Guerras Médicas ou Guerras
Greco-Persas são
designações dadas aos conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império
Aquemênida durante o século V a.C. Ocorreram entre os povos gregos (aqueus,
jônios, dórios e eólios) e os medo-persas, pela disputa sobre a Jônia na Ásia
Menor, quando as colônias gregas da região, principalmente Mileto, tentaram
livrar-se do domínio persa.
Esta
região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas durante a expansão persa em
direção ao Ocidente, este poderoso império conquistou estas diversas colónias
gregas da Ásia Menor, entre elas Mileto. As colônias lideradas por Mileto e
contando com a ajuda de Atenas, tentaram sem sucesso libertar-se do domínio
persa, promovendo uma revolta.
Heródoto
deu o título de histórias ao resultado
de suas pesquisas acerca das Guerras
Médicas
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Estas
revoltas levaram o imperador persa Dario
I a lançar seu poderoso exército sobre a Grécia continental, dando início
às Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle do comércio marítimo na
região.
Guerras Médicas |
Após
a derrota da Lídia frente aos persas (provavelmente em 546 a.C.), as cidades
gregas da Jônia passaram ao domínio persa. Em 499 a.C., com o apoio de Atenas e
Erétria revoltaram-se, mas foram vencidas entre 497 e 494 a.C. Em 490 a.C.,
Dario I (522/486 a.C.) decidiu enviar à Grécia continental uma expedição
punitiva. Erétria foi arrasada e saqueada, mas os atenienses e platenses,
chefiados por Milcíades (550/489 a.C.), conseguiram rechaçar os persas na
planície de Maratona.
Xerxes
I (486/465 a.C.), filho de Dario, comandou dez anos depois (480 a.C.) uma
invasão à Grécia em grande escala. Algumas cidades gregas, lideradas por Atenas
e Esparta, formaram uma coalização para enfrentar o invasor. Outras, como
Tebas, submeteram-se aos persas.
Inicialmente,
os persas venceram os gregos no desfiladeiro das Termópilas e em Artemísio; a
seguir, invadiram e saquearam Atenas. A frota ateniense, porém, comandada por
Temístocles (524 a.C./459 a.C.), conseguiu destruir a frota persa em Salamina e
mudou o rumo da guerra. Meses depois, comandada pelo espartano Pausânias
(510/467 a.C.), o exército da coalização grega venceu o exército persa em
Plateia e pôs fim à invasão.
Os
gregos conseguiram, certamente, impedir a presença dos persas em seu
território. Eles continuaram, porém, influindo no relacionamento entre as
cidades gregas durante todo o período clássico.
Nesse
primeiro confronto (a primeira guerra médica), surpreendentemente, cerca de dez
mil gregos, liderados pelo ateniense Milcíades, conseguiram impedir o
desembarque de mais de vinte mil persas (alguns autores falam em 50 mil, outros
em 250 mil, não se sabe precisamente o efetivo persa), vencendo-os na Batalha
de Maratona em 490 a.C.
Para
se defenderem dos persas, algumas cidades-estado gregas organizaram a liga de
Delos, da qual se aproveitou Atenas para se sobrepor no mundo grego, pois era
responsável pelo dinheiro da Confederação e passou a usá-lo em benefício
próprio. Com isso, impulsionou sua indústria, seu comércio e modernizou-se,
ingressando numa era de grande prosperidade, e impondo sua hegemonia ao mundo
grego. O auge dessa época ocorreu entre 461 e 431 a.C., durante o governo de
Péricles, por isto o século V a.C. é também chamado o "Século de
Péricles".
Os
persas, entretanto, não desistiram. Dez anos depois, voltaram a atacar as
cidades gregas (segunda guerra médica). Estas, por sua vez, esqueceram as
disputas internas que existiam entre elas e uniram-se, vencendo os persas na
Batalha de Salamina (480 a.C.) e na de Plateias (479 a.C.)
Após
as guerras médicas, os gregos voltaram a enfrentar-se internamente e, de 431 a
404 a.C., decorreu a Guerra do Peloponeso, entre a Confederação de Delos (liderada por Atenas) e a Liga do Peloponeso (liderada por
Esparta).
Após
tantas guerras, as cidades gregas ficaram debilitadas e foram conquistadas por
Filipe II da Macedônia, em 338 a.C. na batalha de Queroneia. Filipe II foi
sucedido por seu filho Alexandre, que ampliou consideravelmente o domínio
macedônico conquistando a Síria, a Fenícia, a Palestina, o Egito, a Pérsia e
parte da Índia.
Nas
costas ocidentais da Ásia Menor, colônias gregas se dedicavam ao comércio,
desejando substituir os fenícios. A independência destas cidades jônicas
terminou quando elas caíram uma após a outra nas mãos do rei Creso, da Lídia,
obrigadas a pagar tributos, a situação ficou ainda pior quando o reino de Lídia
caiu nas mãos do rei persa Ciro II em 546 a.C., tendo as cidades gregas o mesmo
destino.
Posteriormente,
o rei persa Dario I governou as cidades gregas com tato, procurando ser
tolerante, seguindo a estratégia de dividir e vencer, apoiando o
desenvolvimento comercial dos fenícios, que tinham sido anteriormente
submetidos a seu império, e que eram rivais tradicionais dos gregos.
Relevo do período clássico mostrando os soldados gregos em
combate
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Além
disto, os jônios sofreram mais golpes, como a conquista de seu florescente
subúrbio de Náucratis no Egito, a conquista de Bizâncio, chave do mar Negro e a
queda de Sibaris, um de seus maiores mercados de tecidos e ponto de apoio vital
para o comércio.
Destas
acções, surgiu um ressentimento contra o opressor persa, sentimento que foi
aproveitado pelo ambicioso tirano de Mileto, Aristágoras, para mobilizar as
cidades jônicas contra o Império Aquemênida, em 499 a.C.
Aristágoras
pediu ajuda às metrópoles de Hélade, mas somente Atenas (que enviou vinte
barcos – provavelmente a metade de sua frota) e Erétria (na ilha de Eubeia –
que aportou cinco navios), acudiram o pedido. Esparta não ofereceu nenhuma
ajuda. O exército grego dirigiu-se a Sardes, capital da satrapia persa da Lídia,
e reduziu-a a cinzas, enquanto que a frota recuperava Bizâncio. Dario I,
enfurecido, mandou seu exército, que destruiu o exército grego em Éfeso, e
afundou a frota helénica na batalha naval de Lade.
Tentando
sufocar a rebelião, os persas reconquistaram, uma após outra, as cidades jônias
e, depois de um longo assédio, arrasaram Mileto, matando a maior parte da
população na batalha e escravizando os sobreviventes, que foram deportados para
a Mesopotâmia.
Primeira Guerra Médica
Após
o duro golpe dado às cidades jônicas, Dario I decidiu castigar aqueles que
haviam auxiliado os rebeldes, encarregando a represália a seu sobrinho
Artafernes e a um nobre chamado Datis.
Em
Atenas, alguns homens já viam os sinais do iminente perigo. O primeiro deles
foi Temístocles, eleito arconte em 493 a.C. Temístocles acreditava que em
Hélade não teria salvação em caso de um ataque persa, se Atenas não
desenvolvesse antes uma poderosa marinha.
Dessa
forma, fortificou o porto de Pireu, convertendo-o em uma poderosa base naval,
mas logo surgiria um rival político que impediria o resto de suas reformas. Era
Milcíades, membro de uma grande família ateniense das costas da Ásia Menor.
Opunha-se a Temístocles, porque considerava que os gregos deviam defender-se
primeiro por terra, acreditando na supremacia das largas lanças gregas contra
os arqueiros persas. Os atenienses decidiram por em suas mãos a situação,
enfrentando assim a invasão persa.
A
frota persa chegou por mar no verão de 490 a.C., dirigidos por Artafernes,
conquistando as ilhas Cíclades e posteriormente Eubeia, como represália por sua
intervenção na revolta jônica. Posteriormente, o exército persa, comandado por
Datis, desembarcou na costa oriental da Ática, em Maratona, lugar recomendado
por Hípias (anterior tirano de Atenas) por ser considerada o melhor lugar.
Batalha de Maratona
Segunda Guerra Médica
Temístocles retoma o mando em
Atenas
O
vitorioso Milcíades quis aproveitar o momento de glória para expandir o poder
de Atenas no mar Egeu, e logo depois da batalha em Maratona enviou uma parte da
frota contra as Cíclades, submetidas pelos persas.
Atacou
a ilha de Paros, exigindo aos seus habitantes um tributo de 100 talentos, que
foram negados, então a cidade foi ocupada, mas a defesa foi tão árdua que os
gregos tiveram que contentar-se com uns poucos saques. Este pobre resultado
começou a desiludi-los com relação a Milcíades, chegando inclusive a vê-lo como
um tirano que depreciava as leis.
Os
inimigos de Milcíades o acusaram de ter enganado o povo e o submeteram a um
processo, o qual não pode se defender por ter sido ferido em um acidente e
estar prostrado em uma cama. Ele foi declarado culpado, sendo salvo da pena
capital comum nestes casos pelos serviços prestados anteriormente à pátria, mas
foi condenado a pagar a elevada soma de 50 talentos. Pouco depois morreu por
causa de suas feridas. Seria agora Temístocles quem tomaria o comando de
Atenas.
Em
481 a.C., os representantes de diferentes polis, liderados por Atenas e
Esparta, firmaram um pacto militar (simmaquia) para protegerem-se de um
possível ataque do Império Aquemênida. Segundo este pacto, em caso de invasão,
corresponderia a Esparta a tarefa de comandar o exército helênico, em uma
trégua geral, que inclusive propiciou o retorno de alguns exilados.
Terra e água
Após
a morte de Dario I, seu filho Xerxes I
subiu ao poder na Pérsia, ocupando-se nos primeiros anos de seu reinado de
reprimir revoltas no Egito e na Babilônia e continuando a preparação para
atacar os gregos. Antes, havia enviado à Grécia embaixadores a todas as cidades
para pedir-lhes terra e água, símbolos de submissão. Muitas ilhas e cidades
aceitaram, mas Atenas e Esparta não. Conta-se que Esparta respondeu aos
embaixadores "Terão toda a terra e água que quiserem", jogando-os em
um poço. Era uma declaração de intenções definitiva.
Em
Esparta, começaram a ocorrer problemas nefastos, que seriam causados pela ira
dos deuses devido a este ato de insolência. Os cidadãos espartanos foram
chamados para solicitar se algum deles seria capaz de se sacrificar para
satisfazer os deuses e aplacar sua ira. Dois ricos espartanos ofereceram-se
para se entregar ao rei persa, e se dirigiram para Susa, onde Xerxes os
recebeu. Os emissários espartanos lhe disseram: "Rei dos Medos, fomos
enviados para que possas vingar a morte dada a vossos embaixadores em
Esparta". Xerxes lhes respondeu que não ia cometer o mesmo crime e que nem
com sua morte os libertaria da desonra.
Batalha das Termópilas
O
poderoso exército de Xerxes I, estimado em 60 a 70 mil homens (a tradição grega
diz que marchavam com milhões de homens), e melhor equipados que os anteriores,
partiu em 480 a.C. "Levavam na cabeça uma espécie de sombreiro chamado
tiara, de feltro de lã; ao redor do corpo, túnica; cobriam suas pernas com uma
espécie de calças largas; em vez de escudos de metal levavam escudos de vime;
lanças curtas, arcos grandes, flechas e punhais na cintura" (Homero).
Cruzaram
o Helesponto e seguindo a rota da costa entraram na península. As tropas
helênicas, que conheciam estes movimentos, decidiram detê-los ao máximo no
desfiladeiro das Termópilas (que significa "portas quentes").
Neste
lugar, o rei espartano Leônidas colocou cerca de trezentos soldados espartanos
e mais mil de outras regiões. Xerxes enviou uma mensagem de aviso:
"Entregue-se, espartano, minhas flechas serão tão numerosas que cobrirão o
sol." Leônidas então respondeu: "Ótimo,
então lutaremos na sombra". Após cinco dias de espera e vendo que sua
superioridade numérica não intimidava o inimigo, os persas atacaram.
Naquele
desfiladeiro tão estreito os persas não podiam usar sua famosa cavalaria, e sua
superioridade numérica estava bloqueada, visto que suas lanças eram mais curtas
que as gregas. O estreito fazia com que o combate fosse com similaridade
numérica de combatentes, e não lhes coube senão regressar depois de dois dias
de batalha.
Mas
ocorreu que os gregos foram traídos por Efíaltes, que conduziu Xerxes através
dos bosques para chegar pela retaguarda à saída das Termópilas. A proteção do
caminho havia sido encomendada a mil foceus, que tinham excelentes posições
defensivas, mas se acovardaram ante o avanço persa e fugiram. Ao saber da
notícia, alguns gregos viram o inútil de sua situação e para evitar uma
matança, Leônidas decidiu então deixar partir quem quisesse, ficando ele e seus
espartanos firmes em seus postos.
Atacados,
os espartanos sucumbiram depois de derramar muito sangue persa. Posteriormente
se levantaria nesse lugar a inscrição: "Viajante, vê e diz a Esparta que
morremos por cumprir com suas sagradas leis".
Batalha de Salamina
Com
o passo das Termópilas liberado, toda a Grécia central estava aos pés do rei
persa. Após a derrota de Leônidas, a frota grega abandonou suas posições em
Eubeia e evacuou Atenas, buscando refúgio para as mulheres e os filhos nos
arredores da ilha de Salamina. Desse lugar presenciaram o saque e incêndio da
Acrópole pelas tropas dirigidas por Mardônio. Apesar disto, Temístocles tinha
um plano: atrair a frota persa e forçar o combate (a batalha da Salamina), o
que foi uma estratégia que sairia vitoriosa. Conta a lenda que Temístocles se
fez passar por traidor ante o rei da Persa, incitando-o a uma vitória segura em
Salamina, esta atitude sábia de Temístocles fez com que a Grécia vencesse a
guerra.
A
batalha naval deu-se no estreito que separa Salamina da Ática, no mês de
setembro de 480 a.C. Após as vitórias na Tessália e em Termópilas, a devastação
da Beócia e da Ática, o rei persa Xerxes entrou em Atenas, destruindo inclusive
os monumentos da Acrópole, desenvolvendo aquela que ficou conhecida pela
Segunda Guerra Médica.
Enquanto
os coríntios e os espartanos defendiam uma aglomeração militar no istmo,
Temístocles concentrou a frota de 200 embarcações (trirremes) na baía de
Salamina, enfrentando a frota persa, que, apesar do seu maior número, tinha
dificuldades evidentes de maneabilidade no espaço exíguo do estreito, pelo que
é completamente derrotada pelos gregos. Xerxes foi obrigado a regressar à Ásia
Menor, deixando o comando das tropas restantes ao seu lugar-tenente Mardónio.
O
certo é que Xerxes I decidiu entravar o combate naval, utilizando um grande
número de barcos, muitos deles de seus súditos fenícios. A frota persa não
tinha coordenação ao atacar, enquanto que os gregos tinham mostrado sua
estratégia: suas alas envolveriam os navios persas e os empurrariam uns contra
os outros para privá-los de movimento. Seu plano resultou em um caos entre a
frota persa, com terrível resultado: Alexandre e seus barcos se chocaram entre
si, indo a pique muitos deles e contando ainda que os persas não eram bons
nadadores, enquanto os gregos ao cair ao mar podiam nadar até a praia. A noite
pôs fim ao combate, do qual se retirou destruída a outrora poderosa armada
persa. Xerxes presenciou impotente a batalha, do alto de uma colina.
"Os helenos sabiam que
quando chega a hora do combate, nem o número nem a majestade dos barcos nem os
gritos de guerra dos bárbaros podem atemorizar os homens que sabem se defender
corpo a corpo, e têm o valor de atacar o inimigo" (Plutarco)
Temístocles
quis levar a guerra à Ásia Menor, enviando para lá a frota e sublevar as
colônias jônicas contra o rei da Pérsia, mas Esparta se opôs, por temor de
deixar desprotegido o Peloponeso.
Por
estas razões, a guerra continuou na Europa, voltando o exército persa a invadir
a Ática em 479 a.C.. Mardônio ofereceu a liberdade aos gregos se firmassem a
paz, mas Licidas, o único membro do conselho de Atenas que votou por essa
causa, foi apedrejado até a morte por seus companheiros. Desta forma, os
atenienses souberam buscar refúgio novamente em Salamina, sendo incendiada sua
cidade pela segunda vez.
Ao
saber que o exército espartano (ameaçado pelos atenienses para que lhes dessem
ajuda) se dirigia contra eles, os persas se retiraram até o Oeste, em Platéias.
Dirigidos por seu regente Pausânias, conhecido por seu sangue frio, os
espartanos conseguiram em 479 a.C. outra estrondosa vitória sobre os persas, capturando
de uma vez um grande barco que estava esperando no acampamento persa.
Provavelmente no mesmo dia da vitória em Plateia, ocorreu a vitória grega na
batalha naval de Mícale, que foi também um sinal para o levantamento dos jônios
contra seus opressores. Os persas se retiraram da Hélade, pondo assim fim aos
sonhos de Xerxes I de conquistar o mundo helênico. Desta forma as Guerras
Médicas, em que se enfrentaram pela primeira vez o Oriente e o Ocidente,
chegaram ao fim.
Diante
da necessidade de organizar a defesa e de equipar o exército, Atenas liderou a
formação da Confederação de Delos, uma aliança entre várias cidades-estado
gregas que deveriam contribuir com navios ou dinheiro nos gastos da guerra.