Vicente Yáñez Pinzón
Navegante espanhol e descobridor. Nascido por volta
de 1462, em Palos de la Frontera, faleceu em 1514 em Triana.
Ele cresceu no seio de uma família rica de longa tradição marítima, armando navios corso para empresas e pesca. Eram seus irmãos Martin Alonso Pinzon e Francisco Martin Pinzon. Possivelmente ele participou de algumas das expedições corso que fizeram Martin Alonso Pinzon da costa de Barbary, Catalunha e Ibiza.
Ele cresceu no seio de uma família rica de longa tradição marítima, armando navios corso para empresas e pesca. Eram seus irmãos Martin Alonso Pinzon e Francisco Martin Pinzon. Possivelmente ele participou de algumas das expedições corso que fizeram Martin Alonso Pinzon da costa de Barbary, Catalunha e Ibiza.
Chegada de
Pinzón ao Brasil
O ponto de
chegada no litoral brasileiro, Pinzón batizou de Cabo da Santa Maria de La
Consolación. "Cabo este que, por muitas razões, julgamos hoje ser a Ponta
do Mucuripe, vizinho à província do Ceará, e não o de Santo Agostinho, em
Pernambuco, como chegou a acreditar", como escreveu o historiador
Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), um dos mais importantes
historiadores brasileiros, em uma das mais fundamentais obras da historiografia
brasileira A história geral do Brasil (1854), primeira referência a Ponta do
Mucuripe.
Após navegar
cerca de mais de 100 quilômetros, a frota chegou a um rio tão belo que Pinzón
chamou de rio Hermoso (rio Formoso), seguramente o atual rio Curu, situado a
120 quilômetros ao norte de Fortaleza.
Como as margens
deste rio encontravam-se cerca de 40 índios, provavelmente índios da tribo
potiguar comedores de camarão, - Pinzón resolveu enviar 40 espanhóis ao
encontro daquele grupo de índios. Com auxílio de quatro escalares, eles
desembarcaram tentando estabelecer contato com os nativos. Procuraram
atraí-los, com colares de contas e espelhos, mas eles se mantiveram a
distância. Um dos índios lançou uma vara, segundo o relato de Anghiera, ou uma
barra de dois palmos, segundo a versão de Ângelo Trevisan, secretário da
embaixada de Veneza, a serviço na Espanha, a quem Anghiera confiou os originais
do seu relato sobre a viagem de Pinzón. Quando um dos marinheiros tentou
apanhá-la, os nativos se jogaram sobre o marujo que, armado de espada e escudo,
procurou se defender. Mas, infelizmente, foi morto por um golpe de tacape pelas
costas.
Um violento
conflito eclodiu entre os 20 espanhóis e 40 nativos. Após esse conflito, Pinzón
decidiu seguir costeando o litoral cearense na direção nordeste. No dia
seguinte ao combate, Pinzón vislumbrou uma formação arenosa muito bem feita que
se assemelhava a "um bico de cisne mergulhando no Oceano" como
descreveu Francisco Varnhagen, em 1861, ao visitar a ponta Jericoacoara e se
encantou com a beleza do lugar e identificando-o como Rostro Hermoso (Rosto
Formoso) usado por Pinzón para descrever a sua indizível beleza que constitui
uma das maiores atrações turísticas brasileiras muito apreciada por todos os
que visitam a região. Conta-se que Pinzón mandou fincar uma cruz com os brasões
da coroa de Castela, e continuou em frente acompanhando o contorno do litoral.
Algumas semanas mais tarde, Diego de Lepe, outro capitão espanhol encontrou
essa cruz. No entanto, parece que Lepe cruzou a frota de Pinzón sem
encontrá-la.
A descoberta do
rio Amazonas
Continuando a
sua viagem costeira, a cerca de 40 léguas, ou seja, 240 quilômetros a noroeste
da ponta de Jericoacoara, a tripulação da fontilha de Pinzón viveu uma das mais
surpreendentes experiências da sua viagem, quando escutaram um estrondo
contínuo e terrificante. Logo em seguida seus navios foram agitados por
correntes fortíssimas. Foi então, que os marinheiros descobriram que as águas
nas quais navegavam já não eram salgadas, pois o balde lançado do convés
voltava cheio de água doce. Os estrondos que escutaram era o encontro das águas
do rio Amazonas com as águas do Oceano Atlântico. Fenômeno pela primeira vez
registrado pelos europeus e que os indígenas denominavam de pororoca (estrondo,
em tupi guarani). Seguindo em frente, logo atingiram a foz do rio "uma
boca de 15 léguas que saía no mar com grande impacto", como descreveu
Anghiera. Os espanhóis deduziram que um curso de água tão monumental só poderia
nascer em grandes montanhas e que seria necessário percorrer numa grande
distância antes de adoçar e alcançar o mar, e concluíam que a terra que esse
rio banhava deveria ser um enorme continente, sem dúvida a Ásia que eles
julgavam ter encontrado. Na realidade, Pinzón estava na baía de Marajó. Como os
nativos denominavam a região de Mariatambal, Pinzón batizou aquele curso dágua
de Santa Maria de La Mar Dulce. Pinzón acabava de descobrir o maior rio em
volume de água do planeta, que 40 anos mais tarde seria batizado de Amazonas,
pelo primeiro explorador que o navegou do Peru até a foz, o espanhol Francisco
Orellana.
Costeando o
litoral sul-americano, a armada chegou à Ilha de Trinidad, da qual Colombo como
descobridor tinha o monopólio comercial. Em seguida, dirigiu-se para Porto
Rico, descoberto pelo seu irmão, Martín Alonso Pinzón, em 1493. Depois de
fazerem uma parada em La Española (hoje Bahamas), perderam duas das suas quatro
caravelas em um banco areia. Com essa perda, Pinzón decidiu retornar a Palos,
aonde chegou em setembro do mesmo ano.
Apesar desta
viagem ter sido um desastre econômico, ela constituiu uma das mais importantes
realizadas pelos espanhóis na época, em razão dos seus resultados geográficos,
dos quais tirariam proveito, entre outros, o navegador e cartógrafo espanhol
Juan de La Cosa (1460-1510) autor do primeiro planisfério no qual aparece representado
o Novo Mundo - e o navegador italiano Américo Vespúcio (1451-1512). Só
trouxeram um carregamento médio de madeira usada para extrair tinta, pedras
semipreciosas, como por exemplo, o topázio, canela e alguns animais raros etc.
No entanto, toda esta carga penhorada pelos credores não foi suficiente para
pagá-los; em conseqüência, eles tiveram que recorrer a ajuda financeira da
Coroa.
Segunda viagem
ao Brasil
Em 5 de setembro
de 1501, os reis da Espanha nomearam Vicente Pinzón capitão general e governador
do território que havia descoberto, ou seja, parte norte da costa brasileira,
desde a ponta de Mucuripe até o Amazonas. Pelo mesmo ato, concederam-lhe o
direito de usufruir todo o lucro que obtivesse, com a condição que a
colonização fosse realizada às suas custas num prazo de um ano. Como não
tivesse recurso para fazê-lo, acabou perdendo esse direito.
Em 1505, Pinzón
retornou às costas do Brasil, ligeiramente mais ao sul do Cabo de São Roque,
segundo tudo parece indicar o Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Após uma
missão de dois anos, retornou a Hispaniola, quando salvou um explorador
italiano cujo navio tinha naufragado na Jamaica.
Terceira viagem
ao Brasil
Em 1507, o rei
Fernando, o Católico, encarregou-o de novo da missão de procurar uma passagem
para a Malásia, agora em companhia do piloto português a serviço da Espanha,
João Dias de Solis (1470-1516). Nesta ocasião, partiram com duas caravelas do
Porto de Sanlúcar de Barrameda, em 29 de junho de 1508. Esta seria a terceira e
última viagem de Vicente Pinzón à América. Os dois exploradores navegaram pelas
costas da Venezuela (na época Darien, Veragua e Pária), Colômbia, Panamá, Costa
Rica, Nicarágua, Honduras (na época Trujillo) e Guatemala. Como não
encontrassem a passagem para as Ilhas Molucas, decidiram explorar a Península
de Yucatán e aproveitaram para penetrar no Golfo do México até 23,5º latitude
norte. Alguns historiadores atribuíram a descoberta de Honduras a Pinzón, que
foi apontado Governador destas terras. No entanto, ele nunca tomou posse delas.
No final da viagem, iniciada em 1508, como Pinzón havia sido comissionado pela
Espanha para encontrar uma passagem para o Oceano Pacífico, ele fez mais uma
tentativa para encontrá-la. Foi quando, mais uma vez Pinzón navegou pelas
costas do Brasil acompanhado por Solis. Ele decidiu abortar a missão no ano
seguinte, tendo em vista dos desentendimentos com Solis, retornando ambos ao
porto de Cadiz, em outubro de 1509. Logo que chegaram, foi aberto um inquérito
para investigar as queixas de Pinzón. A comissão encarregada do inquérito
ratificou a designação de Pinzón como Capitão general e corregedor da Ilha de
Porto Rico, enquanto Solis foi conduzido à prisão.
Os últimos anos
de Vicente Yañez Pinzón
Depois desta
expedição, Vicente Yañez Pinzón estabeleceu-se no bairro de Triana, em Sevilha,
onde passou os últimos anos de sua vida, ao lado da sua segunda esposa, Ana
Nuñez Turillo e as filhas Ana e Juana, do seu primeiro casamento com Tereza
Rodriguez. Em 1513 testemunhou contra o navegador genovês, com a sua habitual
moderação, nas Probanzas (Averiguações), célebre processo movido, durante 29
anos, contra a Coroa espanhola por D. Diego Colón, filho primogênito de
Cristóvão Colombo, em defesa dos seus direitos como herdeiro do pai.
Em 14 de março de
1514, com 65 anos de idade, recebeu a ordem de acompanhar as pedrarias DÁvila
e Darien, mas infelizmente enfermo pediu dispensa. Este documento foi o último
pelo qual é possível deduzir que até aquela data se encontrava vivo. Tudo
parece indicar que Vicente Yañez Pinzón morreu neste mesmo ano. A data exata e
o local onde foi enterrado permanecem ignorados; acredita-se que nas condições
financeiras dos seus últimos dias deve ter sido enterrado em uma cova comum no
cemitério da cidade.
A grande
questão: Cabo de Santo Agostinho ou Ponta do Mucuripe?
Treze anos
depois da sua primeira viagem ao Brasil, em 1513, Vicente Pinzón, em seu
depoimento nas Probanzas, afirmou que o primeiro contato com o território
brasileiro deu-se em "Santa María de Consolación" que é parte de
Portugal e agora se chama "Santo Agostín".
Se por um lado,
esta declaração de Pinzón de que o ponto de chegada no litoral brasileiro foi
no Cabo de Santo Agostinho, nas costas pernambucanas, estar em contradição com
a de quatro dos seus companheiros de viagem que indicaram o de Rostro Hermoso,
no litoral cearense. Por outro lado, no que se refere ao rumo adotado logo após
a chegada noroeste e rumo da costa oeste - declarado são totalmente
incompatíveis com o rumo e o litoral acima do acidente pernambucano.
Se fosse Santo
Agostinho o ponto de chegada ao Brasil, o rumo deveria ser o norte até Cabo
Calcanhar, quando então deveria tomar a direção noroeste. Ora, quem primeiro
percebeu estes equívocos foi o almirante Max Justo Guedes, que analisou minuciosamente
os depoimentos tomados durante as Probanzas, junto aos tripulantes que
acompanhavam Pinzón, como se pode ver pela Tabela: Testemunhos dos membros da
tripulação de Pinzón nas Averiguações, através da qual é possível verificar que
a maior parte dos membros da tripulação indicou como local de chegada Rostro
Hermoso e para quase todos a navegação ao longo da costa coincidiu com o rumo
noroeste. Ao se confrontar os testemunhos a respeito de alguns pontos
específicos da viagem de Pinzón, durante as Probanzas, podemos recorrer às
considerações de Capistrano de Abreu: "primeiro, porque a discordância que
patenteiam enfraquece a ambas; segundo, porque foram exprimidas de 1513 a1515,
muitos anos depois do acontecimento a que se referem (ocorridos em 1500),
quando já não devia estar fresca a lembrança que dele guardavam". Este
argumento de Abreu defensor da tese do Cabo de Santo Agostinho - aplica-se
também ao próprio Pinzón que também teria se equivocado. Convém lembrar que o
principal argumento dos defensores da tese do Cabo de Santo Agostinho é este
testemunho de Vicente Pinzón.
Estudando o
mapa-múndi de Juan de La Cosa, Max Justo Guedes concluiu que o ponto alcançado
foi a costa do Ceará, próximo à ponta do Mucuripe. Esta conclusão foi
confirmada também pelo estudo náutico de travessia, considerando: a navegação
com ventos alísios de nordeste, a partir de Santiago até as regiões das
calmarias equatoriais; a travessia na região de calmaria e, finalmente, a
navegação com ventos alísios de sudeste até a chegada.
Um trabalho mais
convincente foi os estudos referente ao tempo recorde gasto na travessia; aos
ventos que não deixam dúvida que realmente o local de encontro de Pinzón com a
costa brasileira foi realmente na Ponta do Mucuripe.
Recentemente, o
professor Juan Manzano Manzano, o maior especialista na vida e navegações dos
irmãos Pinzón, fez uma distinção entre a primeira e a segunda viagem de Pinzón
ao Brasil. Para Manzano, o local de contato com o litoral brasileiro da
primeira viagem, em 1500, foi a Ponta do Mucuripe, no Ceará, sendo que na
segunda viagem, em 1504, o ponto de chegada foi o Cabo de Santo Agostinho, em
Pernambuco.
Ao aceitar a
hipótese Adolfo Varnhagen, confirmada pelas pesquisas do almirante brasileiro
Max Justo Guedes, em 1975, Manzano veio juntar-se a outros historiadores,
dentre eles, Samuel E. Morisón, Flávio Pestana Ramos e Rodolfo Espínola, que
também sugeriram que o Cabo de Santa María la Consolación é realmente a Ponta
do Mucuripe. Se por um lado, não há mais duvida, portanto que o Cabo de Santa
María de la Consolación, como o navegante palense denominou a Ponta do
Mucuripe, por outro lado o Cabo de Santo Agostinho é o ponto de chegada da
segunda viagem.
A dificuldade na
determinação ponto de desembarque foi a falta de um astrolábio náutico, pois
graças às observações astronômicas feitas pelos físico e astrônomo Mestre João,
hoje se sabe com precisão a posição da chegada de Cabral, como está relatado na
famosa Carta de Mestre João, indiscutivelmente o documento mais importante que
não deixou nenhuma dúvida a com relação a latitude do local de desembarque da
missão cabralina.