A Civilização Fenícia foi uma civilização da
Antiguidade cujo epicentro se localizava no norte da antiga Canaã, ao longo das
regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria e norte de Israel. A civilização
fenícia foi uma cultura comercial marítima empreendedora que se espalhou por
todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1 500 a.C. a 300 a.C.
Os fenícios realizavam comércio através da galé, um veículo movido a velas e remos, e são creditados como os inventores dos birremes.
Os fenícios realizavam comércio através da galé, um veículo movido a velas e remos, e são creditados como os inventores dos birremes.
Não
se conhece com exatidão a que ponto os fenícios viam a si próprios como uma
única etnia; sua civilização estava organizada em cidades-estado, de maneira
semelhante à Grécia Antiga; cada uma destas constituía uma unidade política
independente, que frequentemente entravam em conflito e podiam dominar umas as
outras - embora também colaborassem através de ligas e alianças. Embora as
fronteiras antigas destas culturas antigas fossem incertas e inconstantes, a
cidade de Tiro parece ter marcado seu ponto mais meridional. Sarepta (atual
Sarafant), entre Sídon e Tiro, é a cidade mais extensivamente escavada pelos
arqueólogos em território fenício.
Os
fenícios foram a primeira sociedade a fazer uso extenso, a nível estatal, do
alfabeto. O alfabeto fonético fenício é tido como o ancestral de todos os
alfabetos modernos, embora não representasse as vogais (que foram adicionadas
mais tarde pelos gregos). Os fenícios falavam o idioma fenício, que pertence ao
grupo canaanita da família linguística semita. Através do comércio marítimo, os
fenícios espalharam o uso do alfabeto até o Norte da África e Europa, onde foi
adotado pelos antigos gregos, que o passaram aos etruscos, que por sua vez o
repassaram aos romanos. Além de suas diversas inscrições, os fenícios deixaram
diversos outros tipos de fontes escritas, porém poucas sobreviveram até os dias
de hoje. A Preparação Evangélica, de Eusébio de Cesareia, faz citações extensas
de Filo de Biblos e Sanconíaton.
Origens: 2 300-1 200 a.C
Em
termos de arqueologia, língua e religião, pouco separa os fenícios das outras
culturas da região de Canaã. Como canaanitas, sua única diferença eram seus
notáveis feitos marítimos. Nas tabuletas de Amarna do século XIV a.C.,
chamam-se de Kenaani ou Kinaani ("canaanitas"), embora estas cartas antecedam
a invasão dos Povos do Mar em mais de um século. Bem mais tarde, no século VI
a.C., Hecateu de Mileto escreve que a Fenícia era chamada anteriormente de χνα,
um nome que Filo de Biblos adotou posteriormente em sua mitologia como seu
epônimo para os fenícios: "Khna, que posteriormente foi chamado de
Phoinix." Já no terceiro milênio a.C. expedições marítimas eram feitas
pelos egípcios para trazer "cedros do Líbano".
O relato de Heródoto (escrito por
volta de 440 a.C.) se refere aos mitos de Io e Europa:
“Os persas mais esclarecidos
atribuem aos fenícios a causa dessas inimizades. Dizem eles que esse povo,
tendo vindo do litoral da Eritreia para as costas do nosso país, empreendeu
longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabelecido no país que
ainda hoje habita, transportando mercadorias do Egito e da Assíria...”
Apogeu: 1200–800 a.C
O
historiador francês Fernand Braudel comentou em seu livro, A Perspectiva do
Mundo, que a Fenícia foi um dos primeiros exemplos de uma
"economia-mundial" cercada por impérios. O ponto alto da cultura
fenícia e de seu poder marítimo costuma ser datado como o período que vai de 1
200 a 800 a.C.
Diversos
dos importantes centros urbanos fenícios, no entanto, teriam sido fundados
muito antes disso: Biblos, Tiro, Sídon, Simira, Arwad e Beirute (Berytus) são
citadas nas tabuletas de Amarna. A arqueologia identificou elementos culturais
do zênite fenício já no terceiro milênio a.C.
Uma
liga formada por cidades-estado portuárias independentes, juntamente com outras
situadas em ilhas ou ao longo dos litorais do mar Mediterrâneo, era muito
apropriada para o comércio entre a região do Levante, rica em recursos
naturais, e o resto do mundo antigo. Durante o início da Idade do Ferro, por
volta de 1 200 a.C., um evento até agora desconhecido ocorreu, associado
historicamente com a chegada de um povo vindo do norte, conhecido pelo exônimo
de Povos do Mar. Estes povos enfraqueceram e destruíram as civilizações egípcia
e hitita, respectivamente; no vácuo de poder que se seguiu à sua chegada,
diversas cidades fenícias adquiriram importância como potências marítimas.
As
sociedades fenícias estavam fundamentadas em três bases de poder: o rei; o
templo e seus sacerdotes; e o conselho de anciãos. Biblos foi a primeira cidade
a se tornar um centro predominante, a partir de onde os fenícios saíram para
dominar as rotas comerciais dos mares Mediterrâneo e Eritreu (Vermelho). Foi
nesta cidade que a primeira inscrição no alfabeto fenício foi encontrada, no
sarcófago de Ahiram (c. 1 200 a.C.). Posteriormente, Tiro tornou-se a cidade
mais poderosa; um de seus reis, o sacerdote Itobaal I (887-856 a.C.) estendeu
seu domínio sobre a Fenícia até a cidade de Beirute, e conquistou parte da ilha
de Chipre. Cartago foi fundada pelos fenícios; de acordo com Veleio Patérculo,
sua fundação ocorreu 65 anos antes da fundação de Roma, pela tíria Elissa,
chamada de Dido. O conjunto de cidades-reino que formavam a Fenícia passou a
ser conhecido por estrangeiros, e até mesmo pelos próprios fenícios, como
Sidônia (Sidonia) ou Tíria (Tyria); os fenícios e cananeus eram chamados de
sidônios ou tírios, à medida que uma cidade fenícia sucedeu a outra no poder.
Declínio: 539-65 a.C.
Ciro,
o Grande, rei da Pérsia, conquistou a Fenícia em 539 a.C. Os persas dividiram a
Fenícia em quatro reinos vassalos: Sídon, Tiro, Arwad, e Biblos. Estes reinos
prosperaram, e forneceram frotas navais para os reis persas. A influência
fenícia, no entanto, passou a diminuir depois da conquista; é provável que boa
parte da população fenícia tenha migrado para Cartago e outras colônias depois
do domínio persa. Em 350 e 345 a.C. uma rebelião em Sídon liderada por Tennes
foi esmagada por Artaxerxes III; sua destruição foi descrita por Diodoro
Sículo.
Alexandre,
o Grande conquistou Tiro em 332 a.C. após o Cerco de Tiro. Alexandre foi
excepcionalmente cruel com a cidade, executando 2000 de seus principais
cidadãos, embora tenha mantido o rei no poder. Em seguida tomou posse das
outras cidades de maneira pacífica; o soberano de Árados submeteu, e o rei de
Sídon foi deposto. A ascensão da Grécia helenística gradualmente tomou o lugar
dos resquícios do antigo domínio fenício sobre as rotas comerciais do leste do
Mediterrâneo. A cultura fenícia acabou por desaparecer totalmente em sua pátria
de origem, embora Cartago tenha continuado a florescer no Norte da África,
controlando a mineração de ferro e metais preciosos na Ibéria, e utilizando seu
poder naval considerável e seus exércitos de mercenários para proteger seus
interesses comerciais, até a eventual destruição pelas tropas romanas em 146
a.C., no fim das Guerras Púnicas.
Depois
de Alexandre, a pátria fenícia foi controlada por uma sucessão de soberanos
helenísticos: Laomedonte (323 a.C.), Ptolemeu I (320 a.C.), Antígono II (315
a.C.), Demétrio (301 a.C.), e Seleuco (296 a.C.). Entre 286-197 a.C., a Fenícia
(com a exceção de Árados) foi dominada pelos Ptolemeus do Egito, que
instauraram os sumos-sacerdotes da deusa Astarte (Eshmunazar I, Tabnit,
Eshmunazar II) como soberanos vassalos de Sídon.
Em
197 a.C. a Fenícia, juntamente com a Síria, voltou para a mão dos Selêucidas. A
região ficou cada vez mais helenizada, embora Tiro tenha se tornado autônoma em
126 a.C., seguida por Sídon em 111 a.C. Toda a Síria, incluindo a Fenícia, foi
capturada pelo rei Tigranes, o Grande, da Armênia, de 82 a 69 a.C., quando o
monarca foi derrotado pelo general romano Lúculo. Em 65 a.C. Pompeu, o Grande
finalmente incorporou o território à província romana da Síria.
Comércio
Os
fenícios foram alguns dos maiores comerciantes de seu tempo, e deviam muito de
sua prosperidade ao comércio. Inicialmente mantinham relações comerciais apenas
com os gregos, vendendo madeira, escravos, vidro e a púrpura de Tiro em pó.
Esta célebre tinta de forte cor púrpura era muito usada pela elite grega para
colorir suas vestes; o termo fenício vem do grego antigo phoínios, que
significa "púrpura". À medida que o comércio e o processo de
colonização se espalhou sobre o Mediterrâneo, os fenícios e gregos parecem ter,
de maneira inconsciente, dividido aquele mar em duas partes; os fenícios
navegavam pela (e eventualmente dominaram) parte meridional do mar, enquanto os
gregos mantinham suas atividades nas costas setentrionais. As duas culturas se
confrontaram muito esporadicamente, como na Sicília, que eventualmente foi
repartida em duas esferas de influência, a fenícia no sudoeste e a grega no
nordeste da ilha.
Rotas comerciais fenícias |
1
200 a.C., os fenícios foram por séculos a principal potência naval e mercantil
da região. O comércio fenício foi fundado com base na tinta conhecida como
púrpura tíria, uma tinta de um púrpura profundo, derivado da concha do molusco
gastrópode Murex, que anteriormente era encontrado com abundância nas águas
costeiras do leste do Mediterrâneo, e que acabou sendo extinta. As escavações
de James B. Pritchard em Sarepta, no Líbano atual, mostraram conchas esmagadas
do molusco, e recipientes de cerâmica manchados com a tinta produzida no local.
Os fenícios fundaram um segundo centro de produção da tinta em Mogador, no
atual Marrocos. Produtos têxteis de cores brilhantes eram símbolos
característicos de riqueza na sociedade fenícia, bem como o vidro, outro
importante item de exportação. Os fenícios também trouxeram para a região do
Mediterrâneo cães de origem africana e asiática, que acabaram por dar origem a
diversas raças locais. O Egito, onde as vinhas não podiam ser cultivadas devido
ao clima, comprava vinho dos fenícios do século VIII a.C.; este comércio está
documentado de maneira destacada nos navios naufragados descobertos em 1997 no
alto-mar, a 30 milhas a oeste de Ascalão. Fornos de cerâmica em Tiro e Sarepta
produziam as grandes jarras de terracota usadas para o transporte do vinho; o
Egito pagava com ouro vindo da Núbia.
De
outros lugares obtinham diferentes materiais, dos quais talvez os mais
importantes sejam a prata, obtida da península Ibérica, e o estanho, da
Grã-Bretanha (este último era fundido com o cobre (do Chipre), criando uma liga
metálica mais durável, o bronze. Estrabão afirma que existia um comércio
altamente lucrativo entre a Fenícia e a Britânia.
Moeda fenícia |
Os
fenícios estabeleceram entrepostos comerciais ao longo do Mediterrâneo, dos
quais o mais importante, estrategicamente, era Cartago, no Norte da África.
Antigas mitologias gaélicas mencionam um influxo de fenícios/citas à Irlanda,
liderados por Fênio Farsa. Outros fenícios também navegaram para o sul, ao
longo da costa africana; uma expedição cartaginesa liderada por Hanão, o
Navegador, explorou e colonizou o litoral atlântico da África até o golfo da
Guiné, e, de acordo com Heródoto, uma expedição fenícia enviada para o mar
Vermelho pelo faraó Necho II do Egito, por volta de 600 a.C., chegou até mesmo
a circum-navegar o continente e retornar, passando pelos Pilares de Hércules (o
estreito de Gibraltar) três anos depois. Em alusão a este périplo, nos anos 350
a.C. os cartagineses cunharam moedas em ouro com uma imagem no reverso que
muitos julgam representar o mar mediterrâneo e a oeste o continente americano.
Cultura
Língua e literatura
Formado
por 22 letras o alfabeto fenício foi um dos primeiros alfabetos a ter uma forma
rígida e consistente. Presume-se que seus caracteres lineares simplificados se
originaram a partir de um alfabeto semítico pictórico ainda não atestado, que
teria sido desenvolvido alguns séculos antes no sul do Levante. O precursor do
alfabeto fenício provavelmente tinha origem egípcia, como os alfabetos da Idade
do Bronze Média do sul do Levante lembram os hieróglifos egípcios ou, mais
especificamente, um sistema alfabético de escrita encontrado em Wadi-el-Hol, no
Egito central. Além de ter sido antecedido pelo proto-canaanita, o alfabeto
fenício também teve como antecessor uma escrita alfabética de origem
mesopotâmica chamada ugarítica. O desenvolvimento do alfabeto fenício a partir
do proto-canaanita coincidiu com o início da Idade do Ferro, no século XI a.C.
O
alfabeto foi descrito como um abjad, uma escrita que não representa as vogais.
As primeiras duas letras, aleph e beth deram o seu nome.
Alfabeto fenício |
A
representação mais antiga conhecida do alfabeto fenício foi a inscrição do
sarcófago do rei Ahiram, de Biblos, que data no máximo do século XI a.C.
Inscrições fenícias foram encontradas no Líbano, Síria, Israel, Chipre e
diversas outras localidades até os primeiros séculos da Era Cristã. Os fenícios
foram responsáveis por espalhar o uso de seu alfabeto por todo o mundo
mediterrâneo. Comerciantes fenícios levaram este sistema de escrita ao longo
das rotas comerciais do mar Egeu, chegando a Creta e à Grécia; os gregos
adotaram a maior parte das letras, alterando, no entanto, algumas delas para
vogais, dando origem ao primeiro alfabeto real.
O
idioma fenício está classificado no subgrupo canaanita do ramo noroeste da
família linguística semita. Seu descendente posterior no Norte da África é
conhecido como púnico. Nas colônias fenícias ao redor do Mediterrâneo
ocidental, a partir do século IX a.C., o fenício foi definitivamente suplantado
pelo púnico, variante que continuava a ser falada no século V d.C.; Santo
Agostinho, por exemplo, cresceu no Norte da África e o idioma lhe era familiar.
Arte fenícia
A
arte fenícia não tem as características exclusivas que a distinguem de seus
contemporâneos; isto se deve por ter sido altamente influenciada por culturas
artísticas estrangeiras, principalmente o Egito, Grécia e Assíria. Os fenícios
que estudavam às margens do Nilo e do Eufrates conquistavam uma ampla
experiência artística, e acabavam por desenvolver sua própria arte na forma de
um amálgama de modelos e perspectivas internacionais. Em artigo do New York
Times publicado em 5 de janeiro de 1879, a arte fenícia foi descrita da
seguinte maneira:
Arte em relevo |
"Ela
entrava nos trabalhos dos outros homens e aproveitava ao máximo sua herança. A
Esfinge do Egito se tornou asiática, e sua nova forma foi transplantada para
Nínive, por um lado, e para a Grécia, no outro. As rosetas e outros padrões dos
cilindros babilônios foram introduzidos ao artesanato fenício, e passados desta
maneira para o Ocidente, enquanto o herói do antigo épico caldeu primeiro se
tornou o Melcarte tírio, e, posteriormente, o Héracles, da Hélade."
Religião
Os
fenícios eram politeístas, e cultuaram diferentes divindades, muitas oriundas
de culturas vizinhas, ao longo de sua história. As evidências do segundo
milênio a.C. estão Adônis, Amon, Astarte, Baal Safon, Baalat Gebal
("Senhora de Biblos"), Baal Shemen (consorte de Baalat Gebal), El,
Eshmun, Hail, Ísis, Melcarte, Osíris, Shed, o venerável Reshef (Reshef da
Flecha), YHWY e Gebory-Kon. Já no milênio seguinte foram registrados outros,
como Chusor, Dagon, Eshmun-Melcarte, Milkashtart, Reshef-Shed, Shed-Horon e
Tanit-Astarte.
Os
fenícios conservavam ritos bem arcaicos, como a prostituição divina e o
sacrifício de crianças (em particular dos primogênitos) e de animais. A maioria
dos rituais religiosos eram feitos ao ar livre.
Influência na região do
Mediterrâneo
A
cultura fenícia teve um grande impacto sobre as culturas da bacia do
Mediterrâneo no início da Idade do Ferro, que por sua vez também os influenciaram
enormemente. Na Fenícia, por exemplo, a divisão tripartida entre Baal, Mot e
Yam parece ter sido influenciada pela divisão que havia na mitologia grega
entre Zeus, Hades e Posídon. Os templos fenícios dedicados a Melcarte nos
diversos portos mediterrâneos passaram a ser conhecidos, durante o período
clássico da história grega, como sagrados para Héracles. Histórias como o Rapto
de Europa e a chegada de Cadmo também apresentam influências fenícias.
Templo
construído pelos fenícios na cidade de Baalbek
|
A
recuperação da economia mediterrânea, após o colapso ocorrido no fim da Idade
de Bronze, parece ser em grande parte obra dos comerciantes e
príncipes-mercadores fenícios, que restabeleceram o comércio de longa
distância, como o existente entre o Egito e a Mesopotâmia, durante o século X
a.C. A revolução jônia foi, pelo menos na história lendária, liderada por
filósofos como Tales de Mileto e Pitágoras, ambos filhos de pais fenícios.
Motivos fenícios também estão presentes no período orientalizante da arte
grega, e desempenharam um papel formativo na civilização etrusca, na região da
Toscana, da península Itálica.
Existem
diversos países e cidades no mundo cujos nomes são derivados da língua fenícia,
como Altiburius, cidade da Argélia, a sudoeste de Cartago, que vem do fenício
"Iltabrush"; Bosa, na Sardenha, do fenício "Bis'en"; Cádis,
na Espanha, do fenício "Gadir"; Dhali (Idalion), no centro da ilha de
Chipre, do fenício "Idyal"; Érice (Erice), na Sicília, do fenício
"Eryx"; Malta, ilha no Mediterrâneo, do fenício "Malat"
('refúgio'); Marion, cidade no Chipre ocidental, do fenício "Aymar";
Oed Dekri, na Argélia, do fenício "Idiqra"; e Espanha, do fenício
"I-Shaphan" ('Terra dos Híraces'), latinizado posteriromente como
Hispania ("Hispânia").
O
fenício Hirão, na Bíblia, foi associado com a construção do Templo de
Salomão:
“II Crônicas 2:14 — Filho de uma
mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem de Tiro; este sabe trabalhar em
ouro, em prata, em bronze, em ferro, em pedras e em madeira, em púrpura, em
azul, e em linho fino, e em carmezim, e é hábil para toda a obra do buril, e
para toda a espécie de invenções, qualquer coisa que se lhe propuser...…”
Hirão
seria Hiram Abiff, arquiteto do Templo segundo a crença maçônica; ambos teriam
sido muito famosos por sua tinta púrpura.
Posteriormente,
profeta Elias execrou Jezebel, princesa de Tiro que se tornou consorte do rei
Acabe e introduziu o culto de seus deuses, entre eles Baal.
Muito
depois da cultura fenícia ter florescido, ou mesmo da existência da Fenícia
como entidade política, os canaanitas helenizados naturais da região ainda eram
conhecidos como "siro-fenícios", como no Evangelho de Marcos, 7:26:
"E esta mulher era grega, sirofenícia de nação…"
O
termo Bíblia, que vem do grego antigo "biblion", "livro",
deu origem ao nome da cidade fenícia helenizada de Biblos, que até então era
chamada de Gebal. Os gregos deram-lhe este nome porque era de lá que vinha o
papiro egípcio que era importado pelas cidades da Grécia. A Biblos atual é
conhecida em árabe como Jbeil, que vem de Gebal.
Hippoi
Os
gregos tinham dois nomes para os navios fenícios: hippoi e galloi. Galloi
significa "banheiras" e hippoi, "cavalos". Os nomes são
facilmente compreensíveis através das ilustrações de navios fenícios nos
palácios dos reis assírios dos séculos VIII-VII a.C., onde os navios têm forma
de banheiras com cabeças de cavalos em suas extremidades. É possível que estes
hippoi estariam relacionados às ligações fenícias com o deus grego Poseidon.
Ilustrações
As
portas de Tel Balawat (850 a.C.) podem ser encontradas no palácio de Salmanaser
III, um rei assírio, próximas a Nimrud. São feitas de bronze, e mostram navios
chegando para prestar homenagens a Salmanaser.
O
baixo-relevo de Khorsabad (século VII a.C.) mostra o transporte de madeira
(provavelmente cedro) do Líbano. Encontra-se no palácio construído
especificamente para Sargão I, outro rei assírio, em Khorsabad, no norte do
atual Iraque.
Relações com os gregos
No
fim da Idade do Bronze (por volta de 1 200 a.C.), havia intenso comércio entre
os canaanitas (ancestrais dos fenícios), egípcios, cipriotas e gregos. Nos
restos de um naufrágio ocorrido no litoral da Turquia (Ulu Bulurun), cerâmica
canaanita usada para o transporte de mercadoria foi encontrada juntamente com
objetos de cerâmica do Chipre e da Grécia. Os fenícios eram célebres por suas
habilidades ao trabalhar com o metal, e, ao fim do século VIII a.C., as cidades-estado
gregas mandavam enviados ao Levante para obter mercadorias de metal.
O
auge da atividade comercial fenícia se deu por volta dos séculos VIII-VII a.C.
Nesta altura ocorre uma dispersão das importações (cerâmica, pedra e faiança)
do Levante indicando um canal comercial fenício até a Grécia continental,
através do Egeu central. Em Atenas existem poucas evidências deste comércio,
com apenas algumas importações do Oriente, porém outras cidades litorâneas
gregas contém uma quantidade abundante destas mercadorias originárias da
região, evidenciando este comércio.
Al-Mina
é um exemplo específico do comércio que era realizado entre os gregos e
fenícios. Já se levantou a hipótese de que, por volta do século VIII a.C.,
comerciantes da Eubeia teriam estabelecido uma ligação comercial com a costa
levantina, utilizando-se de Al-Mina, na Síria, como base para este
empreendimento, embora ainda não se saiba até que ponto seriam reais estas
alegações. Os fenícios até mesmo obtiveram seu nome dos gregos, devido às suas
atividades comerciais; seu produto mais célebre era a tinta púrpura, conhecida
em grego como phoenos.
Alfabeto
O
alfabeto fonético fenício foi adotado e modificado pelos gregos, provavelmente
por volta do século VIII a.C. (na mesma época das ilustrações dos hippoi
fenícios). Isto provavelmente não ocorreu de uma vez, mas sim ao fim de um
longo processo de intercâmbios comerciais. Possivelmente neste período também
tenha ocorrido igualmente a adaptação de algumas ideias religiosas. Heródoto
cita a cidade de Tebas, no centro da Grécia, como o local específico onde esta
importação do alfabeto teria ocorrido. O lendário herói fenício Cadmo é quem
leva o crédito por ter trazido o alfabeto à Grécia, porém é mais plausível que
tenha sido levado por migrantes fenícios para a ilha de Creta, de onde se
expandiu gradualmente para o norte.
Ligações com a mitologia grega
Tanto
na mitologia fenícia quanto na grega Cadmo é um príncipe fenício, filho de
Agenor, rei de Tiro. Heródoto atribui a Cadmo o mérito de levar o alfabeto
fenício à Grécia, aproximadamente seiscentos anos antes da época em que o
próprio Heródoto viveu, ou seja, por volta de 1 000 a.C.
"Os
fenícios que haviam acompanhado Cadmo e no número dos quais figuravam os
gefireus, introduziram na Grécia, durante sua permanência nesse país, vários
conhecimentos, entre eles os alfabetos que eram, na minha opinião, até então
desconhecidos no país. A princípio, os gregos fizeram uso dos caracteres
fenícios, mas, com o correr do tempo, as letras foram-se modificando com a
língua e tomaram outra forma."
Deuses fenícios do mar
Devido
ao grande números de divindades que seguem o modelo de "Senhor dos
Mares" nas mitologias clássicas, é difícil atribuir um nome específico à
divindade marinha da religião fenícia. Esta figura "Poseidon-Netuno"
é mencionada por autores e em diversas inscrições como muito importante para
mercadores e marinheiros, porém o seu nome específico ainda está por ser
descoberto. Existem, no entanto, nomes específicos usados para cada
cidade-Estado, separadamente, a suas divindades marinhas locais. O deus dos mares
de Ugarit, por exemplo, era Yamm. Yamm e Baal, o deus das tempestades da
mitologia ugarítica, frequentemente associado a Zeus, se enfrentam numa batalha
épica pelo domínio do universo. Como Yamm é o deus dos mares, ele representa o
vasto caos. Baal, por outro lado, representa a ordem. Na mitologia ugarítica,
Baal derrota Yamm; em algumas versões do mito, ele o mata com uma clava feita
especialmente para ele, e, em outras, a deusa Astarte (Athtart) salva Yamm e
lhe ordena que fique em seus próprios domínios, já que fora derrotado. Yamm é o
irmão do deus da morte, Mot.
Alguns
estudiosos identificaram Yamm com Poseidon, embora ele também tenha sido
identificado com Ponto.