A
história de Roma remonta a 753 a.C.,
com a fundação de um pequeno povoado na península Itálica. Embora a fundação
tenha ocorrido no século VIII a.C., o mais antigo registro escrito é o
estabelecido pelo historiador Marco Terêncio Varrão (116 a.C. - 27 a.C.)
durante o reino de Augusto, cerca de 500 anos após o fato.
Com o tempo, Roma
tornou-se o centro de uma vasta civilização que dominou a região mediterrânica
durante séculos, e que seria derrubada por algumas tribos germânicas, dando
início à era historiográfica da Idade Média. Tornou-se a sede da Igreja
Católica e, por pressão das circunstâncias políticas, seria obrigada a ceder
parte de si, no seu interior, para formar um Estado independente, a Cidade do
Vaticano. Continuou, no entanto, a desempenhar um papel importante na política
global, tal como o fez na história e cultura dos povos europeus durante
milênios.Fórum Romano |
Roma
Antiga foi uma civilização que se desenvolveu a partir da cidade-Estado de
Roma, fundada na península Itálica durante o século VIII a.C. Durante os seus
doze séculos de existência, a civilização romana transitou da monarquia para
uma república oligárquica até se tornar um vasto império que dominou a Europa
Ocidental e ao redor de todo o mar Mediterrâneo através da conquista e assimilação
cultural. No entanto, um rol de fatores sócio-políticos iria agravando o seu
declínio, e o império seria dividido em dois. A metade ocidental, onde estavam
incluídas a Espanha, a Gália e a Itália, entrou em colapso definitivo no século
V e deu origem a vários reinos independentes; a metade oriental, governada a
partir de Constantinopla passou a ser referida como Império Bizantino a partir
de 476 d.C., data tradicional da queda de Roma e aproveitada pela
historiografia para demarcar o início da Idade Média.
Fundação de Roma
A
etimologia do nome da cidade é incerta, e são várias as teorias que nos chegam
desde a Antiguidade. A menos provável indica-nos que derivaria da palavra grega
Ρώμη (Róme), que significa "bravura", "coragem". A mais
provável é a ligação com a raiz *rum-, "seios", com possível
referência a uma loba (em latim, lupa) que teria adotado os gémeos Rômulo e
Remo que, segundo se pensa, seriam descendentes dos povos de Lavínio. Rômulo mataria o seu irmão e fundaria Roma.
Nas
últimas décadas, os progressos na língua etrusca e na arqueologia na Itália
reduziram as probabilidades destas teorias, introduzindo novas hipóteses
possíveis. Sabe-se, atualmente, que o etrusco era falado desde a região que se
tornaria mais tarde na província romana de Récia, nos Alpes, até à Etrúria,
incluindo o Lácio e toda a região para Sul, até Cápua. As tribos itálicas
entraram no Lácio a partir de uma região montanhosa no centro da península
Itálica, vindos da costa oriental. Apesar das circunstâncias da fundação de
Roma, a sua população original era, por certo, uma combinação da civilização
etrusca e povos itálicos, com uma provável predominância de etruscos.
Gradualmente, a infiltração itálica aumentaria, ao ponto de predominar sobre os
Etruscos; i.e., as populações etruscas seriam assimiladas pelas itálicas,
dentro e fora de Roma.
Os
Etruscos dispunham da palavra Rumach, "de Roma", de onde pode ser
extraído "Ruma". Adiante na etimologia, tal como na maioria das
palavras etruscas, permanece desconhecido. Que talvez possa significar "teta"
é pura especulação. As associações mitológicas posteriores colocam em dúvida
esse significado; afinal, nenhum dos colonizadores originais foi criado por
lobos, e é pouco provável que os fundadores tivessem tido algum conhecimento
sobre este mito acerca deles mesmos. O nome, Tibério, pode perfeitamente conter
o nome do Tibre (em italiano: Tevere). Acredita-se atualmente que o nome
provenha de uma nome etrusco, Thefarie, e nesse caso o Tibre derivaria de
*Thefar.
Primeiros povos itálicos
Roma
cresceu com a sedentarização dos povos no monte Palatino até outras colinas a
oito milhas do mar Tirreno, na margem Sul do rio Tibre. Outra destas colinas, o
Quirinal, terá sido, provavelmente, um entreposto para outro povo itálico, os
Sabinos. Nesta zona, o Tibre esboça uma curva em forma de "Z"
contendo uma ilha que permite a sua travessia. Assim, Roma estava no cruzamento
entre o vale do rio e os comerciantes que viajavam de Norte a Sul pelo lado ocidental
da península.
Mapa das línguas itálicas antigas |
A
data tradicional da fundação (21 de abril de 753 a.C.) foi convencionada bem
mais tarde, no final da República por Públio Terêncio Varrão, atribuindo uma
duração de 35 anos a cada uma das sete gerações correspondentes aos sete
mitológicos reis. Foram, no entanto, descobertas peças arqueológicas que
indicam que a área de Roma poderá já ter estado habitada tão cedo quanto 1 400
a.C.. Estas descobertas arqueológicas também confirmaram que no século VIII
a.C., na área da futura Roma, houve duas povoações fortificadas, os Rumi, no
monte Palatino, e os Titientes, no Quirinal, e, mais a Norte, os Luceres, que
viviam nos bosques. Eram estas apenas três das numerosas comunidades itálicas
que existiram no primeiro milênio a.C. na região do Lácio, uma planície na
península Itálica. No entanto, desconhecem-se as origens destes povos, embora
se admita que possam descender dos indo-europeus que migraram do Norte dos
Alpes na segunda metade do segundo milênio a.C., ou de uma eventual mistura destes
povos com outros povos mediterrânicos, talvez do Norte de África.
No
século VIII a.C., os itálicos — Latinos (a Oeste), Sabinos (no vale superior do
Tibre), Úmbrios (no nordeste), Samnitas (no Sul), Oscos e outros — partilhavam
a península com outros grandes grupos étnicos: os Etruscos do Norte e os Gregos
do Sul.
Os
Etruscos estavam estabelecidos a Norte de Roma, na Etrúria (uma zona
correspondente ao atual Norte do Lácio e Toscana). Teriam sido eles uma grande
influência na cultura romana, como claramente demonstrado pela origem etrusca
dos sete reis mitológicos.
Entre
750 a.C. e 550 a.C., os Gregos teriam já fundado várias colônias a Sul da
península (que os romanos mais tarde designariam por Magna Grécia), como Cumas,
Neápolis e Tarento, bem como nos dois terços orientais da Sicília.
Reino de Roma
Após
650 a.C., os Etruscos tornaram-se dominantes na península Itálica,
expandindo-se para o centro-norte da região. Alguns historiadores modernos
consideram que a este movimento estava associado o desejo de dominar Roma e
talvez toda a região do Lácio, embora o assunto seja controverso. A tradição
romana apenas nos informa que a cidade foi governada por sete reis de 753 a.C.
a 509 a.C., iniciando-se com o mítico Rômulo que, juntamente com o seu irmão,
Remo, teriam fundado Roma. Sobre os últimos três reis, especialmente Tarquínio
Prisco e Tarquínio, o Soberbo, informa-nos ainda que estes seriam de origem
etrusca — segundo fontes literárias antigas, Prisco seria filho de um refugiado
grego e de uma mãe etrusca — e cujos nomes se referem a Tarquinia.
O
valor historiográfico da lista de reis é, contudo, dúbio, embora os últimos
reis pareçam ter sido figuras históricas. Crê-se, também — embora contestado em
controvérsia — que Roma teria estado sob influência etrusca durante quase um
século, durante este período. Sabe-se, porém, que nestes anos foi construída
uma ponte designada Ponte Suplicia, que viria a substituir um baixio do rio
Tibre utilizado para a sua travessia, e a Cloaca Máxima, o sistema romano de
esgotos, obras de engenharia com um traçado típico da civilização etrusca. Do
ponto de vista técnico e cultural, os Etruscos são considerados como o segundo
maior impacto no desenvolvimento romano, apenas suplantados pelos Gregos.
Continuando
a expansão, para Sul, os Etruscos estabeleceram contato direto com os Gregos.
Após o sucesso inicial nos conflitos com os Gregos colonizadores, a Etrúria
entraria em declínio. Aproveitando-se da situação, a cerca de 500 a.C., dá-se
uma rebelião em Roma que lhe iria dar a independência dos etruscos. A monarquia
foi também abolida em detrimento de um sistema republicano baseado num senado,
composto pelos nobres da cidade, alguns populares representantes, que iriam
garantir a participação política aos cidadãos de Roma, e magistrados eleitos
anualmente.
Contudo,
o legado etrusco mostrou-se duradouro: os Romanos aprenderam a construir
templos, e pensa-se que os primeiros tenham sido os responsáveis pela
introdução da adoração a uma tríade divina — Juno, Minerva, e Júpiter —
possivelmente correspondentes aos deuses etruscos, Menrva e Tinia. Em suma, os
etruscos transformaram Roma, uma comunidade pastoral, numa verdadeira cidade,
imprimindo-lhe alguns aspectos culturais da cultura grega, que teriam adotado,
como a versão ocidental do alfabeto grego.
República Romana
No
virar para o século V a.C., Roma uniu-se às cidades latinas como medida
defensiva das incursões dos Sabinos. Vencedora da Batalha do Lago Regilo, em
493 a.C., Roma estabeleceu novamente a supremacia sobre as regiões latinas que
perdera com a queda da monarquia. Após séries de lutas, a supremacia veio a
consolidar-se em 393 a.C., com a subjugação dos Volscos (volsci) e dos Équos
(aequi). No ano anterior, já teriam resolvido a ameaça dos vizinhos Veios,
conquistando-os. A potência etrusca estava agora confinada exclusivamente à sua
própria região, e Roma tornara-se na cidade dominante do Lácio. No entanto, em
387 a.C., Roma seria saqueada pelos Gauleses liderados por Breno, que já tinha
sido bem-sucedido na invasão da Etrúria. Esta ameaça seria rapidamente
resolvida pelo cônsul Marco Fúrio Camilo, que derrotou Breno em Túsculo pouco
depois.
Para
assegurar a segurança do seu território, Roma empenhou-se na reconstrução dos
edifícios e tornou-se ela própria a invasora, ao conquistar a Etrúria e alguns
territórios aos gauleses, mais a norte. Em 345 a.C., Roma voltou-se para Sul, a
combater outros latinos, na tentativa de assegurar o seu território contra
posteriores invasões. Neste quadrante, o seu principal inimigo eram os temidos
samnitas que já haviam derrotado as legiões em 321 a.C.
Apesar
desses e outros contratempos temporais, os Romanos prosseguiram a sua expansão
casual de forma equilibrada. Em 290 a.C., Roma já controlava mais de metade da
península Itálica e, durante esse século ainda, os Romanos apoderaram-se também
das poleis da Magna Grécia mais a sul.
Segundo
a lenda, Roma tornou-se numa República em 509 a.C., quando um grupo de
aristocratas expulsou Tarquínio, o Soberbo. No entanto, foram necessários
vários séculos até Roma assumir a forma monumental com que é popularmente
concebida. Durante as Guerras Púnicas, entre Roma e o grande império
mediterrânico de Cartago, o estatuto de Roma aumentou mais ainda, já que
assumia cada vez mais o papel de uma capital de um império ultramarino pela
primeira vez. Iniciada no século II a.C., Roma viveu uma significativa explosão
populacional, com os agricultores ancestrais a trocarem as suas terras pela
grande cidade, com o advento das quintas operadas por escravos obtidos durante
as conquistas, os latifúndios.
Em
146 a.C., os Romanos arrasaram as cidades de Cartago e Corinto, anexando o
Norte de África e a Grécia ao seu império e transformando Roma na cidade mais
importante da parte ocidental do Mediterrâneo. A partir daqui, até ao final da
república, os cidadãos iriam empenhar-se numa corrida de prestígio, suportando
a construção de monumentos e grandes estruturas públicas. Talvez a mais notável
tenha sido o Teatro de Pompeu, erigido pelo general Gneu Pompeu Magno (Pompeu),
que era o primeiro teatro de carácter permanente alguma vez construído na
cidade. Depois de Júlio César regressar vitorioso das conquistas gálicas e
subsequente guerra civil com Pompeu, embarcou num programa de reconstrução sem
precedentes na história romana. Seria, no entanto, assassinado em 44 a.C. com a
maioria dos seus projetos ainda em construção, como a Basílica Júlia e a nova
casa do senado romano (Cúria Hostília).
Império Romano
No
final da república, a cidade de Roma ostentava já a imponência de uma
verdadeira capital de um império que dominava a totalidade do Mediterrâneo.
Era, na altura, a maior cidade do mundo e provavelmente a mais populosa cidade
já construída até o século XIX. Estimativas dos picos populacionais variam
entre menos de 500.000 e mais de 3,5 milhões, embora valores mais populares
pelos historiadores variem entre 1 milhão e 2 milhões. A grandeza da cidade
aumentou com as intervenções de Augusto, que completou os projetos de César e iniciou
os seus próprios, como o Fórum de Augusto, e o Ara Pacis ("Altar da
Paz"), em celebração do período de paz vivido na altura (Pax Romana),
redefinindo também a organização administrativa da cidade em 14 regiões. Os
sucessores de Augusto tentaram prosseguir essa linha edificadora deixando as
suas próprias contribuições na cidade. O grande incêndio de Roma, durante o
reinado de Nero, iria destruir grande parte da cidade mas, por sua vez, iria
permitir e impulsionar uma nova vaga do desenvolvimento edificador.
As mulheres romanas valorizavam muito a pele pálida. |
Por
esta altura, Roma era uma cidade subsidiada, com cerca de 15 a 25 por cento do
abastecimento de cereais sendo pagos pelo governo. O comércio e a indústria
desempenhavam um papel menos significante quando comparado com os de outras
grandes cidades como Alexandria, mas assim mesmo era uma grande metrópole e o
maior centro comercial e industrial do mundo, por isso ela tinha uma
dependência de outras regiões do império para obter gêneros primários e
matérias primas. Para pagar os subsídios de cereais, foram introduzidos
impostos na vida dos cidadãos das províncias. Se assim não fosse, Roma seria
significativamente menor.
A
população de Roma entrou em declínio logo após o seu pico, no início do século
II. No final desse século, durante o reinado de Marco Aurélio, uma praga
devastaria os cidadãos a uma taxa de cerca de 2.000 por dia. Quando, em 273
d.C., a muralha Aureliana foi concluída, apenas restava uma fracção desse
máximo da população de Roma: cerca de 500.000.
Um
evento Historiograficamente designado de "crise do terceiro século"
delineia os desastres e problemas políticos do império, que praticamente
entrava em colapso. O medo e a ameaça das invasões bárbaras esteve patente na
decisão do imperador Aureliano que, em 273 d.C., terminou a circunscrição da
cidade com a maciça muralha Aureliana, cujo perímetro rondava os 20
quilómetros. Roma permanecia a capital do Império, embora os imperadores aí
permanecessem cada vez menos tempo. No final das reformas políticas de
Diocleciano, no século III, Roma seria privada do seu tradicional papel de
capital administrativa do império. Mais tarde, os imperadores do Ocidente iriam
governar o império a partir de Mediolano (atual Milão) ou Ravena, ou cidades na
Gália e, em 330 d.C., Constantino I estabeleceu a segunda capital em
Constantinopla. Por esta altura, parte da classe aristocrática romana
transferia-se para o novo centro, seguida por muitos dos artistas e
homens-de-ofício que viviam na cidade.
Os Aquedutos Romanos |
No
entanto, o senado, agora desprovido da sua influência política de outrora,
preservava o seu prestígio social. Em 380 d.C., os dois augustos (Teodósio I no
Oriente e Graciano no Ocidente) declararam reconhecer como única religião no
império "a fé que a Igreja Romana havia recebido de São Pedro" A
conversão do império ao cristianismo transformou o Bispo de Roma (mais tarde
designado papa) na figura religiosa de maior relevo do Império Ocidental, como
declarado oficialmente em 380 d.C., no Édito de Tessalónica. Apesar do seu
papel cada vez mais passivo no império, Roma conseguiu preservar o seu
prestígio histórico, e este período assistiria à última vaga de atividades
edificadoras: o predecessor de Constantino, Magêncio, construiu notáveis
edifícios, como a basílica no Fórum Romano, o próprio Constantino erigiu o seu
famoso arco para celebrar a vitória contra o primeiro, e Diocleciano
construiria as maiores termas de todas as existentes. Constantino tornou-se
também no primeiro padroeiro de edifícios oficiais cristãos na cidade; doou ao
papa o Palácio de Latrão e construiu a primeira grande basílica, a antiga
Basílica de São Pedro.
Roma
permanecia, contudo, um estandarte do paganismo, dirigida por aristocratas e
senadores. Quando os Visigodos surgiram perto das muralhas em 408 a.C., o
senado e o prefeito propuseram sacrifícios pagãos, e tudo indica que inclusive
o papa estaria de acordo, se isso pudesse salvar a cidade. Ainda assim, nem as
novas muralhas impediram que a cidade fosse saqueada, primeiro pelo visigodo
Alarico a 24 de agosto de 410 d.C., e depois pelo vândalo Genserico em 455 a.C.
e, mais tarde ainda, pelas tropas do general Ricimero (na maioria compostas por
bárbaros) a 11 de julho de 472 d.C. Os saques da cidade, inéditos desde os
tempos de Breno, alarmaram toda a civilização romana: a queda de Roma
significava o derrube definitivo da ordem antiga. Muitos habitantes fugiram e,
no final do século, a população de Roma caía para cerca de 30 000.
Antes chamado apenas de Anfiteatro Flaviano - Coliseu |
Ainda
assim, o prejuízo dos saques terá sido provavelmente exagerado na
historiografia da época. A cidade encontrava-se já em declínio, e muitos dos monumentos
teriam já sido destruídos pelos próprios habitantes, que roubavam rochas dos
templos, edifícios públicos e estátuas próximas para o seu propósito pessoal —
é mesmo frequente encontrar nos dias de hoje estátuas e pedaços arqueológicos
utilizados em casas habitacionais por toda a cidade. Além disso, muitas das
igrejas teriam sido também construídas desta forma. Por exemplo, a primeira
basílica de São Pedro foi erigida usando partes do Circo de Nero, abandonado.
Esta atitude foi uma característica constante de Roma até ao Renascimento. A
partir do século IV, eram comuns os éditos imperiais contra o roubo de pedras
e, especialmente, do mármore - a sua própria repetição mostra o quão
inefectivos seriam. Em algumas ocasiões, novas igrejas foram criadas diretamente
a partir de templos pagãos, provavelmente transformando um deus ou herói pagão
para o correspondente santo ou mártir do cristianismo. Foi assim que o Templo
de Rômulo e Remo se tornou a basílica dos santos gémeos Cosme e Damião. Mais
tarde, o Panteão, "Templo de Todos os Deuses", se tornaria a Igreja
de Todos os Mártires.
Roma medieval
As invasões bárbaras e o domínio
bizantino
Em
476 d.C., o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, que vinha sendo
manipulado (como a maioria dos imperadores neste período) pelo pai, o general
Flávio Orestes, foi deposto pelas tropas bárbaras lideradas por Odoacro e
exilado no Castelo do Ovo, em Nápoles. A queda do Império Romano do Ocidente
teria, no entanto, pouco impacto em Roma. Odoacro, e mais tarde os Ostrogodos,
continuariam a governar a Itália a partir de Ravena. Entretanto, o senado,
apesar de desprovido da sua grande influência há muito tempo, continuaria a
dirigir Roma, com o papa provindo geralmente de uma família senatorial. Esta
situação manter-se-ia até as forças do Império Romano do Oriente, encabeçadas
por Belisário a mando de Justiniano I, capturarem a cidade em 536 d.C..
Em
17 de dezembro de 546 d.C., os Ostrogodos de Totila recapturaram a cidade e
novamente a saquearam. Belisário recapturou a cidade, para a perder novamente
em 549 d.C.. Belisário foi substituído por Narses, que capturou Roma
definitivamente em 552 d.C., terminando a Guerra Gótica que arrasou a península
Itálica. A contínua guerra em redor de Roma entre as décadas de 530 e 540
deixaram-na praticamente abandonada e desolada. Os aquedutos não foram mais
reparados, conduzindo a uma redução da população para cerca de 30.000,
concentrados nas margens do rio Tibre, na zona do Campo de Marte, abandonando
as zonas sem abastecimento de água. Existe mesmo uma lenda que fala de um
momento em que Roma estaria completamente inabitada.
O
Imperador Romano do Oriente Justiniano I (r. 527 d.C. – 565 d.C.) tentou, ainda
assim, garantir subsídios a Roma para a manutenção dos edifícios públicos,
aquedutos e pontes, embora sem grande sucesso, já que toda a península da
Itália estava dramaticamente empobrecida pelas recentes guerras. Transformou-se
também no padroeiro dos estudiosos, oradores, físicos e magistrados que
restavam, na esperança de que os mais novos procurassem uma melhor educação.
Após as guerras, as estruturas do Senado foram restabelecidas sob a supervisão
de um prefeito e outros oficiais designados e responsabilizados pelas
autoridades romanas (bizantinas) em Ravena.
No
entanto, o papa tornara-se um dos ícones religiosos em todo o Império Bizantino
e, efetivamente, mais poderoso localmente que os senadores ou quaisquer outros
oficiais bizantinos. Na prática, o poder local de Roma recaía sobre o Papa e,
ao longo das próximas décadas, o poder aristocrático senatorial, bem como a
administração bizantina de Roma, iriam ser absorvidos pela Igreja Católica.
O
reinado do sobrinho e sucessor de Justiniano, Justino II (r. 565 d.C. – 578
d.C.) ficou marcado pela invasão dos Lombardos liderados por Alboíno (568
d.C.). Com a captura das regiões de Benevento, Lombardia, Piemonte, Espoleto e
Toscana, os invasores restringiram efetivamente a autoridade imperial a
pequenas porções de terra ao redor de cidades costeiras, incluindo Ravena,
Nápoles, Roma e a área da futura Veneza. A única porção ainda sob domínio
bizantino era Perúgia, que permitia a ligação, repetidamente assediada, entre
Roma e Ravena. Em 578 d.C., e novamente em 580 d.C., o senado, nas suas últimas
intervenções de que há registo, foi obrigado a recorrer ao auxílio de Tibério
II (r. 578 d.C. – 582 d.C.) contra os duques que se aproximavam, Faroaldo I de
Espoleto e Zoto de Benevento.
Maurício
I (r. 582 d.C. – 602 d.C.) iria inserir um novo facto no contínuo conflito
estabelecendo uma aliança com Childeberto II da Austrásia (r. 575 d.C. – 595
d.C.. Os exércitos do rei dos francos invadiram os territórios da Lombardia em
584 d.C.,585 d.C. 588 d.C. e 590 d.C. e, no ano anterior, Roma tinha já sofrido
uma desastrosa inundação do rio Tibre, seguida de uma praga de peste negra em
590 d.C. — esta última tornou-se famosa pela lenda associada à procissão do
novo papa, Gregório I (590 d.C. –604 d.C.), pelas Tumbas de Adriano, que fala
de um anjo que surgiu sobre o edifício investindo a sua espada flamejante, como
sinal de que a pestilência iria terminar. A partir deste ano a cidade
manteve-se finalmente a salvo.
Entretanto,
Agilulf, o novo rei lombardo (r. 591 d.C. – c. 616 d.C.) conseguiu assegurar a
paz com Childeberto II, reorganizou os seus territórios e prosseguiu os ataques
a Nápoles e Roma em 592. Com o imperador ocupado com as guerras nas fronteiras
orientais e os sucessivos exarcas , incapazes de defender Roma das invasões,
Gregório tomou a iniciativa de iniciar as negociações para um tratado de paz,
que seria conseguido no Outono de 598 d.C. — embora só mais tarde reconhecido
por Maurício — durando até ao final do seu reinado.
A
posição do papa ver-se-ia fortalecida pelo usurpador Focas (r. 602 d.C. – 610
d.C.). Focas reconheceu a sua primazia sobre o Patriarca de Constantinopla e
chegou mesmo a decretar o papa Bonifácio III (607 d.C.) como
"representante de todas as Igrejas". Foi no reinado de Focas que se
assistiu à ereção do último monumento imperial do Fórum Romano, a coluna que
ostentava o seu nome. Também doou ao papa o Panteão, já encerrado fazia
séculos, o que provavelmente o salvou da destruição.
Durante
o século VII, um influxo de oficiais bizantinos e religiosos de outras partes
do império culminou numa presença dominante da língua e aristocracia grega. No
entanto, esta forte influência cultural bizantina nem sempre se traduziu em
harmonia política entre Roma e Constantinopla. Na controvérsia sobre o
Monotelismo, os papas sentiram a grande pressão (chegando mesmo a traduzir-se
fisicamente) por não conseguirem acompanhar as alterações nas orientações
teológicas de Constantinopla. Em 653 d.C., o papa Martinho I| seria deportado
para Constantinopla e, logo após um breve julgamento, exilado para a Crimeia,
onde faleceu.
Pouco
depois, em 663 d.C., Roma recebia a sua primeira visita imperial dos últimos
dois séculos, por Constâncio II - o seu pior infortúnio desde as Guerras
Gálicas, já que o imperador tratou de retirar os metais que existiam na cidade,
incluindo aqueles dos edifícios e estátuas, para disponibilizá-los para a
construção de armamento para as lutas contras os Sarracenos. Contudo, durante a
metade seguinte do século, e apesar das tensões várias vividas, Roma e o Papado
continuaram a preferir a regência bizantina - em parte porque a alternativa
seria a dominação Lombarda e, por outro lado, porque a maioria dos alimentos
trazidos para Roma provinham de estados papais de outras partes do império,
particularmente da Sicília.
Em
727 d.C., o papa Gregório II recusou aceitar os decretos do imperador Leão III,
o Isáurio, estabelecendo a iconoclastia. A reação inicial de Leão foi de tentar
raptar o Pontífice, em vão, mas mais tarde mandaria uma força de tropas
Bizantinas, sob o comando do exarca Paulo, que seriam contidas pelos Lombardos
de Tuscia e Benevento. A 1 de novembro de 731 d.C., foi convocado por Gregório
III um sínodo em Roma para excomungar os iconoclastas, cuja resposta do
imperador foi a confiscação de grandes porções de territórios papais na Sicília
e Calábria e a transferência de várias zonas de domínio eclesiástico do papa
sob controlo bizantino para o Patriarca de Constantinopla (a criação do
patriarca de Grado, separando-o da jurisdição do Aquileia). Roma, sob domínio
do papa, foi assim expulsa do Império Bizantino.
Durante
este período, o Reino Lombardo atravessava uma fase de renascimento, sob a
liderança de Liutprando. Em 730 d.C. mandou uma razia contra Roma para punir o
papa, que teria apoiado o duque de Espoleto. Ainda que protegido pela muralha maciça
da cidade, o papa pouco podia fazer contra o rei lombardo, que entretanto
conseguia aliar-se aos bizantinos. Gregório III, compreendendo a impotência de
resistir a tal aliança, foi o primeiro papa a pedir ajuda, pela primeira vez de
forma oficial, ao reino dos Francos, então sob o comando de Carlos Martel (739
d.C.).
O
sucessor de Liutprand, Astolfo, foi ainda mais agressivo: conquistou Ferrara e
Ravena, terminando assim o Exarcado de Ravena. Roma seria, provavelmente, a
próxima vítima. Em 754 d.C., o papa Estêvão III dirigiu-se a França para nomear
Pepino o Breve, rei dos Francos, como patricius romanorum, i.e., protector de
Roma. Em agosto do mesmo ano, o rei e o papa atravessaram os Alpes para
derrotar Astolfo, em Susa, conseguindo fazê-lo prometer que iria desistir dos
conflitos com o papa, devolvendo-lhe os territórios ocupados. No entanto,
quando Pepino regressou a Saint-Denis, Astolfo faltou à promessa e cercou Roma
durante 56 dias, em 756 d.C., desistindo assim que souberam da notícia do regresso
de Pepino à Itália. Desta vez concordaria em entregar ao papa os territórios
prometidos, e assim nasciam os Estados Pontifícios.
Em
771 d.C., o novo rei dos Lombardos, Desidério, concebeu um estratagema para
conquistar definitivamente Roma e depor o papa Estêvão III. O seu principal
aliado seria Paulus Afiarta, líder da facção lombarda residente na cidade.
Contudo, o plano não seria bem-sucedido, e o sucessor de Estevão, o papa
Adriano I invocou Carlos Magno a declarar guerra a Desidério, que seria finalmente
derrotado em 773 d.C. O reino lombardo foi dissolvido, e Roma foi colocada na
órbita de uma nova e grande instituição política.
Sacro Império Romano-Germânico
A
25 de abril de 799 d.C., enquanto o novo papa, Leão III, conduzia a tradicional
procissão de Latrão em direção à Igreja de São Lourenço em Lucina, ao longo da
Via Lata , o trecho urbano da Via Flamínia (atual Via del Corso), dois nobres
(seguidores do predecessor, Adriano), a quem não agradavam as fraquezas do papa
em relação a Carlos Magno, atacaram o comboio processional deixando o papa
gravemente ferido. Leão fugiu ao encontro do rei dos francos e, em novembro de
800 d.C., o rei entrou em Roma liderando um forte exército e um grande número
de bispos francos. Carlos Magno organizou então um tribunal judicial para
decidirem se Leão deveria continuar o Papado, ou se as reivindicações dos
conjuradores seriam válidas ou não. No entanto, este tribunal fazia parte de
uma cadeia de eventos minuciosamente planeados que iriam surpreender o mundo: O
papa, naturalmente absolvido, e os conspiradores exilados, iria coroar Carlos
Magno como Imperador Romano do Ocidente na basílica de São Pedro, a 25 de
dezembro de 800. Esta atitude cessou definitivamente a lealdade de Roma para
com a sua "metade", Constantinopla, criando um império rival que,
após uma série de conquistas por Carlos Magno, englobava agora a maioria dos
territórios ocidentais cristãos.
Após
a morte de Carlos Magno, a inexistência de uma figura de igual prestígio
provocou alguns desentendimentos na nova instituição. Ao mesmo tempo, a Igreja
Romana enfrentava as demandas laicas da própria cidade, apressadas pela
convicção de que o romano, embora empobrecido e desvalorizado, retinha o
direito de eleger o novo imperador Ocidental. O papa reivindicava um território
que ia de Ravena a Gaeta, o que significaria a soberania sobre Roma. No
entanto, esta soberania seria continuamente disputada ao longo dos séculos
seguintes, e apenas os papas mais fortes politicamente conseguiram mantê-la. A
principal fraqueza do Papado era a precisamente a necessidade da eleição de
novos papas, de tempos a tempos, na qual as famílias nobres emergentes
rapidamente procuravam obter um papel de liderança. As potências vizinhas,
nomeadamente o Ducado de Espoleto e a Toscana, e mais tarde os imperadores,
aprenderam como tirar partido desta fraqueza interna e, consequentemente,
tornavam-se árbitros entre os candidatos.
Assim,
o ambiente vivido em Roma era próximo da anarquia. O momento mais escandaloso
verificou-se em 897 d.C. com a exumação do cadáver do Formoso para ser julgado
num tribunal. Estas crises foram agravadas pelo surgimento de uma nova ameaça,
os Árabes ou, como os italianos medievais os referiam, os Sarracenos: estes
recém-chegados provindos do Norte de África já tinham conquistado a Sicília e a
sua penetração no Sul da Itália estava a ser conduzida de forma eficaz. A
infiltração de bandos de piratas levou o terror aos territórios em redor de
Roma, ao qual o Pascoal I (817 d.C.–824 d.C.) respondeu realojando os restos de
todos os santos mártires entre os muros da cidade. Ainda assim, esta medida não
impediu os muçulmanos de saquearem a Basílica de São Pedro em 846 d.C.. Em 852
d.C., o Leão IV encarregou a construção de nova muralha ao redor de uma área na
margem do Tibre oposta às sete colinas, que passaria a ser referida como
"Cidade Leonina".
Comuna de Roma
Por
esta altura, a entretanto renovada Igreja Romana estava novamente a atrair
peregrinos e prelados de toda as partes do mundo cristão, trazendo os seus
dinheiros consigo: apesar da população reduzida (ca. 30.000), Roma
transformava-se de novo numa cidade dependente dos consumidores, desta vez
dirigida pela burocracia governamental. Entretanto, as outras cidades da
península Itálica, dirigidas fundamentalmente por novas famílias que se iam
sobrepondo à velha aristocracia, iam aumentando a sua autonomia formando uma
nova classe de empreendedores, comerciantes e mercantes. Logo após o saque de
Roma pelos Normandos, em 1084, a reconstrução da cidade foi suportada por
famílias poderosas, como os Frangipane e os Pierleoni, cujo financiamento
provinha do comércio e bancos, mais do que das terras. Inspirado pelas cidades
vizinhas, como Tivoli e Viterbo, também o povo romano começou a considerar para
a cidade o estatuto de comuna e, consequentemente, numa maior autonomia face à
autoridade papal.
Impulsionados
pelas palavras do contestado pregador Arnaldo de Bréscia, um idealista e feroz
opositor da propriedade eclesiástica e da interferência da Igreja nos assuntos
internos, os romanos rebelaram-se em 1143. O senado e a república romana
renasciam, portanto. No entanto, a Roma do século XII partilhava pouco daquela
que havia governado o Mediterrâneo 700 anos antes, e rapidamente o senado se
via em esforço constante para sobreviver, alternando o suporte ao papa e ao
Império Romano do Ocidente, num posicionamento político ambíguo. Em
Monteporzio, a 1167 d.C., durante uma destas alternâncias, as tropas romanas
seriam derrotadas pelas forças imperiais de Frederico Barbarossa. Curiosamente,
o inimigo vitorioso seria brevemente afugentado pela peste e Roma manter-se-ia
a salvo.
Em
1188, seria finalmente reconhecido o governo comunal pelo Clemente III,
obrigado a pagar grandes somas aos oficiais da comuna, e os 56 senadores
tornar-se-iam vassalos do papa. O senado sempre apresentou falhas no
cumprimento das suas funções, o que levou a serem tentadas várias mudanças.
Frequentemente apenas um senador encabeçava a instituição, o que levava, por
vezes, a tiranias que não ajudavam à estabilidade do recém-nascido organismo.
Em
1204, instalava-se novamente o mau ambiente, desta vez confrontando a família
do Inocêncio III e os seus rivais, os poderosos Orsini, conduzindo a novos
distúrbios na cidade. Muitos dos edifícios antigos sofreram a destruição pelas
máquinas utilizadas entre os lados rivais para cercarem os seus inimigos nas
incontáveis torres e fortalezas, usadas na Itália medieval como símbolo de
nobreza.
As
lutas entre os papas e o imperador Frederico II, também rei de Nápoles e da
Sicília, levariam Roma a apoiar os Gibelino. Para afirmar a sua lealdade,
Frederico enviou à comuna o Carroccio que teria ganho aos Lombardos na batalha
de Cortenuova em 1234, e que seria exposto no monte Capitolino. Ainda nesse
ano, durante outra revolta contra o papa, os Romanos, liderados por Luca
Savelli saquearam o Latrão. Curiosamente, Savelli era filho do Honório III e
pai de Honório IV, embora nesta época os laços familiares não determinassem a
sua lealdade. Roma não estava, decididamente, destinada a evoluir para uma
comuna autônoma e estável, à semelhança de outras comunas como Florença, Siena
ou Milão. As lutas intermináveis entre estas famílias nobres (Savelli, Orsini,
Colonna e Annibaldi), o ambíguo alinhamento do papa, o orgulho da população que
nunca abandonou o sonho e o esplendor do passado, e a fraqueza da instituição
republicana continuamente privariam a cidade desta possibilidade.
Na
tentativa de imitar outras comunas mais bem sucedidas, em 1252, o povo elegeu
um senador estrangeiro, o bolonhês Brancaleone degli Andalò. Esperando
conseguir a paz na cidade, Andalò suprimiu os nobres mais poderosos (destruindo
cerca de 140 torres), reorganizou as classes operárias e emitiu um conjunto de
leis inspiradas naquelas aplicadas no norte da Itália. No entanto, e apesar da
postura rígida com que enfrentou as adversidades, faleceria em 1258 com a
maioria das suas reformas por concretizar. Cinco anos depois, Carlos I de
Anjou, mais tarde rei de Nápoles, seria eleito senador. A sua entrada na cidade
verificar-se-ia apenas em 1265 para pouco depois a deixar em virtude da
necessidade de fazer frente a Conradino, o herdeiro dos Hohenstaufen que se
aproximava para reclamar os direitos da sua família sobre o sul da Itália. A
partir de junho desse ano, o governo de Roma era novamente caracterizado por
uma república democrática, elegendo Henrique de Castela como senador. Conradino
e a facção dos Guibelinos seriam derrotados na batalha de Tagliacozzo (1268) e,
assim, o governo de Roma passava novamente para as mãos de Carlos.
O
Nicolau III, membro dos Orsini, seria eleito em 1277 e transferiria a sede do
Papado do Palácio de Latrão para o Vaticano, por se localizar mais protegido, e
proibiria o acesso ao estatuto de senador de Roma por parte dos estrangeiros.
Sendo ele um romano legítimo, o povo elegeu-o para senado, e a cidade
tornava-se novamente dirigida pela facção papal. Não obstante, Carlos foi
eleito senador novamente em 1285 e, com as Vésperas Sicilianas, o seu carisma
seria afetado de forma irreversível. Assim perdeu a autoridade na cidade, lugar
que seria ocupado por um outro romano e também papa, Honório IV da família
Savelli.
Cativeiro Babilónico, Papado de
Avinhão
O
sucessor do Celestino V foi um enérgico romano da família Caetani, o papa
Bonifácio VIII, que teria sido envolvido por hereditariedade nas disputas
familiares com os tradicionais rivais da sua família, os Colonna. Não obstante,
essa quezilha não o desviou na sua luta para reassegurar a supremacia universal
da Santa Sé. Em 1300, Bonifácio VIII celebrou o primeiro Jubileu e fundou a
primeira Universidade de Roma. O Jubileu seria, como se provou, um passo
importante para Roma, já que aumentaria o seu prestígio internacional; consequentemente,
a economia da cidade assistiria a um impulso, devido ao fluxo de peregrinos.
Bonifácio morreu em 1303, pouco depois da humilhação do Schiaffo di Anagni
(Bofetada de Anagni) que assinalou o governo do Papado pelo rei de França,
marcando um novo período de declínio para Roma.
Por
essa razão, o sucessor de Bonifácio, o papa Clemente V, nunca chegou a entrar
na cidade, dando início ao famoso período do Papado de Avinhão, também
conhecido como "cativeiro de Avinhão" (em alusão ao cativeiro babilônico),
em que o papa mudava a sede da Igreja Católica para Avinhão, situação que
duraria por mais de 70 anos. Como consequência, verificou-se a independência do
poder local, embora se revelasse muito instável; também a falta dos ingressos
financeiros anteriormente suportados pela Igreja provocaram um profundo
declínio de Roma. Por mais de um século, Roma parava o desenvolvimento
edificador. Pior, muitos dos monumentos da cidade, incluindo as igrejas
principais, davam os primeiros sinais de degradação.
O regresso do papa a Roma
Apesar
do declínio e da ausência do papa, Roma não perderia o prestígio espiritual: em
1341 o famoso poeta Petrarca deslocou-se a Roma para ser distinguido como poeta
no monte Capitolino. Entretanto, a nobreza e a classe pobre alinhavam-se para
exigir o retorno do papa. De entre os vários embaixadores que neste período se
deslocaram a Avinhão, destaca-se a figura simultaneamente bizarra e eloquente
de Cola di Rienzo. À medida que aumentava o seu poder sobre a população, a 30
de maio de 1347 d.C. conquistou o Capitólio encabeçando a população,
entusiasta. Embora de curta duração, o período da sua liderança sobre a
população de Roma revelou-se um dos mais importantes momentos da história
medieval da cidade; Cola esforçou-se por espalhar a aura rejuvenescedora do
conceito comum de uma eventual independência italiana, no centro de um sonho
confuso politicamente à semelhança do prestígio da Roma Antiga. Mais tarde,
assumindo o poder de forma ditatorial, assumiu o título de "tribuno",
numa clara referência à magistratura da plebe da era republicana. Di Rienzo
considerava também o seu estatuto equivalente ao do Imperador do Sacro Império.
A 1 de agosto de 1347, conferiu a cidadania romana a todas as cidades italianas
e preparou a eleição de um imperador romano para a Itália. Como medida de
contenção, o papa declarava Di Rienzo como herético, criminoso e pagão,
manipulando a opinião pública ao ponto de esta se começar a distanciar. A 15 de
dezembro, Di Renzo foi obrigado a fugir.
Em
agosto de 1354, Di Rienzo tornava-se novamente protagonista, quando o Cardeal
Gil Alvarez De Albornoz lhe confiou o cargo de "senador de Roma" no
desenrolar do seu programa de certificação do governo papal nos Estados
Pontifícios. Em outubro, o tirânico Cola, que se tornava uma vez mais impopular
pelo seu contestado comportamento e pesadas dívidas, foi assassinado numa
quezilha provocada pela poderosa família dos Colonna. Em abril de 1355, Carlos
IV, da Boêmia, entrou na cidade para o tradicional ritual de coroação como
imperador. A sua visita foi assistida com grande desagrado pelos cidadãos, já
que não era bem dotado financeiramente, por ter recebido a coroa de um cardeal
e não do papa, e por se afastar escassos dias depois da coroação.
Com
o imperador de regresso às suas terras, Albornoz podia agora reconquistar algum
controlo sobre a cidade, mesmo permanecendo na segurança da sua cidadela em
Montefiascone, na região Norte do Lácio. Os senadores, agora designados diretamente
pelo papa, eram escolhidos de várias cidades de toda a Itália, embora a cidade
fosse independente. O senado incluía agora seis juízes, cinco notários, seis
marechais, vários familiares, vinte cavaleiros e vinte homens armados. Albornoz
conseguia suprimir as famílias tradicionalmente aristocráticas, e a facção "democrática"
sentiu-se suficientemente confiante para iniciar uma política agressiva. Em
1362, Roma declarava guerra a Velletri, cuja repercussão se traduziu numa
guerra civil: a facção rural contratou um grupo de condottieri, os Del Cappelo
(os "do Chapéu"), enquanto os romanos compravam os serviços das
tropas alemãs e húngaras, acrescidos aos seus próprios 600 cavaleiros e 22.000
unidades de infantaria. Neste período, toda a Itália foi varrida pelos
implacáveis grupos condottieri. Muitos dos Savelli, Orsini e Annibaldi,
expulsos de Roma, tornaram-se líderes destas unidades militares. Quando a
guerra com os Velletri terminou, Roma entregou-se novamente ao papa, Urbano V,
com a condição de proibir Albornoz de entrar em Roma.
A
6 de outubro de 1367, em resposta às preces de Santa Brígida e de Petrarca,
Urbano V finalmente se deslocou à cidade. Durante a sua presença, Carlos IV foi
novamente coroado (outubro de 1368 d.C.). Por esta altura, também se deslocou a
Roma o imperador bizantino João V Paleólogo para solicitar uma cruzada contra o
Império Otomano, embora sem sucesso. Poucos anos depois, descontente com o
ambiente da cidade, Urbano V voltava para Avinhão, a 5 de setembro de 1370
d.C.. O seu sucessor, Gregório XI, marcou o seu regresso a Roma para maio de 1372
mas, novamente, os cardeais franceses, com o apoio do seu rei, conseguiram
persuadi-lo. Assim se manteve o papa até 17 de janeiro de 1377, altura em que
Gregório XI reinstalava novamente a Santa Sé em Roma.
Não
obstante, o comportamento incoerente do seu sucessor, o italiano Urbano VI,
provocaria em 1378 o Grande Cisma do Ocidente, que deitaria por terra qualquer
legítima tentativa de melhorar as condições da Roma, em declínio.
Roma moderna
Durante
o pontificado do papa Nicolau V (p. 19 de março de 1447), o Renascimento
entrava em Roma na mesma altura em que a cidade se tornava no centro do
Humanismo. Nicolau V foi o primeiro papa a incluir na corte romana acadêmicos e
artistas, como Lorenzo Valla e Vespasiano da Bisticci.
A Escola de Atenas, 1509, Stanza della Segnatura, pintura de
Rafael Sanzio, Museus Vaticanos
|
A
4 de setembro de 1449, Nicolau anunciou um Jubileu para o ano seguinte cuja
consequência seria um novo influxo de peregrinos de toda a Europa. A multidão
seria tanta que, em Dezembro, na ponte Santo Ângelo, morreriam cerca de 200
pessoas "atropeladas" ou afogadas no rio Tibre. Nesse mesmo ano,
reapareceu a peste na cidade, e Nicolau V fugiu de Roma.
Apesar
da atitude condenável, Nicolau V conseguiu estabilizar o poder temporal do
Papado, isolando-o da interferência do Imperador. Desta forma, a coroação e
casamento de imperador Frederico II, a 16 de março de 1452, não passou,
portanto, de uma cerimônia civil. O Papado controlava agora Roma firmemente. A
tentativa de Stefano Porcari, que almejava a restauração da república, foi
implacavelmente suprimida em janeiro de 1453. Porcari seria enforcado
juntamente com os seus ajudantes, Francesco Gabadeo, Pierto de Monterotondo,
Battista Sciarra e Angiolo Ronconi. Não obstante, a reputação do papa seria
questionada quando, ao início da execução, Nicolau V se apresentou demasiado
bêbado para confirmar as graças que havia garantido a Sciarra e Ronconi.
Nicolau
V foi também o projetista da remodelação urbanística, juntamente com Leon
Battista Alberti, onde se inclui a construção da nova Basílica de São Pedro.
O
sucessor de Nicolau V, o Calisto III, não continuou a política cultural de Nicolau,
devotando-se à sua maior paixão, o amor pelos seus sobrinhos. O toscano Pio II,
que tomou as rédeas após a sua morte em 1458, revelou-se um grande Humanista,
embora pouco fazendo por Roma. Foi durante o seu pontificado que Lorenzo Valla
demonstrou que a Doação de Constantino tinha sido uma falsificação. Pio II foi
também o primeiro papa a recorrer à luta armada, em campanha contra os barões
rebeldes Savelli dos subúrbios de Roma, em 1461. Um ano depois, com a
trasladação da cabeça do apóstolo Santo André para Roma, deu-se um novo afluxo
de peregrinos. O pontificado do papa Paulo II (1464 - 1471) notabilizou-se
unicamente pela reintrodução do Carnaval, que se tornaria um festejo muito
popular em Roma durante os séculos seguintes. Ainda no mesmo ano (1468) foi
desmontada uma conspiração contra o papa, organizada por intelectuais da
Academia Romana, fundada por Pomponio Leto, resultando no aprisionamento dos
envolvidos no Castelo de Santo Ângelo.
Pieta de Michelangelo Vaticano |
No
entanto, o pontificado mais importante foi, sem dúvida, o do Sisto IV. Para
favorecer um familiar, Girolamo Riario, instigou a conspiração por parte dos
Pazzi (Congiura dei Pazzi) contra a família Médici, de Florença (26 de abril de
1478]) e, em Roma, combateu os Colonna e os Orsini. Apesar dos grandes custos
desta política de intrigas e guerras, Sisto IV era um verdadeiro padroeiro da
arte na mesma linha de Nicolau V: reabriu a academia e reorganizou o Collegio
degli Abbreviatori e, em 1471, iniciou a construção da Biblioteca do Vaticano,
cujo primeiro curador foi Platina. A biblioteca foi oficialmente fundada a 15
de junho de 1475. Sisto mandou restaurar várias igrejas, incluindo Santa Maria
del Popolo, a Água Virgem e o Hospital do Espírito Santo, mandou pavimentar
algumas ruas e foi também o responsável pela construção de uma ponte famosa
sobre o Tibre que atualmente se conhece pelo seu nome. No entanto, o seu projeto
de maior envergadura foi a Capela Sistina no Palácio do Vaticano. A sua
decoração convocou alguns dos mais renomeados artistas de época, onde se
incluem Mino da Fiesole, Sandro Botticelli, Domenico Ghirlandaio, Pietro
Perugino, Luca Signorelli e Pinturicchio — já no século XVI, Michelangelo
pintou-a com aquela que se tornaria na sua obra-prima, transformando a Capela
num dos mais espetaculares monumentos em todo o mundo. Sisto morreu a 12 de
agosto de 1484, e foi considerado o primeiro rei-papa de Roma.
Durante
o pontificado dos seus sucessores, Inocêncio VIII e Alexandre VI (1492 - 1503),
Roma sofria do caos, de corrupção e do nepotismo emergente. No intervalo de
tempo entre a morte do primeiro e a eleição do segundo, ocorreram 220
assassinatos na cidade. Alexandre VI teve que enfrentar Carlos VIII de França,
que invadiu a Itália em 1494 e entrou em Roma a 31 de dezembro desse ano. O
papa foi obrigado a barricar-se no Castelo de Santo Ângelo, que havia se
tornado numa verdadeira fortaleza por obra de Antonio da Sangallo, mas o hábil
Alexandre saberia conquistar a ajuda do rei, designando o seu filho César
Bórgia como conselheiro militar na subsequente invasão do Reino de Nápoles.
Roma ficava, assim, segura. Entretanto, com a movimentação do rei para sul, o
papa recambiava a sua posição, alinhando com a liga antifrancesa dos estados
italianos que, finalmente, forçaram Carlos a bater em retirada para França.
Alexandre,
considerado o papa mais nepotista de todos, favoreceu o seu implacável filho
César Bórgia, criando para ele um ducado pessoal constituído por alguns dos
territórios pertencentes aos Estados Pontifícios, e banindo de Roma a família
Orsini, o inimigo mais insistente de César. Em 1500, a cidade comemorou um novo
jubileu, mas as ruas tornavam-se cada vez mais inseguras, especialmente à
noite, quando eram controladas por bandos de criminosos, os "bravi".
Não obstante, foi o próprio César a assassinar Alfonso de Bisceglie, a sua irmã
Lucrécia e, presumivelmente, o filho do papa, Giovanni de Gandia.
O
Renascimento teve um grande impacto no aspecto de Roma com trabalhos como a
Pietà ("Piedade") de Michelangelo e os frescos do Aposento dos
Bórgia, todos realizados durante o pontificado de Inocêncio. Roma atingiu o seu
expoente de esplendor sob o papa Júlio II (1503 - 1513) e seus sucessores Leão
X e Clemente VII, ambos membros da família Médici. Durante estes vinte anos,
Roma tornara-se no maior centro de arte em todo o mundo. A velha Basílica de
São Pedro foi demolida e recomeçada uma nova. A cidade alojou artistas como
Bramante, que construiu o Tempietto de San Pietro in Montorio e foi autor de um
grande projeto para renovar a Cidade do Vaticano, Rafael Sanzio, que em Roma se
tornou no mais famoso pintor de Itália pelos seus frescos da Capela Nicolina, Vila
Farnesina, Quartos de Rafael, entre outras obras de arte famosas, e
Michelangelo, que iniciou a decoração do teto da Capela Sistina e executou a
famosa estátua de Moisés para a tumba de Júlio. Roma perdia parcialmente o seu
carácter religioso para se tornar progressivamente numa verdadeira cidade do
Renascimento, com um grande número de festejos populares, corridas de cavalos,
festas, intrigas e episódios de negligência. A economia estabilizou-se com a
presença de vários banqueiros da Toscana, incluindo Agostino Chigi, que foi um
amigo de Rafael e também ele patrocinador das artes. Antes da sua morte
prematura, Rafael foi também, e pela primeira vez, um promotor para a
conservação das ruínas da Antiguidade.
O saque de Roma e a
Contrarreforma
Em
1527, a política ambígua seguida pelo segundo papa da família Mécic, o Papa
Clemente VII, resultou num dramático saque da cidade pelas tropas imperiais de
Carlos V do Sacro Império, que devastou a cidade durante dias. Muitos dos
cidadãos foram assassinados ou procuraram abrigar-se fora das muralhas. O
próprio papa aprisionou-se no Castelo de Santo Ângelo. O saque marcava, assim,
o fim da era de maior esplendor da Roma moderna.
O
Jubileu de 1525 resultou numa farsa, com as reivindicações de Martinho Lutero a
instaurar o criticismo e o despeito pela ganância do papa em relação a toda a
Europa. O prestígio de Roma seria confrontado com o desmembramento das igrejas
da Alemanha e Inglaterra. Ainda assim, o Paulo III (1534 - 1549) esforçou-se
por apaziguar a situação convocando o Concílio de Trento, embora fosse,
ironicamente, o mais nepotista dos papas. Paulo III chegou mesmo a separar
Parma e Piacenza dos Estados Pontifícios para criar um ducado independente para
o seu próprio filho, Pier Luigi. Continuou, no entanto, o patrocínio pela arte,
assistindo ao "Juízo Final" de Michelangelo, pedindo-lhe para renovar
o Capitólio e assistir na construção da nova Basílica de São Pedro. Após o
choque inicial do saque de Roma, convocou também o brilhante arquiteto Giuliano
da Sangallo, o Jovem para fortificar as muralhas da "Cidade Leonina".
A
necessidade da renovação dos costumes religiosos tornou-se evidente com o
período de vacância que sucedeu à morte de Paulo III, com as ruas de Roma a
tornarem-se palcos de sátiras sobre os cardeais que atendiam ao conclave. Os
seus sucessores imediatos foram duas figuras de pouca autoridade que nada souberam
fazer para escapar à real soberania da Espanha sobre Roma.
Paulo
IV, eleito a 1555, era membro da facção anti Espanha. A sua política resultaria
num novo cerco à cidade pelas tropas do vice-rei napolitano, em 1556. Paulo
apelou à paz, mas foi obrigado a aceitar a supremacia de Filipe II de Espanha.
Foi um dos papas mais detestados de todos e, após a sua morte, a população
revoltou-se atiçando fogo ao palácio da Santa Inquisição e destruindo a sua
estátua de mármore no Capitólio. A perspectiva de Paulo sobre a Contrarreforma
mostrou-se patente na ordenação de confinar os Judeus a uma área central de
Roma, ao redor do Pórtico de Otávia, criando assim o famoso Gueto Romano.
A
Contrarreforma seria considerada apenas pelos seus sucessores, o moderado Pio
IV e o severo Pio V. Embora o primeiro fosse um nepotista, amante dos
esplendores da corte, permitiu a introdução de costumes mais severos por parte
do seu conselheiro, Carlos Borromeu, que estava prestes a tornar-se numa das
figuras mais populares de Roma. Pio V e Borromeo entregaram à cidade o
verdadeiro carácter da Contrarreforma. Toda a pompa foi retirada da corte, os
bobos expulsos, e os cardeais e bispos foram obrigados a viver na cidade. Foram
punidas severamente a blasfémia e a utilização de concubinas; as prostitutas
foram expulsas ou confinadas a distritos reservados para o efeito. O poder da
Inquisição dentro da cidade foi reajustado, e o palácio reconstruído com um
novo espaço para prisões. Durante este período, Michelangelo abriu a Porta Pia
e transformou as Termas de Diocleciano na espetacular basílica de Santa Maria
degli Angeli, onde Pio IV foi enterrado.
O
pontificado do seu sucessor, o papa Gregório XIII, foi um fracasso. As suas
medidas iriam despertar novos tumultos nas ruas de Roma. O escritor e filósofo
francês Montaigne defendia que "a vida e os bens nunca estiveram tão pouco
seguros como durante o tempo de Gregório XIII, talvez", e que uma
confraternidade chegou mesmo a realizar casamentos homossexuais na igreja de
San Giovanni a Porta Latina. As cortesãs tão reprimidas por Pio tornavam-se
agora prostitutas que trabalhavam abertamente nas ruas.
Sisto
V tinha, no entanto, um temperamento distinto. Embora o seu pontificado tenha
sido curto (1585 - 1590), tornou-se num dos mais eficazes na história de Roma.
Sisto era ainda mais rígido que Pio V, e ganhou alcunhas como castigamatti
("castigador dos loucos"), papa di ferro ("Papa de ferro"),
ditador e mesmo, ironicamente, demônio, já que nenhum outro papa o antecedeu na
perseguição tão determinada da reforma da Igreja e costumes. Sisto reorganizou
profundamente a administração dos Estados Pontifícios, e limpou as cidades de
Roma de todos os bravos, prostitutas, procuradores, duelos, e afins. Nem os
nobres ou cardeais se consideravam isentos do policiamento levado a cabo por
Sisto. O dinheiro das taxas, que deixou de ser destinado à corrupção, permitiu
a existência de um ambicioso programa de edificação. Alguns aquedutos mais
antigos foram restaurados, e um novo foi construído, o Acqua Felice (do nome de
Sisto, Felice Peretti). Foram também edificadas novas casas no desolado
distrito de Esquilino, Viminale e Quirinale, enquanto que outras casas no
centro foram demolidas para abrir novas e mais largas estradas. O objetivo de
Sisto era tornar Roma num melhor destino para os peregrinos, e novas estradas
permitiriam melhores acessos às basílicas. Os velhos obeliscos foram
trasladados ou erigidos para embelezar São João de Latrão, Santa Maria Maior e
de São Pedro, bem como a Piazza del Popolo, em frente à igreja Santa Maria del
Popolo.
Unificação italiana
O
governo pelo papado foi interrompido pela breve República Romana (1798),
instituída segundo influência da Revolução Francesa.
Outra
República Romana surgia em 1849, no seguimento das revoluções de 1848. Duas das
figuras mais influentes da unificação italiana, Giuseppe Mazzini e Giuseppe
Garibaldi, lutaram ao lado da república.
O
regresso do Pio IX a Roma, com a ajuda das tropas francesas, marcou a exclusão
de Roma do processo de unificação da segunda guerra da independência italiana e
da Expedição dos Mil, após as quais toda a península Itálica, à exceção de Roma
e do Véneto, seriam unificadas sob a Casa de Saboia.
Em
1870, com o início da guerra franco-prussiana, o imperador francês Napoleão III
deixou de assegurar a proteção dos Estados Pontifícios. Pouco depois, o governo
italiano declarava guerra aos Estados. O exército italiano entrou em Roma a 20
de setembro, abrindo uma brecha na muralha, a Porta Pia, após um bombardeamento
de três horas. Roma e todo o Lácio seriam anexados ao Reino de Itália.
O
governo italiano ofereceu então a possibilidade a Pio IX de preservar a Cidade
Leonina, embora fosse rejeitada a oferta já que a sua aceitação traduzia-se no
reconhecimento da legitimidade do governo do Reino de Itália sobre os seus
antigos domínios. Pio IX declara-se assim "prisioneiro do Vaticano"
embora, na verdade, nunca lhe tenha sido vedado o direito a deslocar-se.
Oficialmente, a capital não seria trasladada de Florença para Roma até 1871.
Na atualidade
A
Roma atual não só reflete a estratificação das várias épocas ao longo da sua
história, mas constitui também um metrópole contemporânea. O vasto centro
histórico contém áreas que data desde a Roma Antiga, época medieval, vários palácios
e tesouros artísticos do Renascimento, muitas fontes, igrejas e palácios do
Barroco, bem como tantos outros exemplos de Art Nouveau, Neoclassicismo,
Modernismo, Racionalismo e quaisquer outros estilos artísticos dos séculos XIX
e século XX (com efeito, a cidade é considerada uma enciclopédia e um museu
vivo dos últimos 3000 anos de história da arte ocidental). O centro histórico
coincide praticamente com os limites das muralhas da Roma imperial. Algumas
áreas foram reorganizadas após a unificação (1880–1910 - Roma Umbertina), e
foram realizados alguns acréscimos e adaptações durante o período fascista,
como a tão discutida Via dei Fori Imperiali, da Via della Conciliazione, em
frente ao Vaticano (para cuja construção foi destruída uma grande parte do velho
Borgo), a instituição de novos Quartieri (dos quais a EUR, San Basilio,
Garbatella, Cinecittà, Trullo, Quarticciolo e, na costa, a restruturação da
Óstia) e a inclusão da vilas fronteiriças (Labaro, Osteria del Curato, Quarto
Miglio, Capannelle, Pisana, Torrevecchia, Ottavia, Casalotti). Estas expansões
foram necessárias para albergar o aumento exponencial da população,
consequência da centralização do Estado italiano.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, Roma sofreu poucos bombardeamentos (com maior incidência
em San Lorenzo), e foi declarada como cidade aberta. Roma caiu nas mãos dos
Aliados a 4 de junho de 1944, e foi a primeira capital das nações do Eixo a
cair.
Depois
da guerra, Roma continuou a expandir-se devido ao crescimento da administração
centralizada que resultou da unificação e à indústria, com a criação de novos
quartieri e subúrbios. A população oficial atualmente ronda os 2,5 milhões;
durante o horário laboral, os trabalhadores aumentam o valor para 3,5 milhões,
o que representa um aumento dramático de valores anteriores: 130.000 em 1825,
244.000 em 1871, 692.000 em 1921 e 1.600.000 em 1931.
Roma
foi anfitriã dos Jogos Olímpicos de 1960, para os quais utilizou muitos dos
sítios da Antiguidade, como a Villa Borghese e as Termas de Caracala como
fontes de rendimento. Para os jogos olímpicos foram criadas novas estruturas,
como o novo Estádio Olímpico (posteriormente aumentado e remodelado para a
edição da Copa do Mundo da FIFA de 1990), o Villaggio Olimpico (Vila Olímpica,
criada para acolher os atletas e posteriormente restruturado como um distrito
residencial), etc.
Muitos
dos monumentos de Roma foram restaurados pelo estado italiano e pelo Vaticano
para o Jubileu de 2000.
Como
capital da Itália, Roma alberga as principais instituições da nação, como a
Presidência da República, o governo seus ministérios, o parlamento, os
principais tribunais judiciais, e os representantes diplomáticos na Itália de
todos os outros países, e a cidade do Vaticano (curiosamente, Roma também
alberga, na parte do território italiano, a Embaixada do Vaticano, o único caso
de uma embaixada dentro dos limites do seu próprio território). Muitas
instituições encontram-se alojadas em Roma, nomeadamente as de carácter
cultural e científico - como o Instituto Americano, a British School, a
Academia Francesa, os Institutos Escandinavos, o Instituto Arqueológico Alemão
- pela nobreza da escolaridade na Cidade Eterna - e outras humanitárias, como a
FAO.
Roma
atualmente é um dos destinos turísticos mais importantes em todo o mundo, não
só devido à incalculável imensidade de tesouros arqueológicos e artísticos, mas
também pelo carisma das suas tradições únicas e a majestosidade das
magnificentes "villas" (parques). De entre os mais significantes
recursos, destacam-se os numerosos museus (como os Museus Capitolinos, os
Museus do Vaticano e a Galleria Borghese), os aquedutos, fontes, igrejas,
palácios, edifícios históricos, monumentos e ruínas do Fórum romano, e as
catacumbas.
De
entre as centenas de igrejas, estão em Roma as cinco basílicas maiores da
Igreja Católica: a Basílica di San Giovanni in Laterano (São João de Latrão,
catedral de Roma), Basílica di San Pietro in Vaticano (São Pedro), Basilica di
San Paolo fuori le Mura (São Paulo fora dos Muros), Basílica di Santa Maria
Maggiore (Santa Maria Maior), e a Basílica di San Lorenzo fuori le Mura (São
Lourenço fora dos Muros). O bispo de Roma é o papa; durante a atividade pastoral na cidade, é assistido por um vigário (tipicamente um cardeal).