O achado foi excepcional pois apresentava um esqueleto feminino quase completo, com parte do crânio e muito mais. Na noite seguinte à descoberta, a turma se reuniu para comemorar ouvindo música dos Beatles. Logo, alguém teve a ideia de batizar o espécime com o nome Lucy ("in the sky with diamonds"). O nome científico do fóssil depois passou a ser "Australopitecus Afarensis", que quer dizer mais ou menos, "pequeno macaco sulista de Afar".
A idade de Lucy
(o fóssil, é claro) foi determinada como 3,5 milhões de anos, aproximadamente.
Para obter esse número foi feita a datação da camada basáltica onde o fóssil
foi encontrado usando-se o método Potássio-Argônio. Nos anos seguintes,
Johanson e seus colegas acharam uma quantidade enorme de outros fósseis em
Afar, tão antigos quanto Lucy e com as mesmas características. Com essa
profusão de dados foi possível armar uma imagem bem precisa do A. Afarensis e
chegar a conclusões que sumarizamos a seguir.
1) Lucy viveu
naquela região há mais de 3 milhões de anos.
2) Ela e seus
parentes andavam sobre dois pés - isto é, eram bípedes.
3) Sua altura
aproximada era de 1,3 metros.
4) Seu crânio
tinha um volume de 450 cm3. Para comparação, chimpanzés modernos têm crânios de
350 cm3 e nós temos crânios de 1500 cm3.
5) É possível,
mas não é inteiramente seguro, que a espécie de Lucy esteja na linha ancestral
que deu origem à nossa espécie, o "homo sapiens."
Qual era a
aparência de Lucy? Ninguém sabe ao certo porque não existem fósseis de pele e
pelos, normalmente. Uma representação artística de Lucy e um namorado, pintada
no chutômetro, mas com boa chance de corresponder ao real, resulta em algo como
vemos ao lado.
Durante algum
tempo, o Australopitecus Afarensis foi o fóssil de hominídeo mais antigo já
descoberto. Hoje, porém, já conhecemos fósseis mais antigos que Lucy e outros
mais recentes que permitiram montar um quadro da nossa evolução bem mais
detalhado e complexo. A seguir, vamos dar algumas informações sobre essas
descobertas, mas, recomendamos aos interessados que procurem ler os trabalhos
que listamos nas Referências pois esse assunto é vasto e fascinante.
Em 1891, o
pioneiro Eugene Dubois descobriu fósseis de um hominídeo na ilha de Java, no
Pacífico Sul, que chamou de "Pithecantropus Erectus", isto é,
"homem macaquinho que andava em pé". Hoje sabemos que essa espécie -
e outras parecidas - viveu na Ásia há uns 500.000 anos e se extinguiu há cerca
de 200.000 anos. Portanto, pela hipótese "Saindo da África", não
somos descendentes desse pessoal.
Em 1924, Raymond
Dart descobriu um pequeno crânio fossilizado no sul da África que ficou
conhecido como o "bebê de Taung". Essa criatura era bem mais
primitiva que o homem de Java e até hoje não se sabe se ela estava em nossa
linha evolutiva ou não.
A partir de
1959, o casal Louis e Mary Leakey achou uma grande quantidade de fósseis de
hominídeos na região de Olduvai, na Tanzânia. Além desses fósseis, acharam
ferramentas de pedra e fósseis mais recentes que já pertenciam à espécie
humana. Esse casal passou a vida na África e deu uma enorme contribuição ao
nascente campo da paleoantropologia, estabelecendo definitivamente a África
como berço da humanidade. Richard Leakey, filho do casal, e sua mulher Meave,
continuam até hoje o trabalho pioneiro dos Leakeys, tanto no Kênia quanto na
Tanzânia, com extraordinárias contribuições nesse ramo de pesquisa. E até a
filha Louise, neta do casal pioneiro, continua a tradição da família de
pesquisar as origens da humanidade.
O fóssil de
hominídeo mais antigo achado até hoje foi descoberto em 2001, no deserto do
Chade, na África Ocidental, por uma equipe liderada pelo francês Michel Brunet
(será que é parente da Luiza?). Esse fóssil, visto na figura ao lado, é de um
crânio datado de cerca de 7 milhões de anos e batizado de Toumai, que significa
"esperança de vida" na língua do povo local. Brunet discorda de
muitos colegas pois acha que não houve uma linha evolutiva única que chegou até
nossa espécie, os humanos. Para ele, várias espécies pre-humanas, em tempos
distintos, mas todas na África, se misturaram até dar origem à nossa espécie.
Ele esteve recentemente no Brasil e anunciou que tem novos e importantes
resultados, ainda não publicados, que são tão excitantes quanto o Toumai. Vamos
ficar atentos.
Bem
recentemente, em um número especial da revista Science de Outubro de 2009, Tim
White e seus colaboradores relataram a descoberta e a análise de um espécime de
hominídeo que viveu há mais de 4 milhões de anos na Etiópia. É o
"Ardiphitecus Ramidus", provável ascendente do homo sapiens e mais
primitivo que Lucy. Essa "Ardi", como o pessoal chamou, já andava
sobre os dois pés mas ainda mantinha o costume de usar os punhos para se mover,
de vez em quando, além de gostar de pular nos galhos de árvores. Portanto, uma
legítima intermediária entre os símios e os humanos. Ao lado, uma representação
artística de Ardi, como apresentada por seus descobridores. Reparem no
comprimento dos braços e comparem com a figura de Lucy na figura já mostrada.
