Nenhum titulo poderia ser mais injusto para um filme desta natureza, pois a história relatada nele é a mesma que vem sendo repetida há séculos, e como sempre cheia de romantizações e dramatizações de reais vilões históricos, como ocorre no caso de Vlad Ţepeş, que fez sua infâmia nos registros históricos como ''Drácula- O empalador''.
Não
se pode esperar menos de um momento tão delicado no cenário político mundial
para se fazer um filme no qual um fanático sultão muçulmano ataca ''cristãos
indefesos'' que são defendidos e salvos por um paladino correligionários
determinado, que usa o mesmo slogan das atuas potencias mundiais para cometerem
seus crimes: ''os fins justificam os meios''.
Por
coincidência, recentemente um certo ''Estado Islâmico'' surge no Iraque, com
seu califa declarando guerra ao Ocidente, e supostamente massacrando os cristãos
a sua volta, e o mundo ocidental precisa unir forças para novamente frear o
avanço do Islã e suas hordas assassinas, mesmo que isso signifique mais uma
invasão a matar centenas de civis e arrasar um pais inteiro por décadas
novamente. E que jeito melhor para se demonizar um suposto inimigo, e fazer
suas centenas de mortos não parecerem nada, de que com um filme?
Pois
claro, os jovens não estão vendo o Islã como uma ameaça. A lavagem cerebral não
está surtindo efeito nos telejornais, pois hoje em dia, quem assiste televisão?
Então, nada melhor de que pregar o medo do Islã nos corações ocidentais nas
telonas, pois sempre funcionou, afinal, os japoneses não mereceram as lagrimas
americanas pelos dois grandes massacres de Hiroshima e Nagasaki por que durante
toda a guerra, a juventude americana foi alienada no mundo dos quadrinhos a ter
japoneses como vilões desalmados, sub-humanos indignos de pena, da mesma
maneira que muçulmanos são retratos hoje, desde videogames até as series e
filmes.
Mas
deixando um pouco de lado minha revolta, voltemos ao filme em si, e a verdade
histórica do Drácula.
O
filme começa com o festejo do povo da Transilvânia pela conquista da paz de seu
príncipe com os turcos mediante a um tributo em prata e acordos. Mas tudo tem
fim quando o sultão Mehmed II exige em adicional ao tributo, a quantia de mil
garotos do reino de Vlad ao seu exercito sanguinário, incluindo o filho do
próprio Vlad. Crianças a serem escravizadas para alimentar o desejo de poder do
vil sultão.
Então
Vlad vai a um determinado local fazer um pacto com um outro vampiro, para que
possa ser transformado, e usar seus poderes para salvar sua família e seu povo
dos famigerados muçulmanos do mal (rsrsrsrsrsrsr). Linda esta estória, porém
não passa disso, uma estória falaciosa.
Quem
teria pensado que 117 anos depois de Drácula ser introduzido no mundo ocidental
por Bram Stoker, ele seria visto como um herói. Mas, infelizmente, neste clima
geopolítico de hoje, parece que qualquer um que já massacrou brutalmente
muçulmanos vai ser reinventado como um herói. O filme tenta evocar paralelos
com Mel Gibson de "Coração Valente", pintando um retrato de um
exército invasor turco, que por acaso são muçulmanos, opondo-se por um príncipe
local, que deve recorrer às formas mais grotescas de violência, a fim de
repeli-los. Mas isso é pura bobagem.
Na
historiografia real, o pai de Drácula, Vlad Dracul II e seu clã, a Câmara dos
Drăculeşti, tinham sido aliados obedientes dos turcos otomanos. Os turcos
otomanos lutaram ferozes batalhas contra John Hunyadi, o inimigo amargo da
Câmara dos Drăculeşti, a fim de colocar Vlad Dracul II no trono. Assim, podemos
claramente notar que os turcos otomanos não eram de forma alguma inimigos da
família de Dracula, mas quem realmente lutou para colocá-los no poder.
(Como
um aparte, John Hunyadi é o patriarca da família Corvinus que são retratados
como realeza vampira nos filmes "Anjos da Noite").
Além
disso, o pai de Drácula ofereceu aos turcos otomanos o serviço militar dos
meninos da Valáquia, para treinarem voluntariamente nas forças armadas
otomanas, que eram de de longe, o maior exército do mundo naquela época, e o
mais bem armado e mais poderoso. Algo comum na época, pois ao contrario da
mentira inventada no Ocidente, o sistema de alistamento militar otomano era
disputado, primeiramente por ser um exercito pago, e segundo por representar
até para cristãos que se alistassem, uma subida e mudança no nível social, algo
impossível na Europa da época controlada pela nobreza. Não só isso, o próprio
pai de Drácula ofereceu seus próprios dois filhos, Drácula (Vlad Tepes) e Radu,
seu irmão, para servirem no exército otomano, e para serem criados como
muçulmanos. Então, por que Drácula se levantou contra os otomanos, e seu irmão
não?
Era
um oportunista! E a razão simples? Ouro. Mesmo que os cristãos tivessem perdido
quase todas as cruzadas contra os muçulmanos, em 1459, no Concílio de Mântua, o
Papa Pio II chamou a cristandade para mais uma cruzada contra os muçulmanos.
Naquela época, o mundo muçulmano era defendido pelo Império Otomano. O Papa Pio
II deu a Matthias Corvinus, rival de Drácula e filho de John Hunyadi, que era
rival do pai de Drácula, uma espantosa quantidade em ouro. Nada menos que
40.000 peças de ouro, que foram suficientes, por si só, para levantar e
construir um exército totalmente novo e marinha. Drácula simplesmente não ia
deixar seu rival obter toda a torta para si mesmo. Foi neste momento que
Drácula usou sua influencia como príncipe, para levar a Câmara dos Drăculeşti
de serem aliados dos otomanos, para serem seus inimigos, e também ganharem
dinheiro do Vaticano. Mesmo sendo um cristão ortodoxo originalmente, Drácula
chegou a se converter ao catolicismo para alcanças suas ambições.
E
como se não bastasse por seu próprio reino e povo em uma guerra contra a maior
potencia militar da época por simples ganancia, vendo que não obteria o sucesso
que ele queria, Drácula lançou uma campanha de terror massacrando civis
muçulmanos empalados, para aterrorizar os otomanos. E dai veio a fama de
vampiro sanguinário que iria ficar conhecida na historia, e inspirar Bram
Stoker.
Por:
Victor Peixoto.