamon foram
marcados por conflitos constantes com os assírios, contra os quais os
governantes núbios obtiveram várias vitórias. Por fim, os assírios empurraram
os cuchitas para a Núbia, ocupando Mênfis e saquearam os templos de Tebas.
Época Baixa
Sem
planos definitivos de ocupação, os assírios delegaram a administração do Egito
numa série de vassalos que se tornariam conhecidos como reis saítas da XVI
dinastia. Por volta de 653 a.C., o rei Psamético I logrou expulsar os assírios
com ajuda de mercenários gregos. A influência grega expandiu-se
significativamente à medida que os gregos se concentraram na cidade de
Náucratis, no Delta. A partir da nova capital em Saís, os reis saítas,
testemunharam um breve, mas significativo ressurgimento da economia e cultura,
mas em 525 a.C., os poderosos persas aquemênidas, liderados por Cambises II,
iniciaram uma campanha de conquista do Egito, tendo acabado por capturar o
faraó Psamético III na Batalha de Pelusa. Em seguida Cambises II assumiu o
título formal de faraó, governando o Egito a partir de Susa, deixando a região
sob a administração de um sátrapa. Algumas revoltas bem sucedidas contra os
persas marcaram o Egito no século V a.C., mas nunca foram capazes de os
derrubar de forma definitiva.
Após
a sua anexação pelo Império Aquemênida, o Egito seria aglomerado com o Chipre e
com a Fenícia, na sexta satrapia dos persas aquemênidas. Este primeiro período
de domínio persa sobre o Egito, também conhecido como XXVII dinastia, terminou
em 402 a.C.. De 380 a 343 a.C., a XXX dinastia governou como última casa real
nativa do Egito dinástico, que terminaria com o reinado de Nectanebo II. Uma
breve restauração do domínio persa, por vezes designada como XXXI dinastia,
teve início em 343 a.C., mas pouco depois, em 332 a.C., o governante persa
Mazaces entregou sem grande resistência o Egito a Alexandre, o Grande.
Dinastia Ptolomaica
Em
332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e
foi recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida
pelos sucessores de Alexandre, os Ptolomeus, foi baseada no modelo egípcio e a
capital estabelecida na recém-erguida cidade de Alexandria. A cidade era uma
montra do poder e prestígio do governo grego, e tornar-se-ia um polo de cultura
e ensino, centrados na famosa Biblioteca de Alexandria. O Farol de Alexandria
iluminou o caminho para os muitos navios que mantinham vivo o comércio com o
exterior, uma vez que a economia, assente em empresas de grande retorno
económico, era a mais alta prioridade dos Ptolomeus.
A
cultura grega não pretendeu impor-se à cultura egípcia nativa, tendo os
Ptolomeus apoiado tradições seculares de forma a garantir a lealdade da
população. Foram construídos novos templos em estilo egípcio, apoiadas as
formas de culto tradicionais, e os governantes retratavam-se a si mesmo como
faraós. Algumas tradições de ambas as culturas foram fundidas, como deuses
gregos e egípcios sincretizados em divindades híbridas, como Serápis, e formas
clássicas da escultura grega influenciaram motivos tradicionais egípcios.
Apesar dos seus esforços para apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram
contestados por rebeliões locais, rivalidades entre famílias e pela poderosa
máfia de Alexandria, formada depois da morte de Ptolemeu IV.[124] Além disso, à
medida que Roma dependia cada vez mais de importações de cereais do Egito, os
romanos começaram a demonstrar grande interesse na situação política da região.
Revoltas egípcias constantes, políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios
contribuíram para a instabilidade da região, levando Roma ao envio de tropas
com o objetivo de assegurar o país como província do seu império.
Domínio romano
O
Egito tornou-se uma província romana em 30 a.C., após a derrota de Marco
Antônio e da rainha Ptolomaica Cleópatra VII por Otaviano (posteriormente
Imperador Augusto) na Batalha de Áccio. Os romanos dependiam fortemente das
remessas de cereais do Egito, e o exército romano, sob o comando de um prefeito
nomeado pelo imperador, reprimiu revoltas, fez aplicar a cobrança de impostos,
e impediu os ataques de salteadores, que se tinham tornado um problema
significativo durante este período. Alexandria torna-se um centro cada vez mais
importante na rota de comércio com o Oriente, uma vez que em Roma havia grande
procura de mercadorias e bens exóticos e de luxo.
Embora
os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para com os
egípcios, algumas tradições foram mantidas, como a mumificação e o culto dos
deuses tradicionais. A arte de retratar as múmias floresceu e alguns dos
imperadores romanos se fizeram retratar como faraós, embora não na medida dos
Ptolomeus, já que os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam
funções cerimoniais da realeza egípcia. A administração local tornou-se romana
o que tendeu a minar a liberdade dos nativos egípcios.
A
partir de meados do século I d.C., o cristianismo se enraizou em Alexandria,
sendo visto e aceito como outro culto. No entanto, o fato de ser uma religião
inflexível e proselitista, que procurava converter pessoas do paganismo,
ameaçando com isso as tradições religiosas populares, levou à perseguição dos
convertidos ao cristianismo, que culminou com o grande expurgo de Diocleciano a
partir de 303. Apesar disso, o cristianismo acabou por triunfar. Em 391 o
imperador cristão Teodósio I introduziu uma legislação que proibiu ritos pagãos
e os templos foram fechados. Alexandria tornou-se palco de grandes protestos
antipagãos, com imagens públicas e privadas destruídas. Como consequência, a
cultura do Egito pagão entrou em declínio. Enquanto a população nativa
continuou a usar a sua língua, a capacidade de ler e escrever hieróglifos, na
medida em que o papel dos sacerdotes tornou-se exímio, acabou por retroceder.]
Os templos eram por vezes convertidos em igrejas ou abandonados.
No
século IV d.C. o Império Romano dividiu-se em duas partes e o Egito se
incorporou ao Império Oriental, conhecido como o Império Bizantino. O Império
do Oriente tornou-se cada vez mais "oriental" em grande estilo e suas
antigas ligações com o mundo greco-romano começam a se desvanecer. O sistema
grego de governos locais por cidadãos já tinha desaparecido completamente. Em
616, em meio a guerra bizantino-sassânida de 602-628, o xá sassânida Cosroes II
(r. 590–628) conquistou o Egito, cujo controle seria retomado pelos bizantinos
em 628 sob o imperador Heráclio (r. 610–641) com o fim do conflito.
Invasão muçulmana do Egito
Em
639, Amr ibn al-As, um general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens
ataca o Egito bizantino durante o expansionismo árabe do século VII.
Inicialmente toma Mênfis e toma o controle das principais rotas de comunicação
terrestre, o que lhe abre caminho para a capital da província, Alexandria. Após
tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram
pelo butim, alcançando cerca de 20 000 homens. Amr estabeleceu seu acampamento
nas imediações da cidade de Heliópolis (local onde posteriormente seria fundada
a cidade do Cairo) de onde pode enviar suas tropas de assédio à cidade. Em 640
sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de 50 000 homens,
no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e
permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no
entanto, são novamente repelidos em 646.
Após
a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe
começou a materializar-se, tendo durado até ao século IX. Os árabes impuseram
um imposto especial aos egípcios cristãos, o jizya. No século VII d.C. os
árabes começam a empregar o termo quft para descrever o povo do Egito. Desta
forma os egípcios passaram a ser conhecidos como coptas, e a Igreja Egípcia
Não-Calcedônia tornou-se a Igreja Copta. Nos séculos seguintes, de forma
gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a
identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que
falavam a língua copta, uma descendente direta do egípcio demótico falado na
época romana.
Geografia
A
civilização egípcia se desenvolveu na região situada entre a primeira catarata
do Nilo (Assuam) e o Delta do Nilo. O Sinai, que só pertenceu ao Egito após sua
conquista no Império Novo, foi utilizado como rota de comunicação para o
corredor sírio-palestino, que a rigor seria a faixa de terra litorânea que liga
o Egito à Mesopotâmia. A leste do Nilo encontra-se o Deserto Oriental Africano
(comumente conhecido como Deserto Oriental) que se estende até ao Mar Vermelho
e a oeste fica o Deserto da Líbia (comumente conhecido como Deserto Ocidental)
onde existem vários oásis dos quais se destacam os de Siuá, Kharga, Farafra,
Dakhla e Baareia. O atual território do Egito não pode ser comparada ao do
Antigo Egito, pois, atualmente, o Sinai, e partes dos desertos Oriental e
Ocidental estão dentro dos limites do Egito.
Ao
sul da primeira catarata se localizava a Núbia. O Nilo é formado por dois
afluentes principais, o Nilo Branco (que nasce no Lago Vitória) e o Nilo Azul
(que nasce no Lago Tana). Ambos os afluentes unem-se em Cartum. O Nilo corre de
sul para norte, desaguando no Mar Mediterrâneo e sua extensão é de
aproximadamente 6 740 km.
No
Antigo Egito distinguiam-se duas grandes regiões: o Alto Egito e o Baixo Egito.
Inicialmente o Alto e Baixo Egito eram reinos distintos que haviam se formado
em torno de 3 300 a.C. No entanto, acabaram por ser unificados poucos séculos
depois. O Alto Egito (Ta-chemau) era uma estreita faixa de terra com cerca de
900 km de extensão começando em Assuão e terminando em Mênfis. O Baixo Egito
(Ta-mehu) foi o Delta do Nilo, a norte de Mênfis, onde o rio se dividia em
vários braços. Por vezes também se distingue na geografia egípcia uma região
conhecida como o Médio Egito, que é o território a norte de Qena até à região
do Faium.
Vale do rio Nilo
O
historiador grego Heródoto (c, 484?-420 a.C.), chamou ao Egito "a dádiva
do Nilo". Para os egípcios, o Nilo era uma verdadeira bênção dos deuses,
sendo considerado sagrado e adorado como um deus, ao qual dedicavam hinos e
orações. As chuvas sazonais causavam enchentes que depositavam húmus nas
margens favorecendo a agricultura e pecuária; também fornecia água fresca,
peixes, aves aquáticas além de servir para o transporte e comércio. Como o
nível do rio era inconstante os egípcios desenvolveram diques, barragens e
canais de água para melhor aproveitarem as águas do rio, assim como o
"nilômetro", uma construção usada para medir as enchentes. Durante o
período das enchentes os cidadãos eram deslocados para as cidades para
trabalharem em outras tarefas.
O
meio mais fácil e rápido de viajar e transportar cargas pesadas era através de
embarcações de diversos tamanhos que possuíam, no geral, remos presos a proa.
As embarcações usadas para transporte de cargas pesadas eram construídas com
madeira do Líbano; as de transporte de pessoas, caça e pesca eram de junco; as
barcaças reais e as usadas para o transporte de estatuetas de deuses possuíam
cabines, e eram decoradas com muitas cores e ouro encrustado. O Nilo corre de
sul para norte, mas o vento sopra geralmente de norte para sul, pelo que a
navegação para norte tem a corrente a seu favor e a navegação para sul é feita
a favor do vento, o que era é aproveitado para utilizar velas. No entanto, na
ausência de vento causava, a única forma de navegar para sul é remar contra a
corrente.
Demografia
Os
antigos egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se
fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, da África
Negra e da área semítica. A questão relativa à etnia dos antigos egípcios é por
vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos conhecimentos da
ciência falar de raças humanas revela-se um anacronismo. Até meados do século
XX, por influência de uma visão eurocêntrica, os antigos egípcios eram
considerados praticamente como brancos; a partir dos anos 1950, as teorias do
"afrocentrismo", segundo as quais os egípcios eram negros,
afirmaram-se em alguns círculos. Importa também referir que as representações
artísticas são frequentemente idealizações que não permitem retirar conclusões
neste domínio.
Os
egípcios tinham consciência da sua alteridade: nas representações artísticas
dos túmulos os habitantes do Vale do Nilo surgem com roupas de linho branco,
enquanto que os seus vizinhos líbios e semitas se apresentam com roupas de lã.
A língua dos egípcios (hoje uma língua morta) é um ramo da família das línguas
afro-asiáticas (camito-semíticas). Esta língua é conhecida graças à descoberta
e decifração da Pedra de Roseta, onde se encontra inscrito um decreto de
Ptolomeu V Epifânio (205-180 a.C.) em duas línguas (egípcio e grego clássico) e
em três escritas (caracteres hieroglíficos, escrita demótica e alfabeto grego).
O
número de habitantes do Antigo Egito variou ao longo da história. Durante o
período pré-dinástico (4 500-3 000 a.C.) a população rondaria as centenas de
milhares; durante o Império Antigo (séculos XVII-XII a.C.) situar-se-ia nos
dois milhões, atingindo os quatro milhões por altura do Império Novo. Quando o
Egito se tornou uma província romana estima-se que a população seria cerca de
sete milhões. Como atualmente, a esmagadora maioria da população habitava as
terras agrícolas situadas nas margens do Nilo, sendo escassas as populações que
viviam no deserto.
Governo
Administração
O
faraó era o monarca absoluto do país e, pelo menos em teoria, exercia o
controle total da terra e seus recursos. Era o comandante militar supremo e
chefe do governo, que contava com uma burocracia de funcionários para
administrar os seus negócios. O encarregado da administração, o vizir (tjati),
era o segundo no comando, e atuava como conselheiro e representante do faraó,
coordenava os levantamentos fundiários, tesouraria, projetos de construção,
sistema legal e depósito de documentos. A nível regional, o país estava
dividido em 42 regiões administrativas chamadas nomos, cada uma governada por
um nomarca, que era responsável pela jurisdição do vizir. Os templos formavam a
espinha dorsal da economia. Eles não só eram edifícios de culto, mas também
eram responsáveis por coletar e armazenar a riqueza da nação em um sistema de
celeiros e tesourarias administradas por superintendentes, que redistribuíam os
cereais e os bens. Como não era possível para o faraó estar em todos os templos
para realizar as cerimônias, ele delegava o seu poder religioso aos sacerdotes,
que conduziam as cerimônias em seu nome.
Sistema jurídico
A
cabeça do sistema jurídico era oficialmente o faraó, que era responsável pela
promulgação de leis, aplicação da justiça e manutenção da lei e da ordem, um
conceito que os egípcios antigos denominavam Ma'at. Apesar de não terem chegado
aos nossos dias quaisquer códigos legais do Antigo Egito, documentos da corte
mostram que as leis egípcias foram baseadas em uma visão de senso comum de
certo e errado, que enfatizou a celebração de acordos e resoluções de conflitos
ao invés de cumprir rigorosamente um conjunto complicado de estatutos.
Conselhos locais de anciãos, conhecidos como Kenbet no Império Novo, eram
responsáveis pela decisão em casos judiciais de pequenas causas e disputas
menores. Os casos mais graves envolvendo assassinato, grandes transações de
terrenos e roubo de túmulos eram encaminhados para o Grande Kenbet, presidido
pelo vizir ou pelo faraó. Os demandantes e demandados representavam-se a si
próprios e eram obrigados a jurar que diziam a verdade. Em alguns casos, o
Estado assumiu tanto o papel de acusador como o de juiz, e tinha poder para
torturar os acusados com espancamento para obter uma confissão e os nomes dos
co-conspiradores. Se as acusações fossem sérias, escribas da corte documentavam
a denúncia, testemunhavam, e o veredicto do caso era guardado para referência
futura.
As
punições para crimes menores envolviam imposição de multas, espancamentos,
mutilações faciais ou exílio, dependendo da gravidade do delito. Crimes graves,
como homicídio e roubo de túmulos, eram punidos com execução por decapitação,
afogamento ou empalamento. A punição também podia ser estendida à família do
criminoso. A partir do Império Novo, os oráculos desempenharam um papel
importante no sistema jurídico, dispensando a justiça nos processos civis e
criminais. O processo consistia em pedir a deus um "sim" ou
"não" sobre o que era certo ou errado num problema. O deus,
transportado por um número de sacerdotes, proferia a sentença, escolhendo um ou
outro, movendo-se para a frente ou para trás, ou apontando para uma das
respostas escritas em um pedaço de papiro ou de óstraco.
Força militar
O
exército egípcio antigo foi responsável pela defesa do Egito contra invasões
estrangeiras e a manutenção da dominação egípcia no Antigo Oriente Próximo. No
deserto havia patrulheiros que vigiavam as fronteiras e defendiam o império de
expedições de nômades. No Delta e no Vale do Nilo havia guardas rurais que
defendiam os cobradores de impostos. No Império Novo surgiram os medjayu, de
origem núbia, que exerciam a função de patrulheiros do deserto, policiais das
cidades e necrópoles, além de aplicadores das decisões da justiça. O exército e
a marinha egípcias eram complementares, onde os navios transportavam as tropas
e os oficiais exerciam funções militares e navais. Os soldados eram recrutados
entre a população em geral, mas durante e principalmente depois do Império
Novo, foram contratados mercenários da Núbia e Líbia para lutar pelo Egito.
Prisioneiros de guerra também foram incorporados ao exército egípcio. Por volta
do Império Novo os exércitos eram divididos em unidades táticas autônomas de
cinco a seis mil homens.
Os
exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas
locais durante o Império Antigo e lutaram em guerras civis durante o Primeiro e
Segundo Períodos Intermediários. Foram importantes para a manutenção de
fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as
encontradas na cidade de Buhen no caminho para a Núbia. Também foram
construídos fortes nas fronteiras com guarnições de 50 a 100 homens, para servirem
como bases militares, tais como a fortaleza de Sile, a qual foi uma base de
operações para expedições no Levante. No Império Novo, uma série de faraós
usaram o exército para atacar e conquistar o Reino de Cuche e partes do
Levante. Há informações que alegam que houve a prática de espionagem entre os
exércitos egípcios.
Os
equipamentos militares típicos incluíram arcos e flechas de sílex, machados,
clavas, lanças de cobre e escudos redondos feitos por estiramento de pele de
animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares começaram a
usar bigas e cavalos que haviam sido introduzidos pelos invasores hicsos
durante o Segundo Período Intermediário. As armas e armaduras continuaram a
melhorar com a introdução do bronze: os escudos eram agora feitos de madeira
sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e o khopesh,
uma espécie de espada com a extremidade curva, foi adotado a partir de modelos
asiáticos. O faraó foi geralmente representado na arte e na literatura andando
à frente do exército e há evidências de que pelo menos alguns faraós, como Taá
II e seus filhos, o fizeram.
Economia
Agricultura
Uma
combinação de características geográficas favoráveis contribuiu para o sucesso
da cultura egípcia, a mais importante das quais era o solo fértil resultante de
enchentes anuais do Nilo. Os antigos egípcios foram, assim, capazes de produzir
alimentos em abundância, permitindo que a população dedicasse mais tempo e
recursos a atividades culturais, tecnológicas e artísticas. A gestão da terra
foi crucial no Antigo Egito, porque os impostos foram avaliados com base na
quantidade de terras em posse de uma pessoa. Em teoria todas as terras
pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade.
A
agricultura no Egito foi dependente dos ciclos de cheias do Rio Nilo. Os
egípcios reconheceram três estações: Akhet (inundação), Peret (plantio) e Shemu
(colheita). A estação das cheias dura de julho a outubro, depositando nas
margens do Nilo uma camada de lodo rico em minerais para o cultivo. Após a
redução do nível do rio, a estação de plantio ia de novembro a fevereiro.
Agricultores aravam a terra com arados puxados por bois e plantavam as
sementes, que eram irrigadas por intermédio de sistemas de diques e canais. O
Egito recebia pouca chuva, pelo que os agricultores usavam a água do Nilo para
regar as culturas. De março a junho, os agricultores usavam foices para suas
colheitas, que eram depois debulhadas com um mangual ou com as patas dos bois
para separar a palha do grão. Os grãos eram usados para fabricar cerveja ou
armazenados em sacas nos celeiros reais para posterior distribuição.
Os
antigos egípcios cultivaram trigo, cevada e vários outros cereais, todos usados
para produção de pão, biscoitos, bolos e cerveja. O linho, colhido antes da
floração, foi cultivado para extração da fibra de seu caule para produção de
roupas; algodão também foi cultivado. O papiro que cresce nas margens do Nilo
era usado para fazer suporte de escrita. Legumes (pepino, cebola) leguminosas
(feijão, fava, grão-de-bico, lentilha, alfarroba), verduras (alface),
condimentos (alho, alho-poró, alecrim, gergelim, orégano, tomilho) e frutas
(tâmara, melancia, melão, maçã, romã, laranja, banana, limão, pêssego, figo,
jujuba, uva) foram cultivadas em hortas perto das casas em solo elevado, e
tiveram de ser regadas manualmente; houve produção de vinho. Foi ainda
evidenciada a presença do cultivo de papoula e mirto.
“Assim era praticada a
horticultura, sendo produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e
legumes; também eram plantadas árvores frutíferas e videiras. (...) O Egito era
um dos "formigueiros humanos" do mundo antigo, em virtude da sua
extraordinária fertilidade renovada anualmente pelos aluviões [cheias] do Nilo.
Sendo a vida agrícola inteiramente dependente da inundação, quando esta faltava
ou era insuficiente ocorria a fome - apesar das reservas acumuladas pelo Estado
- e morriam milhares de pessoas. Temos muitos documentos escritos (e às vezes
pictóricos) que se referem a tais épocas calamitosas. Numa delas, (...) segundo
parece, houve casos de canibalismo.”
—
Ciro Flamarion S. Cardoso. O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.
.
Criação de animais
Os
egípcios acreditavam que uma relação equilibrada entre pessoas e animais era um
elemento essencial da ordem cósmica e que por conseguinte os animais e plantas
eram membros de um todo. Animais, tanto domésticos como selvagens, foram,
portanto, uma fonte essencial de espiritualidade, companheirismo, e sustento.
Os bovinos foram os animais mais importantes; a administração coletava impostos
sobre o gado nos censos regulares, e o tamanho de um rebanho refletia o prestígio
e a importância da propriedade ou do templo que o possuía. Além do gado, os
antigos egípcios apascentavam caprinos, ovinos e suínos. Aves como patos,
gansos e pombos eram capturados em redes e criados em fazendas, onde eram
alimentados à força com massa para engordá-los. As abelhas também foram
domesticadas, pelo menos desde o Império Antigo, e forneciam tanto mel como
cera. Também foram domesticados hienas e guepardos para a caça.
Os
egípcios usavam burros e bois como animais de carga e para lavrar os campos e
debulhar as sementes. O abate de um boi gordo era também uma parte central de
um ritual de oferenda. Os cavalos foram introduzidos pelos hicsos no Segundo
Período Intermediário, e o camelo, apesar de ser conhecido a partir do Império
Novo, não foi usado como um animal de carga até à Época Baixa. Há também
evidências que sugerem que os elefantes foram brevemente utilizados na Época
Baixa, mas praticamente foram abandonados devido à falta de pastagens. Cães,
gatos e macacos eram animais comuns de estimação, enquanto animais de estimação
mais exóticos importados do coração da África, como leões, estavam reservados
para a realeza. Heródoto observou que os egípcios eram o único povo que
mantinha os seus animais em suas casas. Durante o período pré-dinástico e nos
períodos posteriores, o culto dos deuses em sua forma animal era extremamente
popular, como a deusa gata Bastet e o deus íbis Thoth. Esses animais foram
criados em grande número nas fazendas a fim de serem sacrificados.
Para
complementar a sua dieta, os egípcios caçavam lebres, antílopes, aves,
hipopótamos e crocodilos por meio de redes, arcos e lanças, assim como pescavam
carpas, pescadas (no Delta) e, especialmente, tilápias com o emprego de anzóis
e arpões; os peixes eram desidratados ao sol para conservação.
“Os egípcios foram muito ativos
nas suas tentativas de domesticação de animais (...) Chegavam a experimentar
hienas, antílopes, grous e pelicanos! O gado maior - bois, asnos, (...) -
servia em primeiro lugar para puxar o arado, para separar os grãos da palha e
para o transporte. O cavalo era usado para puxar carros, e não montado. Vacas e
bois eram usados também para a alimentação (carne, leite) e sacrificados aos
deuses. (...) O gado menor compreendia ovelhas, cabras e porcos.
(...) A agricultura e a criação
eram complementadas pela pesca (...), praticada no Nilo, nos pântanos e nos
canais com rede, anzol, nassa e arpão. Boa parte dos peixes era secado ao sol.
Também a caça era praticada no deserto e nos pântanos, usando-se para tal o
cão, o arco e o laço, e capturando-se aves selvagens com redes.”
—
Ciro Flamarion S. Cardoso. O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.
Mineração
O
Egito é rico em pedras de decoração e construção, cobre e minérios de chumbo,
ouro e pedras semipreciosas. Estes recursos minerais permitiram aos egípcios
construir monumentos, esculpir estátuas, fazer ferramentas e joias. Os
embalsamadores utilizavam sais de Wadi El Natrun (natrão) para mumificação, que
também proporcionou a gipsita necessária para fazer gesso. Formações rochosas
de minérios foram encontradas em barrancos inóspitos e distantes do Deserto
Oriental e no Sinai, exigindo grandes expedições controladas pelo Estado para
obter os recursos naturais ali encontrados. Havia extensas minas de ouro na
Núbia, e um dos primeiros mapas conhecidos é de uma mina de ouro na região.
Wadi Hammamat foi uma importante fonte de granito, grauvaque e ouro. O sílex
foi o primeiro mineral coletado e usado para fazer ferramentas e machadinhas de
pedra. Nódulos do mineral eram cuidadosamente lascados para fazer lâminas e
pontas de flechas, mesmo depois do cobre passar a ser usado para essa
finalidade.
Os
egípcios trabalharam em depósitos de minério de chumbo e galena em Gebel Rosas
para fazer chumbo líquido, prumos e pequenas figuras. O cobre foi o material
mais importante para a fabricação de ferramentas no Antigo Egito e foi fundido
em fornos de minério de malaquita e turquesa extraídas do Sinai. Através de
lavagem, eram coletadas pepitas de ouro de sedimentos de depósitos aluviais.
Outro processo para obter ouro, mais trabalhoso, era a moagem e lavagem de
quartzito de ouro. Depósitos de ferro encontrados no norte do Egito, foram
utilizados na Época Baixa. Pedras de construção de alta qualidade eram
abundantes no Egito; os antigos egípcios extraíram calcário ao longo do Vale do
Nilo, granito de Assuão e basalto e arenito dos barrancos do Deserto Oriental.
Depósitos de pedras decorativas, tais como pórfiro, quartzo, feldspato verde,
ágata, diorito, grauvaque, berilo, alabastro e cornalina pontilhada dos
desertos oriental e ocidental foram coletadas antes mesmo da primeira dinastia.
Nos período ptolomaico e romano, os mineiros trabalharam em jazidas de
esmeraldas de Wadi Sikait e ametista em Wadi el-Hudi.
Comércio
Grande
parte da economia estava organizada a nível central e era estritamente
controlada. Embora os antigos egípcios não utilizassem moedas até à Época
Baixa, fizeram uso de um sistema de troca monetária, com sacas de grãos como
valor padrão e o deben, um peso de cerca de 91 gramas de cobre ou prata,
formando um denominador comum. Os trabalhadores eram pagos com grãos; um
simples operário podia ganhar 5½ sacas (250 kg) de grãos por mês, enquanto um
capataz podia ganhar 7½ sacas (340 kg). Os preços eram fixados em todo o país e
registrados em listas para facilitar a negociação. Por exemplo, uma camisa
custava cinco deben de cobre, enquanto uma vaca custava 140 deben. Grãos podiam
ser trocados por outras mercadorias, de acordo com a lista de preço fixo.
Durante o século V a.C. o dinheiro foi introduzido no Egito por estrangeiros.
As primeiras moedas eram usadas como peças padronizadas de metais preciosos e
não como dinheiro propriamente dito, mas nos séculos seguintes as trocas
internacionais passaram a depender das moedas.
Os
antigos egípcios estiveram envolvidos no comércio com os povos vizinhos para
obter mercadorias raras e exóticas não encontradas no Egito. No período
pré-dinástico, estabeleceram o comércio com a Núbia para a obtenção de ouro,
plumas de avestruz, peles de leopardo, incenso e marfim. Também estabeleceram o
comércio com a Palestina, como evidenciado por jarros de óleos de estilo
palestino encontrados nas sepulturas dos faraós da primeira dinastia. Uma
colônia egípcia fundada no sul de Canaã foi anterior à primeira dinastia. Na
época de Narmer foi produzida cerâmica egípcia em Canaã, que era exportada para
o Egito.
Em
meados da segunda dinastia, o contato do Antigo Egito com Biblos rendeu um
intenso comércio de madeira de boa qualidade não encontrada no Egito. Durante a
quinta dinastia, o comércio com Punt abastecia o Egito com ouro, resinas
aromáticas, ébano, marfim e animais silvestres, como macacos e babuínos. Houve
também comércio com a Anatólia para adquirir estanho e para o fornecimento
suplementar de cobre, dois metais necessários para a fabricação de bronze. Os
antigos egípcios valorizaram a pedra azul lápis-lazúli, que tinha de ser
importada do Afeganistão. Os parceiros do Egito no comércio mediterrânico
também incluíram Creta e a Grécia, que forneciam, entre outras mercadorias,
azeite. Em troca de suas importações de luxo e de matérias-primas, o Egito
exportava principalmente grãos, ouro, linho e papiro, além de outros produtos
acabados, incluindo objetos de vidro e pedra.
Sociedade
A
sociedade egípcia antiga apresentava uma estrutura fortemente hierarquizada.
Era patriarcal, com o homem administrando o lar, com participação da mulher, e
decidindo os herdeiros através de seu testamento. Os anciãos eram consultados e
honrados após a morte. O casamento no mundo egípcio era monogâmico (embora haja
casos de bigamia e poligamia na corte faraônica) e não era sancionado pela
religião. Não existia uma cerimônia de casamento, nem um registro deste.
Aparentemente bastava um casal afirmar que queria coabitar para que a união
fosse aceite. Os homens casavam entre os dezesseis e os dezoito anos e as
mulheres por volta dos doze, catorze anos. Por serem as mulheres as
transmissoras do sangue real, como forma de legitimação do poder, houve
casamentos entre irmãos. Também houve casamentos entre faraós e uma de suas
filhas. Os homens com uma posição econômica mais elevada poderiam ter, para
além da esposa legítima (nebet-per, "a senhora da casa"), várias
concubinas, o que era visto como um sinal de riqueza. No entanto, as mulheres
que tivessem mais de um homem eram mortas.
A
prostituição era uma prática moralmente condenada, mas foi praticada nas
margens do Nilo. Foram registrados em papiros e óstracos a prática de favores
sexuais em troca de dinheiro, bem como menção a relações sexuais coletivas, o
que leva considerar a possibilidade da existência de prostíbulos. No Egito não
houve prostituição sagrada, sendo a relação divindade-sacerdotisa, meramente
simbólica.
Os
antigos egípcios viam homens e mulheres, incluindo as pessoas de todas as
classes sociais, exceto os escravos, como essencialmente iguais perante a lei,
e até mesmo o mais humilde camponês tinha direito de petição ao vizir e sua
corte para reparação. Tanto homens quanto mulheres tinham o direito de possuir
e vender imóveis, fazer contratos, se casar e se divorciar, receber herança e
ter litígios em tribunal. Os casais podiam possuir bens em conjunto e
protegerem-se com contratos de casamento em caso de divórcio, que estipulavam
as obrigações financeiras do marido para com a esposa e com as crianças ao
final do casamento. As mulheres egípcias tinham uma grande gama de escolhas
pessoais e oportunidades de realização. Podiam ser da realeza, trabalhar no
palácio como amas-de-leite, concubinas ou escançãs (servidoras de vinho do
faraó) e, nos templos, desde cantoras a sacerdotisas. Outras exerciam poderes
divinos como esposas de Amon. Apesar destas liberdades, as mulheres egípcias
antigas, muitas vezes não participavam em papéis oficiais da administração,
servindo apenas em papéis secundários, e não foram tão susceptíveis de serem
educadas tal como os homens.
Quando
o marido falecia, as mulheres assumiam a chefia familiar e, no caso dos faraós,
o Estado. Mulheres como Hatchepsut e Cleópatra chegaram a tornar-se faraós. As
mulheres podiam receber herança paterna. Normalmente, o filho mais velho
assumia o trono faraônico após a morte de seu pai, no entanto, quando só havia
filhas como sucessoras ao trono, a mais velha deveria casar para seu marido
assumir o trono.
Arte erótica
“Seja como for, (...) a mulher
egípcia era sui juris, podendo dispor livremente de seus bens, intentar
processos na justiça, tomar a iniciativa do divórcio tanto quanto o homem,
desempenhar um papel ativo em diversas atividades produtivas, de serviços e
eventualmente de gestão, enfim ir e vir com ampla liberdade. Havia, sem dúvida,
certas limitações. Assim, por exemplo, se (...) achamos mulheres que
desempenham funções administrativas ou sacerdotais das quais dependem bens e
pessoas pertencentes ao palácio e aos templos, isto diminui muito nos períodos
posteriores. Mesmo para o Império Antigo, a presença de mulheres naquelas
funções sempre foi quantitativamente muito inferior à dos homens. Em outras
palavras, a direção da vida pública sempre esteve maciçamente em mãos
masculinas; e tal tendência se fortaleceu com o tempo.
Na vida privada, porém, em termos
gerais, mantiveram-se os amplos direitos da mulher: igual participação na
herança paterna e materna, controle sobre os seus bens pessoais (mesmo quando
geridos pelo marido, situação bastante corrente), etc. É certo, entretanto, que
a mulher era encarada como tendo uma vocação essencialmente doméstica (...)
ligada seja à administração da casa (...), seja à realização de tarefas no seu
âmbito: fabricação de pão e cerveja, manufatura de fios e tecidos. (...) Com
maior frequência, era o homem que intervinha em transações e, em geral, na
gestão do patrimônio familiar, embora a intervenção direta da mulher fosse
considerada algo normal em muitos casos, por exemplo, ao estar ausente o
marido, ou na sua incapacidade, ou ainda durante a viuvez, sendo os filhos menores.”
—
Ciro Flamarion Cardoso Algumas visões da mulher na literatura do Egito
faraônico (milênio II a.C.). Citado em: História. São Paulo: UNESP, 1993, v.
12. p. 103-5..
Educação
As
crianças (meninos e meninas) iniciavam sua educação básica no seio familiar; os
meninos aprendiam com seus pais princípios éticos, visões da vida, conduta
social, ritos populares, etc; as meninas aprendiam com suas mães economia
doméstica, culinária, preparação e confecção de roupas; as meninas ricas podiam
aprender a tocar instrumentos, cantar, dançar assim como a ler, escrever e
trabalhar com operações aritméticas. No processo educacional das classes mais
abastadas utilizava-se os chamados "Livros de Instrução", que continham
regras para se viver ordenadamente em sociedade assim como elementos morais
tais como justiça, sabedoria, obediência, bondade e moderação.
No
Antigo Egito havia poucas escolas a funcionar exclusivamente para a educação de
homens da realeza, da nobreza ou daqueles que almejavam tornar-se escribas,
sacerdotes, artistas, escultores ou desenhistas. Iniciando seus estudos entre
os cinco e sete anos, os garotos aprendiam leitura e escrita, história e
geografia, ciência, medicina e astronomia, aritmética e geometria e música.
Eram instituições com disciplina muito rigorosa, onde os rapazes que se
comportavam mal ou não prestavam atenção eram espancados. Diferente dos jovens
das classes abastadas que iam a escola, os jovens filhos de camponeses,
pescadores e artesãos aprendiam desde tenra idade os ofícios de seus pais para
que assim os pudessem suceder.
Hierarquia social
No
topo da hierarquia social estava o faraó, que possuía poderes absolutos,
tomando decisões militares, religiosas, econômicas e judiciais, além de ser o
dono nominal de todas as terras. Nos períodos de cheia o faraó ordenava que a
população exercesse outras funções como, por exemplo, a construção de obras
públicas. Enquanto vivo, o faraó era encarado como uma personificação do deus
Hórus, enquanto que seu antecessor falecido era associado a Osíris, pai de
Hórus, houvesse ou não relação consanguínea entre os soberanos. A partir da V
dinastia os reis apresentam-se também como filhos de Rá, o deus solar.
faraó divindade do Egito ( Olodum )
|
Os
faraós possuíam muitas mulheres e filhos. Sua mulher principal, denominada
hemet nesut, "esposa do rei", podia ser sua irmã ou uma de suas
filhas. Os faraós possuíam diversas insígnias: o pschent (a união das coroas do
Alto e Baixo Egito), os cetros crossa e chicote, o nemés (ornamento para cabeça
decorado com uma cobra e um abutre que simbolizavam, respetivamente, o Baixo e
Alto Egito) e a barba postiça. Podia ser simbolicamente representado como uma
esfinge, e era associado a animais como a pantera, o leão e o boi. A palavra
faraó, vinda do egípcio per aâ, significa "Casa Grande". Tornou-se o
nome oficial dos líderes do Egito apenas durante a XVIII dinastia, pois até
então habitualmente os líderes referiam-se a si mesmos como nesu (rei) ou neb
(senhor). A partir da V dinastia a titulatura dos reis incluía cinco nomes reais:
nome de Hórus, nome das Duas Mestras, nome de Hórus de Ouro, prenome e nome.
Tutankamon Egito antigo
|
Abaixo
do faraó e de sua família na pirâmide social encontrava-se o grupo denominado
como "classe do saiote branco" (ou classe dos dominantes), em
referência ao vestuário de linho decorado que trajavam. Primeiramente vinham os
nomarcas e vizires. Os nomarcas administravam as províncias imperiais enquanto
os vizires controlavam o arrecadamento de impostos, fiscalizavam as obras
públicas, os celeiros reais, participavam do alto tribunal de justiça e
chefiavam a polícia e as tropas. Abaixo destes estavam os sacerdotes que
administravam os templos, cultos e as festas religiosas, eram conselheiros dos
faraós e usufruíam de terras, isenção de impostos e prestígio. Muito importantes
para a máquina burocrática do governo, os escribas cobravam impostos,
organizavam as leis e a escrita, determinavam o valor das terras, copiavam
poemas, hinos e histórias, escreviam cartas, realizavam censos populacionais e
calculavam os estoques de alimentos, produção agrícola, área de terras aráveis,
atividades comerciais, de soldados, necessidades do palácio, etc. A partir do
Império Novo surge uma nova classe, os grandes comerciantes, que monopolizavam
o comércio exterior.
Abaixo
das classes dominantes situavam-se as classe dominadas. Primeiramente vinham os
soldados que recebiam produtos por serviços prestados e tomavam espólios de
saques, mas que nunca ascendiam a altos postos no exército. Abaixo destes
vinham os artesãos (tecelões, pintores, barbeiros, cozinheiros, barqueiros,
ceramistas, escultores, joalheiros, ferreiros, etc.), que trabalham
especialmente para os faraós, para a nobreza e para os templos e para os
pequenos comerciantes que vendiam seus produtos nos mercados das cidades. Os
camponeses (ou félas) formavam a maior parte da população e eram agricultores,
pecuaristas e pescadores. Mesmo sendo eles os produtores, os produtos agrícolas
eram propriedade direta do Estado, dos templos ou da família nobre que possuía
a terra. Os camponeses também estavam sujeitos a um imposto sobre o trabalho e
eram obrigados a trabalhar na construção de obras públicas e limpeza de canais
em um sistema similar à corveia medieval na Europa. Também eram obrigados a
trabalhar nos transportes e por vezes no exército. Abaixo dos camponeses vinha
a base da pirâmide, os escravos (hemu e/ou baku). Cativos ou condenados da
justiça, trabalhavam em atividades domésticas, públicas ou religiosas. Gozavam
de direitos civis e aprendiam a escrita egípcia.
Vida cotidiana
A
maioria da população era constituída por agricultores ligados à terra. Suas
habitações eram restritas aos membros imediatos da família, e foram construídas
com tijolos de barro destinadas a manter o frescor no calor do dia. Cada casa
tinha uma cozinha com teto aberto, o qual continha uma pedra de moinho para
moagem de farinha e um pequeno forno para cozer pão. As paredes eram pintadas
de branco e podiam ser cobertas com tapetes de linho tingido. Os pavimentos
eram cobertos com esteiras de palha, enquanto que a mobília era composta de
bancos de madeira, camas levantadas a partir do piso e mesas individuais. As
mães eram responsáveis por cuidar dos filhos, enquanto o pai fornecia a renda
da família.
Uma refeição comum no Egito antigo, que normalmente incluía cerveja.
|
A
higiene e aparência pessoais eram tidas em grande valor. A maioria banhava-se
no Nilo e usava um sabão pastoso, o suabu, feito de gordura e giz. Os homens
raspavam todo o corpo para limpeza, e usavam perfumes, óleos aromáticos e
pomadas para ocultar maus odores e manter a pele suave. Os óleos eram feitos
com gordura vegetal ou animal e eram aromatizados com mirra, incenso ou
terebintina. Um tipo de sal, o bed, era usado para gargarejar. As mulheres da
corte passavam por um processo mais completo: depilavam-se, massageavam rosto e
braços com pomada de mirra, colocavam um creme verde de malaquita nas
pálpebras, desenhavam uma linha de kohl preto para alongar os olhos, colocavam
pó de ocre nas bochechas e lábios e pintavam as palmas das mãos e a sola dos
pés com hena.
Tanto
os homens como as mulheres da classe alta usavam perucas, joias e cosméticos.
Inicialmente as mulheres tinham o costume de manter os cabelos curtos, no
entanto, ao longo dos séculos adotaram os cabelos compridos; os homens adultos
utilizavam cabelos curtos e as crianças e os sacerdotes raspavam a cabeça. As
mulheres vestiam um vestido de linho branco e os homens uma tanga; a população
trabalhadora habitualmente andava nua ou então usava apenas um pedaço de tecido
enrolado a cintura. As crianças ficavam sem roupas até a maturidade, cerca dos
doze anos, e nessa idade os homens eram circuncidados e suas cabeças eram
raspadas. Vizires, sacerdotes e o faraó usavam vestimentas especiais,
respetivamente vestidos, peles de panteras e tangas costuradas com fios de
ouro. No geral, havia apenas duas opções para os pés: nudez ou sandálias. Estas
podiam ser de junco e papiro amarrados com barbante (mais simples) ou de couro
costurado com linha de papiro (mais sofisticadas). Membros das classes mais
elevadas da sociedade, costumeiramente adornavam o corpo com joias. As joias
também eram usadas pela população menos abastada da sociedade por poderem se
tratar de amuletos. Eram de ouro, prata, cobre ou cerâmica, incrustadas com
pedras preciosas ou pasta de vidro colorido. Podiam ser diademas, colares,
brincos, pulseiras, anéis e cintos.
A
música e a dança eram entretenimentos populares para aqueles que podiam pagar
por elas. Instrumentos antigos incluíam flauta e harpas, enquanto os
instrumentos semelhantes a trompetes, oboés e gaitas desenvolveram-se mais
tarde e se tornaram populares. No Império Novo, os egípcios tocavam sinos,
címbalos, tamborins, e tambores e importaram alaúdes e harpas da Ásia. O sistro
foi um instrumento musical do tipo chocalho que era especialmente importante em
cerimônias religiosas. Os faraós possuíam uma banda preferida, os hinodos que
os acompanhavam em grandes cerimônias religiosas. Para divertimento dos
presentes em banquetes havia dançarinas que dançavam em movimentos lentos,
mímicos, que contavam lendas dos deuses e os imitavam, e pigmeus da África
Central que dançavam danças rápidas e rítmicas.
Eram
praticadas diversas atividades de lazer, incluindo jogos e música. O Senet, um
jogo de tabuleiro onde as peças se mudam de acordo com o acaso, era
particularmente popular desde os primeiros tempos; outro jogo semelhante foi o
Mehen, que tinha um tabuleiro em forma de serpente. Jogos de malabarismo, vara
e bola eram populares entre as crianças, e também está documentada luta em uma
tumba em Beni Hasan. Os membros ricos da sociedade egípcia praticavam caça e
davam passeios de barco também. Havia uma grande variedade de brinquedos
infantis, todos de madeira: piões, figurinhas, bonecas, cavalinhos e até
bonecos articulados.
Desenvolvimento histórico
A
língua egípcia é uma língua afro-asiática setentrional intimamente relacionada
com o berber e as línguas semíticas. Tem a história mais antiga a seguir ao
sumério, tendo sido escrita desde 3 200 a.C. até à Idade Média, permanecendo
como uma língua falada por mais tempo. Distinguem-se as fases do egípcio
arcaico, egípcio antigo, egípcio médio (egípcio clássico), egípcio tardio,
demótico e copta. Os escritos egípcios não apresentam diferenças antes do
dialeto copta, no entanto, provavelmente existiam dialetos orais regionais nas
regiões de Mênfis e, posteriormente, de Tebas.
O
egípcio antigo foi uma língua sintética, tornando-se posteriormente em uma
língua mais analítica. O egípcio tardio desenvolveu artigos prefixais definidos
e indefinidos, que substituíram os sufixos flexionais anteriores. Há uma
mudança da velha ordem Verbo Sujeito Objeto para Sujeito Verbo Objeto. Os
hieróglifos egípcios, a escrita hierática e o demótico acabaram por ser
substituídos pelo alfabeto copta, mais fonético. O copta ainda é usado na
liturgia da Igreja Ortodoxa do Egito, e vestígios dela são encontrados no árabe
egípcio moderno.
Som e gramática
O
egípcio antigo tinha 25 consoantes similares aos de outras línguas
afro-asiáticas. Estas incluíam consoantes faríngeas e enfáticas, oclusivas
sonoras e surdas, fricativas surdas e africadas surdas e sonoras. Havia
inicialmente três vogais longas e três vogais curtas, que se expandiram no
egípcio tardio para cerca de nove. Uma palavra básica em egípcio, semelhante ao
berber e semita, tem consoantes e semi-consoantes de raiz triliteral e
biliteral. Sufixos são adicionados para formar palavras. A conjugação verbal
corresponde à pessoa. Por exemplo, o esqueleto triconsonantal S-Ḏ-M é o núcleo
semântico da palavra "ouvir"; sua base conjugal é sḏm ("ele
ouve"). Se o sujeito é um substantivo, sufixos não são adicionados ao
verbo; por exemplo: sḏm ḥmt ("a mulher ouve").
Os
adjetivos são derivados de substantivos por um processo que os egiptólogos
chamam nisbação devido à sua semelhança com o árabe. A ordem das palavras em
frases verbais e adjetivas é PREDICADO-SUJEITO, e SUJEITO-PREDICADO em frases
nominais e adverbiais. O sujeito pode ser movido para o início das frases se é
longo e é seguido por um pronome resumptivo. Verbos e substantivos são negados
por uma partícula n, mas nn é usado para frases adverbiais e adjetivas. O
acento tônico recai sobre a última ou penúltima sílaba, que pode ser aberta
(CV) ou fechada (CVC).
Escrita
A
escrita hieroglífica datada de 3 200 a.C. (túmulo U-j do cemitério U de Abidos
) é composta de cerca de 500 símbolos, que podiam ser representações de
animais, plantas, pessoas ou partes do corpo e utensílios utilizados pelos
egípcios. Um hieróglifo pode ser uma palavra, um som ou um determinante mudo; e
o mesmo símbolo pode servir a diferentes propósitos em contextos diferentes. Os
hieróglifos foram uma escrita formal, usados em papiros, monumentos de pedra e
nos túmulos, que podem ser tão detalhados como obras de arte. No dia-a-dia, os
escribas usavam uma forma de escrita cursiva, chamada hierática, que era mais
simples e rápida de escrever, escrita em pedras, papiros e placas de madeira.
Enquanto os hieróglifos formais podem ser lidos em linhas ou colunas em
qualquer direção (embora, geralmente, escritos da direita para a esquerda), a
hierática era sempre escrita da direita para a esquerda, geralmente em linhas
horizontais. Para se saber a direção a qual se devia ler os hieróglifos, era
preciso olhar para a direção a qual as figuras humanas ou de pássaros estavam
olhando, pois são estes que mostram o início do texto. Uma nova forma de
escrita surgida no século VII a.C., a demótica, tornou-se predominante,
substituindo a hierática.
A escrita ideográfica
|
Por
volta do século I d.C., o alfabeto copta começou a ser usado juntamente com a
escrita demótica. O copta é um alfabeto grego modificado com a adição de alguns
sinais demóticos. Embora os hieróglifos formais tenham sido usados em contexto
cerimonial até ao século IV, no final apenas um pequeno grupo de padres sabiam
lê-los. Como os estabelecimentos religiosos tradicionais foram dissolvidos, o
conhecimento da escrita hieroglífica estava quase perdido. As tentativas de
decifração são datadas do período bizantino e do período islâmico, mas apenas
em 1822, após a descoberta da Pedra de Roseta e anos de pesquisa de Thomas
Young e Jean-François Champollion, os hieróglifos foram quase totalmente
decifrados. Na Pedra de Roseta estão presentes três formas de escrita:
hieróglifos formais, hierática e grega.
Literatura do Antigo Egito
A
literatura do Antigo Egito inclui textos de caráter religioso (como os hinos às
divindades), mas igualmente obras de natureza mais secular, como textos
sapienciais, contos e poesia amorosa. A literatura apareceu pela primeira vez
em associação com a realeza em rótulos e etiquetas para os itens encontrados em
tumbas reais. Foi principalmente uma ocupação dos escribas, que trabalhavam
para a instituição Per Ankh ou a Casa de Vida, para os escritórios, bibliotecas
(chamadas Casas dos Livros), laboratórios e observatórios. Algumas das peças
mais conhecidas da literatura egípcia, como os textos das pirâmides e dos
sarcófagos, foram escritos em egípcio clássico, que continuou a ser a língua da
escrita até 1 300 a.C. Durante este período, a tradição da escrita evoluiu para
as autobiografias em túmulos, como os de Harkhuf e Uni.
O
gênero conhecido como Sebayt (instruções) foi desenvolvido para comunicar os
ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste gênero destaca-se o
Ensinamento de Ptah-Hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do
seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. O Papiro Ipuur, um poema de
lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro
contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu
período, podendo ser um poema descritivo do Primeiro ou Segundo Período
Intermediário. A história de Sinué, escrita em egípcio médio, é um clássico da
literatura egípcia, contando as peripécias da personagem homônima. O Papiro
Westcar também escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas a
Quéops por seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes. A
obra Instruções de Amenemope é considerada uma obra-prima da literatura do
Oriente Próximo. Outras histórias famosas são o Conto do Náufrago (história de
um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), do Príncipe
predestinado (história de um príncipe amaldiçoado), dos Dois Irmãos (história
de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e a Sátira das profissões
(sátira realizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões
que não fossem o ofício de escriba).
O
egípcio tardio foi falado no Império Novo e está representado em documentos administrativos
do período ramessida,, poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e
coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente
empregada para escrever peças populares como a História de Unamón e a Instrução
de Any. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia
ao Líbano para comprar madeira de cedro e as suas peripécias para voltar ao
Egito. Durante este período, papiros como o Papiro Cester Beatty I, Papiro
Harris 500 e um fragmento do Papiro de Turim mostram um tipo de poesia amorosa,
com temas de paixão e erotismo. A partir de cerca de 700 a.C., histórias
narrativas e instruções, como a popular Instruções de Onchsheshonqy, bem como
documentos pessoais e empresariais foram escritos em demótico. A ação de muitas
histórias escritas em demótico durante o período greco-romano decorria em
épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente
governada por grandes faraós como Ramsés II.
Religião
O
Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a
morte de tal modo que o reinado faraônico foi baseado no direito divino dos
reis; considerava-se o faraó filho do deus Rá. A religião egípcia teve
influência tanto em âmbito ideológico (a história egípcia foi explicada em viés
divinos) como em carácter prático (a sociedade assim como a economia egípcias
moldaram-se por influência de tal instituição); durante a história egípcia a
economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade
egípcia o culto às divindades sobressaía as crenças gerais, o que faz da
religião egípcia mais ortoprática do que ortodoxa.
Os
egípcios antigos eram politeístas e seus deuses representavam diversos
elementos naturais que eram vinculados com elementos cotidianos. Cada cidade
possuía seu deus padroeiro assim como um específico animal sagrado que a ele
era consagrado; caso uma cidade se tornasse capital do reino (p. ex. Tebas) o
deus local, da mesma forma que o animal a ele dedicado, eram elevados ao âmbito
nacional e, consequentemente, começavam a ser cultuados por todo o império (p.
ex. Amon). Os deuses egípcios tinham características antropomórficas,
zoomórficas ou mistas; conquanto, embora idealizassem seus deuses com certas
características animais, pode-se considerar que postulavam que tal deus
possuísse as habilidades daquele animal e não necessariamente sua forma.
Os
deuses, muitas vezes evocados para ajuda e/ou proteção, também eram provedores
de grandes males, de modo que tinham que ser aplacados com oferendas e orações.
Assim como a sociedade egípcia, o mundo divino egípcio era fortemente
hierarquizado; continuamente, por meio de mitos diversos, os deuses do panteão
eram promovidos ou rebaixados neste hierarquia. Tal fato ocorreu, pois os
sacerdotes não se esforçavam para organizar os diversos mitos, por vezes conflitantes,
em um sistema coerente, já que consideravam estas diversas concepções divinas,
múltiplas facetas da realidade. Os deuses eram ordenados e hierarquizados em
grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades); destes pode-se
citar a Enéade de Heliópolis, a Ogdóade de Hermópolis e as Tríades de Mênfis,
Tebas e Elefantina.
Os
deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos e os cultos eram
administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam, maquilavam e
alimentavam a estátua do deus que permanecia trancada em um nau no centro do
templo. Os templos não eram locais para adoração pública, e somente em dias
comemorativos ou em festas selecionava-se um santuário para onde se
transportava a estátua para que houvesse adoração pública; as procissões que
transportavam as estátuas, que eram assistidas pela população, contavam com a
participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas
cultuais privadas, assim como amuletos de proteção. Após o Império Novo o papel
do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado devido ao desenvolvimento
de um sistema de oráculos para comunicar as vontades divinas diretamente a
população.
Os
egípcios durante sua história desenvolveram um pleno conceito de vida após a
morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir do Primeiro
Período Intermediário alargou-se para toda a população, o que provocou um
considerável aumento do uso de práticas como a mumificação. Segundo a visão
egípcia os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (šwt),
alma (ba), força vital (ka) e nome. O coração, ao invés do cérebro, era
considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um
indivíduo seus aspectos espirituais são liberados e estes necessitam de restos
físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava
voltar a seu ka e ba de modo a se tornar um akh. Para isto acontecer era
necessário que o defunto fosse julgado digno no Tribunal de Osíris, onde seu
coração era pesado; caso considerado digno, este poderia continuar a existir na
terra em forma espiritual; caso contrário seria devorado por um monstro que
consistia na mistura de três animais, leão, crocodilo e hipopótamo.
Práticas
funerárias
Os
antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamentos
que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte.
Estes costumes envolviam preservar o corpo por mumificação, realizando
cerimônias fúnebres, e enterrando, junto com o corpo, o espólio que seria
utilizado pelo falecido quando ressuscitasse; antes do Império Antigo os corpos
eram enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados por
dessecação. Após a V dinastia, a mumificação, privilégio exclusivo para as
classes abastadas do Egito, tornou-se acessível para toda a população, mesmo
que de forma variada. Durante o Império Novo tornaram-se comuns os sarcófagos
antropomórficos e, durante a XX dinastia a prática de decoração das tumbas foi
alterada pela prática da decoração dos sarcófagos. Múmias da Época Baixa também
foram colocadas em sarcófagos com cartonagem pintada. As práticas de
preservação real diminuíram durante as eras ptolomaica e romana, quando passou
a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que passaram a ser
decoradas.
O
sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não
tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e
vinhos corrosivos pelo ânus para dissolver os órgãos internos. Após alguns
dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era enfaixado com peles de animais
para ser enterrado no deserto onde se conservaria por dissecação. Os ricos, por
outro lado, possuíam um processo diferente, a chamada mumificação artificial.
Inicialmente o cérebro era removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os
outros órgãos (prática iniciada após a IV dinastia), com exceção do coração,
eram retirados, mumificados e depositados em vasos canópicos. O interior do
corpo era lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido com
mirra e canela; posteriormente era embebido em natrão (mistura de sais) por 70
dias. Por fim era lavado para receber resinas e perfumes e ser enfaixado com
tiras de linho embebidas em goma; entre as tiras havia amuletos de proteção. O
corpo recebia uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos de pedra ou
madeira.
O
cortejo fúnebre se iniciava após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago.
Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos,
sacerdotes e carpideiras contratadas o acompanhavam. Ao chegarem no seu destino
se procedia a uma série de rituais dos quais o mais importante era o da
"Abertura da Boca". Neste ritual, a múmia era retirada do sarcófago
para ser segurada por um sacerdote com uma máscara de Anúbis. Então, o filho do
morto ou outro herdeiro se vestia com roupa de leopardo e, simbolicamente, com
uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto para este recuperar
o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no sarcófago para
ser enterrado.
O
ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os
enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A
partir do Império Novo, os "livros dos mortos" foram incluídos nos
túmulos, juntamente com estátuas shauabti que, segundo as crenças, realizavam
trabalhos manuais por eles na vida após a morte. Enquanto a classe pobre era
enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que
podiam ser pirâmides, hipogeus (túmulos subterrâneos cavados nos barrancos dos
rio ou em encostas de montanhas) e mastabas (tumbas de base retangular com
salas para oferendas). Como forma de proporcionar serenidade ao morto, os
túmulos foram pintados com cenas da vida do morto. Após o enterro, se esperava
que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e recitar
orações em nome do falecido.
Mumificação animal
Outra
prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser
bichos de estimação, pedaços de carne para as múmias ou então animais sagrados,
divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos
destinados aos templos de culto a animais. A partir da XXVI dinastia, as múmias
votivas tornaram-se populares, o que gerou um intenso comércio que empregou
legiões de trabalhadores especializados. Entre os animais embalsamados podem se
citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes,
crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves,
escaravelhos, musaranhos e serpentes. Os animais eram preparados como as múmias
humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou então dissolvidos, depois eram
lavados interiormente com vinho e depois banhados em natrão para ressecamento e
posteriormente eram envoltos com resinas para fixação das bandagens de linho.
Arte
Os
antigos egípcios produziram arte para servir propósitos funcionais. Por mais de
3 500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e a iconografias que foram
desenvolvidas durante o Império Antigo, na sequência de um rigoroso conjunto de
princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança interna. Estes padrões
artísticos – linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com
características projeções planas das figuras sem indicação de profundidade
espacial - criou um senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição.
Imagens e textos foram intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos
templos, caixões, estelas e até estátuas. A Paleta de Narmer, por exemplo,
exibe figuras que também podem ser lidos como hieróglifos. Por causa das regras
rígidas que presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte
egípcia antiga serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e
clareza. A hierarquia social e religiosa influenciava no tamanho dos
personagens.
As
figuras nas pinturas e baixo-relevos são representadas respeitando-se a lei da
frontalidade: cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros,
umbigo e baixo-ventre de frente. O personagem principal de uma pintura devia
ser representado sempre maior do que os personagens secundários. Faraós
mandaram gravar em relevos vitórias de batalhas, decretos reais e cenas
religiosas. Eram dispostos em faixas horizontais acompanhados por hieróglifos e
apresentavam até "balões" indicando falas.
As
cores possuíam uma função simbólica nas pinturas. O preto usado nas
sobrancelhas, perucas, olhos e bocas representava a noite, a morte, a
fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo. O branco usado nas vestes
dos sacerdotes, nos objetos rituais, nas casas, nas flores e nos templos era
associado a pureza, verdade, alegria e triunfo. O vermelho representava a
energia, o poder, a sexualidade e Seth. A pele dos homens era pintada de
vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre. O amarelo representava a
eternidade; o verde, a regeneração e a vida; o azul, o Nilo e o céu. As tintas
eram obtidas a partir de minerais, como minérios de ferro (ocre vermelho e
amarelo), minérios de cobre (azul e verde), fuligem ou carvão (preto), e
calcário (branco). As tintas podem ser misturadas com goma-arábica como
aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando
necessário. No entanto, análises de múmias de cerca de 3 200 a.C. mostram
sinais de anemia hemolítica e outros distúrbios, causados por intoxicação com
metais pesados (chumbo, mercúrio, arsênio, cobre) que eram usados como
pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.
Os
artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto, pórfiro, xisto, diorito e o
granito) para esculpir estátuas e finos relevos, mas usavam madeira como um
substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam objetivos
políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas
tinham sobretudo um objetivo religioso. No geral as estátuas representam uma
figura que olha para a frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros,
com os braços colados ao corpo. As estátuas que se encontravam nos túmulos eram
consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o ka e o ba deveriam
reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante representar os
defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a
Esfinge de Giza e os Colossos de Memnon.
Os
cidadãos comuns tiveram acesso a obras de arte funerária, tais como estátuas
shauabti e o livro dos mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida
após a morte. Durante o Império Médio, modelos de madeira ou de barro que
representam cenas da vida diária tornaram-se populares aditamentos aos túmulos.
Em uma tentativa de duplicar as atividades da vida após a morte, estes modelos
mostram operários, casas, barcos e até mesmo formações militares que são
representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.
Apesar
da homogeneidade da arte egípcia antiga, os estilos de determinadas épocas e
lugares, por vezes reflete a mudança de atitudes culturais ou políticas. Após a
invasão dos hicsos no Segundo Período Intermediário, afrescos de estilo minoico
foram encontrados em Aváris. O exemplo mais marcante de uma mudança de
motivação política na forma artística encontra-se no período Amarna, quando as
figuras foram radicalmente alteradas em conformidade com as ideias religiosas
revolucionárias de Aquenáton. Este estilo, conhecido como a arte Amarna, foi
rapidamente e completamente apagado depois da morte de Aquenáton e substituído
por formas tradicionais. Durante a época romana os "retratos de
Faium" dominaram a composição mortuária. As máscaras mortuárias foram
substituídas por retratos realistas dos defuntos.
Arquitetura
A
arquitetura do Antigo Egito inclui algumas das estruturas mais famosas do
mundo: as Grandes Pirâmides de Gizé e os templos em Tebas. Vários projetos
foram organizados, construídos e financiados pelo Estado para fins religiosos e
comemorativos, mas também para reforçar o poder do faraó. Os antigos egípcios
eram construtores qualificados, usando ferramentas simples mas eficazes e
instrumentos de observação, podendo os arquitetos egípcios construir grandes
estruturas de pedra com exatidão e precisão. As habitações da elite e dos
egípcios comuns foram construídas de materiais perecíveis tais como lama,
tijolos de adobe e madeira.Os camponeses viviam em casas simples,
enquanto os palácios da elite foram estruturas mais elaboradas. As cidades
egípcias possuíam bairros diferenciados e eram protegidas por muralhas.Uns poucos palácios sobreviventes do Império Novo, tais como os de Malcata e
Amarna, mostram paredes ricamente decoradas e chão com cenas de pessoas,
pássaros, piscinas de água, divindades e design geométrico.
Estruturas
importantes, como templos e túmulos, que se pretendia que durassem para sempre,
foram construídos em pedra em vez de tijolos. Os mais antigos templos
preservados do Antigo Egito, como os de Gizé, consistem de simples salões
anexos com lajes suportadas por colunas. No Império Novo, os arquitetos
adicionaram o pilone, o pátio aberto e anexos salões hipostilos de frente com
os santuários dos templos, um estilo que foi padrão até ao período
greco-romano. Os templos de Carnaque e Luxor são dois dos maiores exemplos
deste tipo de edificação egípcia. A mais antiga e mais popular tumba
arquitetônica do Império Antigo foi a mastaba, uma estrutura retangular de teto
achatado construída de tijolos de lodo ou pedra acima de uma câmara funerária
subterrânea. A pirâmide de degraus de Djoser, a primeira pirâmides construída,
é uma série de mastabas de pedra empilhadas em cima uma das outras; estas possuem
simples arquitraves apoiados em motivos de papiros e flores de lótus. Foram
construídas pirâmides durante o Império Antigo e Médio, mas os governantes
tardios abandonaram-nas em favor de tumbas menos notáveis escavadas na pedra.
No Império Antigo foram construídas dezenas de pirâmides, entre quais as
Pirâmides de Gizé, que são uma das Sete maravilhas do mundo antigo. As
pirâmides eram formadas por blocos de pedra de três toneladas, as quais eram
cortadas com cunhas de madeira e depois eram arrastadas para cima em rampas
sobre trenós. Os interiores das pirâmides foram construídos dispondo-se um tipo
de labirinto onde se era depositado o túmulo faraônico em uma câmara secreta
para evitar saqueadores.
Tecnologia e ciência
O
Antigo Egito atingiu níveis de sofisticação e produtividade relativamente altos
na tecnologia, medicina e matemática. As primeiras manifestações de empirismo
tradicional ocorreram no Egito, como é evidenciado pelos papiros de Edwin Smith
no Ebers (1 600 a.C.), e as raízes do método científico podem também
encontrar-se entre os antigos egípcios.
Mesmo
antes do Império Antigo, os egípcios antigos desenvolveram um material vítreo
conhecido como faiança, que eles tratavam como um tipo de pedra artificial
semipreciosa. A faiança é uma cerâmica feita de sílica, pequenas quantidades de
cal e soda, e um colorante, tipicamente cobre. O material foi usado para fazer
miçangas, telhas, figurinhas, e pequenas peças cerâmicas. Vários métodos podem
ser usados para criar faiança, mas a produção tipicamente envolve aplicações de
materiais pulverizados na forma de uma pasta mais um núcleo de argila, a que foi
ateado fogo. Por uma técnica relacionada, os egípcios produziram um pigmento
conhecido como azul egípcio, também chamado frita azul, que é produzido por
fusão (ou sinterização) de sílica, cobre, cal, e um material alcalino como o
natrão. O produto pode ser triturado e usado como um pigmento.
Os
antigos egípcios sabiam fabricar objetos de vidro com grande habilidade, fato
comprovado pela grande variedade de objetos cotidianos e de adorno encontrados
em tumbas e pela recente descoberta de uma fábrica de vidro, no entanto não é
claro se eles desenvolveram o processo independentemente. É também pouco claro
se fizeram seu próprio vidro bruto ou meramente importaram lingotes pré-feitos,
que derreteram e finalizaram. No entanto, tinham conhecimento técnico para
fazer objetos, bem como para adicionar sais minerais para controlar a cor do
vidro final. Eram produzidos em diversas cores, incluindo amarelo, vermelho,
verde, azul, roxo, e branco, e o vidro podia ser transparente ou opaco.
Medicina
Os
problemas médicos dos antigos egípcios estavam diretamente relacionados com o
meio ambiente. Viver e trabalhar perto do Nilo envolvia riscos de malária e de
esquistossomose provocada por um parasita debilitante que causa danos ao fígado
e intestino. Perigosos animais selvagens como crocodilos e hipopótamos também
foram uma ameaça comum. O trabalho vitalício na agricultura e em construções
provocava stress na coluna vertebral e articulações, e ferimentos traumáticos
na construção e na guerra tiveram impacto significativo na saúde de muitos
egípcios. Cascalho e areia usados para moer farinha desgastava os dentes,
deixando-os suscetíveis a abscessos (embora cáries fossem raras). A dieta dos
ricos foi rica em açúcar, o que provocou periodontite. Apesar da lisonjeira
retratação do físico nas paredes dos túmulos, o excesso de peso de muitas
múmias da classe alta mostra os efeitos de uma vida de excesso. A expectativa
de vida dos adultos foi de 35 para os homens e 30 para as mulheres, mas muitos
jovens não chegavam a atingir a maioridade, pois aproximadamente um terço da
população morria na infância.
Os
médicos egípcios foram renomados no Oriente Próximo por suas habilidades
curativas, e alguns, como Imhotep, mantiveram a sua fama muito para além da sua
morte. Heródoto comentou que havia um alto teor de especialização entre os
médicos egípcios, com alguns tratando só a cabeça ou o estômago, sendo outros
oculistas e dentistas. Os lugares de formação dos médicos, chamados Per Ankh ou
"Casas de Vida", eram áreas de templos que funcionavam como
biblioteca e arquivo, onde também se ministravam conhecimentos e se copiavam
textos. Conhece-se a existência de tais instituições em Bubástis no Império
Novo e em Abidos e Saís na Época Baixa. Os papiros médicos egípcios evidenciam
conhecimentos empíricos de anatomia, doenças, e tratamentos práticos.
Os
egípcios foram os primeiros a afirmar que as doenças têm causas naturais, o que
os motivou a produzir medicamentos para combatê-las. Os egípcios produziram a
primeira farmacopeia conhecida. Entre os medicamentos podem-se citar ervas
medicinais, sangue de lagartos, fezes animais, leite de mulher grávida e livro
velho fervido. Feridas foram tratadas por bandagem com carne crua, linho
branco, suturas, redes e cotonete encharcado com mel para evitar infecções,
enquanto ópio foi usado para aliviar a dor. Alho e cebola foram usados
regularmente para promover boa saúde e acreditava-se que aliviavam os sintomas
de asma. Os cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas, colocavam braços
quebrados no lugar, e amputavam membros doentes, mas também reconheceram que
alguns ferimentos eram tão graves que a única coisa a fazer era confortar o
paciente até sua morte.
A
previsão do futuro era praticada através da interpretação dos sonhos. Foi
encontrado um papiro com uma relação de sonhos e interpretações.
Construção naval
Os
egípcios sabiam como juntar tábuas de madeira para construir cascos de navios
pelo menos desde 3 000 a.C. O Instituto Arqueológico da América relatou que
alguns dos mais antigos barcos alguma vez desenterrados são os chamados barcos
de Abidos, um grupo de 14 navios descobertos em Abidos pelo egiptólogo David
O'Connor da Universidade de Nova Iorque. Foram construídos com tábuas de
madeira que foram "costuradas" juntas. Foram encontradas alças de
tecido usadas para manter as tábuas juntas, e para selar as costuras entre as
tábuas, aquelas eram cheias com papiro (junco) e grama. Devido ao fato de todos
os navios estarem enterrados juntos perto da casa mortuária do faraó
Khasekhemui (m. 2 686 a.C.), originalmente pensou-se que lhe teriam pertencido,
mas uma das embarcações foi datada de 3 000 a.C. e jarros de cerâmica
enterrados associados com os navios também sugerem datação mais antiga. O navio
datado de 3 000 a.C. tem 23 metros de comprimento e atualmente acredita-se que
possivelmente terá pertencido a outro faraó mais antigo. De acordo com
O'Connor, ele pode ter pertencido ao faraó Aha.
Os
antigos egípcios também sabiam como juntar tábuas de madeira com cavilhas de
madeira para firmá-las juntas, usando breu para calafetar as juntas. O
"Navio de Quéops", uma embarcação de 43,6 metros selado em um poço na
Complexo das Pirâmides de Gizé ao pé da Grande Pirâmide na IV dinastia em torno
de 2 500 a.C., é um sobrevivente completo que pode ter cumprido a função
simbólica de uma barca solar. Os antigos egípcios também sabiam como prender as
tábuas do navio juntas com peças encaixáveis (caixa e espiga). Apesar da
capacidade dos egípcios antigos para construir barcos muito grandes e para
facilmente navegarem ao longo do Nilo, eles não foram conhecidos como bons
marinheiros e não se envolveram em amplas expedições marítimas nos mares
Mediterrâneo ou Vermelho.
Numerais egípcios
Os
antigos egípcios utilizavam seus conhecimentos para resolver problemas como
controle das inundações, construção de sistemas hidráulicos, preparação da
terra para a semeadura, mumificação de cadáveres, etc.
Os
primeiros exemplos atestados de cálculos matemáticos são datados do período
pré-dinástico Nacada, e mostram um sistema numeral totalmente desenvolvido. A
importância da matemática para um egípcio educado é sugerido por uma carta
ficcional do Império Novo em que o escritor propõe uma competição acadêmica
entre ele e outro escriba nas tarefas diárias, tais como cálculo de
contabilidade de trabalho, terra e grãos. Textos como os papiros de Rhind e o
de Moscou mostram que os antigos egípcios podiam realizar as quatro operações
matemáticas básicas – adição, subtração, multiplicação e divisão, – usavam
frações, calculavam volumes de caixas e pirâmides, e calculavam áreas de
retângulos, triângulos, círculos e até mesmo esferas. Eles entendiam os conceitos
básicos de álgebra e geometria, e podiam resolver conjuntos simples de equações
simultâneas.
A
notação matemática era decimal, com base em sinais hieróglifos para cada
potência de dez até um milhão. Cada um desses símbolos poderia ser escrito tantas
vezes quanto necessário para somar o número desejado. Por exemplo, para
escrever o número 880 o símbolos de dez e cem eram escritos oito vezes,
respectivamente. Por seus métodos de cálculo não poderem lidar com frações com
numerador maior que um, as frações dos antigos egípcios eram escritas como a
soma de várias frações. Por exemplo, a fração 2⁄5 (dois quintos) era
representada pela soma de 1⁄3 (um terço) com 1⁄15 (um quinze avos), o que era
facilitado pela existência de tabelas. Algumas frações comuns, porém, eram
escritas com um hieróglifo especial; existia, por exemplo um hieróglifo para
representar 2⁄3 (dois terços).
A
proporção áurea parece refletir-se em muitas construções egípcias, incluindo as
pirâmides, mas seu uso pode ter sido uma consequência não intencional da
prática egípcia de combinar o uso de cordas com nós com um senso intuitivo de
proporção e harmonia. Os matemáticos egípcios antigos compreendiam os
princípios subjacentes ao teorema de Pitágoras, sabendo, por exemplo, que um
triângulo tinha um ângulo reto oposto à hipotenusa quando seus lados estavam em
uma proporção 3-4-5. Eles eram capazes de estimar a área de um círculo,
subtraindo um nono de seu diâmetro e elevando ao quadrado o resultado, o que é
uma aproximação razoável da fórmula πr 2:
Astronomia e química
A
astronomia teve grande importância religiosa, pois era por meio dela que os
egípcios determinaram datas de festas religiosas. Com a observação dos astros e
enchentes, os egípcios desenvolveram um calendário, onde o primeiro dia do ano
é o primeiro dia das cheias. O calendário egípcio possuía 365 dias divididos em
12 meses de 30 dias; os dias possuíam 24 horas, no entanto, uma hora egípcia
variava de acordo com as estações agrícolas. O ano era dividido em três
períodos de quatro meses: inundações (julho a outubro), plantio (novembro a
fevereiro) e colheita (março a junho). Além disso, os egípcios tinham
conhecimento de alguns planetas, e agrupavam as estrelas que conheciam em
constelações, produzindo mapas astronômicos.
A
palavra química vem do egípcio Kemi, que significa "terra negra".
Para fins medicinais, composições simples, pintura e decoração pessoal os
egípcios utilizaram de substâncias químicas como arsênio, cobre, petróleo,
alabastro, calcário, carvão, hematita, óxido de ferro, azurita, malaquita,
cobalto, sal, sílex moído, mercúrio, etc. Alguns dos papiros descobertos ao
longo das escavações no Egito contêm diversas receitas químicas que incluem:
testar a qualidade ou purificar metais, formar ligas, imitar metais preciosos
ou pérolas, produzir pigmentos.
Legado
A
cultura e monumentos do Antigo Egito, deixaram um legado duradouro para o
mundo. Algumas práticas religiosas egípcias (circuncisão, práticas esotéricas e
ocultistas e certas concepções do Além) são características visíveis em certas
crenças atuais. Algumas palavras (como química) e expressões (como anos de
vacas magras) são de origem egípcia, além de terem sido eles os inventores do
ancestral do papel, o papiro. Também contribuíram com alguns símbolos da
alquimia, como a serpente ouroboros e a fênix.
O
culto da deusa Ísis, por exemplo, tornou-se popular no Império Romano, com
obeliscos e outras relíquias sendo transportadas para Roma. Os romanos também
utilizavam materiais de construção importados do Egito para erguer estruturas
em estilo egípcio. Os primeiros historiadores como Heródoto, Estrabão, Diodoro
Sículo estudaram e escreveram sobre a terra que passou a ser vista como um
lugar de mistério.
Durante
a Idade Média e Renascimento, a cultura pagã egípcia entrou em declínio após a
ascensão, primeiro do Cristianismo e depois do Islã, mas o interesse na
antiguidade egípcia continuou nos escritos de estudiosos medievais muçulmanos
como Dhul-Nun al-Misri e al-Maqrizi. Nos séculos XVII e XVIII, viajantes e
turistas europeus trouxeram de volta as antiguidades e escreveram histórias de
suas viagens, levando a uma onda de egiptomania em toda a Europa. Esse
interesse renovado enviou coletores para o Egito, que levaram, compraram ou
foram presenteados com muitas antiguidades importantes.
Embora
a ocupação colonial europeia do Egito tenha destruído uma parte significativa
do legado histórico do país, alguns estrangeiros tiveram atuações mais
positivas. Napoleão, por exemplo, organizou os primeiros estudos em egiptologia
quando ele levou cerca de 150 artistas e cientistas para estudar e documentar a
história natural do Egito, que foi publicado na Description de l'Égypte.
No
século XX, o governo egípcio e os arqueólogos reconheceram a importância do
respeito cultural e integridade nas escavações. O Conselho Supremo de
Antiguidades agora aprova e supervisiona todas as escavações, que visam
encontrar informações ao invés de tesouros. O conselho também supervisiona os
museus e programas de reconstrução de monumentos concebidos para preservar o
legado histórico do Egito.