Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991)
, um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.
É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear.
A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".
, um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.
É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear.
A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".
Uma
parte considerável dos historiadores argumenta que foi uma disputa dos países
que apoiavam as Liberdades civis, como a liberdade de opinião e de expressão e
de voto, representada pelos Estados Unidos e outros países ocidentais e do
outro lado a doutrina comunista ateia, onde era suprimida a possibilidade de
eleger e de discordar, defendida pela União Soviética (URSS) e outros países
onde o comunismo fora imposto por ela. Outra parte defende que esta foi uma
disputa entre o capitalismo, que patrocinou regimes ditatoriais na América
Latina, representado pelos Estados Unidos, e o socialismo totalitário expansionista
ou socialismo de Estado, onde fora suprimida a propriedade privada, defendido
pela União Soviética (URSS) e China. Entretanto, esta caracterização só pode
ser considerada válida com uma série de restrições e apenas para o período do
imediato pós-Segunda Guerra Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos
1960, o bloco socialista se dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a
China comunista se aliou aos Estados Unidos na disputa contra a União
Soviética. Além disso, muitas das disputas regionais envolveram Estados
capitalistas, como os Estados Unidos contra diversas potências locais mais
nacionalistas.
Dada
a impossibilidade da resolução do confronto no plano estratégico, pela via
tradicional da guerra aberta e direta que envolveria um confronto nuclear; as
duas superpotências passaram a disputar poder de influência política, econômica
e ideológica em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento
dos Estados Unidos e União Soviética em diversas guerras regionais, onde cada
potência apoiava um dos lados em guerra. Estados Unidos e União Soviética não
apenas financiavam lados opostos no confronto, disputando influência
político-ideológica, mas também para mostrar o seu poder de fogo e reforçar as
alianças regionais. Neste contexto, os chamados países não alinhados
mantiveram-se fora do conflito, não se alinhando aos blocos pró-URSS ou
pró-Estados Unidos, formando um "terceiro bloco" de países neutros: o
Movimento Não Alinhado.
Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, e Ronald Reagan,Presidente dos Estados Unidos, assinando oTratado INF, em 8 de dezembro de 1987. |
Norte-americanos
e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse
período. Se um governo socialista fosse implantado em algum país do Terceiro
Mundo, o governo norte-americano entendia como uma ameaça à sua hegemonia; se
um movimento popular combatesse um governo aliado ao soviético, logo poderia
ser visto com simpatia pelos Estados Unidos e receber apoio. A Guerra da Coreia
(1950-1953) e a Guerra do Vietnã (1962-1975) são os conflitos mais famosos da
Guerra Fria. Além da famosa tensão na Crise dos mísseis em Cuba (1962) e, também
na América do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este
período, a maior parte dos conflitos locais, guerras civis ou guerras
interestatais foi intensificada pela polarização entre EUA e URSS. Esta
polarização dos conflitos locais entre apenas dois grandes polos de poder
mundial é o que justifica a caracterização da polaridade deste período como
bipolar, principalmente porque, mesmo que tenham existido outras potências
regionais entre 1945 e 1991, apenas Estados Unidos e URSS tinham capacidade
nuclear de segundo ataque, ou seja, capacidade de dissuasão nuclear.
A Crise no Pós-Guerra
Churchill, Roosevelt e Stalin naConferência de Ialta, 1945. |
Com
o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava arrasada e ocupada pelos
exércitos das duas grandes potências vencedoras, os Estados Unidos e a URSS. O
desnível entre o poder destas duas superpotências e o restante dos países do
mundo era tão gritante, que rapidamente se constitui um sistema global bipolar,
ou seja, centrada em dois grandes polos.
Os
Estados Unidos defendiam a economia capitalista, argumentando ser ela a
representação da democracia e da liberdade. Em contrapartida a URSS enfatizava
o socialismo, argumentando em defesa do proletariado e solução dos problemas
sociais.
Os
Aliados divergiam sobre a forma de como manter a segurança do pós-guerra. Os
aliados ocidentais queriam criar uma rede de segurança que, com governos quanto
mais possível democráticos, resolvessem suas diferenças de forma pacífica
através de organizações internacionais. A Rússia devido à experiência, através
da história de invasões frequentes, bem como a perda humana estimada em 27
milhões e a destruição sofrida durante a Segunda Guerra Mundial, queria
garantir sua segurança pelo controle dos assuntos internos de países vizinhos.
Sob
a influência das duas doutrinas, o mundo foi dividido em dois blocos liderados
cada um por uma das superpotências: a Europa Ocidental e a América Central e do
Sul sob influência cultural, ideológica e econômica estadunidense, e parte do
Leste Asiático, Ásia central e Leste europeu, sob influência soviética. Assim,
o mundo dividido sob a influência das duas maiores potências econômicas e
militares da época, estava também polarizado em duas ideologias opostas: o
Capitalismo e o Socialismo.
Entretanto
era notória desde o início da Guerra Fria a superioridade econômica norte
americana. Em 1945 os Estados Unidos tinham metade do PIB mundial, 2/3 das
reservas mundiais de ouro, 60% da capacidade industrial ativa do mundo, 67% da
capacidade produtora de petróleo, além da maior Marinha e da maior Força Aérea
que existia. Seus exércitos ocupavam parte da Europa ocidental e o Japão,
algumas das zonas foram as mais ricas e industrializadas do mundo antes da
Guerra. Também ocupavam parte do sudeste asiático, especificamente metade da
península da Coreia e grande parte das ilhas do Pacífico. O território
continental americano nunca havia sido realmente ameaçado durante a Segunda
Guerra Mundial, sendo que a batalha travada geograficamente mais próxima do continente
foi a de Pearl Harbor, no Havaí.
Por
sua vez a União Soviética ocupava a metade oriental da Europa e a metade norte
da Ásia, uma parte da Manchúria e da Coreia, regiões tradicionalmente agrícolas
e pobres. O próprio território soviético havia sido palco de batalhas durante a
II Guerra Mundial, contra divisões alemãs. O resultado é que em 1945 os Estados
Unidos contabilizavam cerca de 500 mil mortos na guerra, contra cerca de 20
milhões de soviéticos mortos (civis e militares). Centenas de cidades
soviéticas estavam destruídas em 1945. A maior parte das indústrias, da
capacidade produtiva agrícola e da infraestrutura de transportes, energia e
comunicações estava destruída ou seriamente comprometida.
Após
a derrota alemã na Segunda Guerra, os países vencedores lhe impuseram pesadas
sanções. Dentre as quais a divisão da Alemanha em 4 áreas administrativas, cada
uma chefiada por um dos vencedores: Estados Unidos, França, Reino Unido e União
Soviética e duas zonas de influência: Capitalista e Socialista. Berlim, a
capital da Alemanha, também foi dividida, ainda que sob território de
influência soviética. A comunicação entre o lado ocidental da cidade
fragmentada e as outras zonas era feita por pontes aéreas e terrestres.
Em
1948, numa tentativa de controlar a inflação galopante da Alemanha, os Estados
Unidos, a França e o Reino Unido criaram uma "trizona" entre suas
zonas de influência, para fazer valer nestes territórios o Deutsche Mark (Marco
alemão). Josef Stalin, então líder da URSS, reprovou a ideia e, como
contra-ataque, procurou reunificar Berlim sob sua influência. Desse modo, em 23
de Junho de 1948, todas as rotas terrestres foram fechadas pelas tropas
soviéticas, privando a cidade de alimentos e combustíveis, numa violação dos
acordos da Conferência de Ialta.
Para
não abandonar as zonas ocidentais de Berlim e dar vitória à União Soviética, os
países ocidentais prontificaram-se a criar uma grande ponte aérea, em que aviões
de transporte de cargas estado-unidenses, ingleses, e australianos saíam da
"trizona" levando mantimentos aos mais de dois milhões de berlinenses
que viviam no ocidente da cidade. Stalin reconheceu a derrota dos seus planos
em 12 de Maio de 1949. Pouco depois, as zonas estadunidense, francesa e
britânica se unificaram, originando a Bundesrepublik Deutschland (República
Federativa da Alemanha ou Alemanha Ocidental), cuja capital era Bonn. Da zona
soviética surgiu a Deutsche Demokratische Republik (República Democrática Alemã
ou Alemanha Oriental), com capital Berlim, a porção oriental.
A
Operação Impensável foi o nome de um plano inicial de guerra feito pelo governo
britânico em 1945. Tal operação consistia na invasão da então União Soviética
por forças militares britânicas, poloneses exilados, estadunidenses e mesmo
alemães recém rendidos.
Plano Marshall e COMECON
A
fragilização das nações europeias, após uma guerra violenta, permitiu que os
Estados Unidos estendessem uma série de apoios econômicos à Europa aliada, para
que estes países pudessem se reerguer e mostrar as vantagens do capitalismo.
Assim, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, George Marshall, propõe a
criação de um amplo plano econômico, que veio a ser conhecido como Plano
Marshall. Tratava-se da concessão de uma série de empréstimos a baixos juros e
investimentos públicos para facilitar o fim da crise na Europa Ocidental e
repelir a ameaça do socialismo entre a população descontente. Durante os
primeiros anos da Guerra Fria, principalmente, os Estados Unidos fizeram
substanciais investimentos nos países aliados, com notável destaque para o
Reino Unido, a França e a Alemanha Ocidental.
O
Japão, entre 1947 e 1950, recebeu menos apoio americano. A situação só se
transformou com a explosão da Guerra da Coreia, que fez do Japão o principal
aliado das tropas das Nações Unidas. Após a declaração da guerra, os americanos
realizaram importantes investimentos na economia japonesa, que também foi
impulsionada com a demanda de guerra.
Em
1951 foi elaborado o Plano Colombo, uma organização realizada por países do
Sudeste Asiático, com intenções de reestruturação social. Os norte-americanos
realizaram alguns investimentos para estimular a economia do subcontinente, mas
o volume de capital investido foi muito menor ao destacado para o Plano
Marshall, porém bem menos ambicioso, para estimular o desenvolvimento de países
do sul e sudeste da Ásia.
Em
resposta ao plano econômico estadunidense, a União Soviética propôs-se a ajudar
também seus países aliados, com a criação do COMECON (Conselho para Assistência
Econômica Mútua). O COMECON fora proposto como maneira de impedir os
países-satélites da União Soviética de demonstrar interesse no Plano Marshall,
e não abandonarem a esfera de influência de Moscou.
Corrida armamentista
Teste nuclear realizado em 18 de abril de 1953 na Área de Testes de Nevada, Estados Unidos. |
Terminada
a Segunda Guerra Mundial, as duas potências vencedoras dispunham de uma enorme
variedade de armas, muitas delas desenvolvidas durante o conflito, outras
obtidas dos cientistas alemães e japoneses.
Novos
tanques, aviões, submarinos, navios de guerra e mísseis balísticos constituíam
as chamadas armas convencionais. Mas também haviam sido desenvolvidas novas
gerações de armas não convencionais, como armas químicas, que praticamente não
foram utilizadas em batalha. A Alemanha que desenvolveu a maior indústria de
armas químicas do mundo, utilizou esses gases mortais em câmaras de gás nos
campos de concentração. Algumas armas biológicas foram testadas, principalmente
pelo Japão na China ocupada, mas a tecnologia da época ainda era muito pouco
eficiente. O maior destaque ficou com uma nova arma não-convencional, mais
poderosa que qualquer outra arma já testada até então: bomba atómica. Só os
Estados Unidos tinham essa tecnologia, o que aumentava em muito seu poderio
bélico e sua superioridade militar estratégica em relação aos soviéticos.
A
União Soviética iniciou então seu programa de pesquisas para também produzir
tais bombas, o que conseguiu em 1949. Mas logo a seguir, os Estados Unidos
testavam a primeira bomba de hidrogênio, centena de vezes mais poderosa. A
União soviética levaria até 1953 para desenvolver a sua versão desta arma,
dando início a uma nova geração de ogivas nucleares menores, mais leves e mais
poderosas.
A
União Soviética obteve a tecnologia para armas nucleares através de espionagem.
Em 1953, nos Estados Unidos, o casal Julius e Ethel Rosenberg foi condenado a
morte por transmitir à União Soviética segredos sobre a bomba atómica norte
americana.
Essa
corrida ao armamento era movida pelo receio recíproco de que o inimigo passasse
a frente na produção de armas, provocando um desequilíbrio no cenário
internacional. Se um deles tivesse mais armas, seria capaz de destruir o outro.
A
corrida atingiu proporções tais que, já na década de 1960, os Estados Unidos e
a URSS tinham armas suficiente para vencer e destruir qualquer outro país do
mundo. Uma quantidade tal de armas nucleares foi construída, que permitiria a
qualquer uma das duas superpotências, sobreviver a um ataque nuclear maciço do
adversário, e a seguir, utilizando apenas uma fração do que restasse do seu
arsenal, pudesse destruir o mundo. Esta capacidade de sobreviver a um primeiro
ataque nuclear, para a seguir retaliar o inimigo com um segundo ataque nuclear
devastador, produziu medo suficiente nos líderes destes dois países para
impedir uma Guerra Nuclear, sintetizado em conceitos como Destruição Mútua
Assegurada ou "Equilíbrio do terror".
OTAN e Pacto de Varsóvia
Países membros da OTAN (tons de azul) e do Pacto de Varsóvia (tons de vermelho). |
Em
1949 os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com a maioria dos países
europeus, suportados alguns destes com governos que incluíam os socialistas,
criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar
com o objetivo de proteção internacional em caso de um suposto ataque dos
países do leste europeu.
Em
resposta à OTAN, a URSS firmou entre ela e seus aliados o Pacto de Varsóvia
(1955) para unir forças militares da Europa Oriental. Logo as alianças
militares estavam em pleno funcionamento, e qualquer conflito entre dois países
integrantes poderia ocasionar uma guerra nunca vista antes.
A
tensão sentida pelas pessoas com relação às duas superpotências acentuou-se com
o início da corrida armamentista, cujo “vencedor” seria a potência que
produzisse mais armas e mais tecnologia bélica. Em contraponto, a corrida
espacial trouxe grandes inovações tecnológicas e proporcionou um grande avanço
nas telecomunicações e na informática.
O
macartismo, criado pelo senador estadunidense Joseph McCarthy nos anos 1950,
culminou na criação do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do
Senado dos Estados Unidos. Em outras palavras, toda e qualquer atividade
pró-comunismo estava terminantemente proibida e qualquer um que as estimulasse
estaria sujeito à prisão ou extradição. Inúmeros artistas e produtores de
filmes ou de programas de televisão que criticavam o governo estadunidense
foram acusados de comunistas. Foi criada a Lista Negra de Hollywood contendo os
nomes de pessoas do meio artístico acusados de atividades antiamericanas.
A
era do macartismo acabou por extirpar do meio artístico norte americano a maior
parte dos produtores progressistas ou simpatizantes da esquerda. A URSS aplicou
extensivamente o Artigo 58 de seu Código Penal na Zona de ocupação soviética na
Alemanha, onde as pessoas eram internadas como "espiões" pela simples
suspeita de oposição ao regime stalinista, como pelo simples ato de contatar
organizações com base nas Zonas ocupadas pelos Aliados ocidentais. No campo
especial da NKVD em Bautzen, 66% dos presos, tinham sido encarcerados por
suspeita de apoiarem o capitalismo .
Conflito ideológico
Durante
o período da Guerra Fria, a disputa ideológica entre os dois blocos foi acirrada.
As duas superpotências fizeram grandes esforços de propaganda política no
intuito de conquistar o apoio mundial. Tanto Estados Unidos quanto União
Soviética concentravam sua propaganda político-ideológica em duas frentes:
desacreditar a ideologia e as ações do adversário e, ao mesmo tempo, convencer
a opinião internacional de que seu sistema político, econômico e sociocultural
era superior. Setores como tecnologia e mesmo esporte, eram usados para fins de
propaganda.
Os
serviços de inteligência e espionagem na Guerra Fria desempenharam papel
decisivo nesta disputa. Usando de contrainformação, agentes soviéticos
infiltrados conseguiram induzir governos ocidentais ao erro, atuando nos EUA já
na presidência de Franklin Delano Roosevelt. Por exemplo, Harry Dexter White,
funcionário que ocupou importantes cargos no governo estadunidense, era na
realidade, um agente a serviço da URSS. E que, por meio de manipulação de
informações, ajudou a sabotar as relações nipo-americanas gerando tensão e
desconfianças em ambos os lados. As ações de White levaram o Império do Japão
a, erroneamente, tomar a decisão de lançar o ataque a Pearl Harbor,
precipitando a entrada dos EUA na guerra mundial, o que era de interesse da
URSS. Ainda durante a II Guerra Mundial, britânicos e estadunidenses retiraram
o apoio dado ao general conservador Draža Mihailović líder dos Chetniks
(movimento de resistência antifascista), resultando na implantação do comunismo
na Iugoslávia no pós-guerra, sob comando de Josip Broz Tito. Na Guerra Civil
Chinesa, os EUA não concederam apoio efetivo a Chiang Kai-shek, líder do
exército nacionalista do Kuomintang. Assim, o movimento comunista, liderado por
Mao Tsé-Tung, foi vitorioso. Estes equívocos (e outros) deveram-se ao trabalho
de desinformação empregado pelos soviéticos.
“Os serviços secretos americanos
tiveram várias vitórias de pequena escala. Por exemplo, na chamada exfiltração,
que é auxiliar um alto funcionário do governo inimigo que deseja desertar.
Tanto EUA quanto Reino Unido exfiltraram muitas pessoas. Mas na escala
macroscópica, a KGB fez os governos ocidentais de trouxas.”
—
Olavo de Carvalho
Em
seu avanço para a Alemanha Nazista, o exército vermelho ocupou o Leste Europeu,
levando governos pró soviéticos ao poder nos países da região. Do
"socialismo em um só país" chegou-se à "revolução mundial"
e, no final do conflito, o comunismo estava presente em 12 países.
Com
a vitória sobre o nazifascismo garantida, o general George S. Patton desejava
enfrentar os soviéticos, defendendo a estratégia de "rollback"
(confronto militar direto ou guerra "quente"), pois considerava o
comunismo uma ameaça maior. O exército dos Estados Unidos encontrava-se na
Europa e a URSS estava esgotada pela guerra. Na visão de Patton, aquela era uma
oportunidade única para enfrentá-los que não deveria ser desperdiçada. Em 7 de
Maio de 1945 (um dia antes do Dia da Vitória na Europa), Patton declarou:
“(...) Não vamos dar tempo a eles
(soviéticos) de arranjar suprimentos. Se dermos, teremos apenas vencido e
desarmado a Alemanha mas teremos falhado na libertação da Europa; teremos
perdido a guerra!
(...) Devemos manter nossas botas
polidas, baionetas afiadas, e apresentarmo-nos fortes perante os russos. Esta é
a única linguagem que eles entendem e respeitam.”
Porém,
terminada a guerra, o bloco ocidental adotou a "estratégia de
contenção" em lugar do confronto direto. Esta foi aplicada numa tentativa
de impedir uma maior expansão geopolítica do bloco comunista. A contenção teve
êxito em barrar a expansão do comunismo na Europa Ocidental, mas não impediu o
surgimento de regimes comunistas em países da América Latina, África e Ásia.
Vários
dissidentes soviéticos desertaram para o ocidente. Muitos destes desertores
denunciaram crimes contra a humanidade cometidos pela URSS, seus estados
satélites e por movimentos marxistas-leninistas associados. Também foram
reveladas ações de espionagem e esforços de propaganda para provocar subversão
no mundo ocidental. Muitos dissidentes que revelaram fatos sobre a URSS, foram
tratados com ceticismo ou descrédito por governos e mídia de países
democráticos e também foram alvo de campanhas difamatórias movidas pelo governo
soviético.
Victor
Kravchenko pediu asilo político aos EUA em 1944. Dois anos depois publicou o
livro I Choose Freedom (Eu Escolhi a Liberdade). Nesta obra, ele denuncia os
trágicos resultados da coletivização forçada na União Soviética e as condições
desumanas dos Gulags (campos de trabalho forçado) mais de trinta anos antes da
publicação de Arquipélago Gulag de Alexander Soljenítsin. Kravchenko foi vítima
de uma campanha difamatória, neste caso, veiculada pela revista francesa Les
Lettres Françaises. Isto, valeu ao semanário um processo por difamação, vencido
por Kravchenko, que foi conhecido como "o julgamento do século".
Igor
Gouzenko, ex funcionário da embaixada soviética no Canadá, denunciou que a
espionagem de seu país roubava dos EUA segredos para a fabricação de armas
nucleares. O livro Como Começou a Guerra Fria traz detalhes sobre as denúncias
de Gouzenko. Em 1953, os norte americanos Julius e Ethel Rosenberg foram
condenados à pena de morte por traição, acusados de transmitirem segredos,
incluindo tecnologia nuclear, para a URSS.
Anatoliy
Golitsyn afirmou que a ruptura sino-soviética (seguido do conflito fronteiriço
sino-soviético) foi uma farsa encenada para criar a ilusão de que o bloco
comunista estava dividido internamente e, assim, enganar o ocidente. Estudiosos
acusam o Movimento Não Alinhado de ter sido idealizado pelos serviços de inteligência
soviéticos, com o objetivo de disseminar, no terceiro mundo, o antiamericanismo
"camuflado" de neutralidade. Golitsyn defendia a ideia que Ruptura
Tito-Stalin não havia sido real, atendendo aos interesses da propaganda
comunista ao reforçar a sensação da existência de neutralidades dentro do
bloco.
Svetlana
Alliluyeva, filha de Josef Stalin, em viagem à Índia, solicitou asilo político
para a embaixada norte americana em Nova Deli. Sua autobiografia Twenty Letters
To A Friend seria publicada em 1967
coincidindo com o 50º aniversário da Revolução Russa. Pressões da URSS adiaram
o lançamento do livro. Svetlana denunciou as violências praticadas pelo regime
soviético, antes e depois de seu pai.
“Ele se foi, mas sua sombra ainda
está sobre nós. Ele continua dando ordens e nós, muitas vezes, ainda
obedecemos.” — Svetlana Alliluyeva sobre seu pai.
Yuri
Bezmenov, correspondente da agência de notícias RIA Novosti na Índia e agente
da KGB, desertou para o Canadá em 1970. Revelou ao ocidente as estratégias
usadas para incitar a subversão em países nas quais a URSS almejava implantar
governos satélites. Descreveu que o processo de subversão de uma sociedade
consiste em quatro fases distintas ("desmoralização",
"desestabilização", "crise", "normalização").
Cada fase busca um objetivo: desacreditar ("desmoralizar") religião,
valores e cultura; desorganizar ("desestabilizar") as estruturas
política, econômica e sociocultural; incitar desordem generalizada
("crise") precipitando a implantação de um governo pró soviético e,
após, estabilizar ("normalizar") a situação deste país. Segundo ele,
a subversão é executada por agentes estrangeiros ou colaboradores locais que
infiltram-se em diversas áreas, que vão de grupos religiosos, partidos
políticos, meio empresarial e mídia conservadora a defensores dos direitos
civis, homossexuais, feministas e indústria cultural. Alertava que, na fase de
"normalização" os colaboradores mais idealistas e radicais (os
"idiotas úteis") eram descartados, muitas vezes sendo eliminados
fisicamente. Yuri Bezmenov deu inúmeros exemplos disto em livros, palestras,
entrevistas e conferências.
No
período pós Guerra Fria, organizações internacionais reprovaram as violências
praticadas em nome do comunismo. Em 25 de Janeiro de 2006, o Conselho da Europa
oficializou uma resolução condenando os crimes dos governos que adotaram este
sistema. Em 2008 foi firmada, na República Tcheca, a Declaração de Praga sobre
Consciência Europeia e Comunismo (colocando no mesmo nível os crimes do
marxismo-leninismo e do nazifascismo) e o Parlamento Europeu instituiu o Dia
Europeu da Memória das Vítimas do Estalinismo e do Nazismo, internacionalmente
conhecido como o Dia da Fita Preta, (23 de agosto, dia da assinatura do Pacto
Molotov-Ribbentrop).
Governos
autoritários pró EUA e pró URSS, em todo o mundo, fizeram muitas vítimas.
Repressão política, censura, exílio, tortura e assassinato foram praticados
igualmente por governos comunistas e anticomunistas. Regimes políticos
conservadores, reacionários e contrarrevolucionários de direita, apoiados pelos
estadunidenses (ver: Ações de mudanças de regimes patrocinadas pela CIA), foram
responsáveis por graves violações dos direitos humanos. Contudo, estatísticas
atuais comprovam que o total de vítimas dos regimes comunistas, alinhados ou
não, foi numericamente muito maior .
Guerra da Coreia (1950 - 1953)
O
único grande confronto militar que envolveu batalhas em que de um lado havia
forças militares estadunidenses e do outro forças soviéticas, foi a Guerra da
Coreia. A península da Coreia foi dividida, em 1945, pelo paralelo 38 N, em
duas zonas de influência: uma ao norte, ocupada pela União Soviética, e a
partir de 1949 pela República Popular da China, comunista; era a República
Popular Democrática da Coreia. A outra porção, ao sul do paralelo 38 N, foi
ocupada pelas tropas norte-americanas e permaneceu capitalista com apoio das
nações ocidentais passou a ser conhecida como República da Coreia.
Em
1950, os líderes da Coreia do Norte, incentivada pela vitória do socialismo na
China um ano antes, recebeu apoio da URSS para tentar reunificar a Coreia sob o
comando de um governo socialista, invadiu e ocupou a capital sul-coreana Seul,
desencadeando um conflito armado. Os Estados Unidos solicitaram ao Conselho de
Segurança das Nações Unidas, a formação de uma força multinacional para
defender a Coreia do Sul. Na ocasião a URSS se recusou a participar da reunião
do Conselho de Segurança das Nações Unidas em que esta medida foi discutida, e
os Estados Unidos conseguiram legitimar a primeira grande batalha militar da
Guerra Fria contra o bloco soviético.
As
tropas anglo-americanas fizeram a resistência no sul, reconquistando a cidade e
partindo em uma investida contra o norte. A China, sentindo-se ameaçada pela
aproximação das forças ocidentais, enviou reforços à frente de batalha, fazendo
da Coreia um grande campo de batalha.
Após
muitas batalhas, com avanços e recuos de ambos os lados, um primeiro acordo de
paz é negociado, mas demora dois anos para ser ratificado. O General americano
Douglas MacArthur chegou a solicitar o uso de armas nucleares contra a Coreia
do Norte e a China, mas foi afastado do comando das forças americanas.
Apenas
quando a União Soviética já havia testado sua primeira bomba de hidrogênio, em
1953, é que um armistício foi assinado em Panmunjon, em 27 de Julho de 1953. O
acordo manteve a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos,
praticamente como antes do início da guerra, com mudanças mínimas na linha de
fronteira. Essa divisão da Coreia em dois países se mantém até hoje. Em Junho
de 2000, os governos das duas Coreias anunciaram planos de reaproximação dos
dois países. Isso significou o início da desmilitarização da região, a
diminuição do isolamento internacional da Coreia do Norte e, para milhares de
coreanos, a possibilidade de reencontrar parentes separados há meio século pelo
conflito. Pela tentativa, o então presidente da Coreia do Sul, Kim Dae Jung,
recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2000.
Corrida Espacial
Astronauta Buzz Aldrin fotografado por Neil Armstrong durante a missão Apollo 11, em 20 de julho de 1969. |
Um
dos campos que mais se beneficiaram com a Guerra Fria foi o da tecnologia. Na
urgência de se mostrarem superiores aos rivais, Estados Unidos e União
Soviética procuraram melhorar os seus arsenais militares. Como consequência,
algumas tecnologias conhecidas hoje (como alguns tecidos sintéticos) foram
frutos dessa corrida.
A
corrida espacial está nesse contexto. A tecnologia aeroespacial necessária para
o lançamento de mísseis e de foguetes é praticamente a mesma, e portanto os
dois países investiram pesadamente na tecnologia espacial.
Iuri Gagarin, o primeiro humano a viajar pelo espaço. |
Sentindo-se
ameaçada pelos bombardeiros estratégicos americanos, carregados de artefatos
nucleares que sobrevoavam as fronteiras com a URSS constantemente, a URSS
começou a investir em uma nova geração de armas que compensasse esta debilidade
estratégica. Assim, a União Soviética dá início à corrida espacial no ano de
1957, quando os soviéticos lançaram Sputnik 1, o primeiro artefato humano a ir
ao espaço e orbitar o planeta. Em novembro do mesmo ano, os russos lançaram
Sputnik 2 e, dentro da nave foi a bordo o primeiro ser vivo a sair do planeta:
a cadela Laika.
Após
as missões Sputnik, os Estados Unidos entraram na corrida, lançando o Explorer
I, em 1958. Mas a União Soviética tinha um passo na frente, e em 1961 os
soviéticos conseguiram lançar a Vostok 1, que era tripulada por Yuri Gagarin, o
primeiro ser humano a ir ao espaço e voltar são e salvo.
A
partir daí, a rivalidade aumentou a ponto de o presidente dos Estados Unidos,
John F. Kennedy, prometer enviar americanos à Lua e trazê-los de volta até o
fim da década. Os soviéticos apressaram-se para vencer os estadunidenses na
chegada ao satélite. As missões Zond deveriam levar os primeiros humanos a
orbitarem a Lua, mas devido a falhas, só foi possível aos soviéticos o envio de
missões não-tripuladas, Zond 5 e Zond 6, em 1968. Os Estados Unidos, por outro
lado, conseguiram enviar a missão tripulada Apollo 8 no Natal de 1968 a uma
órbita lunar.
O
passo seguinte, naturalmente, seria o pouso na superfície da Lua. A missão
Apollo 11 conseguiu realizar com sucesso a missão, e Neil Armstrong e Edwin
Aldrin tornaram-se os primeiros humanos, respectivamente, a caminhar em outro
corpo celeste.
A
corrida espacial se tornou secundária com a distensão dos anos 1960-1970, mas
volta a ter relevância nos anos 1980, no que pode ser considerado o último
capítulo daquela disputa. O presidente dos Estados Unidos anuncia investimentos
bilionários na construção de um sistema espacial de defesa antimísseis
balísticos. A oficialmente denominada Iniciativa Estratégica de Defesa e
conhecida como guerra nas estrelas, poderia defender o território americano dos
mísseis russos e acabar com a lógica da Destruição Mútua Assegurada.
Neste
contexto os Estados Unidos enviam ao espaço o primeiro veículo espacial
reutilizáveis: o ônibus espacial. A URSS levaria alguns anos para construir a
sua versão do ônibus espacial, (o Buran) mas foi a primeira a colocar no espaço
uma nave espacial armada de ogivas nucleares, a Polyus, que teria sido
destruída pelos próprios líderes soviéticos em 1987, quando já estavam
avançadas as negociações diplomáticas para por fim à Guerra Fria.
Arpanet
Outro
campo em que ocorreu grande desenvolvimento durante a Guerra Fria foi o das
comunicações. Temendo um possível bombardeio soviético, durante a década de
1960, O Pentágono financiou o desenvolvimento de um sistema de comunicação
entre os computadores, que envolveu centros de pesquisa militares e civis, como
algumas das principais universidades americanas. A rede de comunicações criada
pela agência Arpa ficaria conhecida como Arpanet.
A
lógica do sistema era a seguinte: caso fosse feito um bombardeio soviético, a
central de informações não estaria em um só lugar, mas sim em vários pontos
conectados em uma rede, ou seja, cada nó da rede funcionaria como uma central,
todas conectadas entre si. A infraestrutura da rede foi construída com fibra
óptica para não sofrer interferência dos pulsos eletromagnéticos produzidos
pelas explosões nucleares. O sistema foi inaugurado com sucesso em 1969, na
Universidade da Califórnia (UCLA), com o envio de uma mensagem de caracteres
para outro servidor.
Durante
toda a década de 1970 e 1980 o uso dessa tecnologia se manteve restrito a fins
militares e acadêmicos. Somente em Convenção realizada no ano de 1987 a rede
seria liberada para uso comercial. A partir de então a Arpanet passou a se
chamar Internet. Em 1990, o físico inglês Tim Berners-Lee criaria o HTML
(Linguagem de Marcação de Hipertexto). Na década de 1990 a Internet passaria
por um processo de expansão gigantesco, tornando-se um grande meio de
comunicação da atualidade.
Coexistência pacífica (1953 -
1962)
Nikita Khrushchov. |
Após
a morte de Stalin, em 1953, Nikita Khrushchov subiu ao posto de
Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e, portanto,
governante dos soviéticos. Condenou os crimes de seu antecessor (ver: Discurso
secreto) e pregou a política da coexistência pacífica entre os soviéticos e
americanos, o que significaria os esforços de ambos os lados em evitar o
conflito militar, havendo apenas confronto ideológico e tecnológico (corrida
espacial).
Houve
apenas tentativas de espionagem. Esta política também possibilitou uma
aproximação entre os líderes. Khrushchov reuniu-se diversas vezes com os
presidentes americanos: com Dwight D. Eisenhower, em 1956, no Reino Unido; em
1959 nos Estados Unidos; e em 1960 na França; e com Kennedy se encontrou uma
vez, em 1961, em Viena, Áustria.
Os países não alinhados
Um
grupo de países optou por não tomar parte na Guerra Fria. Em sua maioria,
países africanos, asiáticos e ex colônias europeias de independência recente.
Para garantir sua neutralidade, os assim denominados países não alinhados
promoveram, em abril de 1955 e através da Conferência de Bandung, a criação do
Movimento Não Alinhado. Seu objetivo era dar apoio e segurança aos países em
desenvolvimento contra as duas superpotências. Condenavam o colonialismo,
imperialismo e o domínio de países estrangeiros em geral.
A
primeira conferência do movimento foi realizada em setembro de 1961, na cidade
de Belgrado, com a presença de representantes de 25 países. Nessas
conferências, se torna óbvio os conflitos entre os países do movimento, como
por exemplo, entre o Irã e o Iraque, o que favorecia a posição das duas
superpotências e até da China. Além disso, era difícil a neutralidade dos
países por causa da fraca economia e agrava-se pelo atraso no desenvolvimento
dos países recém-independentes.
Com
o fim da Guerra Fria e a extinção da União Soviética, o princípio político de
"neutralidade" deixou de ter um sentido comum.
Crises da Guerra Fria (1956 –
1962)
Revolução húngara (1956)
Na
Hungria, a ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho, após a Segunda Guerra
Mundial, garantiu a influência da União Soviética sobre a região. O país no
período pós-guerra tornou-se uma democracia pluripartidária, até 1949, quando a
República Popular da Hungria foi declarada e tornou-se um estado comunista
liderado por Mátyás Rákosi. Com o novo governo, começou uma série de prisões em
campos de concentração, torturas, julgamentos e deportações para o leste. A
economia não estava a ir muito bem, sofria com a desvalorização da moeda
húngara, o pengő, considerada uma das mais altas hiperinflações conhecidas.
Esgotados
com os índices econômicos cada vez piores e com os governos de Enrö Gero e
Mátyás Rákosi, a população tomou as ruas de Budapeste na noite de 23 de outubro
de 1956. O objetivo desse levante era o fim da ocupação da União Soviética e a
implantação do "socialismo verdadeiro". Houve um confronto entre
autoridades policiais e manifestantes e durante esse confronto, houve a
derrubada da estátua de Josef Stálin.
Mesmo
após a troca de governo, os conflitos foram intensificando-se. Com isso, os
soviéticos organizaram uma trégua com os populares. Logo após, o exército
soviético executou uma violenta ação contra os populares, colocando no poder
Janos Kadar. No dia 4 de novembro de 1956, um novo exército soviético provocou
destruição nas ruas da capital húngara. Os populares foram derrubados.
Guerra de Suez (1956)
O
rei do Egito, pró-europeu, foi derrubado por Gamal Abdel Nasser em 1953, que
procurou instalar uma política nacionalista e pan-arabista. Sua primeira
manobra política de efeito foi a guerra que declarou contra o recém-criado
estado de Israel, porque eles teriam humilhado os árabes na Guerra de
Independência Israelita. Com os clamores de outros países árabes para uma nova
investida contra os judeus, Nasser aliou-se à Jordânia e à Síria.
Na
mesma época, Nasser teria declarado a intenção de nacionalizar o Canal de Suez,
que era controlado majoritariamente por franceses e britânicos. Isso preocupou
as duas potências, que necessitavam do canal para seus interesses colonialistas
na África e Ásia. Assim, a França, o Reino Unido e Israel decidiram formar uma
aliança, declararam guerra ao Egito de Nasser e cuidaram da ocupação do Egito.
Os europeus cuidaram de bombardear e lançar paraquedistas em locais
estratégicos, enquanto os israelitas cuidaram da invasão terrestre, invadindo a
península do Sinai poucos dias depois.
A
guerra no Egito perturbou a paz que vinha sendo mantida entre Washington D.C. e
Moscou. Dwight D. Eisenhower, então presidente americano, criticava a repressão
em Budapeste, na Hungria, e teve que provar que era contra a invasão a Israel.
Os Estados Unidos tentaram várias vezes fazer os europeus mudarem de ideia e
retirar os ocupantes do Egito, ao mesmo tempo que Khrushchev demandava
respostas. Os Estados Unidos, inclusive, tentaram, a 30 de Outubro de 1956,
levar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a petição de retirada das
tropas do Egito, mas França e Reino Unido vetaram a petição. A União Soviética
seguia a mesma linha de raciocínio dos Estados Unidos, sendo, assim, favorável
à desocupação das terras egípcias porque queria estreitar laços com os árabes,
e se aliou rapidamente à Síria e ao Egito.
A
crescente pressão econômica estadunidense e a ameaça de Khrushchov de que
"modernas armas de destruição" seriam usadas em Londres e Paris
fizeram os dois países recuarem, e os aliados se retiraram do Sinai em 1957.
Após a retirada, o Reino Unido e a França foram forçados a perceber que não
eram mais líderes políticos do mundo, enquanto o Egito manteve sua política nacionalista
e, mais tarde, pró-soviética.
Crise dos Mísseis (1962)
Cuba,
a maior das ilhas caribenhas, sofreu uma revolução em 1959, que retirou o
ditador pró-estadunidense Fulgêncio Batista do poder, e instaurou a ditadura de
Fidel Castro a partir de 1959. A instauração de um regime socialista preocupou
a Casa Branca que ainda em 1959 tentou depor o novo governo, apoiando membros
ligados ao antigo regime e iniciando um embargo econômico à ilha. Com o
bloqueio do comércio de petróleo e grãos, Cuba passa a adquirir esses produtos
da URSS. O governo de Fidel Castro, inicialmente composto por uma frente de
grupos nacionalistas, populistas e de esquerda, que variava de
social-democratas aos de inspiração marxista-leninista, rapidamente polarizaria
em torno dos líderes mais pró-URSS. Em 1961, a CIA chegou a organizar o
desembarque de grupos de oposição armados que deporiam Fidel Castro na operação
da Invasão da Baía dos Porcos, que foi um fracasso completo. Diante desta
situação o novo regime cubano se aproxima rapidamente da URSS, que oferece
proteção militar.
Em
1962, a União Soviética foi flagrada construindo 40 silos nucleares em Cuba.
Segundo Kruschev, a medida era puramente defensiva, para evitar que os Estados
Unidos tentassem nova investida contra os cubanos. Por outro lado, no plano
estratégico global, isto representava uma resposta à instalação de mísseis
Júpiter II pelos estadunidenses na cidade de Esmirna, Turquia, que poderiam ser
usadas para bombardear todas as grandes cidades da União Soviética.
Rapidamente,
o presidente Kennedy tomou medidas contrárias, como a ordenação de quarentena à
ilha de Cuba, posicionando navios militares no mar do Caribe e fechando os
contatos marítimos entre a União Soviética e Cuba. Vários pontos foram
levantados a respeito deste bloqueio naval: os soviéticos disseram que não
entendiam porque Kennedy havia tomado essa medida, já que vários mísseis
estadunidenses estavam instalados em territórios dos países da OTAN contra os
soviéticos, em distâncias equivalentes àquela entre Cuba e os Estados Unidos;
Fidel Castro revelou que não havia nada de ilegal em instalar mísseis
soviéticos em seu território; e o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan
disse não ter entendido por que não foi sequer ventilada a hipótese de acordo
diplomático.
Em
23 e 24 de outubro, Kruschev teria enviado uma carta a Kennedy[carece de
fontes], informando suas intenções pacíficas. Em 26 de outubro disse que
retiraria seus mísseis de Cuba se Washington se comprometesse a não invadir
Cuba[carece de fontes]. No dia seguinte, pediu também a retirada dos balísticos
Júpiter da Turquia. Mesmo assim, dois aviões espiões estadunidenses U-2 foram
abatidos em Cuba e na Sibéria em 27 de Outubro, o ápice da crise. Neste mesmo
dia, os navios mercantes soviéticos haviam chegado ao Caribe e tentariam passar
pelo bloqueio. Em 28 de Outubro, Kennedy foi obrigado a ceder aos pedidos, e
concordou em retirar os mísseis da Turquia e não atacar Cuba. Assim, Nikita
Kruschev retirou os mísseis nucleares soviéticos da ilha. Apesar de o acordo
ter sido negativo para os dois lados, o grande derrotado foi o líder soviético,
que foi visto como um fraco que não soube manter sua posição frente aos
estadunidenses.
Dois
anos depois, Kruschev não aguentou a pressão e saiu do governo. Kennedy também
foi mal-visto pelos comandantes militares dos Estados Unidos. O general Curtis
LeMay disse a Kennedy que este episódio foi "a maior derrota da história
estadunidense" , e pediu para que os Estados Unidos invadissem
imediatamente Cuba.
América Latina
Durante
a Guerra Fria, a propaganda e os esforços anticomunistas dos Estados Unidos
fizeram-se sentir na região. De 1946 a 1984, os Estados Unidos mantiveram no
Panamá a Escola das Américas. A finalidade deste órgão era formar lideranças
militares pró-EUA. Vários ditadores latino-americanos foram alunos desta
instituição, entre eles o ditador do Panamá Manuel Noriega, e Leopoldo
Galtieri, líder da Junta Militar da Argentina. A partir de 1954, os serviços de
inteligência norte-americanos participaram de golpes de estado contra governos
latino-americanos. Após a Revolução cubana, o receio de que o comunismo se
espalhasse pelas Américas cresceu muito. Governos simpáticos ao comunismo ou
democraticamente eleitos, mas contrários aos interesses políticos e econômicos
dos Estados Unidos foram removidos do poder.
Em
1961, o presidente Kennedy criou a Aliança para o Progresso, para abrandar as
tensões sociais e auxiliar no desenvolvimento econômico das nações
latino-americanas, além de conter o avanço comunista no continente americano.
Este programa ofereceu ajuda técnica e econômica a vários países. Com isto
pretendia-se afastar a possibilidade das nações da América Latina alinharem-se
com o bloco soviético. Mas, como programa não alcançou os resultados esperados,
foi extinto em 1969 pelo presidente Richard Nixon.
Alguns
dos golpes de Estado ocorridos na América Latina neste período:
1954:
Golpe de Estado na Guatemala - Jacobo Arbenz Guzmán presidente reformista,
eleito, foi deposto pelo 1º Golpe de Estado promovido pela CIA na América
Latina.
1964:
Golpe de Estado no Brasil: João Goulart foi deposto por uma revolta militar e
exilou-se no Uruguai.
1973:
Golpe de Estado no Chile: em 11 de Setembro de 1973, uma rebelião militar
liderada por Augusto Pinochet e apoiada pelos Estados Unidos, depôs o
presidente Salvador Allende.
Paralelamente,
ao longo de todo este período, a União Soviética trabalhou intensamente para
consolidar sua influência ideológica e política na América Latina. Com auxílio
de colaboradores locais e de serviços de inteligência de nações em sua esfera
de influência, a URSS conseguiu infiltrar-se em vários países. Em parceria com
a StB (inteligência da Tchecoslováquia), a KGB teve sucesso em infiltrar seus
agentes de influência nas mais variadas áreas: política, meios estudantil,
acadêmico e militar, indústria cultural, instituições científicas, mídia, etc.
México, Uruguai, Argentina, Chile e Brasil foram alguns dos países afetados por
estas ações.
Os esforços soviéticos
estendiam-se pelas seguintes frentes:
Apoio
à luta armada: A URSS ministrava cursos em entidades, como a escola da Komsomol
(Liga Comunista Leninista da Juventude de Toda a União), que incluíam em seus
currículos, treinamento militar e doutrinação ideológica. Aliados soviéticos
como República Popular da China, Coreia do Norte, Albânia e Cuba ofereceram
formação militar, doutrinação e ajuda financeira para a guerrilha de diversos
países das Américas. Em 1966, por iniciativa de Fidel Castro, foi criada a OLAS
(Organização Latino-Americana de Solidariedade). Esta entidade, que apoiava a
luta armada, tinha o slogan: "o dever de uma revolução, é fazer revolução",
significando que Havana desejava a liderança dos movimentos revolucionários em
toda a região.
Desinformação:
o serviço de inteligência soviético fez uso intensivo de manipulação da mídia e
desinformação. Com suporte financeiro e influência ideológica, os agentes de
influência da URSS espalhados pela mídia latino-americana, conseguiram
disseminar o antiamericanismo. Todos os esforços de propaganda eram feitos para
difamar os EUA e responsabiliza-los por todas as crises mundiais. Plantando notícias
falsas pelo continente, a KGB/StB distorceu os fatos sobre o golpe de estado
brasileiro de Março/Abril de 1964, atribuindo aos EUA toda a responsabilidade
pela deposição de João Goulart.
A Distensão (1962 - 1979)
O
período da distensão (Détente) seguiu-se à Crise dos Mísseis, por ela quase ter
levado as duas superpotências a um embate nuclear. Os Estados Unidos e a URSS
decidiram, então, realizar acordos para evitar uma catástrofe mundial. Nesta
época, vários tratados foram assinados entre os dois lados. A política Détente,
foi principalmente seguida por Brejnev, que mais tarde criaria um grande sistema
diplomático e de distensão, sendo este o sistema que salvaria a pele de
Brejnev, que entrara em uma estagnação econômica, apesar de alcançar um
bem-estar para o povo soviético. Durante a direção de Brejnev e sua inseparável
doutrina, o povo que nascera depois da Guerra Fria nunca havia presenciado um
momento de tanta paz mundial.
Tratado
de Moscou (1963) - Os dois países regularam a pesquisa de novas tecnologias
nucleares e concordaram em não ocupar a Antártida.
TPN
(Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) (1968) - Os países signatários
(Estados Unidos, União Soviética, República Popular da China, França e Reino
Unido) comprometiam-se a não transmitir tecnologia nuclear a outros e a se
desarmarem de arsenais nucleares.
SALT
I (Strategic Arms Limitation Talks - Acordo de Limitação de Armamentos
Estratégicos) (1972) - Previa o congelamento de arsenais nucleares dos Estados
Unidos e da União Soviética.
SALT
II (1979) - Prorrogação das negociações do SALT I.
Os
dois países tinham seus motivos particulares para buscar acordos militares e
políticos. A União Soviética estava com problemas nos relacionamentos com a
China, e viu este país se desalinhar do socialismo monopolista de Moscou. Isso
criou a prática da diplomacia triangular, entre Washington, Moscou e Pequim.
Também estavam com dificuldades agrícolas e econômicas. E os Estados Unidos
haviam entrado numa guerra contra o Vietnã, e na década de 1970 entrariam em
uma grave crise econômica.
A
Distensão, apesar de garantir o não-confronto militar, acirrou a rivalidade
política e ideológica, culminando em algumas revoltas sociais e apoios a
revoltas e revoluções na Europa e no Terceiro Mundo. Como exemplo, pode-se
citar a Invasão do Afeganistão, a Intervenção Soviética em Praga, e a própria
guerra do Vietnã.
Guerra do Vietnã (1962 - 1975)
A
Guerra do Vietnã foi um dos maiores confrontos militares envolvendo
capitalistas e socialistas no período da Guerra Fria. Opôs o Vietname do Norte
e guerrilheiros pró-comunistas do Vietname do Sul contra o governo
pró-capitalista do Vietname do Sul e os Estados Unidos.
Após
a Convenção de Genebra (1954), o Vietnã, recém-independente da França, seria
dividido em duas zonas de influência, como a Coreia, e estas zonas seriam
desmilitarizadas e mantidas cada uma sob um dos regimes (capitalismo e
socialismo). Foi estipulada uma data (1957) para a realização de um plebiscito,
decidindo entre a reunificação do país ou não e, se sim, qual regime seria
adotado.
Infelizmente
para o Vietname do Sul, o líder do Norte, Ho Chi Minh, era muito benquisto
entre a população, por ser defensor popular e herói de guerra. O governo do
Vietname do Sul decidiu proibir o plebiscito de ocorrer em seu território, pois
queria manter o alinhamento com os estadunidenses. Como o Vietname do Norte
queria a reunificação, lançaram-se em uma guerra contra o Sul.
O
Vietname do Norte contou com o apoio da Frente de Liberação Nacional, ou
vietcongs, um grupo de rebeldes no Vietname do Sul. E o Vietname do Sul contou,
em 1965, com a valiosa ajuda dos Estados Unidos. Eles entraram na guerra para
manter o governo capitalista no Vietname, e temendo a ideia do "efeito
dominó" (Teoria do Dominó) no qual, ao verem um país que se libertou do
capitalismo preferindo o socialismo, outros países poderiam seguir o exemplo
(como foi o caso de Cuba).
Até
1965, a guerra estava favorável ao Vietname do Norte, mas quando os Estados
Unidos se lançaram ao ataque contra o Vietname do Norte, tudo parecia indicar
que seria um grande massacre dos vietnamitas, e uma fácil vitória ocidental.
Mas os vietnamitas do norte viram nessa guerra uma extensão da guerra de
independência que haviam acabado de vencer contra a França, e lutaram
incessantemente. Contando com o conhecimento do território, os vietnamitas do
norte conseguiram vencer os Estados Unidos, o que é visto como uma das mais
vergonhosas derrotas militares dos Estados Unidos. Em 1975, os Estados Unidos e
o Vietname do Norte assinaram os Acordos de Paz de Paris, onde os Estados
Unidos reconheceram a unificação do Vietnã sob o regime comunista de Ho Chi
Minh.
A
derrota dos Estados Unidos evidenciou o fracasso da política norte-americana na
Ásia e acarretou a reformulação, no Governo Nixon, da política externa no
Oriente. Com isso, os norte-americanos buscaram uma maior flexibilidade e novos
parceiros, destacando a aproximação com a China comunista.
A Distensão na Europa
A
Europa, continente que mais sofreu com a divisão mundial, também sofreu os
efeitos da distensão política. Os países começaram a questionar as ideologias a
que foram impostos, e optaram cada vez mais pelo abrandamento, no lado
ocidental, e pela revolta popular seguida de forte repressão, no lado oriental.
Em
1968, a Tchecoslováquia viu uma grande manifestação popular apoiar ideias de
abertura política em direção à social-democracia e a um "socialismo com
uma face humana". Este movimento ficou conhecido como Primavera de Praga,
em alusão à capital da Tchecoslováquia, Praga, local onde os movimentos
populares tomavam corpo. Temendo a liberdade política da Tchecoslováquia,
Leonid Brejnev, líder da URSS, ordenou a invasão de Praga e a repressão do
movimento popular.
Em
1966, Charles de Gaulle, presidente da França, manteve os seus ideais de
nacionalismo francês e antiamericanismo e desalinhou-se com as práticas
estadunidenses, saindo da OTAN.
Em
1969, o chanceler da Alemanha Ocidental anuncia a "Ostpolitik", uma
política de aproximação dos vizinhos, os alemães orientais. Em 1972 os Estados
passam a se reconhecerem mutuamente podendo, assim, voltar a integrar a ONU.
O reconhecimento da China pelos
Estados Unidos
Richard Nixon e Mao Tse-Tung em 1972. |
Desde
o início da década de 1950 a República Popular da China tinha problemas com a
União Soviética, por causa de hierarquia de poderes. Moscou queria que o
socialismo no mundo fosse unificado, sob a tutela do Kremlin, enquanto Pequim
achava que a República Popular da China não deveria se submeter aos soviéticos.
Além disso, o governo chinês exigia que a URSS transferisse sua tecnologia
nuclear para a China, o que não era bem visto por Moscou. Este processo acabou
levando a ruptura sino-soviética.
Ao
longo dos anos 1960 os Estados Unidos iniciaram uma aproximação com a URSS que
levaria ao que ficou conhecido como distensão política, enquanto recrudesceram
suas relações com a China comunista, aprofundando a disputa com este pais no
Sudeste Asiático, onde se aprofundava a Guerra do Vietnã. Neste período as
disputas entre URSS e China cresceram ainda mais. Esta tensão tornou-se um
problema crescente para os soviéticos, que perdiam um forte aliado no Leste
Asiático e passaram a ver a China como uma potencial ameaça. No fim dos anos
1960, a China passa a manter cerca de 1 milhão de soldados na fronteira com a
URSS, o que força a URSS a manter outro volume equivalente de tropas na região.
O
auge da disputa entre China e URSS é considerado o ano de 1969, quando ocorre
um confronto armado na fronteira sino-soviética, na região do rio Ussuri
(nordeste da Manchúria) e os dois países quase entram em guerra.
Nos
anos 1970 a situação se inverte e os Estados Unidos passam a se aproximar da
China e isolar novamente a URSS, iniciando inclusive um processo de ampliação
das relações econômicas com a China e de guerra comercial com a URSS.
Estas
mudanças ocorridas na década de 1970, pioraram ainda mais a situação da URSS,
pois Mao Tse-tung, secretário-geral da China socialista, ampliou o processo de
aproximação com os Estados Unidos. Além de isolar a URSS, a aproximação com os
Estados Unidos trouxe vantagens para a China, como o fim da Guerra do Vietnã, o
reconhecimento diplomático pelos americanos, a adesão da China à ONU e a
substituição de Taiwan (China nacionalista) pela China no Conselho de Segurança
da ONU.
Desde
a Revolução Chinesa de 1949, o mundo ocidental via o governo de Mao Tse-Tung
como ilegal, e continuaram reconhecendo como governo legítimo da China o
governo refugiado em Taiwan. Com a aproximação entre Pequim e Washington, os
Estados Unidos passaram a reconhecer o governo de Mao Tse-tung como o legítimo
regente chinês, ou seja, a República Popular da China como a China de fato.
Assim, outros países ocidentais tomaram a mesma decisão, e a China pôde entrar
para ONU, como participante e como membro permanente do Conselho de Segurança
da ONU. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos
de Paz de Paris, os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietnã e
iniciaram uma nova fase de cooperação com a China. A partir deste período, e
principalmente nos anos 1980, a China passaria a apoiar os Estados Unidos na
disputa deste pais com a URSS.
A "Segunda" Guerra Fria
(1979-1985)
A Guerra Fria em 1980. |
Após
o ano de 1979, seguiu-se uma nova fase nas relações amistosas entre os Estados
Unidos e a União Soviética, que ampliaram as relações entre as duas
superpotências. O período que vai de 1979 a 1985, 1987 ou 1988 (dependendo da
classificação), ficou conhecido como "II Guerra Fria", devido à
retomada das hostilidades indiretas entre Estados Unidos e URSS, após o período
da "distensão". No plano estratégico ficou clara a formação de uma
grande coalizão global contra a União Soviética, que passou a incluir, além dos
Estados Unidos e seus aliados da OTAN e o Japão, também a China.
Embora
na época o apoio chinês à estratégia americana de cercamento da URSS tenha sido
considerado secundário, hoje muitos historiadores consideram que este papel
pode ter sido determinante para o desfecho da Guerra Fria.
Os
principais episódios que marcaram este período foram:
Em
1979 a União Soviética invade o Afeganistão, assassinando Hafizullah Amin, e
colocando em seu posto Brabak Karmal, que era a favor das políticas de Moscou.
A este evento seguiu-se uma grande resistência anti-soviética, principalmente
da parte dos mujahidin das montanhas afegãs. Eles eram abastecidos por outros
países, como China, Arábia Saudita, Paquistão e o próprio Estados Unidos. Após
dez anos de lutas, as tropas soviéticas tiveram que abandonar o país, em 1988.
Esta vitória dos mujahidin possibilitou, anos depois, a formação do grupo
Taleban, que aproveitou a desordem no país para instaurar um governo
autoritário fundamentalista no Afeganistão, nos anos 1990.
Ainda
em 1979 Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra do Reino Unido pelo
Partido Conservador, e deu à política externa do país uma face mais agressiva
contra o regime soviético.
Por
fim, ainda em 1979 o principal aliado americano no Golfo Pérsico, o Irã, que
passava por grande turbulência interna, passa por uma Revolução Islâmica
nacionalista e de caráter fortemente antiamericana, que levou os Estados Unidos
a iniciarem uma longa disputa com o novo regime no país. Como resultado deste
processo, a partir de 1980, os Estados Unidos passaram a apoiar o Iraque na
guerra deste país contra o Irã, que ficou conhecida como "Guerra
Irã-Iraque".
Em
1981, Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos e, ao contrário de
seus antecessores, que pregavam a Distensão, Reagan defendia a retomada da
estrategia de cercamento da URSS, conforme defendido por Henry Kissinger no fim
dos anos 1970 e, de forma mais clara, por Zbigniew Brzezinski e Donald
Rumsfeld, nos anos 1980, o que implicava na retomada do confrontdo com a União
Soviética. Dentre os resultados desta política, foi ampliado o fornecimento de
armamentos a Saddam Hussein, ditador iraquiano, que lutava contra o Irã na
Guerra Irã-Iraque e o apoio aos guerrilheiros mujahidin que lutavam contra os
soviéticos no Afeganistão.
Em
1983, forças militares americanas invadiram Granada, que havia sofrido um golpe
militar liderado pelo vice-primeiro-ministro Bernard Coard, que havia depôsto o
primeiro-ministro granadino, Maurice Bishop. O governo instituído por Bernard
Coard, tinha o apoio de Cuba, mas em 25 de Outubro, 7.300 combatentes
americanos invadiram a ilha, derrotando as forças granadinas e cubanas. Após a
vitória dos Estados Unidos, o governador-geral de Granada, Paul Scoon, nomeou
um novo governo e, em meados de Dezembro, as forças dos Estados Unidos
retiraram-se.
Em
1983 o Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia a criação da
Iniciativa Estratégica de Defesa, que ficaria conhecida como "Programa
Guerra nas Estrelas", que tinha por objetivo criar um "escudo"
contra os mísseis balísticos soviéticos, dando grande vantagem aos Estados
Unidos na corrida armamentista e na corrida espacial. A reação soviética foi
ampliar ainda mais os seus elevados gastos na área de defesa e no
desenvolvimento do seu dispendioso programa espacial.
Era Gorbachev e fim da Guerra
Fria
Alemães em pé em cima do Muro de Berlim, em 1989 |
Mais
informações: Colapso econômico da União Soviética, Perestroika, Glasnost,
Dissolução da União Soviética e Revoluções de 1989
Depois
da gestão de Brejnev, a União Soviética teve duas rápidas governanças, Yuri
Andropov e Konstantin Chernenko, homens que durante o período de Brejnev eram
seus segundo homens, tendo um poder quase total sobre o país, sendo Andropov o
chefe da temida e poderosa polícia secreta KGB e Chernenko, por treze anos
carregando o segundo mais alto cargo dentro do país, que, na prática, governou
o país durante a decadência na saúde de Brejnev, no final da década de 1970, e
que surpreendentemente foi derrotado nas eleições por Andropov, que morreu
pouco tempo depois de chegar ao cargo político máximo.
Seguinte
a Chernenko, o chamado último bolchevique, foi eleito Mikhail Gorbachev, cuja
plataforma política defendida era a necessidade de reformar a União Soviética,
para que ela se adequasse à realidade mundial. Em seu governo, uma nova geração
de políticos tecnocratas - que vinham ganhando espaço desde o governo
Khrushchov - se firmou, e impulsionou a dinâmica de reformas na URSS e a
aproximação diplomática com o mundo ocidental.
Gorbachev,
embora defensor de Karl Marx, defendeu o liberalismo econômico na URSS como a
única saída viável para os graves problemas econômicos e sociais. A União
Soviética, desde o início dos anos 70, passava por grande fragilidade,
evidenciada na queda da produtividade dos trabalhadores e a queda da
expectativa de vida. A alta nos preços do petróleo no período 1973-1979 e a
nova alta de 1979-1985, deram uma sobrevida temporária a um sistema econômico
que já estava falido. A crise econômica mundial dos anos 1980, a escassez de
moedas fortes e a queda no preço das commodities exportadas pela URSS (petróleo
e cereais), ajudaram a aprofundar a crise do sistema econômico planificado da
União Soviética.
Os
gastos militares estavam tornando-se muito altos para uma economia como a
soviética, planificada, extremamente burocratizada e com cerca de metade do PIB
dos Estados Unidos. A economia de mercado dos Estados Unidos era muito mais
competitiva e permitia o repasse acelerado de tecnologias militares e
aeroespaciais de ponta para o setor civil. Na URSS tudo que seria produzido era
previamente planejado nos Planos Quinquenais. A burocracia dificultava qualquer
transferência de tecnologia sensível para o setor produtivo civil e toda a
produção agrícola era milimetricamente planejada. Quando ocorre o acidente
nuclear de Chernobyl 1986, toda a produção agrícola daquele ano foi perdida, os
gastos inesperados foram enormes e o Estado que havia planejado exportar uma
safra recorde de grãos, teve que importar comida. Rapidamente começava a faltar
até mesmo pão no país que havia sido o maior produtor mundial de trigo.
Somando-se aos custos do envolvimento de meio milhão de homens no Afeganistão
durante os anos 1980, mais os gastos militares da nova corrida armamentista,
conhecida como segunda Guerra Fria, aquela enorme economia engessada colapsou.
Frente
a estes problemas, Mikhail Gorbachev aplicou dois planos de reforma na URSS: a
perestroika e a glasnost. A Perestroika foi uma série de medidas de reforma
econômicas. Para Gorbachev, não seria necessário erradicar o sistema
socialista, mas uma reformulação deste seria inevitável. Para tanto, ele passou
a diminuir o orçamento militar da União Soviética, o que implicou diminuição de
armamentos e a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão. A Glasnost foi a
implementação da "liberdade de expressão" à imprensa soviética e a
transparência do governo para a população, retirando a forte censura que o
governo comunista impunha.
A
nova situação de liberdade na União Soviética possibilitou um afrouxamento na
ditadura que Moscou impunha aos outros países. Pouco a pouco, o Pacto de
Varsóvia começou a enfraquecer, e cada vez mais o Ocidente e o Oriente
caminhavam para vias pacíficas. Em 1986, Ronald Reagan encontrou Gorbachev em
Reykjavík, Islândia, para discutir novas medidas de desarmamento dos mísseis
estacionados na Europa.
O
ano de 1989 viu as primeiras eleições livres no mundo socialista, com vários
candidatos e com a mídia livre para discutir. Ainda que muitos partidos
comunistas tivessem tentado impedir as mudanças, a perestroika e a glasnost de
Gorbachev tiveram grande efeito positivo na sociedade. Assim, os regimes
comunistas, país após país, começaram a cair.
A
Polônia e a Hungria negociaram eleições livres (com destaque para a vitória do
partido Solidariedade na Polônia), e a Tchecoslováquia, a Bulgária, a Romênia e
a Alemanha Oriental tiveram revoltas em massa, que pediam o fim do regime
socialista. O ponto culminante foi a queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro
de 1989, que pôs fim à Cortina de Ferro e, para alguns historiadores, à Guerra
Fria em si.
Esta
situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados
pelo General Guenédi Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra
Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia, foi frustrado por Boris Iéltsin.
Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em Setembro, os
países bálticos conseguiram a independência.
Em
Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de
Dezembro de 1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, renunciando ao cargo que ocupava e ao seu sonho de ver um mundo
socialista.