Mural da Revolução Mexicana de Diego Rivera |
A Revolução Mexicana foi um conflito
armado que teve lugar no México, com início em 20 de novembro de 1910.
Historicamente, costuma ser descrita como o acontecimento político e social
mais importante do século XX no México.
Os antecedentes do
conflito remontam à situação do México durante o Porfiriato. Desde 1876 o
general Porfírio Díaz liderou o exercício do poder no país de maneira
ditatorial. A situação prolongou-se por 34 anos, durante os quais o México
experimentou um notável crescimento econômico e estabilidade política. Estes
logros realizaram-se com altos custos econômicos e sociais, pagos pelos
estratos menos favorecidos da sociedade e pela oposição política ao regime de
Díaz. Durante o primeiro decênio do século XX rebentaram várias crises em
diversas esferas da vida nacional, as quais refletiam o crescente
descontentamento de alguns setores com o Porfiriato.
Quando Díaz
assegurou numa entrevista que se retiraria no final do seu mandato sem procurar
a reeleição, a situação política começou a agitar-se. A oposição ao governo
tornou-se relevante dada a postura manifestada por Díaz. Nesse contexto,
Francisco I. Madero realizou várias rondas pelo país com vista a formar um
partido político que elegesse os seus candidatos numa assembleia nacional e
competisse nas eleições. Díaz lançou uma nova candidatura à presidência e
Madero foi detido em San Luis Potosí por sedição. Durante a sua permanência na
cadeia realizaram-se as eleições que deram o triunfo a Díaz.
Fotografia do então coronel Porfirio Díaz, tomada em 1861 |
Em 1911
realizaram-se novas eleições das quais resultou a eleição de Madero. Desde o
começo do seu mandato teve diferenças com outros líderes revolucionários, as
quais provocaram o levantamento de Emiliano Zapata e Pascual Orozco contra o
governo maderista. Em 1913 um movimento contrarrevolucionário, encabeçado por
Félix Díaz, Bernardo Reyes e Victoriano Huerta, deu um golpe de estado. O
levantamento militar, conhecido como a Decena Trágica, terminou com o
assassinato de Madero, do seu irmão Gustavo e do vice-presidente Pino Suárez.
Huerta assumiu a presidência, o que ocasionou a reação de vários chefes
revolucionários como Venustiano Carranza e Francisco Villa. Após pouco mais de
um ano de luta, e depois da ocupação estado-unidense de Veracruz, Huerta
renunciou à presidência e fugiu do país.
Depois deste
acontecimento aprofundaram-se as diferenças entre as facções que haviam lutado
contra Huerta, o que desencadeou novos conflitos. Carranza, chefe da Revolução
de acordo com o Plano de Guadalupe, convocou todas as forças à Convenção de
Aguascalientes para nomearem um líder único. Nessa reunião Eulalio Gutiérrez
foi designado presidente do país, mas as hostilidades reiniciaram-se quando
Carranza rejeitou o acordo. Depois de derrotarem a Convenção, os
constitucionalistas puderam iniciar os trabalhos de redação de uma nova constituição
e conduzir Carranza à presidência em 1917. A luta entre facções estava longe de
terminar. Durante o reajustamento das forças foram assassinados os principais
chefes revolucionários: Zapata em 1919, Carranza em 1920, Villa em 1923 e
Obregón em 1928.
Atualmente não
existe um consenso sobre quando terminou o processo revolucionário. Algumas
fontes situam-o no ano de 1917, com a proclamação da Constituição do México,
algumas outras em 1920 com a presidência de Adolfo de la Huerta[4] ou 1924 com
a de Plutarco Elías Calles. Inclusivamente, há algumas que asseguram que o
processo se prolongou até aos anos 1940.
Porfirio
Díaz, Porfiriato
Porfirio Díaz, um
mestiço oaxaquenho que se destacou nos exércitos liberais que combateram grupos
conservadores e que participou na intervenção francesa, havia assumido a
presidência a partir de 1876 após o triunfo da rebelião de Tuxtepec, e no final
do seu sétimo mandato, em 1910, havia mantido uma ditadura de 34 anos. Durante
os últimos anos do seu governo Díaz gozou de pouca credibilidade e os seus
opositores eram cada vez mais numerosos devido a várias crises simultâneas em
todos os âmbitos: social, político, económico e cultural.
Pânico
financeiro de 1907
Durante o tempo
colonial muitas localidades puderam conservar algumas propriedades comunais,
designadas de forma genérica «ejidos». A Lei Lerdo de 1856 declarou baldias as
propriedades corporativas, particularmente as da Igreja e comunidades
indígenas. Entre 1889 e 1890 o governo de Díaz dispôs que as terras comunais
tornar-se-iam emparceláveis. Os novos proprietários, desacostumados à
propriedade privada, foram enganados por particulares ou funcionários. Como
resultado muita da população indígena viu-se desapossada de terras, tendo que
empregar-se nas fazendas próximas. Outra série de leis de demarcação dos anos
1863, 1883 e 1894, segundo as quais uma parcela sem o seu respetivo título
poderia considerar-se como terreno baldio, propiciou àqueles que tinham os recursos
necessários apossarem-se de grandes porções de terra. Em 1910 menos de 1% das
famílias do México possuíam ou controlavam cerca de 85% das terras cultiváveis.
As localidades rurais, que albergavam 51% da população, contavam apenas com
pequenas porções de terra e a maior parte da população dependia das fazendas
vizinhas. Além disso, as leis e a situação nacional favoreciam os fazendeiros,
pois eles eram os únicos com acesso a créditos e a projetos de irrigação por
exemplo. Por seu lado, as pequenas povoações e os agricultores independentes
viam-se obrigados a pagar impostos altíssimos. Esta situação afetou grandemente
a economia agrícola, pois as fazendas tinham grandes porções por cultivar e
eram menos produtivas que as propriedades menores.
Outra das
repercussões da demarcação de terras e do fracionamento das terras comunais
indígenas foi que alguns deles rebelaram-se contra o governo. Os conflitos, que
tiveram lugar nos finais do século XIX e princípios do século XX, foram
protagonizados por maias, tsotsis, coras, huicholes e rarámuris, entre outros.
Os conflitos mais duradouros foram os ocorridos em Yucatán, Quintana Roo e
Sonora. Perante tais grupos adotou-se uma política de deportação, sendo Yucatán
e Quintana Roo os principais destinos. No norte o governo de Díaz adotou contra
os iaquis uma política de repressão violenta e deportação para o sul do país. O
momento culminante contra este grupo teve lugar em 1908, momento no qual entre
um quarto e metade da sua população havia sido enviada para as plantações de
sisal em Yucatán. Mais tarde, estes grupos étnicos colaborariam com as forças
revolucionárias.
No início do
século XX começou a exploração petrolífera no México, ainda que as concessões
tenham sido entregues a companhias estrangeiras como a Standard Oil e a Royal
Dutch Shell. Este processo levou finalmente o país a uma transformação
industrial. Os investidores estrangeiros, protegidos pelo governo, investiram
em indústrias e na exploração de matérias-primas, foi dado impulso à mineração
e modernizou-se a indústria têxtil, o que ademais desenvolveu o sistema
ferroviário. Em 1910, já existiam 24 000 quilómetros de linhas ferroviárias.
No entanto, em
1907 desencadeou-se uma forte crise internacional nos Estados Unidos e Europa,
o que levou a uma diminuição das exportações, encarecimento das importações e
suspensão do crédito aos industriais. Esta situação criou muito desemprego,
além de que diminuíram os rendimentos da restante população.
Uma seca que
ocorreu em 1908 e 1909, afetou a produção agrícola, pelo que foi necessário
importar-se milho no valor de 27 milhões de pesos. Esta situação afetou a
grande parte da população, dado que o milho fazia parte da dieta de 85% da
população.
A consequente
diminuição na atividade económica do país reduziu drasticamente as receitas do
governo. Tentou-se resolver este problema diminuindo-se os salários da
burocracia e aumentando os impostos e a base fiscal, o que afetou os membros da
classe média, tanto urbana como rural, assim como os membros da classe alta que
não estavam ligados aos científicos, um grupo seleto de intelectuais,
profissionais e homens de negócios que compartilhavam a crença no positivismo e
darwinismo social e influíam na política do país.
Em termos gerais,
a crise econômica desacreditou severamente a imagem presidencial e do grupo de
elementos que lhe eram mais próximos.
Greve
de Río Blanco, Greve de Cananea
Durante o governo
de Díaz existiam numerosos latifúndios, e 80% da população mexicana dependia do
salário rural. Além disso, as tiendas de raya consistiam numa prática comum
nestes lugares, onde se pagavam os salários dos trabalhadores em mercadorias.
Mediante este sistema conseguia-se que os trabalhadores alcançassem tal valor
de crédito, que ficavam endividados para toda a vida. Este sistema, juntamente
com práticas que eram quotidianas como a contratação por logro ou a adjudicação
de uma dívida inexistente, é conhecido como «enganche», um sistema que envolvia
elementos coercivos, extra-económicos e extralegais.
As leis da nação
eram raramente aplicadas nas fazendas, onde os trabalhadores eram vistos como
escravos ou objetos de propriedade, existindo praticamente uma espécie de
feudalismo. Além disso, atuava no campo o chamado Cuerpo de Rurales, o qual era
um grupo policial encarregado de «manter a paz», geralmente recorrendo a
métodos brutais. Outra prática deste grupo era a leva, ou recrutamento
obrigatório.
Nas cidades, a
partir de 1906 começaram a surgir numerosos movimentos operários —são
representativas destes as greves de Cananea e Río Blanco—, que seriam
reprimidos pelo governo mediante o uso da força militar.
Diversos
inteletuais lutaram pela defesa dos direitos da classe operária, tais como
Lázaro Gutiérrez de Lara, Práxedis G. Guerrero, Juan Sarabia e Ricardo Flores
Magón, que havia alentado os movimentos operários em Cananea e Río Blanco. Um
dos meios de comunicação desta linha era o jornal Regeneración, surgido em
1900. O movimento encabeçado por estes e outros intelectuais era de natureza
complexa porque havia interpretações de diversas correntes de pensamento, desde
o iluminismo até ao positivismo. Os irmãos Flores Magón chegaram mesmo a
radicalizar-se notavelmente depois de serem expulsados do território mexicano.
Em 1908 tentaram sublevar o país entrando pelo norte, mas o levantamento não
teve grandes repercussões e provocou o declínio da sua influência.
Desde o princípio
do século começou a questionar-se o positivismo, ideologia que mantinha o grupo
no poder, o que levou ao descrédito do darwinismo social, perpetrado pelos
grupos de poder contra a população. Foi então que a maioria mestiça começou a
reclamar maior participação na tomada de decisões, além de que o grupo dos científicos
deixou de ser visto como congenitamente superior ou como o único capaz de
dirigir o governo.
O sistema político
do governo de Díaz sofreu uma crise severa devido ao envelhecimento do
presidente e da sua camarilha, conhecida comumente como científicos, o que o
tornou um sistema exclusivo ao qual não tinham acesso as novas gerações. Por
outro lado, o sistema político de Díaz baseava-se no equilíbrio de poderes
entre o grupo que lhe era mais próximo e os seguidores de Bernardo Reyes,
conhecidos como revistas, mas devido à idade avançada do presidente, a questão
da sucessão presidencial adquiriu maior importância. Assim, os científicos
reduziram o poder político dos revistas, que passaram então a ser membros da
oposição. Esta decisão ocasionou também a concentração de poder político e
económico em várias regiões, tais como Chihuahua, Morelos e Yucatán, o que
ocasionou descontentamento.
Em 1908 a situação
política do país começou a agitar-se, ao ser conhecida uma entrevista realizada
por James Creelman, repórter da Pearsons Magazine, ao então presidente do
México[25] em 18 de fevereiro desse ano.
Na entrevista
referida, Díaz assegurava:
“Esperei
com paciência o dia em que o povo mexicano estaria preparado para selecionar e
mudar o seu governo em cada eleição sem o perigo de revoluções armadas e sem
estorvar o progresso do país. Creio que esse dia chegou. ”
—
Porfirio Díaz,
A partir desse
momento começaram a formar-se diversos clubes antirreeleicionistas em todo o
país. No estado de Coahuila surgiu também o livro La sucesión presidencial en
1910, onde o seu autor, um fazendeiro de nome Francisco I. Madero, fazia uma
análise da situação política mexicana e além disso criticava o governo de Díaz,
ainda que de forma moderada.
Na sequência da
entrevista de Creelman ao presidente Díaz, e da aparição do livro de Madero, surgiram
vários partidos políticos, alguns a favor do governo atual e outros
completamente contra. Entre eles encontravam-se o Partido Liberal Mexicano (no
qual haviam participado entre outros Benito Juárez e Manuel Calero) e os
reyistas (partidários do general Bernardo Reyes), que fundaram o Club de
Soberanía Popular, embora posteriormente o general tenha sido eliminado da
concorrência devido ter sido nomeado para uma comissão de serviço na Europa em
1909.
Afinal, Díaz
decidiu candidatar-se novamente para presidente, juntamente com Ramón Corral
para vice-presidente. Assim, em 1909, foi reorganizado o Club Reeleccionista
por parte dos membros da aristocracia com a finalidade de promover a sua
campanha. Como contraproposta surgiu o Centro Antirreleccionista, com Francisco
I. Madero como figura central.
Francisco
I. Madero
Nascido em Parras,
Coahuila, em 30 de outubro de 1873, filho de um fazendeiro e neto de um
ex-governador de Coahuila, Francisco I. Madero estudou na França durante cinco
anos, estudando economia e comércio.
Francisco I. Madero e líderes revolucionários. 24 de abril de 1911. |
Madero realizou
três excursões para promover clubes antirreeleicionistas estaduais com vista a
celebrar uma convenção anual em abril de 1910, na qual se constituiria o
Partido Nacional Antirreeleicionista e se designariam os candidatos para as
próximas eleições. Madero foi detido por ordem do juiz de distrito de San Luis
Potosí enquanto estava em Monterrey, acusado de incitar à rebelião, pelo que
foi trasladado e confinado na prisão do estado. Quarenta e cinco dias depois
foi posto em liberdade sob fiança, ainda que sem a possibilidade de sair do
estado. Durante este mesmo período realizaram-se as eleições presidenciais.
Plano
de San Luis
As eleições
realizaram-se em 26 de junho desse ano, resultando eleitos Díaz e Corral.
Durante o mês de setembro foram levadas a cabo numerosas celebrações da
independência, às quais assistiram embaixadores e ministros plenipotenciários
de diversos países que mantinham relações internacionais com o país: da Espanha
o representante pessoal de Alfonso XIII o marquês Camilo de Polavieja, que
levou o uniforme de José María Morelos y Pavón para entregá-lo ao governo
mexicano; pelos Estados Unidos assistiu o embaixador especial Curtiss Guild;
estiveram também presentes Carl Buenz embaixador especial da Alemanha; Chan Tin
Fang, embaixador da China; o major-general Enrique Loynaz de Cuba; e Paul
Lafebre da França entre outros.
Em 6 de outubro
Madero escapou de San Luis Potosí com destino a San Antonio, Texas, onde se
reuniu com os seus familiares e partidários. Ali redigiu junto com um pequeno
grupo — entre os quais se destacavam Juan Sánchez Azcona (ex-reyista) e Roque
Estrada — um documento conhecido como Plano de San Luis, contudo na realidade o
texto apareceu datado de 5 de outubro em San Luis Potosí. O plano convocava à
luta armada; declarava nulas as eleições para presidente, vice-presidente,
magistrados do Supremo Tribunal, e deputados e senadores; reconhecia-se Madero
como presidente provisório e Chefe da Revolução; e insistia-se em
reivindicações de caráter social para indígenas e operários. Além disto,
assinalava o dia 20 de novembro como a data em que todos os mexicanos deviam
levantar-se em armas contra o governo. Junto com este documento, Madero
escreveu um manifesto dirigido ao Exército Federal, no qual o exortava a
unir-se ao movimento revolucionário.
“Concidadãos:-Não
vacileis pois um momento: tomai as armas, arrojai do poder aos usurpadores,
recobrai os vossos direitos de homens livres e recordai que os nossos
antepassados legaram-nos uma herança de glória que não podemos desonrar. Sede
como eles foram: invencíveis na guerra, magnânimos na vitória”.- SUFRÁGIO EFETIVO, NÃO
REELEIÇÃO.
San Luis
Potosí, 5 de outubro de 1910.- Francisco I. Madero
Aquiles Serdán, um
político mexicano que fugira para os Estados Unidos depois das eleições,
recebeu de Madero a incumbência de organizar a revolução em Puebla, donde era
originário. Em 18 de novembro, um grupo de polícias acorreu ao seu domicílio,
onde eram guardadas as armas. Aquiles resistiu junto aos seus irmãos, sendo
rodeados por 400 soldados e 100 polícias. Por fim foram assassinados na cave da
vivenda.
No dia 19 Madero
partiu do Texas e no dia 20 cruzou o rio Bravo para regressar a território
mexicano, onde o esperavam alguns ex-militares e alguns poucos voluntários
civis. Depois de algumas escaramuças de pouca importância, Madero regressou aos
Estados Unidos para reorganizar o movimento, mas evitou dirigir-se para San
Antonio, pois ali havia sido emitida uma ordem de detenção contra ele.
Dirigiu-se então para Nova Orleães.
Embora a morte de
Serdán parecesse um fracasso da tentativa revolucionária, a luta armada teve
resposta no ocidente de Chihuahua, não da parte dos antirreeleicionistas, mas
da gente do povo e zonas rurais. Mais tarde estendeu-se aos estados vizinhos de
Sonora, Durango e Coahuila.
Revolução
maderista
Em 14 de novembro,
Toribio Ortega, acompanhado por cerca de setenta homens, adiantou-se na luta
armada, pois havia sido descoberto e havia sido ordenada a sua detenção, pelo
que se rebelou contra o governo federal na localidade de Cuchillo Parado, no
estado de Chihuahua, unindo-se posteriormente a outro grupo rebelde maderista.
Em 20 de novembro,
data marcada para o início da revolução mexicana, ocorreram treze levantamentos:
oito em Chihuahua, um em Durango, um em San Luis Potosí e três em Veracruz,
todos principalmente em zonas rurais. Dentre estes movimentos destacaram-se os
de Pascual Orozco e Francisco Villa em Chihuahua; José María Maytorena e
Eulalio e Luis Gutiérrez em Coahuila; Jesús Agustín Castro em Gómez Palacio,
Durango; Cesáreo Castro em Cuatro Ciénegas, Coahuila; José de la Luz Blanco em
Cuchillo Parado, Chihuahua; os irmãos Figueroa em Guerrero; e Emiliano Zapata
em Morelos.
O primeiro
confronto entre revolucionários e tropas federais teve lugar em 21 de novembro
em Ciudad Guerrero, Chihuahua, no qual as hostes de Pascual Orozco, seguidor de
Abraham González, enfrentaram o terceiro regimento de cavalaria, sob o comando
do capitão Salvador Ormachea. Orozco apoderou-se finalmente da cidade em 30 de
novembro e partiu para Pedernales, onde derrotou as tropas federais. No final
desse mês, a luta havia-se estendido a sete estados da república.
Em 15 de dezembro
de 1910, Francisco Villa foi desalojado de San Andrés por tropas federais sob o
comando do tenente coronel Agustín Martínez. Posteriormente enfrentou o general
Navarro e decidiu retirar-se para Parral.
Díaz assumiu o
controlo do exército federal desde a capital e ordenou ao general Navarro que
retomasse Ciudad Guerrero com a ajuda do 20° batalhão de infantaria. Os
revolucionários e os federais enfrentaram-se no canhão Mal Paso, e os
seguidores maderistas tiveram que retirar-se após seis horas de combate. Um par
de dias depois, após quatro horas e meia de luta, os revolucionários
conseguiram vencer. Díaz ordenou que fossem reforçadas as tropas de Navarro, o
qual entrou em Ciudad Guerrero em 6 de janeiro sem combater, pois a cidade
havia sido abandonada.
Em Zacatecas, Luis
Moya levantou-se em armas, vencendo posteriormente as tropas federais em
Aguaje, Durango. Pouco depois tomou a praça de San Juan de Guadalupe, nesse
mesmo estado. Salvador Alvarado e Juan Cabral tomaram as armas no estado de
Sonora, ocupando os povoados de Cuquiarachi, Frontera e Bacoachi. Severiano
Talamantes, por seu lado, fez o mesmo em Sahuaripa, enquanto Praxedis Guerrero
sublevou-se em Janos, no estado de Chihuahua, mas foi morto pelas tropas
federais.
Entrando por
Zaragoza, a sudeste de Ciudad Juárez, em 14 de fevereiro de 1911, Madero
decidiu regressar ao México acompanhado de alguns seguidores, colaboradores e
do seu irmão Gustavo, com o propósito de assumir a liderança do movimento
armado, melhorar a sua organização e permitir-lhe poder atacar povoações de
maior tamanho. Em 6 de março, Madero, à frente de cerca de 800 irregulares,
decidiu atacar Casas Grandes, Chihuahua, mas foi derrotado pelo 18° batalhão de
infantaria sob o comando do coronel Agustín A. Valdéz. Durante o combate, foi
ferido num braço. Paralelamente surgiram mais movimentos no país, como nos
estados de Guerrero e Morelos, estendendo o conflito praticamente a todo o
território mexicano.
Madero retirou-se
para reorganizar as suas forças e recebeu o apoio de Pascual Orozco e Francisco
Villa, que operavam no cinturão de Chihuahua. Com pouco mais de 1 500 soldados,
quis atacar a capital do estado, mas decidiu posteriormente invadir Ciudad
Juárez, cidade situada junto à fronteira com os Estados Unidos.
Perante esta
situação, Porfirio Díaz tomou várias medidas desesperadas como suspender as
garantias individuais. Ademais, perante a notícia de que os Estados Unidos
estavam a reunir o seu exército na fronteira, tentou negociar um acordo de paz.
É importante
salientar que o movimento antirreeleicionista transformou-se durante o processo
militar: de oposição derivou em rebelião, pelo que o movimento urbano da classe
média converteu-se numa luta popular e rural, com novos líderes dispostos à
luta armada que não tinham participado no movimento que rechaçava a reeleição
de Porfirio Díaz, como Pascual Orozco —arrieiro e comerciante—, Pancho Villa
—que tinha sido salteador além de ter uma grande variedade de ofícios e
trabalhos— ou Emiliano Zapata —domador de potros que liderava reivindicações
agrárias em Anenecuilco—. Ao movimento haviam-se juntado rancheiros do norte do
país, vaqueiros, trabalhadores ferroviários, mineiros, operários, artesãos,
professores rurais, rancheiros do sul, entre outros, os quais tinham pouca
afinidade com a figura de Madero. Por estes motivos, este último quis dar a
luta por terminada prematuramente.
O pai de Madero e
o seu irmão Gustavo reuniram-se com José Ives Limantour, ministro da Fazenda e
Crédito Público, em Nova Iorque. Durante o encontro entregaram-lhe uma proposta
da Junta Revolucionária, onde se pedia ao governo a adopção da não-reeleição, a
renúncia do vice-presidente Corral, a democratização do governo e que fora
garantida a liberdade política.
No seu regresso à
capital, Limantour convenceu Díaz a efetuar mudanças no seu gabinete, pelo que
todos, à exceção de dois funcionários, foram substituídos. Além disso, Díaz
enviou uma iniciativa de lei ao Congresso para proibir a reeleição. As mudanças
referidas pareceram insuficientes a Madero, que continuou a insistir na
renúncia de Díaz e Corral.
As negociações
entre os maderistas e o governo continuaram, tentando-se chegar a um arranjo
segundo o qual Díaz permaneceria no poder. Representantes porfiristas
ofereceram inclusivamente a renúncia de Corral, a faculdade de os maderistas
poderem nomear quatro ministros do gabinete e catorze governadores. Apesar de
Madero estar disposto a aceitar, os seus colaboradores opuseram-se, pelo que as
negociações foram terminadas.
Desde 11 de abril,
Madero e as suas tropas estabeleceram um quartel-general próximo de Ciudad
Juárez, nas margens do rio Bravo, acordando-se mais tarde um armistício.
Em 7 de maio, o
presidente Díaz declarou no diário La Nación o seguinte manifesto:
Mexicanos:
A rebelião
iniciada em Chihuahua em novembro do ano passado e que paulatinamente tem vindo
a estender-se, fez com que o governo ao qual presido acudira, como era o seu
estrito dever, a combater militarmente o movimento armado[...]
Alguns cidadãos
patriotas e de boa vontade ofereceram-se espontaneamente para servirem de
mediadores com os chefes rebeldes; e ainda que o governo acreditasse não dever
iniciar qualquer negociação, porque tal seria ignorar os títulos legítimos da
sua autoridade, deu ouvidos às palavras de paz, manifestando que escutaria as
proposições que lhe apresentassem.
O resultado dessa
iniciativa privada foi[...] que se concertasse uma suspensão das hostilidades
entre o General Comandante das forças federais em Ciudad Juárez e os chefes
levantados em armas que operam naquela região, para que durante a trégua o
governo tomasse conhecimento das condições ou bases às quais haveria de
sujeitar-se o restabelecimento da ordem[...]
A boa vontade do
governo e o seu desejo manifesto de fazer concessões amplas e de dar garantias
eficazes da oportuna execução dos seus propósitos, foram interpretados, sem
dúvida, pelos chefes rebeldes como debilidade ou pouca fé na justiça[...] as
negociações fracassaram devido à exorbitância da exigência prévia[...]
Por último, fazer
depender a presidência da República[...] da vontade ou do desejo de um grupo
mais ou menos numeroso de homens armados, não é, decerto, restabelecer a
paz[...]
O Presidente da
República[...] retirar-se-á, sim, do poder, quando a sua consciência lhe diga
que ao retirar-se, não entrega o país à anarquia e fá-lo-á de forma
decorosa[...]
O fracasso das
negociações de paz trará talvez consigo a renovação e a recrudescência da
atividade revolucionária.
Manifesto
de Porfirio Díaz no La Nación, 7 de maio de 1911.
Como resultado, no
dia seguinte retomaram-se as hostilidades.
Tomada
de Ciudad Juárez
Ciudad Juárez era
defendida pelo general Juan Navarro e pelo coronel de infantaria Manuel
Tamborrell, os quais estavam encarregados das tropas e da guarnição
respetivamente. Os revolucionários, liderados por Orozco e Villa, desobedecendo
às ordens de Madero, atacaram a guarnição de Ciudad Juárez nos dias 8 e 9 de
maio conseguindo penetrar as suas trincheiras. Madero tentou, sem sucesso,
deter a investida, mas mais rebeldes uniram-se paulatinamente à transgressão,
pelo que finalmente decidiu dar ordem ao resto dos seus homens para
prosseguirem o assalto.
As tropas
revolucionárias tomaram finalmente a praça no dia 10, obrigando o general
Navarro a capitular. Então, Madero, de acordo com o Plano de San Luis, foi
nomeado presidente provisório e constituiu o seu Conselho de Estado, no qual
incluía entre outros a Venustiano Carranza, o seu irmão Gustavo e José María
Pino Suárez.
Em 17 de maio
assinou-se um armistício de cinco dias aplicável a toda a República mexicana.
No final deste, firmou-se um tratado de paz na referida cidade, o qual pôs
fim à revolução maderista.
Tratado
de Ciudad Juárez
No dia 21 desse
mês foi assinado nessa mesma cidade um documento conhecido como Tratado de
Ciudad Juárez, o qual estabelecia o seguinte:
Em Ciudad Juárez,
aos 21 dias do mês de maio de 1911, reunidos no edifício da Alfândega
Fronteiriça os senhores: licenciado Francisco S. Carvajal, representante do governo
do senhor general dom Porfírio Díaz; doutor Francisco Vázquez Gómez, Francisco
Madero pai e o licenciado José María Pino Suárez, os três últimos como
representantes da Revolução, para tratar de fazer cessar as hostilidades em
todo o território nacional, e considerando:
Que o senhor
general Porfírio Díaz manifestou a sua resolução de renunciar à presidência da
República antes de que termine o mês em curso.
[...]que o senhor
Ramón Corral renunciará igualmente à vice-presidência[...]
Que […] o senhor
Francisco León de la Barra […] encarregar-se-á interinamente do Poder Executivo
da nação e convocará eleições […]
Que o novo governo
[…] acordará o conducente às indemnizações pelos prejuízos causados diretamente
pela Revolução […]
Único: Desde hoje
cessarão em todo o território da República as hostilidades que existiram entre
as forças do general Díaz e as da Revolução, devendo estas estar licenciadas à
medida[...] se vão dando os passos necessários para restabelecer e garantir a
paz e a ordem pública.[nota e]
Tratado de Ciudad
Juárez, 21 de maio de 1911.
Renúncia
de Díaz
No dia 25 de maio,
Porfirio Díaz apresentou-se na Câmara de Deputados para entregar a sua renúncia
ao plenário, mediante um documento no qual ele declarava:
Aos CC.
Secretários da H. Câmara de Deputados.
Presente.
O Povo mexicano,
esse povo que tão generosamente me cobriu de honras, que me proclamou seu
caudilho durante a guerra de Intervenção[...] insurrecionou-se em grupos de
milhares armados, manifestando que a minha presença no exercício do Supremo
Poder Executivo, é a causa da sua insurreição.
Não conheço facto
algum que me seja imputável que motivara esse fenómeno social; mas permitindo,
sem conceder, que possa ser culpado inconsciente, essa possibilidade faz da
minha pessoa a menos apropriada para raciocinar e dizer sobre a minha própria
culpabilidade. Em tal conceito[...] (v)enho ante a Suprema Representação da
Nação a demitir sem reserva o encargo de Presidente Constitucional da
República[...]
Em 31 de maio,
Díaz abordou no porto de Veracruz o barco a vapor alemão Ypiranga rumo à
Europa, onde permaneceu no exílio até 2 de julho de 1915, data em que faleceu.
Francisco
León de la Barra
Francisco León de
la Barra assumiu a presidência interina após a renúncia de Porfirio Díaz.
As renúncias tanto
do presidente como do vice-presidente deram lugar a que o então secretário de
Relações Exteriores, Francisco León de la Barra, tomara posse como presidente
no mesmo dia 25 de maio de forma interina, mantendo-se no poder cerca de seis
meses.
Francisco León de la Barra,assumiu a presidência interina após a renúncia de Porfirio Díaz. |
Zapatismo,
Emiliano Zapata
Conforme os
Tratados de Ciudad Juárez, León de la Barra tentou acelerar o processo de
licenciamento das tropas revolucionárias. Calcula-se que dos 60 000 rebeldes,
apenas 16 000 organizaram-se em novos corpos de Rurales, regressando a maioria
à vida quotidiana. O maior opositor ao desarmamento e desmobilização das tropas
foi Emiliano Zapata, que pedia que se cumprisse primeiro o prometido por Madero
no Plano de San Luis sobre a restituição de terras. Perante esta situação,
Madero encontrou-se entre a postura do presidente interino, a qual era apoiada
pelos fazendeiros do estado de Morelos, e as reclamações das tropas
revolucionárias, que pediam que o prometido fosse cumprido.
Numa tentativa de
conciliação, Madero reuniu-se com Zapata em Cuautla em 18 de agosto de 1911,
onde se comprometeu a resolver o problema agrário em troca do licenciamento das
tropas zapatistas. Adicionalmente, pediu a Zapata que confiara nas negociações
com o governo. Inicialmente, De la Barra pareceu estar de acordo com as
petições de Zapata, mas em lugar de continuar as conversações ordenou ao
general Victoriano Huerta, que se encontrava no mesmo estado de Morelos, que
reprimira pela força o movimento zapatista. Madero teve que sair fugindo de regresso
à Cidade do México, enquanto Zapata e alguns dos seus homens retiraram-se para
as serras de Puebla e Guerrero. Pouco depois, Zapata deu a conhecer um
manifesto dirigido ao povo de Morelos, no qual acusava os traidores científicos
de quererem retomar o poder enquanto por outro lado desculpava Madero.
Adicionalmente, proclamava a existência do Exército Libertador do Sul.
Durante o
interinato, Bernardo Reyes regressou ao país, assegurando que tinha interesse
em unir-se à «revolução legalizada». Numa reunião entre Reyes, de la Barra e
Madero, este último ofereceu a Reyes o ministério de Guerra, embora, ante o
descontentamento dos revolucionários, esta oferta tenha sido retirada.
Outro conflito
surgiu com os irmãos Vázquez Gómez. Um deles, Emilio Vázquez Gómez, exercia
funções como ministro do Interior e advogava o não licenciamento das tropas
revolucionárias, pelo que a sua relação com de la Barra não era cordial. O
presidente pediu a Madero que solicitasse a sua renúncia, a qual se tornou
efetiva em 1 de agosto. Três semanas depois promulgou-se o Plano de Texcoco,
assinado por Andrés Molina Enríquez, o qual desconhecia o governo do presidente
de la Barra e chamava à continuação da luta armada. Como consequência, Molina
foi posto sob prisão.
Além disso, em 31
de outubro de 1911, foi proclamado o Plano de Tacubaya, firmado por Paulino
Martínez, jornalista da oposição, que viria a converter-se em ideólogo do
zapatismo. Nesse documento afirmava-se que o «Chefe da Revolução» havia traído
os seus próprios princípios assentados no Plano de San Luis, e acusava-o de
rodear-se de membros do antigo regime.
Eleições
extraordinárias do México de 1911
No meio de tais
conflitos começou a preparar-se a próxima eleição. Madero formou o Partido
Constitucional Progressista, baseado no Antirreeleicionista e no Plano de San
Luis, o qual apresentava como candidatos Madero para a presidência e José María
Pino Suárez para a vice-presidência. O rompimento com Vázquez Gómez para estas
eleições, ele que havia sido seu companheiro de candidatura nas eleições
anteriores, provocou o distanciamento de muitos ex-reyistas, experientes na
política nacional.
O Partido Nacional
Católico, fundado em 3 de maio de 1911, apresentou Madero para a presidência e
de la Barra à vice-presidência. O partido reyista por seu lado, propunha
Bernardo Reyes para a presidência, e o Partido Liberal Puro propunha Emilio
Vázquez Gómez.
As eleições
realizaram-se no mês de outubro, resultando vencedores Francisco I. Madero para
a presidência (com 99% dos votos) e José María Pino Suárez para a
vice-presidência, tendo o seu mandato início em 6 de novembro.
Presidência
de Madero (1911-1913)
Durante este
período de transição, em 27 de novembro de 1911 modificaram-se os artigos 78º 3
109º da constituição mexicana, proibindo assim as reeleições do presidente e
vice-presidente, ainda que este pudesse candidatar-se no período imediato. Além
disso, em dezembro de 1911 formulou-se a lei eleitoral, a qual foi reformada em
maio de 1912. A instauração de tal lei tinha como finalidade ampliar a
liberdade eleitoral, limitar a intervenção estatal nas eleições e expandir o
universo de eleitores, procurando uma maior igualdade eleitoral.
Durante o mandato
de Madero a pirâmide do poder transformou-se na sua quase totalidade: surgiram
novos governadores, muito diferentes dos que haviam participado no governo de
Díaz, além de que os antigos chefes políticos se viram substituídos por um novo
aparelho governativo dominado pelas classes médias, embora os operários e os
camponeses tenham continuado afastados dos processos políticos.
Movimento
zapatista
Dois dias após a
tomada de posse de Madero, o presidente enviou um representante a Morelos
pedindo que Zapata licenciasse as suas tropas. Zapata colocou como condições
que a demissão do governador do estado Ambrosio Figueroa , a retirada das
tropas federais, indultos e salvo-condutos para os integrantes do seu exército
e o estabelecimento de uma lei agrária que melhorasse a qualidade de vida no
campo. Madero rejeitou as condições e enviou o exército a Villa de Ayala onde
este estabeleceu um cerco e abriu fogo com a intenção de terminar com o
movimento. Zapata e os seus homens conseguiram fugir para o estado de Puebla, e
em 28 de novembro deram a conhecer o Plano de Ayala, documento redigido por
Otilio Montaño e assinado por elementos do Exército Libertador do Sul. No
referido documento acusava-se Madero de haver imposto o vice-presidente e os
governadores dos estados contra a vontade popular, de ser um ditador e de estar
em «conluio escandaloso com o partido científico, fazendeiros feudais e
caciques opressores inimigos da revolução». Além disto, reconhecia-se Pascual
Orozco como Chefe da Revolução e, no caso de este não aceitar, o chefe seria
Emiliano Zapata.
Emiliano Zapata proclamou o Plano de
Ayala, documento que desconhecia
o governo maderista.
|
Ao longo de 1912 a
luta entre zapatistas e o governo foi de intensidade reduzida, entre poucos e
pequenos grupos rebeldes zapatistas e as tropas do general Felipe Ángeles, que
havia recebido instruções de Madero para que a luta não fosse excessivamente
violenta.
Plano
orozquista
Desde o momento em
que Pascual Orozco desobedeceu às ordens de Madero e se dirigiu a atacar Ciudad
Juárez romperam-se as relações entre estes dois personagens. A situação
agravou-se quando não foi eleito para formar parte do gabinete do governo
provisório formado depois da assinatura dos Tratados de Ciudad Juárez e quando
durante as eleições para governador de Chihuahua, Orozco perdeu frente ao
candidato apoiado por Madero, Abraham González.
Em março de 1912
Orozco desconheceu o governo de Madero e incitou à revolta armada contra ele
por meio do Plano orozquista. O seu movimento conseguir convocar as classes
populares, média e alta, além de que tomou força após derrotar Villa.
Victoriano Huerta foi enviado pelo governo maderista para sufocar a rebelião.
Depois de derrotar os orozquistas converteu-se em herói nacional, ganhando a
confiança do presidente.
Movimentos
contrarrevolucionários
Bernardo Reyes
tentara competir nas eleições presidenciais de 1911, mas perante as ameaças dos
maderistas decidiu sair do país e desde San Antonio, Texas, lançõu o Plano de
La Soledad em novembro de 1911, o qual procurava rejeitar o governo de Madero.
Regressou ao México em 5 de dezembro mas deparou-se com a deserção dos seus seguidores,
pelo que acabou por entregar-se às autoridades federais. Foi encarcerado na
prisão de Santiago Tlatelolco e posteriormente julgado por um tribunal de
guerra acusado de sedição. O referido tribunal considerou-o culpado, enviando-o
a um tribunakl marcial.
No estado de
Veracruz, Félix Díaz, sobrinho de Porfirio Díaz, levantou-se em armas em 16 de
outubro de 1912 seguido por alguns militares da zona. Contudo, o movimento não
teve a repercussão esperada e em poucos dia foi derrotado pelas tropas
federais. Em 23 de outubro Félix Díaz foi capturado e levado para a Cidade do
México, onde foi encarcerado. Foi submetido a um tribunal de guerra, que o
condenou à morte. Apesar disso, sob pressão de membros do Supremo Tribunal
(porfiristas), a pena foi comutada em prisão perpétua.
O embaixador dos
Estados Unidos no país durante o governo de Madero era Henry Lane Wilson, o
qual, inimizado com Madero, interveio na política nacional para derrubá-lo.
Wilson teve várias fricções com o governo mexicano porque este não havia
favorecido os interesses comerciais de investidores estadunidenses, e ao invés,
proclamara uma série de medidas nacionalistas que os afetavam. Por exemplo, uma
nova legislação ferroviária fez com que os trabalhadores estadunideses que não
soubessem falar espanhol fossem substituídos por trabalhadores mexicanos.
Ademais, uma nova legislação sobre a exploração petrolífera no país obrigava os
estrangeiros a pagar impostos.
Wilson
encarregou-se então de aumentar as fricções entre ambos os países ao enviar ao
seu governo relatórios alarmistas sobre a situação do país, o que levou os
Estados Unidos a exigirem que fosse salvaguardada a integridade dos seus
cidadãos radicados no México e que fossem garantidos os investimentos
realizados.
Dezena
Trágica, Pacto da Cidadela
Desde meados de
1912 desenvolvia-se uma conspiração na qual participaram Rodolfo Reyes, filho
de Bernardo, e os generais Manuel Mondragón, representante de Félix Díaz, e
Gregorio Ruiz.
No dia 9 de
fevereiro iniciou-se o golpe de Estado que se consumou em dez dias, pelo que
este acontecimento ficou conhecido como a Dezena Trágica. Durante esses dias
rebelaram-se os alunos da Escola de Aspirantes de Tlalpan e a tropa do quartel
de Tacubaya. Marcharam em duas colunas: uma em direção a Tlatelolco e outra em
direção a Lecumberri, com a finalidade de libertarem o general Bernardo Reyes e
Félix Díaz.
Depois de ser
libertado, Reyes dirigiu-se ao Zócalo da Cidade do México, onde procurava que a
guarnição do Palácio Nacional o seguisse. Porém, o general Lauro Villar, chefe
da praça, ordenou que se abrisse fogo, morrendo Reyes no local. Por seu lado,
Félix Díaz, dirigiu-se à praça da Cidadela, local onde estabeleceu o seu
quartel. Entretanto, Madero saíu da então residência oficial presidencial, o
Castelo de Chapultepec, e dirigiu-se ao Palácio Nacional, onde substituiu o
general Villar, que havia ficado ferido durante o combate com Reyes, e
encarregou Victoriano Huerta de sufocar a rebelião enquanto ele saía para
encontrar-se com Felipe Ángeles em Cuernavaca.
Madero regressou
confiado à capital acompanhado pelo general Ángeles e Rubio Navarrete, que se
havia deslocado desde Querétaro. Huerta encarregou-se de atrasar e entorpecer
os ataques, pelo que Gustavo Madero ordenou que fosse detido. No dia 17 de
fevereiro, Huerta recusou as acusações de Gustavo, reafirmando a sua lealdade a
Francisco I. Madero. Este ordenou a sua libertação, repreendendo o seu irmão
por ser impulsivo.
No dia seguintes,
Huerta e Féliz Díaz firmaram o chamado Pacto da Cidadela, conhecido também como
Pacto da Embaixada devido a ter sido assinado na embaixada dos Estados Unidos
na presença de Henry Lane Wilson. O pacto estabelecia o compromisso de Huerta
em prender o presidente e dissolver o executivo para tomar a presidência da
República de forma provisória, a fim de que, chegadas as eleições, Félix Díaz
fosse nomeado presidente.
Na Cidade do
México, às nove e meia da noite do dia dezoito de fevereiro de mil novecentos e
treze, reunidos os senhores generais Félix Díaz e Victoriano Huerta[...] expôs
o senhor general Huerta que, em virtude de ser insustentável a situação por
parte do governo do senhor Madero, fez prisioneiro ao referido senhor, ao seu
gabinete e a algumas outras pessoas. Depois de discussões[...] acordou-se o
seguinte: Primeiro: Desde este momento dá-se por inexistente e desconhecido o
Poder executivo que funcionava. Segundo. Com a maior brevidade procurar-se-á
solucionar a situação existente, nos melhores termos legais possíveis, e os
senhores Díaz e Huerta porão todos os seus empenhos em que o segundo assuma
antes de setenta e duas horas a presidência provisória[...]O general Victoriano
Huerta
O general
Félix Díaz.
Pouco antes da
reunião, Gustavo A. Madero foi detido num restaurante da Cidade do México e
levado para a Cidadela, onde foi torturado e posteriormente assassinado.
O general
Aureliano Blanquet encarregou-se de aprisionar o presidente Madero e o
vice-presidente Pino Suárez no Palácio Nacional. Na madrugada de 19 de
fevereiro, em sessão extraordinária da Câmara de Deputados, aceitou-se a
renúncia de ambos. Foi então designado como presidente o secretário do
Interior, Pedro Lascuráin, cuja única ação de governo foi nomear Victoriano
Huerta como secretário do Interior, para que pudesse renunciar 45 minutos
depois para que Huerta pudesse ser nomeado presidente interino do México,
conforme a legislação vigente.
Madero e Pino
Suárez permaneceram presos no Palácio Nacional até à noite do dia 22 de
fevereiro, sendo então levados para a Penitenciária do Distrito Federal, mas
quando estavam próximos do seu destino foram assassinados.
Ditadura
de Victoriano Huerta
Uma vez no poder,
Victoriano Huerta tornou-se um ditador que anulou a democracia e a liberdade
por meio da força militar. Huerta recebeu o apoio dos grandes fazendeiros, dos
altos comandos militares, do clero e de quase todos os governadores dos
estados, com a exceção de José María Maytorena, governador de Sonora, e de
Venustiano Carranza, governador de Coahuila. A gestão huertista propôs-se então
duas metas: conseguir a pacificação do país e obter o reconhecimento
internacional do seu governo, sobretudo da parte dos Estados Unidos.
Tentou conseguir o
apoio de orozquistas e zapatistas, concedendo amnistias gerais e enviando
representantes. Pascual Orozco colocou algumas condições que foram atendidas,
como emprego no corpo de guardas rurais para os seus soldados, pagamento de
salários à custa do erário público, e pensões para viúvas e órfãos, pelo que em
27 de fevereiro de 1913 Orozco tornou oficial o seu apoio ao governo. Zapata,
por seu lado, rejeitou taxativamente qualquer oferta, pelo o movimento
morelense continuou a sua luta contra o governo de Huerta.
A Câmara de
Deputados opôs-se ao governo huertista e até a facção maderista foi
extremamente crítica das suas ações. Belisario Domínguez, deputado de Chiapas,
escreveu um discurso no qual condenava a violência desencadeada e acusou
Victoriano Huerta de ser um assassino. Depois de ser proibida a sua leitura no
Congresso por parte da Câmara de Senadores, difundiu-o por escrito. Pouco tempo
depois foi assassinado e quando os membros da Câmara exigiram que a sua morte
fosse investigada e que as vidas dos membros do Poder Legislativo fossem
garantidas, Huerta decidiu dissolver a Câmara e mandou prender vários dos seus
membros. Quando a Câmara de Senadores tomou conhecimento destes factos os seus
membros concordaram dissolver a sua própria Câmara, pelo que Huerta assumiu faculdades
extraordinárias.
Relação
com os Estados Unidos
Poucos dias depois
da Dezena Trágica, Woodrow Wilson assumiu a presidência dos Estados Unidos.
Wilson, que não simpatizava com Huerta, enviou agentes para que o informassem
da situação que prevalecia no país. John Lind chegou ao México para substituir
Henry Lane Wilson e em agosto de 1913 apresentou a Huerta quatro propostas do
governo dos Estados Unidos:
·
Cessar-fogo
imediato e armistício definitivo.
·
Eleições
livre imediatas com a participação de todas as facções.
·
Que
o general Huerta não participasse nas eleições.
·
Acordo
de todos os partidos em acatar o resultado e cooperar com o novo governo.
As propostas foram
rejeitadas por intermédio do secretário de Relações Exteriores, Federico
Gamboa, pelo que o presidente Wilson declarou os Estados Unidos neutros no
conflito. Desta forma nenhuma das duas facções podia comprar armamento ao país
vizinho.
Revolução
constitucionalista
A subida ao poder
de Huerta levou os antiporfiristas a levantarem-se em armas, iniciando o que se
conhece como «revolução constitucionalista» em março de 1913 no norte do
México.
Plano
de Guadalupe
Um dia depois da
ascensão de Huerta ao poder, Venustiano Carranza, governador de Coahuila,
dirigiu-se ao Congresso local informando da sua desaprovação da designação de
Huerta como presidente da nação e assegurando que se recusava a submeter-se ao
seu governo. No dia 26 de março de 1913, reunidos na Fazenda de Guadalupe, em
Saltillo, Carranza e outras personalidades, entre as quais se destacam Lucio
Blanco e Jacinto B. Treviño, proclamaram o Plano de Guadalupe, que desconhecia
os três poderes da federação e comunicava que tomariam as armas para
restabelecer a ordem constitucional. Adicionalmente, Carranza era nomeado chefe
do Exército Constitucionalista e era-lhe conferida a faculdade de ocupar a
presidência interina do México para convocar eleições.
Movimentos
no norte do país
Este movimento
caraterizou-se por ter uma natureza legalista, e entre os seus líderes
secundários encontravam-se os principais políticos e burocratas do estado.
Entre os militares que integravam as suas fileiras estavam: Jesús Carranza
—irmão do governador—, Pablo González, Francisco Coss, Cesáreo Castro e Jacinto
B. Treviño, veteranos da luta contra o governo de Díaz.
No estado de
Sonora, os generais Álvaro Obregón e Plutarco Elías Calles deram o seu apoio a
Carranza de forma imediata, tomando a liderança no movimento no estado
juntamente com Salvador Alvarado, Manuel Diéguez e Adolfo de la Huerta, entre
outros. Esta facção era representada por uma classe média com certa capacidade
militar, e com experiência para realizar pactos com grupos populares.
Em Chihuahua,
embora a classe média tivesse sido a protagonista durante a luta contra
Porfirio Díaz e seu governo, a morte Abraham González e a adesão de Pascual
Orozco ao lado huertista tiveram como resultado que a luta no estado fosse
dirigida por Francisco Villa, membro das classes baixas, pelo que os seus
lugar-tenentes e comandantes secundários—entre os quais se destacam Maclovio
Herrera, Rosalío Hernández e Toribio Ortega— teram também parte dos setores
populares.
Outros movimentos
importantes foram estabelecidos no estado de Durango, onde os principais
líderes rebeldes eram de origem popular —como Tomás Urbina, Orestes Pereyra,
Calixto Contreras e os irmãos Arrieta (Domingo, Mariano e Eduardo)—; e em
Zacatecas, encabeçado por Fortunato Maycotte e Pánfilo Natera, o qual foi um
movimento da classe média e populares.
Em 18 de abril
teve lugar em Monclova, Coahuila, uma convenção na qual estiveram presentes
representantes do movimento revolucionário dos estados de Chihuahua, Sonora e
Coahuila, cuja duração foi de três dias, durante os quais foi ratificado o
Plano de Guadalupe, a união das forças dos três estados num único exército, e o
compromisso de Carranza para cumprir o Plano de Guadalupe, que o converteu no
Primeiro Chefe do Exército Constitucionalista e líder da rebelião no norte.
Conforme o
movimento se foi espalhando, houve adições ao plano original, principalmente de
parte de políticos de Coahuila e anti-huertistas de Sonora e Chihuahua.
No mês de maio, a
Divisão do Noroeste, sob o comando de Álvaro Obregón, tomou as povoações de
Santa Rosa e Santa María, com o que praticamente ficou assegurado o controlo de
Sonora. Por este avançou pela costa do Pacífico até chegar ao centro de
Jalisco. Em Chihuahua e parte da Comuna Lagunera operou a Divisão do Norte de
Francisco Villa. A Divisão do Nordeste, comandada por Pablo González, e a
Divisão do Centro, sob o comando de Pánfilo Natera, completaram as tropas
constitucionalistas que enfrentaram o regime huertista durante a segunda metade
de 1913.
Movimentos
no centro e sul do país
Em contraste com a
participação ativa que se viveu durante esta etapa no norte do país, as regiões
do centro e sul do território mexicano estiveram pouco envolvidas no processo,
salvo alguns movimentos com alguma importância.
No centro do país,
devido ao fato de a população ter um caráter urbano-industrial e ao controlo
mantido pelo exército huertista, a rebelião teve um fraco desenvolvimento. No
estado de San Luis Potosí levantaram-se em armas os irmãos Cedillo —Saturnino,
Cleofás e Magdaleno—, embora tenham atuado de maneira independente dos
anti-huertistas locais que reconheciam Carranza como líder. No estado de
Hidalgo operaram Nicolás Flores, Vicente Salazar, Francisco Mariel e Daniel
Cerecedo, e em Tlaxcala Máximo Rojas e Domingo e Cirilo Arenas.
No sul, a
distância aos Estados Unidos —onde se compravam as armas para a revolução—, das
principais frentes de batalha, e a sua virtual incomunicação com o país,
fizeram com que a população se mostrasse renitente em participar no conflito
armado.
Dentre os
movimentos da zona destacou-se o de Zapata, que também lutou contra o governo
federal o qual desconheceu em 4 de março, ainda que o tenha feito como um
movimento independente ao chamado constitucionalista. Além disso, os métodos
drásticos e cruéis de repressão utilizados contra si pelo governo huertista
fizeram com que o número de levantados aumentasse consideravelmente, pois os
habitantes viram-se obrigados a intensificar a luta defensiva. No estado de
Guerrero operou Jesús Salgado, de filiação zapatista, os irmãos Figueroa
—Rómulo, Francisco e Ambrosio; todos eles ex-maderistas—, e Julián Blanco, na
costa de Acapulco. Ao mesmo tempo, em Oaxaca operou Juan José Baños, enquanto
em Tabasco participaram vários líderes como Ignacio Gutiérrez Gómez, Pedro
Colorado, Fernando Aguirre Colorado, Ernesto Aguirre Colorado, Luis Felipe
Domínguez e Carlos Greene, embora as suas ações nunca tenham chegado a
inquietar o governo.
Ocupação
estadunidense de Veracruz
No dia 9 de abril,
seis navios estadunidenses ancoraram próximo do porto de Tampico e quando um
deles se aproximou do porto, o seu pessoal foi detido por soldados federais
mexicanos. Embora os estadunidenses tivessem sido libertados pouco tempo
depois, o contra-almirante estadunidense Mayo pediu ao general huertista
Morelos Zaragoza um castigo exemplar para aqueles que haviam efetuado as
detenções e exigiu que fosse içada a bandeira dos Estados Unidos, à qual se
deveria honrar com uma salva de 21 tiros de canhão. O governo huertista tentou
chegar a um acordo, mas os seus esforços foram em vão, pois o presidente Wilson
já havia dado instruções para que fosse ocupado o porto de Veracruz, evitando
assim que Huerta recebesse um carregamento de munições procedente da Alemanha
que era transportado pelo Ipiranga. A infantaria estadunidense tomou a
alfândega de Veracruz em 21 de abril de 1914 e posteriormente todo o porto e no
dia 22 o de Tampico.
Huerta rompeu
então as relações diplomáticas com os Estados Unidos e enviou a maior parte do
seu exército ao estado. Argentina, Brasil e Chile (grupo conhecido como ABC)
ofereceram-se para atuar como mediadores no conflito durante as conferências em
Niagara Falls, Canadá, em 20 de maio desse mesmo ano. Em 24 de junho firmou-se
finalmente um acordo que estabelecia que os Estados Unidos reconheceriam
qualquer governo provisório que resultasse do conflito armado, compensariam os
cidadãos estadunidenses que fossem afetados pela revolução e que o seu governo
não exigiria qualquer indenização pelo incidente de Tampico.
Avanço
revolucionário e tomada de Zacatecas
No início de 1914
os revolucionários dominavam quase todo o norte do país (com exceção de Baja
California). Em Durango, Pablo González e Jesús Carranza, (ou Jesús Agustín
Castro e Luis Caballero na sua ausência), haviam tomado a liderança do
movimento quando Carranza teve que partir para Sonora depois das forças
huertistas haverem tomado o controlo do estado em meados de 1913. Por essa
altura, os irmãos Cedillo haviam-se convertido na força dominante de San Luis
Potosí; em Tepic operava com êxito Rafael Buelna; em Jalisco Félix Bañuelos e
Julián Medina; e em Michoacán José Rentería Luviano, Gertrudis Sánchez e
Joaquín Amaro Domínguez. Em Veracruz, a luta era encabeçada por Antonio
Galindo, Cándido Aguilar, Hilario Salas e Miguel Alemán.
Durante março e
abril de 1914 os exércitos do norte começaram a avançar em direção à capital,
Obregón pelo ocidente, Villa pelo centro, e Pablo González por este com a
intenção de derrubar Huerta, o que motivou e facilitou a ocorrência de numerosos
levantamentos no estados centrais do país.
Tomada
de Zacatecas
A cidade de
Zacatecas em particular, tinha uma grande importância para ambos os lados
devido a ser um entroncamento ferroviário que os revolucionários procedentes do
norte do país deveriam tomar antes de chegarem à capital. A cidade, que se
encontra rodeada de altos montes, apresentava um grande obstáculo para os
atacantes. O general Medina Barrón, encarregado das defesas da cidade, colocou
a artilharia do exército federal nos cumes dos montes mais altos: o de la Bufa
e o del Grillo.
Felipe Ángeles
chegou a Calera (a 25 quilómetros de Zacatecas) no dia 19 de junho de 1914 e
partiu em reconhecimento do terreno antes da batalha. Francisco Villa chegou às
imediações da cidade em 22 de junho, e ordenou o início da ofensiva às 10 hora
da manhão do dia seguinte.
Conforme planeado,
os villistas atacaram as posições federais nos cerros de la Bufa, del Grillo,
la Sierpe, Loreto e de La Tierra Negra, enquanto quarenta canhões apoiavam o
avanço da infantaria que subia pelos montes que rodeavam a cidade.
Por volta das
17:40 as tropas federais começaram a abandonar as suas posições e a fugir de
forma desorganizada, e pouco tempo depois os revolucionários tomaram os montes
de la Bufa e del Grillo, avançando depois sobre a cidade. As tropas de Villa
mataram um grande número de soldados que tentavam fugir, contabilizando-se
cinco mil mortos no lado federal e três mil no lado revolucionário.
Apesar da vitória,
Villa não pôde ser o primeiro a chegar à capital uma vez que Carranza bloqueou
os envios de carvão à Divisão do Norte, o qual era necessário para alimentar os
comboios de Villa.
Por outro lado,
Obregón desceu por Sinaloa e Jalisco, ocupando Guadalajara, donde se dirigiu ao
centro do país. González desceu por Monterrey, Tampico, San Luis Potosí e
Querétaro. Com estes avanços o movimento deixou de ser exclusivo do norte do
país e abrangeu quase a metade do território mexicano, o que ao mesmo tempo fez
com que outros setores sociais se incorporassem. Além disso, à medida que as
forças revolucionárias avançavam, tiveram que ser estabelecidos diversos pactos
com os locais em troca de apoio, pelo que se fizeram decretos operários e
agrários.
Triunfo
revolucionário
No dia 14 de julho
de 1914 Huerta fugiu da capital e no dia seguinte, 15 de julho, apresentou ao
Congresso a sua renúncia. Viajou para La Habana, Cuba, e dali para os Estados
Unidos, onde foi detido e enviado para a prisão de El Paso, Texas, onde morreu
em 1916.
Francisco
Carvajal, então ministro das Relações Exteriores, ficou à frente do governo com
a tarefa de entregar a capital às forças revolucionárias e negociar a rendição
das forças federais. Carvajal solicitou a mediação dos Estados Unidos, a qual
foi recusada por Carranza. Depois de conversações entre o governo e os
apoiantes de Carranza, em 14 de agosto desse mesmo ano foram assinados os
Tratados de Teoloyucan, nos quais se apresentava formalmente a rendição
incondicional do exército federal.
Guerra
de facções
Defesa
revolucionária.
Após a renúncia de
Huerta a capital foi rapidamente ocupada pelo Exército Constitucionalista no
dia 15 de julho. Venustiano Carranza chegou à cidade acompanhado por Álvaro
Obregón em 20 de agosto e assumiu o comando político e militar.
O fato de Carranza
lhe ter negado a possibilidade de entrar na capital e de não o haver convidado
para a assinatura dos Tratados de Teoloyucan criou um forte mal-estar em
Francisco Villa, pelo que vários generais tentaram chegar a um acordo pacífico.
Levou-se então a cabo uma reunião, cujo resultado ficou registado no Pacto de
Torreón, no qual se acordou que Carranza continuaria a ser o Primeiro Chefe, a
Divisão do Norte teria a mesma posição que as do Nordeste e Noroeste, e Felipe
Ángeles funcionaria como chefe de todo o Exército Constitucionalista.
Pouco depois,
Carranza convocou os governadores e generais para uma convenção, na qual deveria
ser elaborado um programa revolucionário.
Convenção
de Aguascalientes
A abertura da
convenção teve lugar no dia 1 de outubro na Cidade do México e foi presidida
por Luis Cabrera. Sem a presença dos delegados villistas e zapatistas, Carranza
apresentou a sua renúncia durante a sessão do terceiro dia, mas esta não foi
aceite pelos delegados. Foi também acordado que a convenção seria transferida
para Aguascalientes com a finalidade de que assistissem villistas e zapatistas,
além de que apenas participariam e não civis.
Francisco Villa, Eulalio Gutiérrez e Emiliano Zapata reunidos no Palácio Nacional. |
Durante as
sessões, que se prolongaram até 13 de novembro, os zapatistas pediram que
Carranza renunciasse como Primeiro Chefe da revolução e que se aceitasse
integralmente o Plano de Ayala. Numa carta lida aos presentes por Álvaro
Obregón, Carranza assegurava estar de acordo com renunciar se Villa e Zapata se
retirassem da vida pública e renunciassem como líderes dos seus respetivos
exércitos. A convenção nomeou Eulalio Gutiérrez presidente interino. Ao
inteirar-se da da nomeação em 10 de novembro, Carranza desconheceu o acordo da
convenção e o seu direito de nomear o presidente, declarando que Gutiérrez era
um presidente espúrio.
As forças de
Carranza saíram da capital ao mesmo tempo que entravam os zapatistas. Dias
depois chegaram as forças de Villa, reunindo-se ambos os generais para firmar o
Pacto de Xochimilco, o qual basicamente constituía uma aliança contra Carranza.
Pressionado por Villa e Zapata, Gutiérrez não pôde governar, e em 16 de janeiro
saiu da capital e tentou estabelecer o seu governo em San Luis Potosí, mas
pouco tempo depois renunciou de forma definitiva. Roque González Garza foi
nomeado presidente provisório, governando de 17 de janeiro a 9 de junho de
1915.
Entretanto em
Veracruz, Carranza governou de facto o país: em 12 de dezembro de 1914 reformou
o Plano de Guadalupe e pouco depois, em 6 de janeiro de 1915, promulgou uma
série de leis redigidas por Luis Cabrera.
No dia 10 de junho
Francisco Lagos Cházaro recebeu da convenção o Poder Executivo. A capital foi
novamente tomada pelas tropas de Carranza em 2 de agosto e perante a sua
chegada a convenção mudou-se para Toluca e posteriormente para Cuernavaca,
neste último local sem a presença villista.
Triunfo
do constitucionalismo
Desde o início de
1915 que era claro que a luta pelo poder continuaria, agora entre os apoiantes
de Carranza, villistas e zapatistas. Os últimos dois grupos contavam então com
a vantagem de ter um exército mais numeroso e haviam ocupado a capital, embora
com o avançar do ano a balança se tenha inclinado para o lado de Carranza
graças às vitórias de Álvaro Obregón frente ao exército de Francisco Villa e ao
facto de, apesar do pacto realizado em Xochimilco, nunca ter existido uma
verdadeira colaboração entre Villa e Zapata devido a que este último tinha por
objetivo manter isolada a sua região, pelo que se mantinha na defensiva.
No dia 6 de abril
desse ano as forças de Villa tentaram tomar Celaya, que se encontrava sob o
controlo de Obregón, o qual conseguiu defender a praça, infligindo cerca de 2
000 baixas às tropas de Villa. Uma semana depois, este voltou a tentar tomar a
cidade, perdendo desta vez cerca de 4 000 soldados e falhando o seu objetivo.
Estas derrotas debilitaram muito o exército villista, o qual se dirigiu para
León com a intenção de recuperar as suas forças. No total, ocorreram quatro
batalhas no bajío de Guanajuato, e apesar de todas elas terem sido vencidas por
Obregón, na última delas, no povoado de Santa Ana del Conde, um estilhaço
feriu-o no braço direito, o que obrigou os médicos a amputá-lo.
Carranza conseguiu
retomar o controlo da capital em 1916.
Casa
del Obrero Mundial, Batalhões vermelhos
A Casa del Obrero
Mundial (COM; em português: Casa do Operário Mundial) havia sido fundada
durante a presidência de Madero, em 22 de setembro de 1912, por um grupo de
trabalhadores mexicanos e ativistas estrangeiros. Durante esta etapa a
organização serviu como «união» para grupos sindicais e mutualistas da Cidade
do México, além de ter uma composição plural, pois dela faziam parte tanto
anarquistas como católicos. Com o derrube de Madero, impôs-se na COM uma linha
mais radical que rejeitava uma o governo huertista. Após o triunfo da revolução
constitucionalista em agosto de 1914 e o posterior exílio de Victoriano Huerta,
Obregón reabriu a COM. Contudo, a luta entre as facções de Carranza e
convencionistas provocou debates sobre o caminho que a organização deveria
seguir. Os argumentos do pintor Gerardo Murillo (conhecido pelo seu pseudónimo Dr.
Atl) e de Obregón convenceram os dirigentes da organização a aliarem-se à
revolução constitucionalista, a qual havia já definido a sua vocação social
durante a guerra. EM 17 de fevereiro de 1915 firmou-se na Cidade do México uma
aliança entre a Casa del Obrero Mundial e a facção de Carranza, a qual
solicitava à primeira «trazer voluntários para as fileiras
constitucionalistas», e a Carranza era pedido converter em leis as petições dos
operários organizados.
Isto deu origem
aos chamados batalhões vermelhos, grupos militares do Distrito Federal que
tinham como tarefa combater os camponeses-militares da Divisão do Norte e do
Exército Libertador do Sul durante a revolução mexicana. O encarregado da
organização foi o coronel Ignacio Henríquez, que formou até seis batalhões com
os seus 4 a 7 mil recrutados (as estimativas variam). Estes batalhões tiveram a
sua maior participação entre abril e setembro de 1915.
Batalha
de Columbus
Em outubro de 1915
o presidente dos Estados Unidos reconheceu de facto a facção de Carranza,
embora condicionando esse reconhecimento ao bom comportamento que Carranza
havia mostrado para com os interesses estadunidenses. A partir desse momento a
relação entre Wilson e Carranza melhorou, o que fez com que Villa se sentisse
traído pelo governo estadunidense, ao mesmo tempo que assegurou que Carranza havia
aceitado as condições estadunidenses às custas do sacrifício da política e
economia do México.
No dia 11 de
janeiro de 1916 um grupo de soldados villistas deteve um comboio em Santa
Isabel, Chihuahua assassinando 17 cidadãos estadunidenses, mineiros e
engenheiros, que haviam ido ao México a convite de Carranza.
Pouco antes do
amanhecer do dia 10 de maio de 1916, Villa atacou a povoação de Columbus, Novo
México e os quarteis do 13° regimento de cavalaria com 400 homens, ao grito de Viva
México! e Viva Villa!. Durante o confronto morreram 7 soldados e 7 civis
estadunidenses, enquanto o lado estadunidense assegurou ter matado entre 75 e
100 soldados villistas em solo mexicano.
O ataque a
Columbus fez com que o Congresso dos Estados Unidos desse autorização para
castigar os responsáveis do ataque, pelo que as tropas estadunidenses entraram
no México. Desta forma, um total de 5 000 soldados sob o comando do general
John J. Pershing iniciaram uma expedição punitiva, com onze meses de duração.
Durante a
expedição, os estadunidenses tiveram escaramuças com a população civil, como em
12 de abril em Parral, Chihuahua, e mesmo com o exército de Carranza, em junho
de 1916 em El Carrizal.
As tropas, que
chegaram a contar com 15 000 homens em território mexicano, acabaram por deixar
o México em janeiro de 1917 sem poderem encontrar Villa.
Congresso
Constituinte do México, Constituição do México
Apesar de que
Carranza havia-se levantado contra o governo huertista com a promessa de
restaurar a Constituição de 1857, optou por redigir uma nova constituição que
cumprisse as promessas feitas aos camponeses e operários durante o conflito
armado, com a finalidade de evitar que atores principais ficassem insatisfeitos
e que surgisse novamente instabilidade social e política.
Em dezembro de
1916, Carranza, virtual vencedor do conflito, convocou um congresso
constituinte formado exclusivamente pelos seus seguidores reunidos na cidade de
Querétaro. Este congresso esteve em sessão até 31 de janeiro de 1917, período
de tempo no qual Carranza e seus íntimos —de tendências moderadas— mantiveram
debates com grupos constitucionalistas de ideias mais progessistas — entre os
quais se destacam Pastor Rouaix e Francisco J. Múgica, entre outros—. As
diferentes correntes chegaram finalmente a um acordo para promulgar a
Constituição de 1917 em 5 de fevereiro, a qual vigora no país desde então.
Dentre os artigos
promulgados na Carta Magna sobressaem:
·
Artigo
3°.- A educação dada pelo pelo Estado deve ser laica, gratuita e obrigatória.
·
Artigo
27°.- O solo e o subsolo pertencem à Nação, não podendo alguma corporação
religiosa ser proprietária..
·
Artigo
123°.- Regula as relações laborais no país, concedendo autoridade ao estado
para intervir em conflitos deste tipo.
·
Artigo
130°.- Regula a relação Igreja-Estado, fazendo a separação e estipulando que os
membros do clero não podem ser proprietários ou participar na política interna.
Um dia depois, em
6 de fevereiro, Carranza emitiu a convocatória para a realização de eleições
nos três ramos do governo, as quais se efetuaram no mês de março. Carranza foi
eleito presidente para o período 1917-1920 com 98% dos votos e tomou posse em 1
de maio desse mesmo ano.
Atividade
revolucionária e contrarrevolucionária entre 1916 e 1928
Carranza governou
de 1917 a 1920, contudo não conseguiu pacificar o país uma vez que continuaram
os levantamentos villistas no norte, zapatistas no sul, outro movimento
contrarrevolucionário de Félix Díaz que durou até meados de 1920, assim como
outras rebeliões em Chiapas, Oaxaca e Michoacán.
Em traços muito
gerais, podem dividir-se os movimentos antiCarranza em três grupos: os
revolucionários anticonstitucionalistas, onde se destacam os villistas, os
zapatistas, os cedillistas em San Luis Potosí, arenistas, do estado de
Tlaxcala, e os calimayoristas em Chiapas; os contrarrevolucionários, entre eles
os pelaecistas, da costa norte doGolfo do México, os felicistas, que apoiaram
Félix Díaz durante a sua incursão no país por Tamaulipas e que o seguiram
posteriormente por Oaxaca, Chiapas e Guatemala e de regresso uma vez mais por
Veracruz, numa campanha que duraria até meados da década de 1920, os
soberanistas, que operavam em Oaxaca e cujos líderes principais eram José Inés
Dávila e Guillermo Meixueiro, mapachistas e pinedistas, conhecidos comummente
como «finqueros» e que opravam no estado Chiapas, e os aguilaristas, de Oaxaca.
Finalmente, também havia sublevados sem bandeiras, como os altamiranistas,
cintoristas e os chavistas, que operavam no estado de Michoacán.
Assassinato
de Zapata
Para acabar com o
movimento de Zapata, Carranza encarregou o general Pablo González Garza de
realizar uma campanha de extermínio da população. A situação precária dos
habitantes, agravada por fomes e epidemias, também dizimou a população mas o
movimento zapatista persistiu, pelo que González urdiu um plano. Jesús María
Guajardo, um coronel auxiliar de González, estando embriagado ou fingindo
estar, começou a falar contra Carranza e González assegurando-se de que um
prisioneiro zapatista, a quem mas mais tarde deixou fugir, o ouvia. Quando
Zapata se inteirou do que havia dito Guajardo, convidou-o a integrar as suas
fileiras. Após uma série de negociações e de Guajardo haver mandado assassinar
vários ex-zapatistas que haviam passado para o lado de Carranza como prova das
suas supostas intenções, acordou-se uma reunião para selar a suposta aliança na
fazenda de Chinameca no dia 10 de abril de 1919. Quando Zapata transpôs o
portão, um clarim tocou a saudação e os dez soldados da guarda de honra, que
apresentavam armas, alvejaram-no em simultâneo. Guajardo foi promovido a
general e recebeu de Carranza 50 000 pesos pelos notáveis serviços no exercício
das suas funções militares.
Ao aproximar-se a
sucessão presidencial, Carranza favoreceu Ignacio Bonillas como seu sucessor e
tentou acusar Obregón de conspiração, o que causou mal-estar a Plutarco Elías
Calles, Obregón e Adolfo de la Huerta, os quais proclamaram o Plano de Agua
Prieta, documento por meio do qual desconheciam ao governo de
constitucionalista e proclamavam a soberania do estado de Sonora.
Perante a
impossibilidade de fazer frente e defender com êxito a capital ante o ataque
iminente do grupo de Sonora, Carranza dirigiu-se para Veracruz com mobiliário
do Palácio Nacional, máquinas para imprimir moeda e o erário nacional. Durante
o trajeto, foi emboscado e assassinado em Tlaxcalantongo, Puebla, no dia 21 de
maio de 1920.
Presidência
interina de Adolfo de la Huerta
Após a morte de
Carranza, Adolfo de la Huerta foi nomeado presidente provisório pelo Congresso
da União no dia 1 de junho de 1920. Durante o seu mandato conseguiu que
Francisco Villa abandonasse a vida militar depois da assinatura dos Convénios
de Sabinas, nos quais se lhe outorgou a patente de general de divisão e a
fazenda de Canutillo, em Chihuahua, para onde se retirou para dedicar-se à
agricultura. Em setembro convocou eleições, nas quais Álvaro Obregón foi eleito
para assumir a presidência em 1 de dezembro desse ano.
Assassinato
de Villa
No dia 20 de julho
de 1923 Francisco Villa, acompanhado pelo coronel Miguel Trillo, Rafael Medrano
e Claro Hurtado, além do seu assistente, Daniel Tamayo, foi emboscado por Jesús
Salas Barraza à entrada de Parral, ali morrendo o caudilho às 8:15 da manhã.
Ramón Contreras, também membro da sua guarda pessoal, foi o único sobrevivente.
Até hoje continua
a especulação sobre as verdadeiras causas do seu assassinato, embora este seja
atribuídos a ordens de Obregón ou de Calles.
Rebelião
delahuertista, Guerra cristera
Obregón foi
presidente entre 1920 e 1924. De la Huerta quis ser eleito presidente
novamente, mas ao ver que Obregón favorecia Plutarco Elías Calles desconheceu o
governo, o que desencadeou a chamada rebelião delahuertista, que foi apoiada
por dois terços do exército nacional. O movimento fracassou e em 11 de março de
1924 De la Huerta abandonou o país., exilando-se em Los Angeles, Califórnia.
Plutarco Elías
Calles foi nomeado presidente para o período de 1924 a 1928, tomando posse em 1
de dezembro. Durante os dois últimos anos do seu governo a situação interna do
país tornou-se crítica devido à posição de Calles face à igreja católica, o que
provocou o surgimento de um movimento armado conhecido como guerra cristera.
Pouco antes de terminar o seu mandato reformaram-se os artigos 13 e 82 da
constituição, passando a existir a possibilidade de Obregón ser novamente
eleito presidente. Nas eleições realizadas em 1 de julho de 1928, Obregón
resultou vitorioso por ampla margem, mas antes de assumir a presidência foi
assassinado num restaurante da Cidade do México por José de León Toral, um
fanático católico.
Após a morte de
Obregón, Calles fez um discurso público, no qual assegurou que a etapa dos
caudilhos chegara ao fim e que começava a das instituições. Em 1929 fundou o
Partido Nacional Revolucionário, posteriormente chamado Partido da Revolução
Mexicana e finalmente Partido Revolucionário Institucional, o qual governou o
país durante mais de 70 anos.
Controvérsias
historiográficas/Número de mortos
Não existe um
número exato para o a quantidade mortes ocorridas durante a revolução mexicana.
A maioria das fontes aponta para valores entre 1 milhão, e 2 milhões de pessoas
mortas durante esta etapa da história do México. Estas cifras baseiam-se nos
dados proporcionados pelos recenseamentos realizados no país nos anos de 1910 e
1921. O recenseamento de 1910 deu como resultado 15 160 369 habitantes,
enquanto o de 1921 deu 14 334 780. Esta diferença aproximada de 1 milhão é a
que se considerou como correspondente ao número de mortes causadas pelo
conflito armado, embora esse número inclua pessoas mortas em combate, a
diminuição da natalidade, a emigração para países como os Estados Unidos,
Guatemala, Cuba e outros da Europa, as mortes causadas pela fome, assim como as
mortes devidas à pandemia de gripe de 1918 , a qual se crê ter causado a morte
de 450.000 pessoas.
Diferenças
nas datas
As fontes
disponíveis não concordam quanto à data de fim da revolução mexicana. Algumas
fontes situam-no em 1917, com a proclamação da Constituição Mexicana, ou em
1924 com eleição de Plutarco Elías Calles.Por outro lado, o historiador inglês
Alan Knight, da Universidade de Oxford, chega a considerar que terminou nos
anos 1940.
Questionamentos
historiográficos
Historiadores
contemporâneos como Adolfo Gilly, Friedrich Katz, Alan Knight, Macario
Schettino ou Jean Meyer, têm questionado os estudos feitos sobre esta etapa,
devido a que grande parte dos mesmos foi feita sob a ótica fundacional do
Partido Revolucionário Institucional, a institucionalização de caudilhos e
mitos, o facto de que as suas principais demandas não foram satisfeitas e mesmo
questionando se deve denominar-se como uma revolução. Gilly foi o primeiro a
lançar a crítica em 197 ao publicar La Revolución Interrumpida, no qual propôs
que a revolução popular de Villa e Zapata foi terminada pelos grupos liberais
de Carranza e Obregón.