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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A Conferência de Berlim


     
A Conferência de Berlim foi realizada entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 e teve como objetivo organizar, por meio de regras, a ocupação da África pelas potências coloniais, resultando numa divisão territorial que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos desse continente.
Seu organizador e acompanhante foi Chanceler Otto von Bismarck da Alemanha e participaram a Grã-Bretanha, França, Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, Áustria-Hungria e Império Otomano.Tinha cinco metros o mapa que dominou o encontro em Berlim, que teve lugar na Chancelaria do Reich. Mostrava o continente africano, com rios, lagos, nomes de alguns locais e muitas manchas brancas.
 
     O Império Alemão, país vencedor, não possuía colônias em África, mas, tinha esse desejo e viu-o satisfeito, passando a administrar o “Sudoeste Africano” (atual Namíbia), o Tanganica, bem como Camarões e Togolândia; os Estados Unidos na altura não tinham mais a colônia da Libéria, independente desde 1847, mas como potência em ascensão foram convidados; o Império Otomano possuía províncias em África, notadamente o Egito (incluindo o futuro Sudão Anglo-Egípcio) e Trípoli, mas seus domínios foram vastamente desconsiderados no curso das negociações, e foram arrebatados de seu controle até 1914.

     Durante esta conferência, Portugal apresentou um projeto, o famoso Mapa cor-de-rosa, que consistia em ligar Angola a Moçambique para haver uma comunicação entre as duas colônias, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias. Sucedeu que, apesar de todos concordarem com o projeto, mais tarde a Inglaterra, à margem do Tratado de Windsor, surpreendeu com a negação face ao projeto e fez um ultimato, conhecido como Ultimato britânico de 1890, ameaçando guerra se Portugal não acabasse com o projeto. Portugal, com medo de uma crise, não criou guerra com Inglaterra e todo o projeto foi-se abaixo.

     Como resultado desta conferência, a Grã-Bretanha passou a administrar toda a África Austral, com exceção das colónias portuguesas de Angola e Moçambique e o Sudoeste Africano, toda a África Oriental, com exceção da Tanganica e partilhou a costa ocidental e o norte com a França, a Espanha e Portugal (Guiné-Bissau e Cabo Verde); o Congo – que estava no centro da disputa, o próprio nome da Conferência em alemão é “Conferência do Congo” – continuou como “propriedade” da Associação Internacional do Congo, cujo principal acionista era o rei Leopoldo II da Bélgica; este país passou ainda a administrar os pequenos reinos das montanhas a leste, o Ruanda e o Burundi.

Compensações pelo colonialismo

     Em 2010, no 125º aniversário da Conferência de Berlim, representantes de muitos países africanos em Berlim exigiram compensações para reparar os danos do colonialismo. A divisão arbitrária do continente africano entre as potências europeias foi um crime contra a humanidade, disseram em comunicado.
Defendiam, por exemplo, o financiamento de monumentos em locais históricos, a devolução de terra e outros recursos roubados e a restituição de bens culturais.
Mas, até hoje, nada disso foi feito. O historiador Michael Pesek não se mostra surpreendido. "Fala-se muito em compensações por causa do comércio de escravos e do Holocausto. Mas pouco se fala dos crimes cometidos pelas potências coloniais europeias durante os anos que passaram em África."
O investigador nigeriano Olyaemi Akinwumi também não acredita que algum dia haverá qualquer tipo de indemnização.

     "A divisão de África foi feita sem qualquer consideração pela história da sociedade, sem ter em conta as estruturas políticas, sociais e económicas existentes." Segundo Akinwumi, a Conferência de Berlim causou danos irreparáveis e alguns países sofrem até hoje com isso.