Saladino
- ca. 1138 — 4 de março de 1193, foi um chefe
militar curdo muçulmano que se tornou sultão do Egito e da Síria e liderou a
oposição islâmica aos cruzados europeus no Levante. No auge de seu poder, seu
domínio se estendia pelo Egito, Palestina, Síria, Iraque, Iêmen e pelo Hijaz.
Foi responsável por reconquistar Jerusalém das mãos do Reino de Jerusalém, após sua vitória na Batalha de Hattin e, como tal, tornou-se uma figura emblemática na cultura curda, árabe, persa, turca e islâmica em geral. Saladino, adepto do islamismo sunita, tornou-se célebre entre os cronistas cristãos da época por sua conduta cavalheiresca, especialmente nos relatos sobre o sítio a Kerak em Moab, e apesar de ser a nêmesis dos cruzados, conquistou o respeito de muitos deles, incluindo Ricardo Coração de Leão; longe de se tornar uma figura odiada na Europa, tornou-se um exemplo célebre dos princípios da cavalaria medieval.
Foi responsável por reconquistar Jerusalém das mãos do Reino de Jerusalém, após sua vitória na Batalha de Hattin e, como tal, tornou-se uma figura emblemática na cultura curda, árabe, persa, turca e islâmica em geral. Saladino, adepto do islamismo sunita, tornou-se célebre entre os cronistas cristãos da época por sua conduta cavalheiresca, especialmente nos relatos sobre o sítio a Kerak em Moab, e apesar de ser a nêmesis dos cruzados, conquistou o respeito de muitos deles, incluindo Ricardo Coração de Leão; longe de se tornar uma figura odiada na Europa, tornou-se um exemplo célebre dos princípios da cavalaria medieval.
Nasceu em Tikrit (no atual
território do Iraque) em 1138, e morreu em Damasco, hoje capital da Síria, em
1193. Foi o responsável por restaurar o sunismo no Egito.
Saladino distinguiu-se pela
primeira vez nas campanhas do Egito, sendo nomeado vizir. Sultão do Egito a
partir de 1175, sucedeu a Atabeg de Moçul, em nome de quem partiu à conquista
do Egito. Unificou o país (1164-1174), a Síria (1174-1187) e a Mesopotâmia,
tornando-se um poderoso dirigente. Doutrinou zelosamente seu povo a encarar a
luta contra a cristandade como uma guerra santa e fundou colégios para o ensino
da religião islâmica.
Baldwin IV, Rei de Jerusalém
|
Em duas ocasiões, em 1170 e 1172,
Saladino recuou de uma invasão ao Reino Latino de Jerusalém. Essas ordens
haviam sido dadas por Nur ad-Din, e Saladino esperava que aquele Reino Cruzado
permanecesse intacto, como um estado satélite entre o Egito e a Síria, até que
Saladino pudesse ganhar controle sobre a Síria também. Nur ad-Din e Saladino já
estavam rumo à guerra aberta nesses termos, quando Nur ad-Din morreu, em 1174.
O herdeiro de Nur ad-Din, as-Salih Ismail al-Malik era apenas um menino, sob os
cuidados de eunucos da corte, e morreu em 1181.
Imediatamente após a morte de Nur
ad-Din, Saladino marchou até Damasco e foi bem recebido na cidade. Lá ele
reforçou sua legitimidade, de acordo com o costume da época, casando com a
viúva de Nur ad-Din. Por outro lado, Alepo e Moçul, as outras duas maiores
cidades que Nur ad-Din havia governado, nunca foram tomadas, porém Saladino
conseguiu impor sua influência e autoridade a elas em 1176 e 1186,
respectivamente. Enquanto ele estava ocupado no cerco a Alepo, em 22 de maio de
1176, o sombrio grupo de assassinos do Ismaili, o Hashshashin, tentou matá-lo.
Eles conduziram dois atentados à sua vida, no segundo deles chegando a ponto de
infligir ferimentos.
Enquanto Saladino consolidava seu
poder na Síria, geralmente deixava em paz o reino Cruzado, embora fosse
frequentemente vitorioso nas ocasiões em que batalhava com os cruzados. Uma
exceção foi a batalha de Montgisard no dia 25 de novembro de 1177. Nela ele foi
derrotado pelas forças combinadas de Balduíno IV de Jerusalém, Reinaldo de Chatillon
e os Cavaleiros Templários. Apenas um décimo de seu exército conseguiu retornar
ao Egito.
Rei Ricardo Coração de Leão |
Uma trégua foi declarada entre
Saladino e os Estados Cruzados em 1178. Saladino passou o ano seguinte
recuperando-se da derrota e reconstruindo seu exército, retornando ao ataque em
1179, quando derrotou os Cruzados na batalha de Jacob's Ford. Contra-ataques
cruzados provocaram ainda outras retaliações de Saladino. Reinaldo de
Chatillon, em particular, perturbou as rotas de comércio e peregrinação
muçulmanas com uma frota no Mar Vermelho, uma rota marítima que Saladino
necessitava manter aberta. Como resposta, Saladino construiu uma frota de 30
galés para atacar Beirute em 1182. Reinaldo ameaçou atacar as cidades sagradas de
Meca e Medina. Em retribuição, Saladino cercou Al Karak, o forte de Reinaldo no
Senhorio da Transjordânia, em 1183 e 1184. Reinaldo respondeu saqueando uma
caravana de peregrinos no Hajj em 1185. De acordo com a Old French Continuation
de Guilherme de Tiro, do final do século XIII, Reinaldo capturou a irmã de
Saladino durante uma pilhagem a uma caravana, embora isso não seja atestado em
outras fontes contemporâneas, sejam elas muçulmanas ou francas. De fato,
Reinaldo havia atacado uma caravana anterior, e Saladino mandou a guarda
garantir a segurança de sua irmã e do filho dela, que não chegaram a sofrer
danos.
Em julho de 1187, Saladino
capturou a maior parte do reino de Jerusalém. No dia 4 de julho de 1187 ele
deparou-se, na Batalha de Hattin, com as forças combinadas de Guy de Lusignan,
Rei Consorte de Jerusalém, e Raimundo III de Trípoli. Somente na batalha, o
exército Cruzado foi em grande parte aniquilado pelo exército motivado de
Saladino, naquilo que foi um desastre completo para os cruzados e uma virada na
história das Cruzadas. Saladino capturou Reinaldo de Chatillon e providenciou
pessoalmente sua execução. Guy de Lusignan também foi capturado, porém sua vida
foi poupada. Dois dias após a batalha de Hattin, Saladino ordenou a execução de
todos os prisioneiros de ordem militar por decapitação. As execuções eram
levadas a cabo à medida que o próprio secretário de Saladino, Imad ad-Din,
descreve (Ibid, pág. 138): "Ele (Saladino) ordenou que eles deveriam ser
decapitados, preferindo tê-los mortos a prisioneiros. Com ele estava um grande
grupo de sufis e estudiosos, e certo número de devotos e ascetas; cada um
implorava permissão para matar um deles, e desembainhava sua espada e
arregaçava sua manga. Saladino, com uma expressão alegre no rosto, estava sentado
no seu dais; os descrentes mostravam um negro desespero." A execução dos
prisioneiros em Hattin não foi a primeira de Saladino. Em 29 de agosto de 1179
ele tomou o castelo em Bait al-Ahazon, e aproximadamente 700 prisioneiros foram
capturados e executados.
De acordo com Beha ad-Din,
Saladino planejava conquistar a Europa após a captura de Jerusalém:
“Enquanto
eu (Beha ad-Din) aguardava, Saladino voltou-se para mim e disse: "Creio
que, quando Deus me conceder a vitória sobre o resto da Palestina, deverei
dividir meus territórios, fazer um testamento declarando meus desejos, e então
içar velas neste mar, para suas terras longínquas, a lá arrebatar os francos,
de maneira a livrar a terra de qualquer um que não acredite em Deus, ou morrer
tentando.”
Logo, Saladino já havia capturado
quase todas as cidades dos cruzados. Ele tomou Jerusalém em 2 de outubro de
1187, após um cerco. Saladino inicialmente não pretendia garantir termos de
anistia aos ocupantes de Jerusalém, até que Balian de Ibelin ameaçou matar
todos os muçulmanos da cidade, estimado entre três e cinco mil pessoas, e
destruir os templos sagrados do Islã na Cúpula da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa
se não fosse dada anistia. Saladino consultou seu conselho e esses termos foram
aceitos. Um resgate deveria ser pago por cada franco na cidade, fosse homem,
mulher ou criança. Saladino permitiu que muitos partissem sem ter a quantia
exigida por resgate para outros. De acordo com Imad al-Din, aproximadamente
sete mil homens e oito mil mulheres não puderam pagar por seu resgate e foram
tornados escravos.
Cristãos perante Saladino
durante a Terceira Cruzad |
Apenas Tiro resistiu. A cidade
era então comandada pelo Conrado de Monferrato. Ele fortaleceu as defesas de
Tiro e suportou dois cercos de Saladino. Em 1188, em Tortosa, Saladino libertou
Guy de Lusignan e devolveu-o à sua esposa, a rainha Sibila de Jerusalém. Eles
foram primeiro a Trípoli, e depois a Antioquia. Em 1189 eles tentaram reclamar
Tiro para seu reino, mas sua admissão foi recusada por Conrado, que não
reconhecia Guy como rei. Guy então começou o cerco de Acre.
Tumba de Saladino em Damasco, na Síria. Fotografia:
Godfried Warreyn.
|
Hattin e a queda de Jerusalém
foram causas da Terceira Cruzada, financiada na Inglaterra por um especial
"dízimo de Saladino". Essa cruzada retomou a cidade de Acre. Após
Ricardo I de Inglaterra executar os prisioneiros muçulmanos em Acre, Saladino
retaliou matando todos os francos capturados entre 28 de agosto e 10 de
setembro. Beha ad-Din descreve uma cena particularmente horrenda envolvendo
dois francos capturados nesse período: "Enquanto estávamos lá eles
trouxeram ao sultão (Saladino) dois francos que haviam sido aprisionados pela
guarda avançada. Ele os decapitou ali mesmo." Os exércitos de Saladino
engajaram-se em combate com os exércitos rivais do rei Ricardo I de Inglaterra
na batalha de Apolónia (ou de Arsuf), em 7 de setembro de 1191, na qual
Saladino foi derrotado. A relação entre Saladino e Ricardo era uma de respeito
cavalheiresco mútuo, assim como de rivalidade militar; ambos eram celebrados em
romances cortesões. Quando Ricardo foi ferido, Saladino ofereceu os serviços de
seu médico pessoal. Em Apolónia, quando Ricardo perdeu seu cavalo, Saladino
enviou-lhe dois substitutos. Saladino também lhe enviou frutas frescas com
neve, para manter as bebidas frias. Ricardo sugeriu que sua irmã poderia
casar-se com o irmão de Saladino — e Jerusalém poderia ser seu presente de
casamento.
Os dois chegaram a um acordo
sobre Jerusalém no Tratado de Ramla em 1192, pelo qual a cidade permaneceria em
mãos muçulmanas, mas estaria aberta às peregrinações cristãs; o tratado reduzia
o reino latino a uma estreita faixa costeira desde Tiro até Jafa.
Saladino morreu no dia 4 de março
de 1193, em Damasco, pouco depois da partida de Ricardo. Quando o tesouro de
Saladino foi aberto não havia dinheiro suficiente para pagar por seu funeral;
ele havia dado todo o seu imenso tesouro para caridade.
Ele está enterrado no Mausoléu de
Saladino, no complexo da Mesquita dos Omíadas, em Damasco, e é uma atração
popular.
Considerado o campeão da guerra
santa, Saladino se tornou o herói de um ciclo de lendas, que percorreram todo o
Oriente médio e a Europa, e seus feitos são lembrados e admirados até os dias
de hoje pelos povos muçulmanos.
Forte protetor da cultura
islâmica, não era apenas um líder militar, mas também um excelente
administrador dos seus domínios. Mandou reconstruir a mesquita de Al-Aksa na
cidade de Jerusalém, e ordenou também a construção da cidadela do Cairo e
outros monumentos de interesse.