O conflito envolveu as grandes potências de todo o mundo, que organizaram-se em duas alianças opostas: os aliados (com base na Tríplice Entente entre Reino Unido, França e Império Russo) e os Impérios Centrais (originalmente Tríplice Aliança entre Império Alemão, Áustria-Hungria e Itália; mas como a Áustria-Hungria tinha tomado a ofensiva contra o acordo, a Itália não entrou em guerra). Estas alianças reorganizaram-se (a Itália lutou pelos Aliados) e expandiram-se em mais nações que entraram na guerra. Em última análise, mais de 70 milhões de militares, incluindo 60 milhões de europeus, foram mobilizados em uma das maiores guerras da história. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos, em grande parte por causa de avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias correspondentes em proteção ou mobilidade. Foi o sexto conflito mais mortal na história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas.
Entre
as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das
grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o
Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República
Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque
Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo
nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho
imediato da guerra, o que resultou em um ultimato Habsburgo contra o Reino da
Sérvia. Diversas alianças formadas ao longo das décadas anteriores foram
invocadas, assim, dentro de algumas semanas, as grandes potências estavam em
guerra; através de suas colônias, o conflito logo se espalhou ao redor do
planeta.
Em
28 de julho, o conflito iniciou-se com a invasão austro-húngara da Sérvia,
seguida pela invasão alemã da Bélgica, Luxemburgo e França, e um ataque russo
contra a Alemanha. Depois da marcha alemã em Paris ter levado a um impasse, a Frente
Ocidental estabeleceu-se em uma batalha de atrito estático com uma linha de
trincheiras que pouco mudou até 1917. Na Frente Oriental, o exército russo
lutou com sucesso contra as forças austro-húngaras, mas foi forçado a recuar da
Prússia Oriental e da Polônia pelo exército alemão. Frentes de batalha
adicionais abriram-se depois que o Império Otomano entrou na guerra em 1914,
Itália e Bulgária em 1915 e a Romênia em 1916. Em decorrência do fechamento das
rotas comerciais do Mar Negro, em decorrência da entrada do Império Otomano na
guerra, o Império Russo entrou em colapso em março de 1917 e a Rússia deixou a
guerra após a Revolução de Outubro, mais tarde naquele ano. Depois de uma
ofensiva alemã em 1918 ao longo da Frente Ocidental, os Aliados forçaram o
recuo dos exércitos alemães em uma série de ofensivas de sucesso e as forças
dos Estados Unidos começaram a entrar nas trincheiras. A Alemanha, que teve o
seu próprio problema com os revolucionários, neste ponto, concordou com um
cessar-fogo em 11 de novembro de 1918, episódio mais tarde conhecido como Dia
do Armistício. A guerra terminou com a vitória dos Aliados.
Eventos
nos conflitos locais eram tão tumultuados quanto nas grandes frentes de
batalha, e os participantes tentaram mobilizar a sua mão de obra e recursos
econômicos para lutar uma guerra total. Até o final da guerra, quatro grandes
potências imperiais — os impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano —
deixaram de existir. Os Estados sucessores dos dois primeiros perderam uma grande
quantidade de seu território, enquanto os dois últimos foram completamente
desmontados. O mapa da Europa central foi redesenhado em vários países menores.
A Liga das Nações (organização precursora das Nações Unidas) foi formada na
esperança de evitar outro conflito dessa magnitude. Há consenso de que o
nacionalismo europeu provocado pela guerra, a separação dos impérios, as
repercussões da derrota da Alemanha e os problemas com o Tratado de Versalhes
foram fatores que contribuíram para o início da Segunda Guerra Mundial.
Antecedentes
No
século XIX, as grandes potências europeias tinham percorrido um longo caminho
para manter o equilíbrio de poder em toda a Europa, resultando na existência de
uma complexa rede de alianças políticas e militares em todo o continente por
volta de 1900. Estes começaram em 1815, com a Santa Aliança entre Reino da
Prússia, Império Russo e Império Austríaco. Então, em outubro de 1873, o
chanceler alemão Otto von Bismarck negociou a Liga dos Três Imperadores (em
alemão: Dreikaiserbund) entre os monarcas da Áustria-Hungria, Rússia e
Alemanha. Este acordo falhou porque a Áustria-Hungria e a Rússia tinham
interesses conflitantes nos Bálcãs, o que fez com que a Alemanha e
Áustria-Hungria formassem uma aliança em 1879, chamada de Aliança Dua. Isto foi
visto como uma forma de combater a influência russa nos Bálcãs, enquanto o
Império Otomano continuava a se enfraquecer. Em 1882, esta aliança foi ampliada
para incluir a Itália no que se tornou a Tríplice Aliança.
Depois
de 1870, um conflito europeu foi evitado em grande parte através de uma rede de
tratados cuidadosamente planejada entre o Império Alemão e o resto da Europa e
orquestrada por Bismarck. Ele trabalhou especialmente para manter a Rússia ao
lado da Alemanha, para evitar uma guerra de duas frentes com a França e a
Rússia. Quando Guilherme II subiu ao trono como imperador alemão (kaiser),
Bismarck foi obrigado a se aposentar e seu sistema de alianças foi gradualmente
deteriorado. Por exemplo, o kaiser se recusou a renovar o Tratado de Resseguro
com a Rússia em 1890. Dois anos mais tarde, a Aliança Franco-Russa foi assinada
para contrabalançar a força da Tríplice Aliança. Em 1904, o Reino Unido assinou
uma série de acordos com a França, a Entente Cordiale, e em 1907, o Reino Unido
e a Rússia assinaram a Convenção Anglo-Russa. Embora estes acordos não tenham
aliado o Reino Unido com a França ou a Rússia formalmente, eles fizeram a
entrada britânica em qualquer conflito futuro envolvendo a França ou a Rússia e
o sistema de intertravamento dos acordos bilaterais se tornou conhecido como a
Tríplice Entente.
O
poder industrial e econômico dos alemães havia crescido muito depois da
unificação e da fundação do império em 1871. Desde meados da metade dos anos
1890, o governo de Guilherme II usou essa base para dedicar significativos
recursos econômicos para a edificação do Kaiserliche Marine (em português:
Marinha Imperial alemã), criada pelo almirante Alfred von Tirpitz, em
rivalidade com a Marinha Real Britânica na supremacia naval mundial. Como
resultado, cada nação se esforçou construir o outro em termos de navios
importantes. Com o lançamento do HMS Dreadnought em 1906, o Império Britânico
expandiu a sua vantagem sobre seu rival alemão. A corrida armamentista entre
Reino Unido e Alemanha, eventualmente ampliada ao resto da Europa, com todas as
grandes potências dedicando a sua base industrial para produzir o equipamento e
as armas necessárias para um conflito pan-europeu. Entre 1908 e 1913, os gastos
militares das potências europeias aumentou em 50%.
A
Áustria-Hungria precipitou a crise Bósnia de 1908-1909 por anexar oficialmente
o antigo território otomano da Bósnia e Herzegovina, que ocupava desde 1878.
Isto irritou o Reino da Sérvia e seu patrono, o pan-eslavo e ortodoxo Império
Russo. A manobra política russa na região desestabilizou os acordos de paz, que
já estavam enfraquecidos, no que ficou conhecido como "o barril de pólvora
da Europa".
Em
1912 e 1913, a Primeira Guerra Balcânica foi travada entre a Liga Balcânica e o
fragmentado Império Otomano. O Tratado de Londres resultante ainda encolheu o
Império Otomano, com a criação de um Estado independente albanês, enquanto
ampliou as explorações territoriais da Bulgária, Sérvia, Montenegro e Grécia.
Quando a Bulgária atacou a Sérvia e a Grécia em 16 de junho de 1913, ela perdeu
a maior parte da Macedônia à Sérvia e Grécia e Dobruja do Sul para a Romênia
durante a Segunda Guerra Balcânica, desestabilizando ainda mais a região.
Crise de julho
Gavrilo Princip,
um estudante sérvio da Bósnia, foi preso logo depois de
matar o arquiduque
Francisco Fernando da Áustria-Hungria.
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Gavrilo
Princip, um estudante sérvio da Bósnia, foi preso logo depois de matar o
arquiduque Francisco Fernando da Áustria-Hungria.
Em
28 de junho de 1914, Gavrilo Princip, um estudante sérvio-bósnio e membro da
Jovem Bósnia, assassinou o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque
Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo, na Bósnia. Isto iniciou um mês de
manobras diplomáticas entre Áustria-Hungria, Alemanha, Rússia, França e Reino
Unido, no que ficou conhecido como a Crise de Julho. Querendo finalmente acabar
com a interferência sérvia na Bósnia — a Mão Negra tinha fornecido bombas e
pistolas, treinamento e ajuda a Princip e seu grupo para atravessar a fronteira
e os austríacos estavam corretos para acreditar que os oficiais e funcionários
sérvios estavam envolvidos — a Áustria-Hungria entregou o Ultimato de Julho
para a Sérvia, uma série de dez reivindicações criadas, intencionalmente, para
serem inaceitáveis, com a intenção de provocar uma guerra com a Sérvia. Quando
a Sérvia concordou com apenas oito das dez reivindicações, a Áustria-Hungria
declarou guerra ao país em 28 julho de 1914. Hew Strachan argumenta que
"se uma resposta equivocada e precipitada da Sérvia teria feito alguma
diferença para o comportamento da Áustria-Hungria é algo duvidoso. Francisco
Fernando não era o tipo de personalidade que comandava a popularidade e sua
morte não lançou o império em profundo luto".
O
Império Russo, disposto a permitir que a Áustria-Hungria eliminasse a sua
influência nos Balcãs e em apoio aos seus sérvios protegidos de longa data,
ordenou uma mobilização parcial um dia depois. O Império Alemão mobilizou-se em
30 de julho de 1914, pronto para aplicar o "Plano Schlieffen", que
planejava uma invasão rápida e massiva à França para eliminar o exército
francês e, em seguida, virar a leste contra a Rússia. O gabinete francês
resistiu à pressão militar para iniciar a mobilização imediata e ordenou que
suas tropas recuassem 10 km da fronteira, para evitar qualquer incidente. A
França só se mobilizou na noite de 2 de agosto, quando a Alemanha invadiu a
Bélgica e atacou tropas francesas. O Império Alemão declarou guerra à Rússia no
mesmo dia. O Reino Unido declarou guerra à Alemanha em 4 de agosto de 1914,
após uma "resposta insatisfatória" para o ultimato britânico de que a
Bélgica deveria ser mantida neutra.
A guerra
A crise de julho e as declarações
de guerra
Após
o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, ocorrido em 28 de junho, o
Império Austro-Húngaro esperou três semanas antes de decidir tomar um curso de
ação. Essa espera deveu-se ao fato de que boa parte do efetivo militar estava a
ajudar a colheita, o que impossibilitava a ação militar naquele período. Em 23
de julho, graças ao apoio incondicional alemão (carta branca) ao Império
Austro-Húngaro se a guerra eclodisse, foi enviado um ultimato à Sérvia. O
documento continha várias exigências, dentre as quais a de que agentes
austríacos fariam parte das investigações sobre o assassinato do arquiduque. O
governo sérvio aceitou todos os termos do ultimato, exceto a presença de
investigadores austríacos em território sérvio, por entender que isto seria um
desrespeito à soberania do país.
Após
a resposta da Sérvia, em 26 de julho, o Império Austro-Húngaro rompeu as
relações diplomáticas entre os dois países e declarou guerra à Sérvia em 28 de
Julho, começando o bombardeio à capital sérvia, Belgrado, em 29 de julho. No
dia seguinte, o Império Russo, que sempre tinha sido aliado da Sérvia, deu a
ordem de locomoção a suas tropas.
O
Império Alemão, que tinha prometido apoio ao Império Austro-Húngaro no caso de
uma eventual guerra, mandou um ultimato ao governo do Império Russo, exigindo
que parasse a mobilização de tropas dentro de 12 horas, no dia 31. No primeiro
dia de agosto, o ultimato tinha expirado sem qualquer reação russa. A Alemanha
então declarou guerra à Rússia e enviou um outro ultimato, desta vez à Bélgica,
requisitando a livre passagem do exército alemão rumo à França. Como tal pedido
foi recusado, foi declarada guerra à Bélgica. Em 2 de agosto, a Alemanha ocupou
Luxemburgo, como o passo inicial para a invasão da Bélgica e do Plano
Schlieffen (estratégia de defesa alemã que previa a invasão da França,
Inglaterra e Rússia).
Em
3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à França e, no dia seguinte, invadiu a
Bélgica. Tal ato, violando a soberania belga - que Grã-Bretanha, França e a
própria Alemanha estavam comprometidos a garantir - fez com que o Império
Britânico saísse da sua posição neutra e declarasse guerra à Alemanha, em 4 de
Agosto.
O início dos confrontos
Algumas
das primeiras hostilidades de guerra ocorreram no continente africano e no
oceano Pacífico, nas colônias e territórios das nações europeias. Em Agosto de
1914, um combinado da França e do Império Britânico invadiu o protetorado
alemão da Togoland, no Togo. Pouco depois, em 10 de agosto, as forças alemãs
baseadas na Namíbia atacaram a África do Sul, que pertencia ao Império
Britânico. Em 30 de agosto, a Nova Zelândia invadiu a Samoa, colônia alemã. Em
11 de setembro, a Força Naval e Expedicionária Australiana desembarcou na ilha
de Neu Pommern (mais tarde renomeada Nova Bretanha), que fazia parte da chamada
Nova Guiné Alemã. O Japão invadiu as colônias micronésias e o porto alemão de
abastecimento de carvão de Qingdao na península chinesa de Shandong. Com isso,
em poucos meses, a Tríplice Entente tinha dominado todos os territórios alemães
no Pacífico. Batalhas esporádicas, porém, ainda ocorriam na África.
Na
Europa, o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro sofriam de uma mútua falta
de comunicação e desconhecimento dos planos de cada exército. A Alemanha tinha
garantido o apoio à invasão austro-húngara à Sérvia, mas a interpretação
prática para cada um dos lados tinha sido diferente. Os líderes austro-húngaros
acreditavam que a Alemanha daria cobertura ao flanco setentrional contra a
Rússia. A Alemanha, porém, tinha planejado que o Império Austro-Húngaro focasse
a maioria de suas tropas na luta contra a Rússia enquanto combatia a França na
Frente Ocidental. Tal confusão forçou o exército Austro-Húngaro a dividir suas
tropas. Mais da metade das tropas foi combater os russos na fronteira, enquanto
um pequeno grupo foi deslocado para invadir e conquistar a Sérvia.
A batalha da Sérvia
O
exército sérvio submeteu-se a uma estratégia defensiva para conter os invasores
austro-húngaros, o que culminou na Batalha de Cer. Os sérvios ocuparam posições
defensivas no lado sul do rio Drina. Nas duas primeiras semanas os ataques
austro-húngaros foram repelidos causando grandes perdas ao exército das
Potências Centrais. Essa foi a primeira grande vitória da Tríplice Entente na
guerra. As expectativas austro-húngaras de uma vitória fácil e rápida não foram
realizadas e como resultado o Império Austro-Húngaro foi obrigado a manter uma
grande força na fronteira sérvia, enfraquecendo as tropas que batalhavam contra
a Rússia na Frente Oriental.
Exército alemão na Bélgica e
França
Após
invadir o território belga, o exército alemão logo encontrou resistência na
fortificada cidade de Liège. Apesar do exército ter continuado a rápida marcha
rumo à França, a invasão germânica tinha provocado a decisão britânica de
intervir em ajuda a Tríplice Entente. Como signatário do Tratado de Londres, o
Império Britânico estava comprometido a preservar a soberania belga. Para a
Grã-Bretanha os portos de Antuérpia e Oostende eram importantes demais para
cair nas mãos de uma potência continental hostil ao país. Para tanto, enviou um
exército para a Bélgica, atrasando o avanço alemão.
Inicialmente
os mesmos tiveram uma grande vitória na Batalha das Fronteiras (14 de agosto a
24 de agosto de 1914). A Rússia, porém, atacou a Prússia Oriental, o que
obrigou o deslocamento das tropas alemãs que estavam planejadas para ir a
Frente Ocidental. A Alemanha derrotou a Rússia em uma série de confrontos
chamados da Segunda Batalha de Tannenberg (17 de agosto a 2 de setembro de
1914). O deslocamento imprevisto para combater os russos, porém, acabou
permitindo uma contra-ofensiva em conjunto das forças francesas e inglesas, que
conseguiram parar os alemães em seu caminho para Paris, na Primeira Batalha do
Marne (Setembro de 1914), forçando o exército alemão a lutar em duas frentes. O
mesmo se postou numa posição defensiva dentro da França e conseguiu incapacitar
permanentemente 230.000 franceses e britânicos.
A guerra das trincheiras
Os
avanços na tecnologia militar significaram na prática um poder de fogo
defensivo mais poderoso que as capacidades ofensivas, tornando a guerra
extremamente mortífera. O arame farpado era um constante obstáculo para os
avanços da infantaria; a artilharia, muito mais letal que no século XIX, armada
com poderosas metralhadoras. Os alemães começaram a usar gás cloro em 1915, no
que foi a primeira utilização de armas químicas, e logo depois ambos os lados
usavam da mesma estratégia. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de tal
artifício e apenas 1% das vítimas da guerra foram em decorrência do uso de tal
armamento.
Numa
nota curiosa, temos que no início da guerra, chegando a primeira época
natalícia, se encontram relatos de os soldados de ambos os lados cessarem as
hostilidades e mesmo saírem das trincheiras e cumprimentarem-se (trégua de
Natal). Isto ocorreu sem o consentimento do comando, no entanto, foi um evento
único. Não se repetiu posteriormente por diversas razões: o número demasiado
elevado de baixas aumentou os sentimentos de ódio dos soldados e o comando,
dados os acontecimentos do primeiro ano, tentou usar esta altura para fazer
propaganda, o que levou os soldados a desconfiar ainda mais uns dos outros.
A
alimentação era sobretudo à base de carne, vegetais enlatados e biscoitos,
sendo os alimentos frescos uma raridade.
Fim da guerra
A
partir de 1917, a situação começou a alterar-se, quer com a entrada em cena de
novos meios, como o carro de combate e a aviação militar, quer com a chegada ao
teatro de operações europeu das forças estadunidenses ou a substituição de
comandantes por outros com nova visão da guerra e das tácticas e estratégias
mais adequadas; lançam-se, de um lado e de outro, grandes ofensivas, que causam
profundas alterações no desenho da frente, acabando por colocar as tropas
alemãs na defensiva e levando por fim à sua derrota. É verdade que a Alemanha
adquire ainda algum fôlego quando a revolução estala no Império Russo e o
governo bolchevista, chefiado por Lênin, prontamente assina a paz sem
condições, (Tratado de Brest-Litovski) assim anulando a frente leste, mas essa
circunstância não será suficiente para evitar a derrota. O armistício que pôs
fim à guerra foi assinado a 11 de novembro de 1918.
Consequências
Efeitos socioeconômicos
Nenhuma
outra guerra mudou o mapa da Europa de forma tão dramática. Quatro impérios
desapareceram após o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Otomano e o
Russo.
Quatro
dinastias, juntamente com as aristocracias que as apoiavam, caíram após a guerra:
os Hohenzollern, os Habsburgos, os Romanov e os Otomanos. Países como a Bélgica
e a Sérvia passaram por destruições severas, assim como a França, que perdeu
1,4 milhão de soldados, sem contar as vítimas civis. A Alemanha e Rússia foram
igualmente afetadas.
A
guerra teve consequências econômicas profundas. Dos 60 milhões de soldados
europeus que foram mobilizados entre os anos de 1914 e 1918, 8 milhões foram
mortos, 7 milhões foram incapacitados de maneira permanente e 15 milhões
ficaram gravemente feridos. Morreram 6 milhões de civis durante a guerra. A
Alemanha perdeu 15,1% de sua população masculina ativa, a Áustria-Hungria
perdeu 17,1% e a França perdeu 10,5%.
Na
Alemanha, as mortes de civis foram 474 mil superiores do que em tempo de paz,
em grande parte devido à escassez de alimentos e desnutrição que enfraqueceu a
resistência à doenças. As cláusulas da rendição do Império Alemão também
impuseram um acréscimo na dívida do páís como indenização de guerra. Até o
final da guerra, a fome matou cerca de 100 mil pessoas no Líbano. As
estimativas mais confiáveis sobre o número de vítimas da fome russa de 1921,
apontam a morte de entre 5 e 10 milhões de pessoas. Por volta de 1922, havia
entre 4,5 milhões e 7 milhões de crianças de rua na Rússia, como resultado de
quase uma década de devastações causadas pela Primeira Guerra Mundial, pela
Guerra Civil Russa e pela crise de fome subsequente, entre 1920 e 1922. Muitos
russos anti-soviéticos fugiram do país após a Revolução Russa de 1917; na
década 1930, a cidade chinesa de Harbin, no norte do país, recebeu 100 mil
russos. Outros milhares emigraram para a França, Reino Unido e Estados Unidos.
Os Estados Unidos da América enfrentaram um surto de inflação causado pelo aumento
de gastos públicos que começaram com a entrada na guerra e se encerrou apenas
em 1919.
Na
Austrália, os efeitos da guerra sobre a economia não foram menos graves. O
então primeiro-ministro australiano, Billy Hughes, escreveu ao
primeiro-ministro britânico da época, Lloyd George, dizendo: "Você tem nos
assegurar que não pode obter melhores condições. Eu muito me arrependo e
espero, mesmo agora, que de alguma forma possa ser encontrada para garantir um
acordo para exigir uma reparação compatível com os tremendos sacrifícios feitos
pelo Império Britânico e por seus aliados." A Austrália recebeu 5.571.720
de libras esterlinas como forma de reparar os danos causados pela guerra, mas o
custo direto da guerra para os australianos tinha sido de 376.993.052 libras
esterlinas e, em meados da década de 1930, as pensões de repatriação, gratificações
de guerra, juros e encargos de naufrágio eram de 831.280.947 libras. Dos cerca
de 416 mil australianos que lutaram na guerra, cerca de 60 mil foram mortos e
outros 152 mil ficaram feridos.
Doenças
floresceram nas condições caóticas da guerra. Apenas em 1914, piolhos
infectados pelo tifo epidêmico matou 200 mil pessoas na Sérvia. Entre 1918 e
1922, a Rússia tinha cerca de 25 milhões de infecções e 3 milhões de mortes por
tifo. Considerando que antes da Primeira Guerra Mundial a Rússia registrava
cerca 3,5 milhão de casos da malária, após o conflito seu povo sofreu com mais
de 13 milhões de casos em 1923. Além disso, a grande epidemia de gripe em 1918
se espalhou pelo mundo. No geral, a pandemia de gripe espanhola matou ao menos 50
milhões de pessoas.
O
lobby feito por Chaim Weizmann e o medo de que os judeus estadunidenses
incentivassem os Estados Unidos a apoiar a Alemanha culminaram na Declaração
Balfour de 1917, feita pelo governo britânico e que endossava a criação de uma
pátria judaica na Palestina. Um total de mais de 1.172.000 soldados judeus
serviram nas forças Aliadas e nas forças dos Impérios Centrais na Primeira
Guerra Mundial, incluindo 275 mil na Áustria-Hungria e 450 mil na Rússia
czarista.
A
desorganização social e a violência generalizada da Revolução Russa de 1917 e
da Guerra Civil Russa que se seguiu provocou mais de 2.000 pogroms no antigo
Império Russo, principalmente na Ucrânia. Estima-se que entre 60 mil e 200 mil
judeus civis foram mortos nas atrocidades.
No
rescaldo da Primeira Guerra Mundial, a Grécia lutou contra nacionalistas turcos
liderados por Mustafa Kemal, uma guerra que resultou em uma enorme troca
populacional entre os dois países no âmbito do Tratado de Lausanne. De acordo
com várias fontes, várias centenas de milhares de gregos pônticos morreram
durante este período.
Tratados de paz e fronteiras
nacionais
Após
a guerra, a Conferência de Paz de Paris, em 1919, impôs uma série de tratados
de paz às Potências Centrais, terminando oficialmente com a guerra. O Tratado
de Versalhes de 1919 lidou com a Alemanha e, com base nos Quatorze Pontos do
então presidente estadunidense, Woodrow Wilson, trouxe à existência a Liga das
Nações em 28 de junho de 1919.
Ao
assinar o tratado, a Alemanha reconheceu "toda a perda e danos a que os
Aliados, os governos associados e seus nacionais foram submetidos como
consequência da guerra imposta sobre eles pelas agressões da Alemanha e de seus
aliados". Esta cláusula também foi inserido mutatis mutandis para os
tratados assinados pelos outros membros das Potências Centrais. Esta cláusula
mais tarde se tornou conhecido, para os alemães, como a cláusula de culpa da
guerra. Os tratados da Conferência de Paz de Paris também impôs às nações
derrotadas que pagassem reparações aos vencedores. O Tratado de Versalhes
causou um enorme sentimento de amargura no povo alemão, que os movimentos
nacionalistas, especialmente os nazistas, exploraram com uma teoria de
conspiração que chamaram de Dolchstoßlegende (a "Lenda da Punhalada pelas
Costas"). A inflação galopante na década de 1920 que foi causada pela
frustração nos gastos militares contribuiu para o colapso econômico da
República de Weimar e o pagamento de indenizações foi suspenso em 1931, após a
Quebra do Mercado de Ações de 1929 e o início do período que posteriormente
conhecido como Grande Depressão em todo o mundo.
A
Áustria-Hungria foi dividida em vários Estados sucessores (como a Áustria, a
Hungria, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia), que foram em grande parte, mas não
totalmente, definidos por grupos étnicos. A Transilvânia foi transferida da
Hungria para a Romênia Maior. Os detalhes foram contidos no Tratado de
Saint-Germain-en-Laye e no Tratado de Trianon. Como resultado do Tratado de
Trianon, 3,3 milhões de húngaros ficaram sob domínio estrangeiro. Apesar de 54%
da população do Reino da Hungria ter sido composta por húngaros no período
pré-guerra, apenas 32% de seu território foi deixado para a Hungria. Entre 1920
e 1924, 354 mil húngaros fugiram de antigos territórios húngaros ligados à
Romênia, Tchecoslováquia e Iugoslávia.
O
Império Russo, que havia se retirado da guerra em 1917, após a Revolução de
Outubro, perdeu grande parte de sua fronteira ocidental e as nações
recém-independentes da Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Polônia foram
esculpidos a partir dela. A Bessarábia foi reanexada à Romênia Maior, uma vez
que tinha sido um território romeno por mais de mil anos.
O
Império Otomano se desintegrou e muito do seu território fora da Anatólia foi
tomado por várias potências aliadas como protetorados. O núcleo turco foi
reorganizada como a República da Turquia. O Império Otomano deveria ter sido
dividido pelo Tratado de Sèvres, em 1920, mas este tratado nunca foi ratificado
pelo sultão e foi rejeitado pelo Movimento Nacional Turco, levando à guerra de
independência turca e, finalmente, ao Tratado de Lausanne, em 1923.