Invasões holandesas é o nome normalmente dado, na
historiografia brasileira, ao projeto de ocupação da Região Nordeste do Brasil
pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.) durante o século XVII.
As
invasões holandesas foram o maior conflito político-militar da colônia. Embora
concentradas no atual Nordeste, não se resumiram a um episódio regional.
Fizeram parte do quadro de relações internacionais entre os Estados europeus:
foi uma luta pelo controle do açúcar, bem como das fontes de suprimento de
escravos. Houve duas frentes interligadas, embora distantes: Brasil e África.
A
resistência foi caracterizada por um esforço financeiro e militar baseado em
recursos locais e externos. Os recursos levantados na colônia representaram
dois terços dos gastos entre 1630 e 1637, com tropas majoritariamente
europeias; e quase a totalidade do gasto entre 1644 e 1654, com tropas,
mormente pernambucanas.
Embora
não aceito por alguns, pode-se falar no surgimento de um sentimento de
nacionalismo brasileiro. A Batalha dos Guararapes resultou na vitória do
"exército patriota", integrado por combatentes das três raças
dominantes. Porém, a resistência, com certeza, foi um marco do nativismo.
O
conflito iniciou-se no contexto da chamada Dinastia Filipina ("União
Ibérica", no Brasil), período que decorreu entre 1580 e 1640, quando
Portugal e as suas colônias estiveram inscritos entre os domínios da Coroa da
Espanha.
Felipe II da Espanha |
À
época, os neerlandeses lutavam pela sua emancipação do domínio espanhol. Apesar
de algumas províncias terem proclamada a sua independência em 1581, a República
das Províncias Unidas, com sede em Amsterdã, apenas teve a sua independência
reconhecida em 1648, após o acordo de paz de Münster, quando se efetivou a sua
separação da Espanha.
Durante
o conflito, uma das medidas adotadas por Filipe II de Espanha foi a proibição
do comércio espanhol com os portos neerlandeses, o que afetava diretamente o
comércio do açúcar do Brasil, uma vez que os neerlandeses eram tradicionais
investidores na agromanufatura açucareira e onde possuíam pesadas inversões de
capital.
Diante
dessa restrição, os neerlandeses voltaram-se para o comércio no oceano Índico,
vindo a constituir a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais (1602), que
passava a ter o monopólio do comércio oriental, o que garantia a lucratividade
da empresa.
O
sucesso dessa experiência levou à fundação da Companhia Neerlandesa das Índias
Ocidentais (1621), a quem os Estados Gerais (seu órgão político supremo)
concederam o monopólio do tráfico e do comércio de escravos, por vinte e quatro
anos, nas Américas e na África. O maior objetivo da nova Companhia, entretanto,
era retomar o comércio do açúcar produzido na Região Nordeste do Brasil.
Captura do Recife por Lancaster
com auxílio holandês (1595)
A
"Captura do Recife", também conhecida como "Expedição
Pernambucana de Lancaster", foi um episódio da Guerra Anglo-Espanhola
ocorrido em 1595 no porto do Recife, em Pernambuco, Brasil Colônia. Liderada
pelo almirante inglês James Lancaster, foi a única expedição de corso da
Inglaterra que teve como objetivo principal o Brasil, e representou o mais rico
butim da história da navegação de corso do período elisabetano.
A
União Ibérica colocou o Brasil em conflito com potências europeias que eram
amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. A
Capitania de Pernambuco, mais rica de todas as possessões portuguesas, se
tornou então um alvo cobiçado.
Poucos
anos após derrotarem a Invencível Armada espanhola, em 1588, os ingleses
tiveram acesso a manuscritos portugueses e espanhóis que detalhavam a costa do
Brasil. Um deles, de autoria do mercador português Lopes Vaz, veio a ser
publicado em inglês e enfatizava as qualidades da rica vila de Olinda ao dizer
que "Pernambuco é a mais importante cidade de toda aquela costa". A
opulência pernambucana impressionara o padre Fernão Cardim, que surpreendeu-se
com "as fazendas maiores e mais ricas que as da Bahia, os banquetes de
extraordinárias iguarias, os leitos de damasco carmesim, franjados de ouro e as
ricas colchas da Índia", e resumiu suas impressões numa frase antológica:
"Enfim, em Pernambuco acha-se mais vaidade que em Lisboa". Logo a
capitania seria vista pelos ingleses como um "macio e suculento"
pedaço do Império de Filipe II.
A
expedição de James Lancaster saiu de Blackwall, na Grande Londres, em outubro
de 1594, e navegou através do Atlântico capturando numerosos navios antes de
atingir Pernambuco. Ao chegar, Lancaster confrontou a resistência local, mas se
deparou na entrada do porto com três urcas holandesas, das quais esperava uma
reação negativa, o que não aconteceu: os antes pacíficos holandeses levantaram
âncora e deixaram o caminho livre para a invasão inglesa, e além de não terem
oposto resistência à ação, terminaram por se associar aos ingleses, fretando
seus navios para o transporte dos bens subtraídos em Pernambuco. Lancaster
então tomou o Recife e nele permaneceu por quase um mês, espaço de tempo no
qual se associou aos franceses que chegaram no porto e derrotou uma série de
contra-ataques portugueses. A frota partiu com um montante robusto de açúcar,
pau-brasil, algodão e mercadorias de alto preço. Dos navios que partiram do
porto, apenas uma pequena nau não chegou ao seu destino. O lucro dos
investidores, entre eles Thomas Cordell, então prefeito de Londres, e o
vereador da cidade de Londres John Watts, foi assombroso, estimado em mais de 51
mil libras esterlinas. Do total, 6.100 libras ficaram com Lancaster e 3.050
foram para a Rainha. Com tal desfecho, a expedição foi considerada um absoluto
sucesso militar e financeiro.
Após
a visita de Lancaster, a Capitania de Pernambuco organizou duas companhias
armadas para a defesa da região, cada uma delas com 220 mosqueteiros e
arcabuzeiros, uma sediada em Olinda e outra no Recife. Anos depois, o então
governador Matias de Albuquerque procurou estabelecer posições fortificadas no
porto do Recife.
A expedição de Van Noort
Foi
nesse contexto da União Ibérica que ocorreu a expedição do almirante Olivier
van Noort que, de passagem pela costa do Brasil, conforme alguns autores,
tentou uma invasão da baía de Guanabara.
A
esquadra de Van Noort partiu de Roterdã, nos Países Baixos, a 13 de setembro de
1598, integrada por quatro navios e 248 homens.
Padecendo
de escorbuto, a frota pediu permissão para obter refrescos (suprimentos
frescos) na baía de Guanabara, que lhe foram negados pelo governo da capitania,
de acordo com instruções recebidas da metrópole. Uma tentativa de desembarque
foi repelida por indígenas e pela artilharia da Fortaleza de Santa Cruz da
Barra, conforme ilustração à época.
Afirma-se
que pilhagens e incêndios de cidades e embarcações foram praticadas pela
expedição na costa do Chile, do Peru e das Filipinas. Na realidade, sofreu
grandes perdas em um ataque dos indígenas da Patagônia (no atual Chile) e das
forças espanholas no Peru. Alguns autores atribuem a Van Noort, nesta viagem, a
descoberta da Antártida. A expedição retornou ao porto em 26 de agosto de 1601
com apenas uma embarcação, tripulada por 45 sobreviventes.
A expedição de van Spielbergen
Incidente
semelhante registrou-se com a expedição do almirante Joris van Spielbergen, que
realizava a segunda viagem de circum-navegação neerlandesa, entre 1614 e 1618.
As suas embarcações aportaram em Cabo Frio, ilha Grande e São Vicente,
enfrentando resistência portuguesa ao tentar reabastecer nesta última (3 de
fevereiro de 1615).
Na
edição de 1648 da obra "Miroir Oost & West-Indical"
(originalmente publicada em Amsterdã, em 1621, por Ian Ianst), a narrativa de
Spielbergen é ilustrada por uma gravura de São Vicente, onde retrata o
incidente ocorrido em Santos. Apesar de suas imprecisões, essa iconografia
descreve os contornos da baía, os rios, as fortificações e o casario.
Periodização
Em
linhas gerais, as invasões holandesas do Brasil podem ser recortadas em dois
grandes períodos:
1.
1624-1625
- Invasão de Salvador, na Bahia
2.
1630-1654
- Invasão de Olinda e Recife, em Pernambuco
3.
1630-1637
- Fase de resistência ao invasor
4.
1637-1644
- Administração de Maurício de Nassau
5.
1644-1654
- Insurreição Pernambucana
A invasão de Salvador (1624-1625)
Cientes
da vulnerabilidade das povoações portuguesas no litoral Nordeste brasileiro, os
administradores da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.)
decidiram pelo ataque à então capital do Estado do Brasil, a cidade do
Salvador, na capitania da Bahia.
Desse
modo, no dia 10 de Maio de 1624, uma expedição da W.I.C. com vinte e seis
navios transportando um efetivo de cerca de mil e setecentos homens sob o
comando do almirante Jacob Willekens atacou e conquistou a capital. Em pânico,
os habitantes retiraram-se para o interior. O governador-geral, Diogo de
Mendonça Furtado (1621-1624), entrincheirou-se no palácio, mas tanto ele como o
filho e alguns oficiais foram aprisionados e enviados para os Países Baixos. O
governo da cidade passou a ser exercido pelo fidalgo holandês Johan Van Dorth.
Em
1625 a Espanha enviou, como reforço, uma poderosa armada de cinquenta e dois
navios com cerca de doze mil homens sob o comando de D. Fadrique de Toledo
Osório, marquês de Villanueva de Valduesa, e do general da armada da Costa de
Portugal, D. Manuel de Meneses, a maior então enviada aos mares do Sul: a
famosa Jornada dos Vassalos. Essa expedição derrotou e expulsou os invasores
holandeses a 1 de maio desse mesmo ano.
A invasão de Olinda e Recife
(1630-1654)
O
enorme gasto com a invasão às terras da Bahia foi recuperado quatro anos mais
tarde, num audacioso ato de corso quando, no mar do Caribe, o Almirante Piet
Heyn, a serviço da W.I.C., interceptou e saqueou a frota espanhola que
transportava o carregamento anual de prata extraída nas colônias americanas.
Bandeira da Nova Holanda |
De
posse desses recursos, os neerlandeses armaram nova expedição, desta vez contra
a mais rica de todas as possessões portuguesas. O seu objetivo declarado era o
de restaurar o comércio do açúcar com os Países Baixos, proibido pela Coroa da
Espanha. Uma nova e poderosa esquadra com sessenta e sete navios e cerca de
sete mil homens — a maior já vista na colônia — sob o comando do almirante
Hendrick Lonck, investirá agora sobre Pernambuco onde, em fevereiro de 1630,
conquista Olinda e depois Recife. Com a vitória, os invasores foram reforçados
por um efetivo de mais seis mil homens, enviado da Europa para assegurar a
posse da conquista.
A
aquisição de mão de obra escrava tornou-se imprescindível para o sucesso da
colonização neerlandesa. Por essa razão, a W.I.C. começou a traficar escravos
da África para o Brasil.
A resistência
A
resistência, liderada por Matias de Albuquerque, concentrou-se no Arraial do
Bom Jesus, nos arredores do Recife. Através de táticas indígenas de combate
(campanha de guerrilhas), confinou o invasor às fortificações no perímetro
urbano de Olinda e seu porto, Recife.
As
chamadas "companhias de emboscada" eram pequenos grupos de dez a
quarenta homens, com alta mobilidade, que atacavam de surpresa os neerlandeses
e se retiravam em velocidade, reagrupando-se para novos combates.
Entretanto,
com o tempo, alguns senhores de engenho de cana-de-açúcar aceitaram a
administração da Companhia das Índias Ocidentais por entenderem que uma injeção
de capital e uma administração mais liberal auxiliariam o desenvolvimento dos
seus negócios. O seu melhor representante foi Domingos Fernandes Calabar,
considerado Historiograficamente como um traidor ao apoiar as forças de
ocupação e a administração neerlandesa.
Destacaram-se
nesta fase de resistência luso-brasileira líderes militares como Martim Soares
Moreno, Antônio Felipe Camarão, Henrique Dias e Francisco Rebelo (o Rebelinho).
Com
a invasão da Paraíba (1634) e as conquistas do Arraial do Bom Jesus e do cabo
de Santo Agostinho (1635), as forças comandadas por Matias de Albuquerque
entraram em colapso e se viram forçadas a recuar na direção do rio São
Francisco. Foram personagens importantes nesse contexto Domingos Fernandes
Calabar e o coronel Crestofle d'Artischau Arciszewski.
O consulado nassoviano
(1637-1644)
Vencida
a resistência luso-brasileira, com o auxílio de Calabar, a W.I.C. nomeou o
conde Maurício de Nassau para administrar a conquista.
Conde Mauricio de Nassau |
Homem
culto e liberal, tolerante com a imigração de judeus e protestantes, que o
apoiavam contra o Reino de Portugal na sua conquista do território brasileiro,
trouxe consigo artistas e cientistas para estudar as potencialidades da terra.
Preocupou-se com a recuperação da agromanufatura do açúcar, prejudicada pelas
lutas, concedendo créditos e vendendo em hasta pública os engenhos
conquistados. Cuidou da questão do abastecimento e da mão de obra, da
administração e promoveu ampla reforma urbanística no Recife (Cidade Maurícia).
Concedeu liberdade religiosa, registrando-se a fundação, no Recife, da primeira
sinagoga do continente americano.
Em
1641, após a invasão de São Luís do Maranhão, os neerlandeses expandiram-se
para o interior da capitania, verificando-se choques com os colonos já em 1642.
As lutas para expulsão do invasor estenderam-se até 1644, nelas tendo se
destacado Antônio Teixeira de Melo.
Espanha
se separa de Portugal , assim formam uma aliança para poderem combater a
Holanda.
A Insurreição Pernambucana
Também
conhecida como Guerra da Luz Divina, foi o movimento que expulsou os
neerlandeses do Brasil, integrando as forças lideradas pelos senhores de
engenho André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, pelo afrodescendente
Henrique Dias e pelo indígena Felipe Camarão.
As batalhas dos Guararapes |
A
Restauração Portuguesa em 1640 conduziu à assinatura de uma trégua de dez anos
entre Portugal e os Países Baixos. Com este abalo ao domínio espanhol, a guerra
de independência dos Países Baixos prosseguiu.
Na
América, o Brasil se pronunciou em favor do Duque de Bragança (1640). Na região
Nordeste, sob domínio da W.I.C., Maurício de Nassau foi substituído na
administração. Ao contrário do que preconizara em seu "testamento"
político, os novos administradores da companhia passaram a exigir a liquidação
das dívidas aos senhores de engenho inadimplentes, política que conduziu à
Insurreição Pernambucana de 1645 e que culminou com a extinção do domínio
neerlandês após a segunda Batalha dos Guararapes.
Formalmente,
a rendição foi assinada em 26 de Janeiro de 1654, na campina do Taborda, mas só
provocou efeitos plenos, em 6 de agosto de 1661, com a assinatura da Paz de
Haia, onde Portugal concordou em pagar aos Países Baixos oito milhões de
Florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro. Este valor foi pago
aos Países Baixos, em prestações, ao longo de quarenta anos e sob a ameaça de
invasão da Marinha de Guerra. De acordo com uma corrente historiográfica
tradicional em História Militar do Brasil, o movimento assinalou ainda o gérmen
do nacionalismo brasileiro, pois os brancos, africanos e indígenas fundiram
seus interesses na expulsão do invasor.
A capitulação neerlandesa
A
capitulação neerlandesa no Brasil, assinada em 26 de Janeiro de 1654, melhor
conhecida na historiografia em História do Brasil como "Capitulação do
Campo (campanha ou campina) do Taborda", fixou os termos e as condições
pelas quais os membros do Conselho Supremo do Recife entregavam ao Mestre de
Campo, General Francisco Barreto de Menezes, Governador da Capitania de
Pernambuco, a cidade Maurícia, Recife, e mais forças e fortes junto deles, e os
lugares que tinham ocupado ao Norte, a saber:
a
Bahia
a
Ilha de Fernando de Noronha;
o
Ceará
o
Rio Grande (do Norte)
a
Paraíba
a
ilha de Itamaracá
No
Recife e na cidade Maurícia eram entregues:
o
Recife
a
Cidade Maurícia
o
Forte Ernesto
o
Forte Waerdemburch (Forte das Três Pontas)
o
Forte de São Jorge
o
Forte do Mar
o
Forte Bruyne (Forte do Brum)
o
Forte Madame Bruyne (Forte do Buraco)
o
Forte das Salinas
o
Forte Goch (???)
o
Forte Alternar (???)
o
Forte Frederich Heinrich (Forte das Cinco Pontas)
o
Reduto de Pedra (???)
o
Reduto da Boa Vista
o
Reduto Esfalfado (???)
o
Forte Príncipe Guilherme (Forte dos Afogados)
o
Reduto avançado da Barreta (???)
o
Reduto da Barreta
a
ilha do norte da Barreta (???)
Inclusive
294 peças de artilharia (117 de bronze e 177 de ferro, dos diversos calibres),
5200 espingardas, grande número de espadas, lanças, pistolas e munições.
E
ainda:
na
ilha de Fernando de Noronha os seus fortes;
na
ilha de Itamaracá, o Forte Orange (com treze peças) e a vila de Schkoppe (com
cinco peças);
na
Paraíba, a Fortaleza do Cabedelo (com 33 peças), o Forte da Restinga (com dez
peças), o Forte de Santo Antônio (com seis peças), o Forte Schoonemborch (com
sete peças) (???) e o Forte Guaráu (com três peças) (???);
no
Rio Grande do Norte, o Forte Ceulen (com 31 peças); e
no
Ceará, a Fortaleza Schoonemborch (com onze peças).
Consequências[editar
| editar código-fonte]
Em
consequência das invasões à Região Nordeste do Brasil, o capital neerlandês
passou a dominar todas as etapas da produção de açúcar, do plantio da
cana-de-açúcar ao refino e distribuição. Com o controle do mercado fornecedor
de escravos africanos, passou a investir na região das Antilhas. O açúcar
produzido nessa região tinha um menor custo de produção devido, entre outros, à
isenção de impostos sobre a mão de obra (tributada pela Coroa Portuguesa) e ao
menor custo de transporte. Sem capitais para investir, com dificuldades para
aquisição de mão de obra e sem dominar o processo de refino e distribuição, o
açúcar português não conseguiu concorrer no mercado internacional, mergulhando
a economia do Brasil (e a de Portugal) numa crise que atravessaria a segunda
metade do século XVII até a descoberta de ouro nas Minas Gerais.
Sete
anos após a capitulação do Campo do Taborda (1654), Portugal cedeu aos Países
Baixos o Ceilão (atual Sri Lanka) e as ilhas Molucas, a título de compensação,
além de pagar quantia indenizatória.
Herança genética e cultural
A
herança das invasões holandesas no Brasil vai além da influência na economia. A
ausência de mulheres holandesas estimulou a união e mesmo o casamento de
oficiais militares e colonos holandeses com filhas de abastados senhores de
engenho luso-brasileiros, e mais informalmente, dos praças militares holandeses
com índias, negras, caboclas e mulatas locais, segundo o historiador Eduardo
Fonseca, estas uniões teriam gerado na atualidade, cerca de um milhão de
brasileiros nordestinos com ascendência dos cerca de oitenta mil holandeses que
no nordeste estiveram durante este período, e que esta origem teria inclusive
influenciado parte da cultura nordestina, acredita-se que em suas manifestações
culturais, o violino holandês teria sido incorporado, lá sendo chamado de
rabeca.
Pesquisas
genéticas recentes feitas pela Universidade Federal de Minas Gerais apontam que
19% dos nordestinos possuem um marcador genético do cromossomo Y (haplogrupo 2)
que é comum na Europa. O fato deste haplogrupo ser mais comum no Nordeste (19%)
que em Portugal (13%) indica que esse "excesso" poderia ser devido à
influência genética dos colonizadores holandeses na época colonial. Algo
semelhante ocorre no sul do Brasil, onde houve muita imigração do norte da
Europa e também há um excesso do haplogrupo 2 (28%) em relação a Portugal.
Cronologia
·
1599
- Alguns autores computam uma primeira invasão, considerando que a frota do
Almirante Olivier van Noort forçou a barra da Baía de Guanabara, na Capitania
do Rio de Janeiro, com intenções bélicas. Essa visão é incorreta, uma vez que
aquele almirante, em trânsito para o Oriente (Índia, Ceilão e Molucas), apenas
solicitou refrescos (suprimentos frescos) de vez que a sua tripulação se
encontrava atacada por escorbuto. Diante da negativa, ao desembarcarem premidos
pela necessidade, registrou-se uma escaramuça (5 de fevereiro), na qual os
neerlandeses foram repelidos, indo obter suprimentos um pouco mais ao sul, na
Ilha Grande, então desabitada.
·
1609
- Os Países Baixos e a Espanha assinam uma trégua de dez anos. Durante esse
período intensifica-se o comércio de açúcar na Europa, principalmente a partir
de Amsterdã, um dos maiores centros de refino.
·
1621
- Com o encerramento da trégua, empreendedores neerlandeses fundam a Companhia Neerlandesa
das Índias Ocidentais (W.I.C.), que iniciará a chamada Guerra do Açúcar ou
Guerra Brasílica (1624-1654).
·
1624
- Uma força de assalto da W.I.C., transportada por 26 navios sob o comando do
Almirante Jacob Willekens, conquista a capital do Estado do Brasil, a cidade de
São Salvador, na Capitania da Bahia. O Governador-geral é detido e levado para
os Países Baixos. O governo da então capital passa para as mãos do fidalgo
neerlandês Johan van Dorth. A resistência portuguesa se reorganiza a partir do
Arraial do rio Vermelho, contendo os invasores no perímetro urbano de Salvador.
·
1625
- A Coroa espanhola reúne uma poderosa expedição com 52 navios sob o comando de
D. Fadrique de Toledo Osório. A expedição, conhecida como Jornada dos Vassalos,
bloqueia o porto de Salvador, obtendo a rendição neerlandesa. Os reforços
neerlandeses não chegaram em tempo hábil a Salvador, retornando ao perceberem
que a capital havia sido perdida. No mesmo ano, Piet Hein teria tentado invadir
a Vila de Vitória no Espírito Santo. Lá, não conseguiu subir a ladeira que ia
ao centro da cidade, pois foi surpreendido pela heroína Maria Ortiz, famosa por
liderar a defesa contra os holandeses.
·
1629
- O Almirante neerlandês Piet Heyn captura a frota espanhola da prata, o que
permitiu à W.I.C. se capitalizar com os recursos necessários a uma nova
expedição contra a Região Nordeste do Brasil. Diante dos rumores da preparação
de uma nova expedição neerlandesa para o Brasil, a Coroa espanhola envia Matias
de Albuquerque para a Capitania de Pernambuco, com a função de preparar a sua
defesa.
·
1630
- Nova força de assalto da W.I.C., transportada por 67 navios sob o comando de
Hendrick Lonck, conquista Olinda e Recife, na Capitania de Pernambuco. Sem
recursos para a resistência, Matias de Albuquerque retira a população civil e
os defensores, e incendeia os armazéns do porto de Recife, evitando que o
açúcar ali aguardando o embarque para o reino caísse em mãos do invasor.
Imediatamente organiza a resistência, a partir do Arraial Velho do Bom Jesus.
·
1632
- Domingos Fernandes Calabar, conhecedor das estratégias e recursos
portugueses, passa para as hostes invasoras, a quem informa os pontos fracos da
defesa na região nordeste do Brasil. Atribui-se a essa deserção a queda do
Arraial (velho) do Bom Jesus (1635), permitindo às forças neerlandesas
estenderem o seu domínio desde a Capitania do Rio Grande (do Norte) até à da
Paraíba (1634).
·
1634
- Em retirada para a Capitania da Bahia, Matias de Albuquerque derrota os
neerlandeses em Porto Calvo e, capturando Calabar, julga-o sumariamente por
traição e executa-o.
·
1635
- Forças neerlandesas, comandadas pelo coronel polonês Crestofle d'Artischau
Arciszewski, capturam o Arraial do Bom Jesus, após um longo assédio. Quase ao
mesmo tempo outra força, comandada pelo coronel Sigismundo von Schkoppe, cerca
e captura o Forte de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho.
·
1636
- Arciszewski derrota D. Luís de Rojas y Borja na batalha da Mata Redonda.
·
1637
- A administração dos interesses da W.I.C. no nordeste do Brasil é confiada ao
Conde João Maurício de Nassau Siegen, que expande a conquista até Sergipe (a
sul).
·
1638
- Maurício de Nassau desembarca na Bahia, mas não consegue capturar Salvador,
nos episódios Primeira Batalha de Salvador e Segunda Batalha de Salvador.
·
1640
- Um forte armada luso-espanhola, comandada pelo Conde da Torre, falhou em sua
intenção de desembarcar em Pernambuco e sofreu uma derrota estratégica ante a
armada holandesa. Com a Restauração portuguesa, Portugal assinou uma trégua de
dez anos com os Países Baixos. Nassau conquista os centros fornecedores de
escravos africanos de São Tomé e Príncipe e de Angola.
·
1641
- Firmado um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva entre Portugal e a
República Holandesa, porém o tratado não é cumprido por ambas as partes e em
consequência não tem efeito nas colônias portuguesas sob domínio neerlandês no
Brasil e na África.
·
1644
- Suspeito de improbidade administrativa, Nassau é chamado de volta aos Países
Baixos pela W.I.C.
·
1645
- Descontente com a nova administração enviada pela W.I.C., eclode a chamada
Insurreição Pernambucana ou Guerra da Luz Divina. Em 3 de agosto fere-se a
Batalha do Monte das Tabocas (atual Vitória de Santo Antão).
·
1648-1649
- Batalhas dos Guararapes, vencidas pelos luso-brasileiros.
·
1654
- Assinatura da Capitulação do Campo do Taborda, em frente ao Forte das Cinco
Pontas, no Recife. Os neerlandeses deixam o Nordeste do Brasil.
·
1661
- Firmado o Tratado de Haia pelo qual a República Holandesa reconheceu a
soberania portuguesa sobre o Nordeste brasileiro.