Ao longo de toda a sua vida, Hobsbawm foi membro do Partido Comunista Britânico.Um de seus interesses foi o desenvolvimento das tradições. Seu trabalho é um estudo da construção dessas tradições no contexto do Estado-nação. Argumentou que muitas vezes as tradições são inventadas por elites nacionais para justificar a existência e importância de suas respectivas nações.
Nascido
no Egito, ainda sob dominação britânica, teve, por isso, a nacionalidade
britânica. Seu sobrenome foi alterado por erro de escrituração: era filho de
Leopold Percy Hobsbaum, inglês, e Nelly Grün, austríaca, ambos judeus. Teve uma
irmã - Nancy. Passou os primeiros anos de sua vida em Viena e Berlim. Nessa
época, tanto a Áustria quanto a Alemanha sofriam com a crise econômica e a
convulsão social, consequências diretas da Primeira Guerra Mundial.
Seu
pai morreu em 1929, e sua mãe em 1931. Ele e sua irmã foram adotados pela tia
materna, Gretl, e por seu tio paterno, Sydney, que se casaram e tiveram um
filho - Peter. A família mudou-se para Londres em 1933.
Em
1947 passou a lecionar no Birkbeck College, em Londres, mas só foi promovido em
1970. Ele atribuía essa demora às suas posições políticas.
Hobsbawm
casou-se duas vezes: a primeira, com Muriel Seaman, em 1943, de quem se
divorciou em 1951, e a segunda, com Marlene Schwarz. Com esta última, teve dois
filhos, Julia e Andy. Teve também um filho fora do casamento, Joshua Bennathan.
Morreu
em 1° de outubro de 2012, no hospital Free Royal de Londres, de pneumonia,
entre outras complicações decorrentes da leucemia.
Aos
14 anos de idade, ainda em Berlim, ingressou no Sozialistischer Schülerbund
(Federação dos Estudantes Socialistas), uma ramificação da Kommunistischer
Jugendverband Deutschlands Liga da Juventude Comunista da Alemanha.
Em
1933, quando Adolf Hitler chegou ao poder, Hobsbawm mudou-se para Londres. Já
havia nesse período iniciado seus estudos das obras de Karl Marx. Fugindo das
perseguições nazistas, mas também por ter ganhado uma bolsa para estudar na
Universidade de Cambridge, Hobsbawm formou-se em História. Um evento importante
para a sua formação intelectual e para o início de sua trajetória como
historiador foi a resolução de seu tio de se mudar da Alemanha, levando a
família e os negócios para a Inglaterra, assim que Hitler, mesmo ficando em
segundo lugar nas eleições de 1933, foi chamado para ser primeiro-ministro, a
pedido do presidente Paul von Hindenburg, do Partido Conservador, vencedor das
eleições. Essa atitude garantiu a tranquilidade da família, que era judia, bem
como a salvação de suas economias. Hobsbawm vê nesse acontecimento a evidência
cabal de que análises históricas bem formuladas podem indicar as tendências
futuras com um grau elevado de acerto. Uma de suas preocupações é aprimorar as
análises históricas para criar mecanismos mais eficientes de predições
econômicas e sociais. Ele mesmo faz algumas em seus livros - como a dificuldade
de Israel se manter no Oriente Médio se tiver como apoio apenas a força
militar. Tornou-se militante político de esquerda e, em 1936, ingressou no
Partido Comunista da Grã-Bretanha, que então apoiava o regime estalinista, o
mesmo regime que anos antes havia exilado parte da ala crítica ao PC soviético,
incluindo Leon Trótski, fundador da Quarta Internacional.
Durante
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), serviu ao Exército Britânico. No início,
nos anos de 1939-1940, fez parte de uma divisão que cavava trincheiras e
preparava bunkers no litoral do país, como forma de impedir a "Operação
Leão Marinho" (invasão da Inglaterra por exércitos anfíbios).
Posteriormente, foi responsável por trabalhos de inteligência, pois dominava quatro
idiomas. Com o fim da guerra, Hobsbawm retornou à Universidade de Cambridge
para o curso de doutorado. Também nessa época juntou-se a alguns colegas e
formou o Grupo de Historiadores do Partido Comunista.
Nos
anos 1960, integrou um grupo de brilhantes historiadores marxistas britânicos,
com Christopher Hill, Rodney Hilton e Edward Palmer Thompson, todos desiludidos
com o estalinismo e o Partido Comunista. O grupo buscava entender a história da
organização das classes populares, suas lutas e ideologias, através da chamada
História Social. Porém, ao contrário dos outros membros do grupo, que eram
contra o Partido Comunista desde 1956 (após a invasão soviética da Hungria),
Hobsbawm continuou sendo membro do partido até o colapso da União Soviética.
"Eu não queria romper com a tradição que era a minha vida e com o que eu
pensava quando me envolvi com ela. Ainda acho que era uma grande causa, a causa
da emancipação da humanidade. Talvez nós tenhamos ido pelo caminho errado,
talvez tenhamos montado o cavalo errado, mas você tem de permanecer na corrida,
caso contrário, a vida não vale a pena ser vivida", diria posteriormente
ao New York Times, numa entrevista de 2003.
Para
analisar a história do trabalhismo e os diversos aspectos que a envolvem, como
as revoluções burguesas, o processo de industrialização, as diferentes
manifestações de resistência, luta e revolta da classe trabalhadora, Hobsbawm
dedicou-se à interpretação do século XIX.
Sobre
esse período, que, segundo ele, vai de 1789 (ano da Revolução Francesa) a 1914
(início da Primeira Guerra Mundial), publicou estudos importantes, como Era das
Revoluções (1789-1848), A Era do Capital (1848-1875) e A Era dos Impérios
(1875-1914). Hobsbawm foi também responsável por análises aprofundadas sobre o
que chama de "o breve século XX". Seu livro Era dos Extremos, lançado
em 1994, na Inglaterra, tornou-se uma das obras mais lidas e indicadas sobre a
história recente da humanidade. Nela, o historiador analisa o período que vai
de 1917 – fim da Primeira Guerra Mundial e ano da Revolução Russa – até 1991,
com o colapso da União Soviética e o fim dos regimes socialistas no Leste
Europeu.
Também
importante no conjunto de sua obra é seu livro mais recente, Tempos
Interessantes, publicado em 2002, no qual discorre novamente sobre o século XX
e relaciona fatos históricos com sua trajetória de vida, sendo por isso
considerado como uma obra autobiográfica.
Em
2003, Hobsbawm ganhou o Prêmio Balzan para a História da Europa desde 1900.
Considerado
um dos mais importantes historiadores contemporâneos, Hobsbawm, como um velho
militante de esquerda, utilizou-se do método marxista de análise histórica,
sempre partindo do conceito de luta de classes. Foi membro da Academia
Britânica e da Academia Americana de Artes e Ciências. Foi também professor de
História no Birkbeck College (Universidade de Londres) e da New School for
Social Research de Nova Iorque.
Entre
seus livros, destacam-se estudos sobre as classes dominadas, como
Trabalhadores, Bandidos e História Social do Jazz. Escreveu também sobre a
história das ideologias políticas e sociais, em Nações e Nacionalismos e A
Invenção da Tradição, além da autobiografia Tempos Interessantes.
Em
entrevista ao jornalista Michael Ignatieff, disse, conforme reportado pelo
historiador britânico Robert Conquest:
"o
Grande Terror de Stalin teria valido a pena caso tivesse resultado na revolução
mundial."
Há
controvérsias sobre a declaração acima, na entrevista televisionada citada,
Hobsbawn foi perguntado pelo acadêmico canadense e político Michael Ignatieff,
se a morte de 20 milhões na URSS - sem contar as estimadas 55 ou 65 milhões de
vítimas do governo de Mao - poderiam ser justificadas caso a revolução
comunista triunfasse no mundo. Eric Hobsbawm simplesmente se silenciou e não
manifestou opinião.
Livros publicados
A
Era das Revoluções
Era
do Capital
A
Era dos Impérios
Era
dos Extremos - o breve século XX
Sobre
História
Globalização,
Democracia e Terrorismo
Da
Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1979 (Segunda Edição)
História
Social do Jazz
Pessoas
Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz
Nações
e Nacionalismo desde 1780
Tempos
Interessantes (autobiografia)
Os
Trabalhadores: Estudos Sobre a História do Operariado
Mundos
do Trabalho: Novos Estudos Sobre a História Operária
Revolucionários:
Ensaios Contemporâneos
Estratégias
para uma Esquerda Racional
Ecos
da Marselhesa : dois séculos revêem a Revolução Francesa. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.
As
Origens da Revolução Industrial. São Paulo: Global Editora, 1979.
Co-edição ou organização
A
Invenção das Tradições
História
do Marxismo (12 volumes)