Na
História da Europa, dá-se o nome de invasões bárbaras, à série de migrações de
vários povos que ocorreu entre os anos 300 e 800 a partir da Europa Central e
que se estenderia a todo o continente. A referência aos bárbaros, nome cunhado
pelos gregos e que em grego antigo significava apenas estrangeiro, foi usada
pelos Romanos para designar os povos que não partilhavam os seus costumes e
cultura (nem a sua organização política).
Estas migrações nem sempre implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos do Império Romano, embora estes tenham existido. Já os romanos também eram chamados de "bárbaros" (estrangeiros) pelos gregos. Os povos migrantes, em muitos casos, coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império Romano nos anos que antecederam este período.
Estas migrações nem sempre implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos do Império Romano, embora estes tenham existido. Já os romanos também eram chamados de "bárbaros" (estrangeiros) pelos gregos. Os povos migrantes, em muitos casos, coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império Romano nos anos que antecederam este período.
Destacam-se,
neste processo, os Godos
(originários do sudeste europeu), os Vândalos
e os Anglos (da Europa Central),
entre outros povos germânicos e eslavos. Os motivos que despoletaram
estas migrações em todo o continente são incertos: talvez como reação às
incursões dos Hunos, pressões
populacionais ou alterações climáticas.
império
romano invasões barbaras
|
Os
historiadores modernos dividem este movimento migracional em duas fases. Na
primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos
maioritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as
várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Foram os Visigodos os primeiros a
eclodir com o império — na verdade, os Visigodos foram inicialmente contratados
para ajudar na defesa das fronteiras do império, mas mais tarde seriam
responsáveis pela invasão da península Itálica; de imediato, seguiram-lhes os
Ostrogodos, liderados por Teodorico, o Grande
Na
segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento
progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, tornando-a predominantemente
eslava, num movimento iniciado pela ocupação da região da atual República Checa.
Os
Búlgaros eram estabelecidos em Europa pelo século II. No século IV parte deles
migrou do Cáucaso do Norte a Armênia. Em 632 estabeleceram a Antiga Grande no
território entre o Cáucaso e o Danúbio. No século VII, Búlgaros migraram também
à Baviera, à península Itálica, à Panônia e à Macedônia. Em 681, o Império
Búlgaro expandiu-se nos Balcãs ao sul de Danúbio, e no século IX era o berço do
Eslavo Eclesiástico e alfabeto cirílico, que nos séculos subsequentes foram
espalhados aos estados europeus medievais tais como Rússia, Croácia, Sérvia,
Valáquia e Moldávia.
Já
excluídos do período de migrações, mas ainda na Baixa Idade Média, formam-se
ainda movimentos migratórios, nomeadamente o dos Magiares, para a Panônia, e,
mais tarde, dos Turcos para a Anatólia e do Cáucaso (século XI), e ainda a
expansão dos Vikings a partir da Escandinávia, ameaçando o recém-estabelecido
Império Franco na Europa Ocidental, por Carlos Magno. No século VIII, os árabes
tentaram invadir o sudeste da Europa, mas foram derrotados pelo cã Tervel da
Bulgária e pelo imperador bizantino Leão III, o Isáurio em 717, e desviaram sua
expansão à península Ibérica.
Os bárbaros no inicio |
Os
limites do Império Romano no século IV, já dividido em duas metades (Ocidente e
do Oriente), faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África,
os Berberes e as tribos do Sudão, a norte, desde a península escandinava em direção
ao mar Negro, na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, populações
tipicamente nômades. Estes povos foram genericamente designados pelos Romanos como povos bárbaros, numa clara alusão ao facto de não partilharem o mesmo
nível civilizacional e costumes de Roma. No entanto, estes grupos já conheciam
estes aspectos do império e, inclusive, alguns transitavam livremente para
dentro e fora das fronteiras. Várias tribos germanas se instalaram
pacificamente no interior do império, chegando mesmo a integrar o exército
romano, quer como soldados quer como mercenários, contribuindo reciprocamente
na defesa das fronteiras. Este fenômeno ganhou particular dimensão após a crise
do terceiro século. Por volta do ano 400, entre trinta e cinquenta por cento do
exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns
grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para
ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as
guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam
levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios
líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões.
Armínio
e sua amada, numa visão do século
XIX (Johannes Gehrts, 1884).
|
Vivendo
em solos pouco férteis, os Germanos dedicavam-se, sobretudo, ao pastoreio,
embora, à data do contato com os Romanos, já se dedicassem ao cultivo de
cereais. As terras não cultivadas pertenciam à tribo, enquanto que as casas e
mobiliário eram propriedade privada; as terras de cultivo eram sorteadas
equitativamente de ano a ano entre as famílias, embora no século II este tipo
de propriedade passasse a ser propriedade familiar, apenas alienável pelo
consentimento de todos os membros da família. Organizavam-se politicamente
através de um rei, escolhido de uma família particular (considerada de origem
divina), embora a autoridade estivesse formalmente nas mãos de uma assembleia
de homens livres e com idade suficiente para usar armas. Nos tempos de guerra,
era eleito um general que detinha todo o poder. Por esta altura, os Germanos
coexistiam pacificamente com o império: os utensílios e moedas encontrados em
túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas
civilizações, principalmente nas regiões entre o Elba e o Mediterrâneo, ao
longo do vale do Reno, e pelo Vístula e mar Negro.
Durante
o século III, os Germanos tomam contato com o cristianismo, provavelmente
devido aos prisioneiros Capadócios levados à região dos Godos. Com efeito,
tem-se conhecimento de Ulfila representar, algures no século IV, o grande
apóstolo deste povo. Através de Ulfila, os Godos aderem ao cristianismo na sua
forma ariana, considerada herética na altura. Porém, esta vertente cristã
difundir-se-ia rapidamente entre os Germanos, Vândalos, Gépidas e Alamanos.
As
relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial
e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional
profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, ia substituindo
as legiões e a aristocracia chegando mesmo a ingressar na família imperial —
Honório, filho de Teodósio I, desposou duas filhas do general romano de origem
vândala Estilicão, Maria e Termância. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo
obrigava o império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos
caracterizados distintamente: os federados, ligados a Roma por um contrato, aos
quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política,
em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV, estes
tratados de federação aumentavam substancialmente, na tentativa de vencer a
crise que se aproximava.
O
progressivo desmembramento do império, aliado ao incremento da corrupção e
escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levaram à
canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do império, como a
própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais
instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos oriundos de nordeste, as
populações bárbaras adensaram a penetração no império, na tentativa de
manterem-se protegidas.
A instabilidade de Roma
A
estrutura administrativa do Império Romano dependia fortemente dos tributos que
impunha aos novos vencidos: além de uma forma de pagar as despesas da guerra,
eram também impostos como medida de benevolência ou castigo pela resistência
durante as conquistas. A paralisação das conquistas tinha igualmente paralisado
o afluxo destes impostos (que iam diminuindo progressivamente). No século III,
tinham já diminuído consideravelmente e no século seguinte já se haviam
esgotado.
Na
tentativa de contrapor a crise, foi organizado um pesado sistema de impostos, e
ditada uma lei que obrigava a hereditariedade das atividades exercidas, o que
significa que as profissões eram herdadas pelos filhos do atual funcionário. Os
filhos de soldados sucediam os pais nas fileiras, os colonos mantinham-se
fixados ao solo que cultivavam. O êxodo urbano dos aristocratas, paralelamente
à formação das castas, provocou o surgimento no Ocidente de senhorios rurais,
as villae, que constituíram o principal quadro da vida econômica e social da
época, e antecederam o feudalismo.
No
ano 395, o Império Romano foi formalmente dividido duas partes: o Oriente, com
as províncias mais ricas e populosas, e o Ocidente, em acelerada decadência.
Por esta altura, alguns bárbaros coexistiam pacificamente no interior do
império. No entanto, no século V deu-se um afluxo exorbitante de povos em busca
de proteção contra os Hunos que se mobilizavam em direção à Europa latina.
Na Europa Ocidental
Hunos e Império Huno
Segundos
alguns cronistas chineses, os Hiong-nu (Hunos) seriam povos nômades que
constituíam uma ameaça constante ao Império Chinês. Foi para se proteger dos
seus ataques que a dinastia Han (202 a.C.–220 d.C.) construiu a Grande Muralha.
Ainda assim, a China do Norte foi devastada e, mais tarde, com a chegada dos
novos invasores mongóis, os Hunos deslocaram-se para oeste, abrindo caminho
pelas planícies russas derrotando os Alanos e os Sármatas e, por volta de 370,
cruzaram o Volga e o Don, confrontando os germanos Ostrogodos, já
sedentarizados. O escritor latino Amiano Marcelino descreve o pânico provocado
nas regiões invadidas destes homens de pequena estatura, relativamente largos e
pele avermelhada do sol dos desertos e semi-desertos da Ásia Central (a exemplo
do tom de pele atribuído aos citas asiáticos por fontes antigas, mas sendo os
cíticos descritos como loiros enquanto os hunos com outros traços) que,
incapazes de se fixarem fosse onde fosse, se deslocavam constantemente,
arrastando consigo as famílias, instaladas com todos os seus haveres em
carroças.
Depois
de se desembaraçar do seu irmão Bleda, o cã (rei) dos Hunos, Átila, inicia o
governo das hordas hunas, a partir de 434. O historiador grego Prisco de Pânio,
que teve ocasião de o conhecer pessoalmente numa embaixada, deu destaque à
simplicidade e sentido político deste homem, cujas lendas a respeito o
caracterizam como barbaramente selvagem.
No
século V, os Hunos abandonam o nomadismo, instalando-se nos territórios
balcânicos, onde tomam conhecimento do avanço tecnológico o estilo de vida das
civilizações helenizadas. Por esta altura, Honória, filha da imperatriz Gala
Placídia, decidiu vingar-se do seu banimento pelo irmão Valentiniano III,
enviando a Átila uma carta na qual solicita ajuda e que o huno entendeu como
uma proposta de casamento. Sabe-se que em 443 chegaram diante de Constantinopla
e, em 448, penetram na Grécia até as Termópilas. Para conter os temíveis
invasores, Teodósio II foi obrigado a pagar-lhes um tributo anual.
No
entanto, sem razão aparente, Átila voltou-se para Ocidente e, em 451 atravessou
o Reno, destruiu Metz e Troyes. Por esta altura que surgiu a lenda da Santa
Genoveva que incitou os parisienses à resistência. Porém, Átila ignorou Paris e
sitiou Orleães, cuja queda lhe permitiu entrar em contato com o reino dos
Visigodos. No entanto, foi Aécio que parou o khan, e que, com a ajuda de
Teodorico I, rei visigodo da Aquitânia, conseguiu unir os Romanos, Francos,
Alanos e Burgúndios na batalha dos Campos Catalúnicos (junho de 451), forçando
os Hunos a uma retirada para a margem oposta do Reno.
Átila
refez suas forças e, no ano seguinte, moveu-se em direção à península Itálica,
apoderando-se de Aquileia e devastando Milão, Feltre, Pádua e Pavia, cujas
populações se refugiam nos Apeninos. A cidade de Veneza foi fundada por
refugiados dessas regiões. O próprio imperador Valentiniano III abandonou
Ravena para se refugiar em Roma. Observando a incapacidade do imperador romano
de defender o território, o Papa Leão I confrontou pessoalmente Átila em Mântua
numa conversa cujo teor nunca foi descrito, logrando fazê-lo desistir de
invadir a cidade em troca de um tributo considerável. Muitos atribuíram o fato
de Roma ter sido poupada à intercessão milagrosa do Papa Leão I. Ao que parece,
o medo da peste, as superstições de Átila e um compromisso com o imperador
Valentiniano III livraram Roma do saque. Átila morreu em 455, antecipando o
colapso do império huno.
Em
463 chegaram à península Itálica os Daneses, de seguida os Hérulos liderados
por Odoacroe, finalmente, os Ostrogodos (com batalhas em Isonzo e em Verona).
Ressalva-se também uma deslocação dos Francos em 594 para o norte de Itália,
com violentos confrontos.
Ostrogodos e Reino Ostrogótico
Derrotados
pelos Hunos, parte dos Ostrogodos conseguiu fugir para oeste, aliando-se aos
Visigodos, enquanto que a restante passou a integrar, tal como os Alanos e
Sármatas, a poderosa cavalaria huna. Também os Visigodos foram derrotados pelos
Hunos e, sem escapatória, pediram asilo nas terras do Império Romano, que seria
consentido pelo imperador Valente. Dava-se a entrada de todo um povo ameaçado
pelos hunos, como prelúdio para as grandes migrações. A penetração foi
pacífica, porém os romanos passaram a explorar, de forma sórdida, os visigodos.
Estes se rebelaram e surpreendentemente venceram os romanos na Batalha de
Adrianópolis (378).
O
imperador do Ocidente, Graciano, concedeu terras aos visigodos, adotando uma
política amigável que deu certo, até por volta de 406, quando todo o império
foi invadido pelos suevos, vândalos e burgúndios. A 482, Teodorico, o Grande,
rei dos Ostrogodos, conseguiu fixá-los na Mésia Secunda, província situada ao
norte da península balcânica.
Visigodos e Reino Visigótico
Enquanto
isso, os Visigodos, chefiados por Alarico I, revoltaram-se novamente contra a
exploração dos funcionários romanos em 401. Entraram na península Itálica e
invadiram a planície do Pó, mas foram repelidos. Em 408, atacaram pela segunda
vez e desta vez chegaram às portas de Roma. O chefe godo entrou em Roma (24 de
agosto de 410) e pilhou a capital do império (ver Saque de Roma). Depois de
três dias de saques, em 27 de agosto, Alarico partiu para o Sul da Itália, com
o objetivo de atingir a África, no entanto os seus planos foram gorados com a
perda da frota e a sua morte precoce. Seu substituto, Ataúlfo, estabeleceu-se
na Gália e estendeu os seus domínios até a península Ibérica, conseguindo
afastar os Alanos e os Vândalos. Ataúlfo instalou a sua base em Bordéus e
tornou-se aliado dos romanos.
A
pedido do imperador Flávio Augusto Honório, invadem a Hispânia (418), onde se
instalaram como federados. Para conquistar o domínio da península Ibérica, os
Visigodos tiveram que enfrentar Suevos, Alanos e Vândalos que já se haviam aí
fixado. Em compensação, obtêm de Roma o direito de se estabelecer no sudoeste
da Gália.
Após
a morte de Teodorico I, na batalha dos Campos Catalúnicos (451), os seus filhos
Teodorico II e Eurico alargam as possessões que, em 476, se estendiam já do
Atlântico aos Alpes do Sul, e do Loire a Gibraltar.
Os
Visigodos foram gradualmente empurrados da Gália pelos Francos, perdendo o seu
reino de Tolosa, embora seu reino de Toledo tenha subsistido na península
Ibérica até 711, data em que se deu início a uma invasão muçulmana que os
confinou a um pequena região nas Astúrias.
Burgúndios e Reino de Borgonha
Estas
movimentações foram imitadas por diversos outros povos, dos quais se destacam
os Burgúndios, cujos domínios na margem esquerda do Reno foram destruídos pelos
Hunos em 437, sendo obrigados a deslocar-se para oeste, na região do alto vale
do Ródano, entre Lyon e os Alpes. O rei Gondicário e a maior parte dos seus
guerreiros foram chacinados de forma atroz; pensa-se que este facto estará na
origem provável dos poemas heroicos dedicados à morte dos reis burgúndios,
cujas reminiscências se encontram nos Eddas nórdicos. Combinados com a lenda de
um herói mítico, Siegfried, os Edas deram origem, no século III, ao Nibelungenlied
(Canção dos Nibelungos) e nos quais, já no século XIX, Richard Wagner se
inspirou para um ciclo de quatro óperas, O Anel do Nibelungo.
Nos
finais do século V, o reino burgúndio estendia-se da atual Borgonha ao baixo
vale do Ródano e das Cévennes à Suíça Ocidental. Em 532, foram finalmente
submetidos pelos Francos, e o seu território anexado à Nêustria.
Alanos, Suevos e Vândalos
Em
406, os Alanos, Suevos e Vândalos atravessaram a fronteira do Reno. Entre 407 e
409, a Gália foi saqueada por Alanos, Suevos e Vândalos, que logo de seguida
(409-411) se apoderaram da Hispânia. Estilicão foi obrigado a chamar as legiões
estacionadas na Britânia e na Gália do norte, acabando assim com o domínio
romano sobre a Britânia.
Esses
povos bárbaros fundaram na África, em 429, o primeiro reino independente em
solo do império. Os Suevos seriam empurrados pelos Alanos para noroeste,
fixando-se na Galécia, enquanto que os segundos foram etnicamente absorvidos
pelos Vândalos em direção a África. Nesta movimentação, os Vândalos, sob a
liderança de Genserico, sitiaram a cidade africana de Hipona, onde morreu
Agostinho de Hipona, em agosto de 430, e ocuparam Cirta e Cartago, ao cabo de
grande resistência. Apoderam-se em seguida das Baleares, da Córsega, da
Sardenha e da Sicília. Potenciados pelas divergências religiosas da sua
vertente ariana contra o catolicismo romano, os Vândalos confrontar-se-iam daí
para a frente várias vezes com o império, chegando mesmo a saquear Roma, em
455. Em 470, o império mediterrânico dos Vândalos estendeu-se do Norte de
África às ilhas mediterrânicas.
A
dominação Sueva foi terminada pelos Visigodos aquando da sua migração bárbara
da Península Ibérica, enquanto o reino vândalo foi conquistado por Belisário.
Anglos, Saxões e Jutos
Em
meados do século V, os Saxões, os Anglos e os Jutos abandonaram o norte da
Germânia e a península da Jutlândia para invadir a Britânia, já abandonada
pelos romanos desde o início do século V. A região foi submetida por esses
povos que, apesar da feroz resistência, empurraram os Bretões para o lado
ocidental. No sul, os jutos fundaram o Reino de Kent. Também no sul, os saxões
fundaram os reinos de Essex, Wessex e Sussex. Os anglos se estabeleceram no
norte e centro, onde fundaram os reinos de Ânglia Oriental, Nortúmbria e da
Mércia. Os reinos independentes dos Anglo-Saxões ir-se-iam tornar rivais entre
si. Mais tarde, a região foi conquistada pelos Vikings.
Hérulos
O
último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, tinha sua autoridade
praticamente restrita à cidade de Roma. Os bárbaros hérulos, que faziam parte
do exército romano, depuseram-no em 476, colocando no poder seu chefe, Odoacro,
que se intitulou rei de Itália. Assim acabou-se definitivamente a autoridade do
Império Romano do Ocidente. A historiografia escolheu essa data para marcar a
Queda do Império Romano e assinalar o fim da Idade Antiga e o início de Idade
Média.
Francos e Reino Franco
A
Gália, no oeste da Europa, que já assistira à passagem de muitos dos povos
germânicos que migraram durante este período, já vinha sendo assediada pelos
Francos desde o século II. Em grande parte devido à sólida estrutura política,
souberam sobreviver à fase das migrações, e fixaram-se definitivamente na Gália
Belga (Renânia, Bélgica e Artois), a cerca de 430, também com o consentimento
do Império Romano, como federados, ajudando a defender as fronteiras, durante
algum tempo. Destaca-se a aliança de Childerico I com o império contra os
Visigodos. Com efeito, foi a primeira dinastia de reis francos, a dos
Merovíngios, que conseguiu erradicar a presença alamana, burgúndia e visigótica
(na batalha de Vouillé em 507, que marcou o fim do Reino Visigodo de Tolosa).
Começava assim, subtilmente, a expansão do império Franco, anexando vários
territórios vizinhos. O seu rei Clóvis (482-511), converteu-se para o
cristianismo e promoveu uma aliança com a Igreja Católica.
Enquanto
o desmembramento do Império Romano se tornava inevitável — em 455 os Vândalos
de Genserico pilharam Roma; os Visigodos, Suevos e Burgúndios declaram-se
independentes em 476. O chefe Odoacro depôs o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, e enviou as insígnias imperiais ao imperador do Oriente — os
Bárbaros assimilavam a língua e grande parte dos costumes romanos, enquanto introduziam,
mais ou menos harmoniosamente, os hábitos e termos germânicos.
Terminava
assim o Império do Ocidente. No entanto, a civilização persistia: as
instituições políticas, como o senado e o consulado subsistiram entre os
bárbaros. Em 493, o chefe ostrogodo Teodorico, o Grande tomou o poder na
Itália, fazendo-se reconhecer como representante legítimo do imperador
bizantino. Permaneceram intactos o estatuto do latim como língua oficial e as
estruturas sociais; o grande obstáculo então eram as diferenças de religiões: o
choque entre o catolicismo e o arianismo.
Não
obstante, de 456 a 472, o Império Romano revelava a sua fragilidade, denunciada
pelas movimentações bárbaras: durante este período, foram sucessivamente
nomeados e destituídos vários imperadores. Em 475, é Orestes, um panônio outrora ao serviço de Átila, o Huno, que faz nomear imperador o seu filho de
doze anos, o jovem Rômulo Augusto, que reinou escassos meses, até que Odoacro, chefe dos mercenários instalados na Itália, organize uma revolta que culmina na
deposição de Rômulo, que é relegado para a Campânia. Era a queda definitiva do
Império Romano.
A
reconquista da Itália pelos exércitos bizantinos, na Guerra Gótica, sob o
imperador Justiniano I conseguiria restabelecer por algum tempo a unidade
imperial, reconquistando também o norte de África e parte da Hispânia. O reino
Vândalo foi, portanto, destruído (534), enquanto que na península Ibérica a
monarquia visigótica foi seriamente enfraquecida.
As
medidas de Justiniano durariam pouco tempo. Na verdade, o enfraquecimento das
regiões reunificadas seria a principal causa para o impacto do surgimento do
Islã, cujas repercussões se verificaram na península Ibérica e no corte de
ligações entre as duas metades do Império Romano.
Arte
Embora
este período seja considerado um período de decadência artística, os estudos
recentes confirmam que houve, de facto, alguma expressão, inserindo-a portanto
como ramo da arte pré-românica. No caso particular da arte visigótica, esta
exprimiu-se na península Ibérica desde a entrada dos Visigodos (415) até à
invasão muçulmana da Península Ibérica. Na Gália, entre os finais do século V e
os finais do século seguinte, assiste-se a um incremento do número de
mosteiros, que passa de 40 para 250, embora de uma forma geral, a arquitetura
civil em pedra pareça ter quase estagnado.
Porém,
e ainda no século II, surgiu um interesse artístico particular em peças em ouro
e com incrustações de pedras preciosas por parte dos Godos, possível legado dos
Citas e Sármatas, e mesmo alguma influência romana, reconhecida popularmente
entre os Hunos. A produção artística consiste sobretudo de joias (broches,
anéis, brincos, fíbulas ou alfinetes, colares), placas e fivelas de cinto. Este
período fornece também alguns objetos de culto: relicários, cruzes e coroas,
com técnicas de trabalho do metal muito refinadas. A damasquinação consiste em
incrustar, por martelamento, um fio de ouro, prata ou cobre, numa superfície de
cobre ou prata. A joalharia cloisonnée consiste em desenhar uma série de
alvéolos separados por pequenas peças metálicas a uma placa de metal.
Talvez
os melhores exemplos sejam os achados na Roménia (em Pietrarossa), como esta
grande águia. Os Godos portaram este estilo à Itália, Gália e Hispânia e, um
exemplo disso, é esta coroa votiva de Recesvinto, rei de Toledo, de cerca de
670, encontrada em Fuente de Guarrazar, perto de Toledo, que não se destinava a
ser usada, mas sim exposta numa igreja. A popularidade deste estilo
policromático pode ser confirmada pela descoberta de uma espada no túmulo de
Childerico I, rei dos Francos, data do século V.
Literatura
Na
literatura, destacam-se poetas como Rutílio Numaciano que, no seu poema
"De reditu suo in patriam libri II" descreve o seu regresso de Roma à
Gália; Flávio Merobaude, um retórico hispânico ("Laus Christi").
Entre
os historiadores, destaca-se Paulo Orósio, também hispânico que nos fala da história
da criação do mundo, tema muito popular na Idade Média, em "Adversus
paganos" e Jordanes, com sua "Getica", sobre a origem e feitos
dos povos góticos.
Na
teologia, Próspero de Aquitânia compôs "De ingratis", um poema
moralista com fim didático, e o Papa Leão I (Leo I Summus Pontifex), profundo
pensador, que deixou Sermões e Epístolas.
Em
438, tornou-se memorável o Código de Teodósio, publicado em Constantinopla.
Ainda antes da morte de Teodósio II, foi divulgada a Consultatio, uma coleção
de pareceres legais da época.
Na
gramática, Fábio Plancíade Fulgêncio deixou Mithologicon libri III, Virgiliana
continentia e De Abstrusis sermonibus, e Fulgêncio de Ruspe, que escreveu
"De aetatibus mundi", um tratado teológico. Na verdade, durante o
reinado de Teodósio, surgiram grandes representantes de atividade intelectual:
Anício Mânlio Torquato Severino Boécio, que escreveu "De consolatione
philosophiae", Magno Félix Enódio, autor de um panegírico a Teodorico e de
outros trabalhos poéticos, Prisciano escreveu "Institutiones grammaticae",
Êutiques, "Ars de verbo", e Magno Aurélio Cassiodoro cuja produção
durou além dos seus registos públicos: as "Chronica", sobre História
Universal, "Historia Gothorum", "Lectiones divinae" e
"Institutiones divinarum et saecularium literarum".
Destacam-se
ainda compilações especiais por Gregório de Tours "História dos Francos
libri X" e "Gildas", a História da Bretanha, e Venâncio
Fortunato, um poeta lírico, o Papa Gregório I , que promoveu o canto
eclesiástico, e Isidoro de Sevilha, com "Origines libri XX".
Sociedade
A
progressiva cristianização dos povos ajudou a manter a língua latina, já que o
fundamental era propagar o Evangelho. Porém, com a quebra da estrutura romana,
o desenvolvimento tecnológico até então foi parado quase por completo. Na
verdade, pode-se dizer mesmo que regrediu, em alguns casos. A cultura
intelectual tornara-se um privilégio do clero, que dela se servia para os seus
próprios propósitos, o que justifica que a literatura da época tenha um forte
carácter religioso. As cortes teutônicas subsistiram, assim, como único refúgio
para o espírito literário da Roma Antiga. É o Direito a disciplina que
conservou os seus traços de vitalidade, e que esteve na base da constituição de
novas nacionalidades, adaptando as leis antigas para a nova distribuição
político-administrativa.
Algumas
tentativas de adaptação foram precisamente o Édito de Teodorico, a Lex Romana
Visigothorum e a Lex Burgundiorum.