O
Cangaço foi um fenômeno do
banditismo brasileiro ocorrido no nordeste do país em que os homens do grupo
vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança pela falta de emprego,
alimento e cidadania causando o desordenamento da rotina dos camponeses.
Um dos
principais líderes do cangaço foi o "Capitão" Lampião (Virgulino
Ferreira da Silva), cujo título fictício de capitão surgiu de uma promessa não
cumprida do governo do Ceará de integrar o seu bando aos batalhões patrióticos
da Guarda Nacional caso Lampião e seus homens conseguissem deter o avanço da
coluna Prestes na cidade de Juazeiro. O termo cangaço vem da palavra canga
(peça de madeira usada para prender junta de bois a carro ou arado).
Por
volta de 1834, o termo cangaceiro já foi usado para se referir a bandos de
camponeses pobres que habitavam os desertos do nordeste, vestindo roupas de
couro e chapéus, carregando carabinas, revólveres, espingardas e facas longas
estreitas conhecidos como peixeiras .
"Cangaceiro"
era uma expressão pejorativa, ou seja, uma pessoa que não podia adaptar-se ao
estilo de vida costeira.
Por
esta altura naquela região, havia dois principais grupos de bandidos armados
frouxamente organizados: os jagunços , mercenários que trabalhavam para quem
pagou o seu preço, geralmente proprietários de terras que queriam proteger ou
expandir seus limites territoriais e também lidar com os trabalhadores rurais;
e os cangaceiros, "bandidos sociais", que tinham algum nível de apoio
da população mais pobre: os bandidos sustentando alguns comportamentos
benéficos, como atos de caridade, a compra de bens por preços mais altos e
dando às partes livres ("Bailes"), e a população forneceu abrigo e as
informações que os ajudou a escapar das forças policiais, conhecidos como
volantes , enviados pelo governo para detê-los.
O
Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços
caracterizados para os latifundiários; os
"satisfatórios", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os
cangaceiros independentes, com características de banditismo.
Os
cangaceiros conheciam bem a Caatinga, e por isso, era tão fácil fugir das
autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação.
Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas
de fuga e lugares de difícil acesso.
O
primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno
Brilhante", que agiu por volta de 1870, embora alguns historiadores
atribuam a Lucas Evangelista o feito de ser o primeiro a agregar um grupo
característico de cangaço, nos arredores de Feira de Santana (em 1828), sendo
ele preso junto com a sua quadrilha em 28 de Janeiro de 1848 por provocar
durante vinte anos assaltos contra a população de Feira. O último grupo
cangaceiro famoso porém foi o de "Corisco"
(Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
O
cangaceiro mais famoso foi Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião, que também denominado o "Senhor do
Sertão" e "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e
30 em praticamente todos os estados do nordeste.
Lampião e Maria Bonita |
Por
parte das autoridades, Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que
precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão, ele encarnou
valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra (semelhante ao que
acontecia com o mexicano Pancho Villa).
O
cangaço teve o seu fim a partir da decisão do então Presidente da República,
Getúlio Vargas, de eliminar todo e qualquer foco de desordem sobre o território
nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na
categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros
que não se rendessem.
No
dia 28 de julho de 1938, na localidade de Angicos, no estado de Sergipe,
Lampião finalmente foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi
morto junto com sua mulher, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros.
Os
cangaceiros foram degolados e suas cabeças colocadas em aguardente e cal, para
conservá-las. Foram expostas por todo o Nordeste e por onde eram levadas
atraiam multidões.
Este
acontecimento veio a marcar o final do cangaço, pois, a partir da repercussão
da morte de Virgulino, os chefes dos outros bandos existentes na Nordeste
vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.
Consta
que o primeiro homem a agir como cangaceiro teria sido o Cabeleira, como era chamado José
Gomes. Nascido em 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata
pernambucana, ele aterrorizou sua região. Mas foi somente no final do século
XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente com Antonio Silvino, Lampião e Corisco.
Lampião é o número 1, por uma
tropa volante no sertão de Sergipe. Morrem 11 cangaceiros, entre eles Lampião e Maria Bonita. |
Entre
meados do século XIX e início do século XX, o Nordeste do Brasil viveu momentos
difíceis, aterrorizado por grupos de homens que espalhavam o terror por onde
andavam. Eles eram os cangaceiros, bandidos que abraçaram a vida nômade e
irregular de malfeitores por motivos diversos. Alguns deles foram impelidos
pelo despotismo das mulheres poderosas.
Lucas
da Feira, ou Lucas Evangelista, agiu na região da cidade baiana de Feira de
Santana entre 1828 e 1848. Ele e seu bando de mais de 30 homens roubavam
viajantes e estupravam mulheres. Foi enforcado em 1849.
Os
cangaceiros conseguiram dominar o sertão durante muito tempo, pois eram
protegidos de coronéis, que se utilizavam dos cangaceiros para cobrança de
dívidas, entre outros serviços "sujos".
Um
caso particular foi o de Januário Garcia
Leal, o Sete Orelhas, que agiu no sudeste do Brasil, no início do século
XIX, tendo sido considerado justiceiro e honrado por uns e cangaceiro por
outros.
No
sertão, consolidou-se uma forma de relação entre os grandes proprietários e
seus vaqueiros.
A
base desta relação era a fidelidade dos vaqueiros aos fazendeiros. O vaqueiro
se disponibilizava a defender (de armas na mão) os interesses do patrão.
Como
as rivalidades políticas eram grandes, havia muitos conflitos entre as
poderosas famílias. E estas famílias se cercavam de jagunços com o intuito de
se defender, formando assim verdadeiros exércitos. Porém, chegou o momento em
que começaram a surgir os primeiros bandos armados, livres do controle dos
fazendeiros.
Os
coronéis tinham poder suficiente para impedir a ação dos cangaceiros.
O
cangaceiro - um deles, em especial, Lampião - tornou-se personagem do
imaginário nacional, ora caracterizado como uma espécie de Robin Hood, que
roubava dos ricos para dar aos pobres, ora caracterizado como uma figura
pré-revolucionária, que questionava e subvertia a ordem social de sua época e
região.
Coiteiros
Coiteiros
foram pessoas que ajudaram os cangaceiros, dando-lhes abrigo e comida. Eles
fizeram isso por muitas razões - que poderiam ser parentes de um cangaceiro,
amigos, ex-vizinhos, ou simplesmente tinha algum interesse em seu poder, ou
eles estavam com medo deles.
Volantes e macacos
Os
volantes eram pequenos e especial grupo de soldados - cerca de 20 a 60 - de
todos os estados da federação brasileira, formada pelo governo agências de
aplicação da lei enviados para procurar e destruir os cangaceiros. Os
cangaceiros muitas vezes se referiu a eles como "macacos", por causa de seus uniformes marrons e sua
vontade de obedecer suas ordens. Alguns deles realizados moderno (na época)
Hotchkiss metralhadoras , armas que os cangaceiros rapidamente aprenderam a
temer - mas estavam sempre dispostos a roubar para seu próprio uso.
Os
cangaceiros tinham noções muito específicas de como se comportar e se vestir.
Primeiro de tudo, a maioria deles sabia costurar muito bem. Vivendo nas terras
desérticas do nordeste do Brasil, tiveram que sobreviver em meio a arbustos
secos pontiagudos. Apesar do calor durante o dia, os cangaceiros preferiam usar
roupas de couro, enfeitadas com todos os tipos de fitas coloridas e peças de
metal.
Eles
também usaram luvas de couro com moedas e outras peças de metal costuradas por
eles, quase como uma armadura.
Por
causa do forte calor e da ausência de água á disposição, alguns cangaceiros -
especialmente Lampião - usavam perfumes, inclusive caros, como o francês, muitas vezes roubados de casas das pessoas
ricas e usados em grandes quantidades.
Kit básico para o cangaço:
·
Chapéu
de couro com abas largas dobradas
·
Munição
(até 18 quilos) e armas (a mais comum era o rifle Winchester 44)
·
Bolsa
(capanga) com remédios, fumo e brilhantina
·
Punhal
·
Lenço
para proteger boca e nariz contra a poeira
·
Roupa
resistente com mangas compridas contra o sol
·
Cantil
com água ou cachaça
As
armas dos Cangaceiros eram principalmente revólveres, espingardas, e os famosos
pára belo". Alega-se que como macaco "belo" era outra gíria para
os policiais. Assim, pistolas e rifles Winchester eram chamados pára belo. No
entanto, o nome parece ser na verdade uma derivação da expressão latina para
bellum que significa "preparar para a guerra" e foi usado em seguida
para se referir a arma oficial utilizada pelas tropas governamentais
brasileiras e por alguns dos soldados responsáveis pela aplicação da lei. A
pistola Luger que foi produzida pela fabricante de armas alemã.
Eles
também ficaram famosos por usarem uma faca fina, longa e bem afiada chamada
" Peixeira ", uma faca de limpeza de peixe, usada principalmente para
torturar ou cortar as gargantas de suas vítimas.
Alguns Cangaceiros
1.
Virgulino
Ferreira da Silva, vulgo Lampião
2.
Massilon
Benevides Leite
3.
Antônio
Inácio, vulgo Moreno
4.
Ezequiel
Ferreira da Silva, vulgo Beija-Flor
5.
Domingos
dos Anjos, vulgo Serra do Uman
6.
Luiz
Pedro do Retiro
7.
Hermínio
Xavier, vulgo Chumbinho
8.
José
de Souza, vulgo Tenente
9.
Laurindo
Soares, vulgo Fiapo
10. João Mariano, vulgo Andorinha
11. Joaquim Mariano Antonio de
Severia, vulgo Nevoeiro
12. Antonio Romeiro
13. Sabino Gomes
14. Izaias Vieira, Vulgo Zabêlê
15. Ignacio de Medeiros, vulgo Jurema
16. Felix da Matta Redonda, vulgo
Felix Caboge
17. Heleno Caetano da Silva, vulgo
Moreno
18. João Donato, vulgo Gavião
19. Pedro Gomes
20. João Henrique
21. Antonio Rosa
22. Cornelio de Tal, vulgo Trovão
23. José Lopes da Silva, vulgo
Mormaço
24. José Delphina
25. João Cesario, vulgo Coqueiro
26. Emiliano Novaes
27. Manoel Antonio de França, vulgo
Recruta
28. Francisco Antonio da Silva, vulgo
Cocada
29. José e André de Sá, conhecidos
por Marinheiros
30. Genesio de Souza, vulgo Genesio
Vaqueiro
31. Vicente Feliciano, vulgo Vicente
Preto
32. José Benedicto
33. Pedro de Quelé
34. José de Generosa
35. José de Angelica
36. Ricardo da Silva, vulgo Pontaria
37. Josias Vieira, vulgo Gato
38. José ou Antonio de Oliveira,
vulgo Menino
39. José Luz, vulgo José de Souza, ou
José Procopio
40. Cypriano de Tal, vulgo Cypriano
da Pedra
41. José Alexandre, vulgo José Preto
42. João Angelo de Oliveira, vulgo
Vereda
43. Firmino de Oliveira
44. Pedro Ramos de Oliveira, vulgo
Carrapeta
45. Antonio dos Santos, vulgo Cobra
Verde
46. Damião de Tal, vulgo Chá Preto
47. Virginio Fortunato
48. Manoel Vieira da Silva, vulgo
Lasca-Bomba
49. Antonio Juvenal, vulgo Mergulhão
50. José Pretinho
51. João Basílio, vulgo Joca Basílio
52. José Rachel, vulgo Papagaio
53. Anisio Marculino, vulgo Gasolina
54. Sebastião Valério da Silva, vulgo
Canção
55. Antonio Constância
56. Camillo Domingo, vulgo Pirulito
57. Laurindo Virgolino, vulgo
Mangueira
58. Miguel Gonçalves
59. Horácio Novaes
60. José Cipaúba
61. José Cariry, vulgo Fortaleza
62. Francelino Jaqueira
63. João Canafitula
64. Urbano Pinto
65. Raymundo da Silva, vulgo Aragão
66. Jesuino de Alves, vulgo Jesuino
67. Pirão de Araújo, vulgo Viróte
68. Rosemélen Sileveirinha, vulgo A
Segunda Cangaceira
69. Gilseclino da Rocha
70. Virgilino de Tanhaçu – Bahia
Fim do cangaço
O
cangaço em sua forma de “banditismo” foi um dos últimos movimentos do nosso
país de luta armada e de classe pobre que dominou por um longo período de tempo
o nordeste brasileiro. Virgulino Ferreira conhecido como Lampião foi um dos
maiores líderes da história dos movimentos armados independentes do Brasil.
Os
cangaceiros atingiam tanto pessoas pobres como ricas, porém o espírito de
liberdade e independência demonstradas pelos integrantes desses grupos ao
infligirem às normas da sociedade, iludiam e fascinavam os demais habitantes
das regiões do Sertão do Nordestino. Muitos destes cangaceiros utilizavam dessa
imagem de instrumento de justiça social para justificar seus crimes.
A
extinção desse fenômeno social foi consequência, sobretudo da mudança das
condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abria
para a massa nordestina com a migração para Sul, e das maiores facilidades de
comunicação, entre outros fatores.
Na escadaria da
prefeitura de Piranhas, em Alagoas, a exposição de 11 cabeças e
pertences dos
cangaceiros mortos no combate de Angico, em 1938. A primeira
cabeça (abaixo) é
a de Lampião. Acima, a de Maria Bonita
|
Os
traficantes das grandes favelas brasileiras roubam e matam criando seus
próprios protocolos e leis em seus locais de dominância característica
semelhante à dos cangaceiros nordestinos. Foram os cangaceiros que introduziram
o sequestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para
financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as
vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Essas
características são evidentes nas favelas quando relacionadas às milícias. Os
cangaceiros corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam
armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de
fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.
A Grota de
Angicos e a sinalização do local de emboscada do bando de Lampião
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Imagem da lapide
de Lampião e
Maria Bonita.
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