Festas juninas, festas dos santos populares ou
celebração do meio do verão (em inglês: Midsummer) são o período centrado no
solstício de verão (no hemisfério norte) e de inverno (no hemisfério sul) e,
mais especificamente, nas celebrações do Norte da Europa que ocorrem entre 19
de junho e 25 de junho. As datas exatas variam entre as diferentes culturas.
A
Igreja Cristã, no entanto, designa 24 de junho como o dia de festa em homenagem
ao mártir cristão São João Batista e celebra a Véspera de São João e o
Nascimento de João Batista.
Essas
celebrações são particularmente importantes no Norte da Europa − Dinamarca,
Estónia, Finlândia, Letônia, Lituânia, Noruega e Suécia −, mas também ocorrem
em grande escala na Irlanda, na Galiza, em partes do Reino Unido (especialmente
na Cornualha), França, Itália, Malta, Portugal, Espanha, Ucrânia, outras partes
da Europa, e em outros países como Canadá, Estados Unidos, Porto Rico, Brasil e
Austrália.
Os
feriados europeus relacionados às tradições e celebrações do midsommar têm
origens pré-cristãs. Eles são particularmente importantes no Norte da Europa -
Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia -, mas
também é muito fortemente observado na Polônia, Rússia, Bielorrússia, Alemanha,
Países Baixos, Irlanda, partes do Reino Unido (especialmente Cornualha),
França, Itália, Malta, Portugal, Espanha, Ucrânia, outras partes da Europa e em
outros lugares - como Canadá, Estados Unidos, Porto Rico e também no Hemisfério
Sul (principalmente Brasil, Argentina e Austrália).
O
festival é também por vezes referido por alguns neopagãos como
"Litha", decorrente do De temporum ratione de Beda, que fornece os
nomes anglo-saxões Ærra Liþa e Æfterra Liþa para os meses que correspondem
aproximadamente a junho e julho, com um mês intercalar de Liþa aparecendo
depois de Æfterra Liþa em anos bissextos.
De
origem europeia, as fogueiras juninas fazem parte da antiga tradição pagã de
celebrar o solstício de verão. Assim como a cristianização da árvore pagã
"sempre verde", que se tornou a famosa árvore de natal, a fogueira a
volta do 25 de junho tornou-se, pouco a pouco, na Idade Média, um atributo da
festa de São João Batista, o santo celebrado nesse mesmo dia. Ainda hoje, a
fogueira de São João é o traço comum que une todas as Festas de São João
Europeias (da Estônia a Portugal, da Finlândia à França).
As
celebrações do solstício ainda são centradas no dia do solstício do verão
astronômico. Alguns optam por realizar o rito em 21 de junho, mesmo quando este
não é o dia mais longo do ano, alguns comemoram em 24 de junho, o dia do
solstício no tempo dos romanos. Os antigos romanos também realizavam um
festival em honra do deus Summanus em 20 de junho. Na Wicca, os praticantes
celebram no dia mais longo e a noite mais curta do ano, que não têm uma data
definida, a partir do calendário celta de 13 meses.
Cristianização
Embora
o midsommar seja originalmente um feriado pagão, no cristianismo ele é
associado ao nascimento de João Batista, que é associado ao mesmo dia, 24 de
junho, nas igrejas católica, ortodoxa e em algumas igrejas protestantes. Ocorre
seis meses antes do Natal porque o Evangelho de Lucas (Lucas 01:26 e Lucas
1.36) implica que João Batista nasceu seis meses antes de Jesus, embora a
Bíblia não diga em que época do ano isso aconteceu.
No
século VII, Santo Elígio (falecido em 659/60) avisou aos recém-convertidos
habitantes de Flandres contra as antigas celebrações pagãs do solstício, ao
dizer: "Nenhum cristão deve participar da festa de São João ou da
solenidade de qualquer outro santo e realizar solestitia [ritos do solstício de
verão] ou dançar, pular ou entoar cantos diabólicos".
Conforme
o cristianismo se propagou por regiões de tradição pagã, as celebrações do
midsommar foram transformadas em novos feriados cristãos, muitas vezes resultando
em celebrações que misturavam tradições cristãs com tradições derivadas de
festividades pagãs.
Brasil
As
festas juninas são, em sua essência, multiculturais, embora o formato com que
hoje as conhecemos tenha se originado nas festas dos santos populares em
Portugal: a Festa de Santo Antônio, a Festa de São João e a Festa de São Pedro
e São Paulo principalmente. A música e os instrumentos usados (cavaquinho,
sanfona, triângulo ou ferrinhos, reco-reco etc.) estão na base da música
popular e folclórica portuguesa e foram trazidos ao Brasil pelos povoadores e
imigrantes do país irmão.
As
roupas caipiras ou saloias são uma clara referência ao povo campestre que
povoou principalmente o nordeste do Brasil e pode-se encontrar muitíssimas
semelhanças no modo de vestir caipira no Brasil e em Portugal. Do mesmo modo,
as decorações com que se enfeitam os arraiais iniciaram-se em Portugal, junto
com as novidades que, na época dos descobrimentos, os portugueses trouxeram da
Ásia, tais como enfeites de papel, balões de ar quente e pólvora. Embora os
balões tenham sido proibidos em muitos lugares do Brasil, são usados na cidade
do Porto em Portugal com muita abundância e o céu se enche com milhares deles
durante toda a noite. A dança de fitas típica das festas juninas no Brasil
origina-se provavelmente da Península Ibérica.
Trazida
ao Brasil pela Corte portuguesa, a Festa de São João, que na Península Ibérica
tinha e ainda tem um caráter mais devocional, sofreu um processo de
aclimatação. Ganhou elementos simbólicos, que lhe deram um ar dramatúrgico. A
quadrilha é um exemplo. “Derivada da dança da nobreza cortesã francesa – há
referências disso na quadrilha, como as expressões anarriê, anavantu -, ela não
existe nas festas de São João em outros lugares do mundo”, afirma Edson Farias,
sociólogo da Universidade de Brasília (UnB). O mesmo acontece com o casamento
caipira, que reforça a ideia de regionalidade. “Marcadamente, há uma cena
tradicional nordestina: o pai é uma espécie de coronel, o noivo é um caipira,
roceiro, sertanejo, mas também é um malandro; a noiva representa a virgem, e o
pároco remete à figura do Padim Ciço”, explica Farias. Os folguedos, segundo
ele, servem para integrar a população, que, em vez de ocupar uma posição
passiva, de espectadora, participa, fazendo a festa.
Banda de Pifano |
Outro
símbolo utilizado para enfatizar a identidade nordestina é a vestimenta de
cangaceiro presente nas chamadas quadrilhas matutas, que seriam as “de raiz”,
mais rústicas e sem coreografia – na verdade, passam por ensaios exaustivos
como qualquer quadrilha contemporânea.
De
acordo com Elizabeth Christina de Andrade Lima, antropóloga da Universidade de
Campina Grande, especializada em festas populares brasileiras, o São João teve
início no Brasil como um evento privado. “Os senhores de engenho montavam a
festa e convidavam amigos e agregados”, diz. As celebrações foram crescendo –
de uma comemoração familiar passou a ser da comunidade – até se tornarem
públicas. A festa era muito forte no País inteiro, mas recuou nas demais
regiões. “No Nordeste, ela se aliou a elementos que lhe deram suporte, por
exemplo, o forró. Além de contribuir para a definição de uma identidade
regional, passou a ser um produto musical concorrido a partir do sucesso de
Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês”, explica Farias. Ele afirma que,
no final dos anos 1980, com uma redefinição da política nacional de turismo,
mais descentralizada e com a ideia de potencializar recursos locais, as festas
de São João – que na verdade representam todo o ciclo junino – se tornaram o
principal foco de atração turística de muitas cidades nordestinas, como Campina
Grande (PB) e Caruru (PE). “Não acredito que hoje exista uma perda de
identidade. À medida que vão se introduzindo novos elementos, ela vai
redimensionando sua cara, adquirindo outras feições, mas sem deixar de ser uma
Festa de São João”, afirma.
Alemanha
No
dia do solstício de verão é chamado Sommersonnenwende em alemão. Em 20 de junho
de 1653 o conselho da cidade de Nuremberga emitiu a seguinte ordem: "No
dia de São João em cada ano no país, bem como em cidades e vilas, jovens pegam
dinheiro e madeira para criar o chamado sonnenwendt ou fogo zimmet e dançam
sobre o referido fogo, saltando sobre o mesmo, com a queima de ervas diversas e
flores... Portanto, o Conselho da Cidade de Nuremberga não pode nem deve deixar
de acabar com toda esse paganismo, superstição imprópria e perigo de incêndio
no próximo dia de São João."
Fogueira
em Freiburg im Breisgau
|
Dinamarca
Na
Dinamarca, a celebração solsticial é chamada de sankthans ou sankthansaften
("véspera de São João"). Foi um feriado oficial até 1770 e, de acordo
com a tradição dinamarquesa de comemorar um feriado na noite anterior do dia
real, é celebrado na noite de 23 de Junho. É o dia em que os homens e mulheres
sábias medievais (os médicos da época) reuniam ervas especiais que precisavam
durante o resto do ano para curar as pessoas.
Dinamarqueses celebrando o midsummer com uma fogueria na praia |
A
data é comemorada desde os tempos dos Vikings, quando eles faziam grandes
fogueiras para afastar os maus espíritos. Hoje, fogueiras na praia, piqueniques
e músicas são tradicionais, embora fogueiras sejam construídas em muitos outros
lugares. Na década de 1920, uma tradição de colocar uma bruxa feita de palha e
tecido sobre a fogueira surgiu como uma lembrança da caça às bruxas entre 1540
a 1693. Essa queima enviaria a "bruxa" para Bloksbjerg, a montanha
Brocken na região de Harz da Alemanha. Alguns dinamarqueses consideram a
relativamente nova queima simbólica da bruxa como imprópria.
Finlândia
Antes
de 1316, o solstício de verão era chamado de Ukon juhla ("celebração de
Ukko") na Finlândia, pelo deus finlandês Ukko. Após as celebrações serem
cristianizadas, o feriado se tornou conhecido como Juhannus por conta de João
Batista (finlandês: Johannes Kastaja).
Fogueira
em Helsinque. Fogueiras são bastantes populares no dia de
São João (Juhannus)
no campo
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Na
celebração do midsummer finlandês, fogueiras (kokko) são muito comuns e são queimados
nas margens de lagos e do mar. Muitas vezes, ramos de árvores de vidoeiro
(koivu) são colocados em ambos os lados da porta da frente das casas para
receber os visitantes. Os finlandeses muitas vezes celebram erigindo um mastro
(midsommarstång).
Na
religiosidade popular, o midsummer é uma noite muito potente para muitos
pequenos rituais, principalmente para jovens donzelas que procuram pretendentes
e fertilidade. Acredita-se que o fogo-fátuo apareça com mais frequência na
noite da celebração para indicar um tesouro. Nos velhos tempos, donzelas usavam
encantos especiais e curvavam-se em um poço, nuas, para verem o reflexo de seu
futuro marido. Em outra tradição que continua ainda hoje, uma mulher solteira
recolhe sete flores diferentes e coloca-as sob o seu travesseiro para sonhar
com seu futuro marido.
Uma
característica importante do solstício de verão na Finlândia é a noite branca e
o sol da meia-noite. Como o território do país está localizado em torno do
círculo polar ártico, as noites perto do dia da celebração são curtas ou
inexistentes. Isto dá um grande contraste com a escuridão do inverno. A
temperatura pode variar entre 0 °C e 30 °C, com uma média de cerca de 20 °C no
sul. Muitos finlandeses deixam as cidades no feriado e passam o tempo no campo.
Hoje em dia muitos passam todas as suas férias em uma casa de campo. Os rituais
incluem fogueiras, churrascos, uma sauna e passar o tempo junto de amigos e
familiares.
França
A
Fête de la Saint-Jean (Festa de São João), tal como no Brasil e em Portugal, é
comemorada em 24 de junho e tem, como maior característica, a fogueira. Em
certos municípios franceses, uma alta fogueira é erigida pelos habitantes
homenageando São João Batista. Trata-se de uma festa católica, embora ainda
sejam mantidas certas tradições pagãs que a originaram. Na região de Vosges, a
fogueira é chamada chavande.
Festa
de São João, por Jules Breton (1875).
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Noruega
Como
na Dinamarca, o Sankthansaften é comemorado em 23 de junho na Noruega. O dia
também é chamado de Jonsok, que significa "despertar de João",
importante em tempos católicos romanos com peregrinações a igrejas e fontes
sagradas. Por exemplo, até 1840, havia uma peregrinação à Igreja do Stave
Røldal em Røldal (sudoeste da Noruega), cujo crucifixo teria poderes curativos.
Hoje, no entanto, o Sankthansaften é amplamente considerado como um evento
secular ou mesmo pré-cristão. Na maioria dos lugares, o evento principal é a
queima de uma grande fogueira. No oeste da Noruega, um costume de arranjar
casamentos simulados, tanto entre adultos como entre crianças, ainda é mantido
vivo.
Fogueira
em Bergen, Noruega
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Polônia
As
tradições juninas da Polônia estão associadas principalmente às regiões da
Pomerânia e da Casúbia, e a festa é comemorada em 23 de junho, chamada
localmente 'Noc Świętojańska" (Noite de São João). A festa dura o dia
todo, começando às 8h da manhã e varando a madrugada. De maneira análoga à
festa brasileira, uma das características mais marcantes é o uso de fantasias;
no entanto, não de trajes camponeses como no Brasil, mas de vestimentas de
piratas. Acendem-se fogueiras para marcar a celebração. Em algumas das grandes
cidades polonesas tais como Varsóvia e Cracóvia, essa festa faz parte do
calendário oficial da cidade.
Portugal
Em
Portugal, estas festividades, genericamente conhecidas pelo nome de
"Festas dos Santos Populares", correspondem a diferentes feriados
municipais. Nas cidades do Porto e de Braga em Portugal, o São João é festejado
com uma intensidade inigualável, sendo que a festa é, à semelhança do que
acontece no Nordeste do Brasil, entregue às pessoas que passam o dia e a noite
nas ruas das cidades, que são autênticos arraiais urbanos.
Festas
de São João são ainda celebradas em alguns países europeus católicos,
protestantes e ortodoxos (França, Irlanda, os países nórdicos e do Leste
europeu). As fogueiras de São João e a celebração de casamentos reais ou
encenados (como o casamento fictício no baile da quadrilha nordestina e na
tradição portuguesa) são costumes ainda hoje praticados em festas de São João
europeias. É ainda costume a realização de fogueiras onde o combustível é o
rosmaninho.
Rússia/Ucrânia/Bielorrússia
Noite da Véspera de Ivan Kupala, por Henryk Hector Siemiradzki |
A
festa de Ivan Kupala (João Batista) é conhecida como a mais importante de todas
as festas dos povos eslavos orientais de origem pagã, e vai desde 23 de junho
até 6 de julho. Há a lenda de que na noite de Ivan Kupala, aparece a flor da
samambaia e quem a encontrar será rico e feliz para sempre (essa flor não
existe). É um rito de celebração pelo verão, que foi absorvido pela Igreja
Ortodoxa. Muitos dos rituais das festas juninas eslavas estão relacionados com
o fogo, a água, a fertilidade e a auto-purificação. As moças, por exemplo,
colocam guirlandas de flores na água dos rios para ter sorte. É bastante comum
também a brincadeira de saltar por cima das fogueiras. As festas juninas
eslavas inspiraram o compositor Modest Mussorgsky a compor sua famosa obra
"Noite no Monte Calvo".
Suécia
As
festas juninas da Suécia (Midsommarafton) são as mais famosas do mundo. São
consideradas a festa nacional sueca por excelência, comemorada ainda mais
assiduamente do que o Natal. Realizam-se entre 20 e 26 de junho, sendo a
sexta-feira o dia mais tradicional. Uma de suas características mais
tradicionais é as danças em círculo ao redor do majstången (mastro de maio) ,
um mastro colocado no centro da aldeia. Quando o mastro é erigido, são atiradas
flores e folhas. Tanto o majstången quanto o mastro de São João brasileiro se
originaram do "mastro de maio" dos povos germânicos.
Celebração
do solstício de verão em Årsnäs, na Suécia
|
Durante
a festa, cantam-se vários cânticos tradicionais da época e as pessoas se vestem
num estilo rural, tal como no Brasil. Por acontecer no início do verão, são
comuns as mesas cheias de alimentos típicos da época, tais como morangos e
batatas. Também são tradicionais as simpatias, sendo a mais famosa a das moças
que constroem buquês de sete ou nove flores de espécies diferentes e os colocam
sob o travesseiro na esperança de sonhar com o futuro marido. No passado,
acreditava-se que as ervas colhidas durante esta festa seriam altamente
poderosas, e a água das fontes daria boa saúde. Também nessa época, decoram-se
as casas com arranjos de folhas e flores, para trazer boa sorte, segundo a
superstição.
Durante
esse feriado, as grandes cidades suecas tais como Estocolmo e Gotemburgo ficam
semi-desertas, pois as pessoas viajam para suas casas de veraneio para realizar
as festas. Os acidentes com balões são muito frequentes.