O Partido dos Panteras Negras (em inglês, Black Panther Party
ou BPP), originalmente denominado Partido Pantera Negra para Autodefesa (em
inglês, Black Panther Party for Self-Defense) foi uma organização política
extraparlamentar socialista revolucionária norte-americana e ligada ao
nacionalismo negro. Fundada em 1966, na cidade de Oakland, Califórnia, por Huey Newton e Bobby Seale, a
organização permaneceu ativa nos Estados Unidos até 1982.
A
finalidade original da organização era patrulhar guetos negros para proteger os
residentes dos atos de brutalidade da polícia. Posteriormente, os Panteras
Negras tornaram-se um grupo revolucionário marxista que defendia o armamento de
todos os negros, a isenção dos negros de pagamento de impostos e de todas as
sanções da chamada "América Branca", a libertação de todos os negros
da cadeia e o pagamento de indenizações aos negros por "séculos de
exploração branca". A ala mais radical do movimento defendia a luta
armada. Em seu pico, nos anos de 1960, o número de membros dos Panteras Negras
excedeu 2 mil, e a organização coordenou sedes nas principais cidades.
Os
confrontos entre os Panteras Negras e a polícia, nos anos de 1960 e nos anos de
1970, resultaram em vários tiroteios na Califórnia, em Nova Iorque e em
Chicago. Um desses confrontos resultou na prisão de Huey Newton por ter matado
um policial.
Na
medida em que alguns membros da organização foram considerados culpados de atos
criminosos, o grupo passou a ser alvo de ataques violentos por parte da
polícia, o que suscitou investigações, no Congresso dos Estados Unidos, sobre a
repressão policial contra os Panteras. Em meados dos anos de 1970, a perda de
muitos membros e a queda da simpatia do público pelos líderes negros levaram a
uma mudança dos métodos da organização, que passou a se dedicar à atividade
política convencional e à prestação de serviços sociais às comunidades negras.
Em
meados dos anos de 1980, a organização estava efetivamente desfeita. Segundo a
ex-militante Ericka Huggins, "o FBI quebrou os Panteras Negras. Acabar
conosco se tornou uma questão de honra, e nisso eles foram bastante
competentes". Em um único ano, afirmou ela, 28 membros dos Panteras Negras
foram assassinados, e vários outros foram presos.
O Programa dos dez pontos (maio
de 1967)
O QUE QUEREMOS AGORA! EM QUE
ACREDITAMOS
Para
aquelas pobres almas que não conhecem a história dos negros, as crenças e os
desejos do Partido Pantera Negra para Autodefesa podem parecer absurdos. Para o
povo negro, os dez pontos são absolutamente essenciais para a sua
sobrevivência. Temos ouvido a frase revoltante "essas coisas levam
tempo" por 400 anos. O Partido Pantera Negra sabe o que o povo negro quer
e precisa. A unidade negra e a autodefesa tornarão essas demandas uma
realidade.
O
QUE QUEREMOS
1.
Nós
queremos liberdade. Queremos poder para determinar o destino de nossa
comunidade negra.
2.
Queremos
desemprego zero para nosso povo.
3.
Queremos
o fim da ladroagem dos capitalistas brancos contra a comunidade negra.
4.
Queremos
casas decentes para abrigar seres humanos.
5.
Queremos
educação para nosso povo! Uma educação que exponha a verdadeira natureza da
decadência da sociedade americana. Queremos que seja ensinada a nossa
verdadeira história e nosso papel na sociedade atual.
6.
Queremos
que todos os homens negros sejam isentos do serviço militar.
7.
Queremos
um fim imediato da brutalidade policial e dos assassinatos de pessoas negras.
8.
Queremos
liberdade para todos os negros que estejam em prisões e cadeias federais,
estaduais, distritais ou municipais.
9.
Queremos
que todas as pessoas negras levadas a julgamento sejam julgadas por seus pares
ou por pessoas das suas comunidades negras, tal como definido pela Constituição
dos Estados Unidos.
10. Queremos terra, pão, moradia,
educação, roupas, justiça e paz.
EM QUE ACREDITAMOS
1.
Acreditamos
que nós, o povo negro, não seremos livres enquanto não formos capazes de
determinar nosso destino.
2.
Acreditamos
que o governo federal é responsável e obrigado a dar a todos os homens e
mulheres emprego e garantir alguma forma de salário. Acreditamos que se os
homens de negócio, brancos e americanos, não quiserem dar emprego a todos,
então os meios de produção devem ser tomados deles e colocados a disposição da
comunidade para que as pessoas possam se organizar e empregar toda a gente,
garantindo um nível de vida de qualidade.
3.
Acreditamos
que esse governo racista nos roubou, e agora exigimos um pagamento de sua
dívida de 40 hectares e duas mulas. Esse pagamento foi prometido há 100 anos
como restituição por todo o trabalho escravo e os assassinatos em massa do povo
negro. Nós iremos aceitar o pagamento em moeda corrente e ele será distribuído
por todas as nossas comunidades. Os alemães estão agora ajudando os judeus em
Israel pelo genocídio que realizaram contra aquele povo. Os alemães mataram 6 milhões
de judeus. Os americanos racistas foram parte do assassinato de mais de 50
milhões de pessoas negras; portanto, sentimos que essa é uma demanda bem
modesta que estamos fazendo.
4.
Acreditamos
que, se os donos de terras brancos não derem moradias decentes para a
comunidade negra, então as terras e as casas devem ser conseguidas através de
cooperativas de modo que nossa comunidade, com a ajuda do governo, possa
construir casas decentes para seu povo.
5.
Acreditamos
em um sistema educacional que dê ao nosso povo o conhecimento de si próprio. Se
uma pessoa não tem conhecimento de si mesma e de sua posição na sociedade e no
mundo, essa pessoa terá pouca chance de se relacionar com qualquer outra coisa.
6.
Acreditamos
que o povo negro não pode ser forçado a lutar no serviço militar para defender
um governo racista que não nos protege. Nós não vamos lutar nem matar outras
pessoas de cor no mundo que, como o povo negro, estão sendo vitimizadas pelo
governo americano branco e racista. Nós vamos nos proteger da força e da violência
dessa polícia racista e desse exército racista, usando todos os meios
necessários.
7.
Acreditamos
que podemos acabar com a brutalidade policial em nossa comunidade negra
organizando grupos negros de auto-defesa dedicados a defender nossa comunidade negra
da opressão e brutalidade da polícia racista. A Segunda Emenda à Constituição
dos Estados Unidos nos dá o direito de portar armas. Portanto, nós acreditamos
que todo o povo negro deva se armar para auto-defesa.'
8.
Acreditamos
que todos os negros devam ser libertados das várias prisões e cadeias, porque
não tiveram julgamento justo e imparcial.
9.
Acreditamos
que os tribunais devam seguir a Constituição dos Estados Unidos para que o povo
negro receba julgamentos justos. A 14ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos
[6]dá a toda pessoa o direito de ser julgada por seus pares. Um par é uma
pessoa de origem econômica, social, religiosa, geográfica, ambiental, histórica
e racial similar. Para dar cumprimento a isso, o tribunal teria que compor um
júri com elementos da comunidade negra, quando o réu fosse negro. Nós temos
sido e estamos sendo julgados por júris totalmente compostos por brancos, que
não têm nenhuma compreensão do que seja o "pensamento médio" da
comunidade negra .
10. Quando, no curso dos acontecimentos
humanos, torna-se necessário a um povo dissolver os laços políticos que o
ligavam a outro e assumir, entre os poderes da Terra, uma posição separada e
igual àquela que as leis da natureza e de Deus lhe atribuíram, o digno respeito
às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que o impelem a essa
separação. Acreditamos que essas verdades sejam evidentes, que todos os homens
são criados de maneira igual, que eles foram dotados por seu Criador de certos
direitos inalienáveis, dentre os quais estão a vida, a liberdade e a busca por
felicidade. Que, para assegurar esses direitos, governos são instituídos entre
os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados - que,
quando qualquer forma de governo se torna destrutiva desses fins, é direito do
povo alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais
princípios e organizando os seus poderes da forma que ao povo pareça mais
conveniente para sua segurança e felicidade. A prudência, de fato, recomenda
que os governos instituídos há muito tempo não sejam alterados por motivos
fúteis e temporários; e, segundo a experiência tem demonstrado, as pessoas
preferem sofrer, enquanto os males são suportáveis, a corrigir a injustiça,
abolindo as formas às quais estão acostumados. Mas, quando uma longa série de
abusos e usurpações, voltadas invariavelmente ao mesmo objetivo, indica o
desígnio de submeter as pessoas ao despotismo absoluto, é um direito delas, um
dever delas, abolir tal governo e instituir novos guardiães para a sua segurança
futura.
Protesto nas Olimpíadas de 1968
Na
Olimpíada da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos, dois atletas
afro-americanos, medalhistas dos EUA, fizeram a saudação do black power (braço
estendido com o punho enluvado e fechado) durante a cerimônia de premiação da
modalidade, após vencerem os 200 metros rasos. Por seu gesto, uma clara
manifestação política, os dois atletas foram banidos dos Jogos pelo Comitê
Olímpico Internacional (COI).
Esq.
p/ dir: Norman, Smith e Carlos na famosa
foto na Cidade do México 68.
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O
punho erguido (raised fist) é um símbolo do Black Panther Party. Reinaldo,
Eusébio e Sócrates (futebolista), todos ex-jogadores de futebol, também
comemoravam seus gols com o braço erguido e o punho fechado.