Guerras
Napoleônicas é a designação do conflito armado que se estendeu de 1803 a 1815,
opondo a quase totalidade das nações da Europa a Napoleão Bonaparte, herdeiro
da Revolução Francesa e ditador militar.
Napoleão
chegou ao poder como 1°Cônsul (1799) vindo a ser coroado imperador da França,
em 1804, sob o título de Napoleão I. A partir de 1807 conduziu o governo sem
atender aos corpos legislativos e com características autoritárias, imperiais e
expansionistas.
As
guerras, a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se
guerras nacionais a partir da resistência popular de Espanha e Portugal (Guerra
Peninsular) aos invasores napoleônicos. Com o apoio da Grã-Bretanha, as nações
europeias, derrotadas em sucessivas coligações, acabaram por se impor a
Napoleão na Batalha de Waterloo (1815) e forçaram o imperador francês ao
exílio.
Notícias
dos acontecimentos da Revolução Francesa de 1789 foram recebidas com grande
alarde pelas lideranças políticas nos países pela Europa, o que só piorou
quando eles souberam da prisão e execução do rei Luís XVI de França. A primeira
tentativa de esmagar a recém nascida República Francesa veio em 1793 quando o
Império Austríaco, o Reino da Sardenha, o Reino de Nápoles, o Reino da Prússia,
Espanha e o Reino da Grã-Bretanha formaram a chamada Primeira Coalizão. Os
franceses tomaram várias medidas, incluindo conscrições em massa (levée en
masse), reformas militares e uma política de guerra total, que acabaram
contribuindo para a vitória e sobrevivência da República. Ainda assim, o
conflito interno persistiu e se tornou uma guerra civil aberta. A Guerra da
Primeira Coalizão terminou quando o jovem general Napoleão Bonaparte derrotou
os austríacos na Itália e chegou as portas de Viena, impondo a Áustria o
Tratado de Campoformio. Em 1797, apenas a Inglaterra continuava oficialmente em
guerra contra a França.
Porém,
em 1798, a Segunda Coalizão foi formada contra a França e era composta
novamente pela Áustria, Reino Unido, Nápoles, o Império Otomano, os Estados
Papais, Portugal, o Império Russo, a Suécia e alguns outros países. Durante a
Guerra da Segunda Coalizão, a República Francesa sofria com corrupção e
divisões internas sob o governo do Diretório. A economia francesa estava em
frangalhos e não tinha mais os serviços de Lazare Carnot, o ministro da guerra
que havia supervisionado as campanhas bem sucedidas no exterior após uma
reforma nas forças armadas na década de 1790. O general Bonaparte, principal
arquiteto da vitória contra a primeira coalizão, lançou uma incursão militar no
Egito. Na Europa, a França sofria com derrotas e privações. O principal
instigador e financiador da guerra era a Inglaterra, velha rival do país.
Bonaparte
retornou do Egito em 23 de agosto de 1799 e tomou controle do governo a 9 de
novembro do mesmo ano no Golpe de 18 de brumário, que derrubou o Diretório e
formou o chamado Consulado, liderado por Napoleão. Sob sua liderança, o
exército francês se rearmou e foi reorganizado. Uma força de reserva também foi
mobilizada para futuras campanhas além do Reno e na Itália.
Em
todas as frentes, os franceses, sob a liderança de Napoleão, começaram a
avançar e empurraram os austríacos para longe do seu território e também
afastaram a ameaça da Rússia. Na Itália, Bonaparte derrotou os austríacos
novamente nas batalhas de Marengo e Hohenlinden em 1800. Derrotada, a Áustria
assina o Tratado de Lunéville (9 de fevereiro de 1801). Agora isolado, o Reino
Unido foi forçado a assinar o Tratado de Amiens com a França.
Data de início e nomenclatura
Não
há consenso sobre quando as guerras revolucionárias francesas terminaram e as
guerras napoleônicas começaram. As datas para o começo do conflito são
debatidas entre 9 de novembro de 1799, quando Napoleão tomou o poder no 18 de
brumário; ou em 18 de maio de 1803, quando a Grã-Bretanha encerrou o período de
paz que firmou com a França. Outra data debatida é 2 de dezembro de 1804,
quando Bonaparte se coroou imperador.
Historiadores
britânicos se referem ao período quase contínuo de guerras de 1792 a 1815 como
a "Grande Guerra Francesa", ou como a fase final da Segunda Guerra
dos Cem anos, que teria ido de 1689 a 1815.
Na
França, as Guerras Napoleônicas são geralmente integradas com as Guerras
Revolucionárias Francesas (Les guerres de la Révolution et de l'Empire).
Táticas de Napoleão
Napoleão
foi, e ainda é, reconhecido por suas vitórias nos campos de batalha.
Historiadores e analistas militares há muito tempo estudam seus feitos. Em
2008, Donald Sutherland escreveu:
"A batalha ideal Napoleônica
era manipular o inimigo a uma posição infavorável através de manobras e ardis,
forçando ele a mandar suas principais forças e reservas para a batalha
principal e depois realizar um ataque envolvente com as tropas não
comprometidas ou reservas no flanco ou por trás. Tal ataque surpresa ou daria
um duro golpe na moral inimiga ou o forçaria a quebrar suas linhas. Ainda
assim, a própria impulsividade do inimigo começava o processo onde um pequeno
exército francês poderia derrota-los um a um".
Após
1807, Napoleão criou uma força de artilharia bem armada e altamente móvel. O
imperador francês, ao invés de contar com sua infantaria para enfraquecer as
linhas inimigas, ele agora usava artilharia pesada para enfraquecer o inimigo.
Uma vez que a posição inimiga estava amaciada, a infantaria e a cavalaria
avançavam em peso.
Prelúdio
O
Reino Unido não estava feliz com várias ações tomadas pela França após a
assinatura do Tratado de Amiens. Napoleão Bonaparte havia anexado Piemonte e a
Ilha de Elba, e se proclamou presidente da República Italiana, um Estado criado
pela França. Os franceses também interferiam bastante nos assuntos comerciais
britânicos, apesar dos acordos de paz. Paris também reclamava que a
Grã-Bretanha ainda dava abrigo a certos indivíduos e não calava a imprensa
anti-França do país.
A
ilha de Malta havia sido capturada pelos britânicos durante a Guerra da Segunda
Coalizão e esse assunto foi tratado em um complexo acordo estipulado pelo 10º
artigo do Tratado de Amiens onde a Ordem de São João foi restaurada com uma
guarnição napolitana. Contudo, o enfraquecimento da Ordem através do confisco
de seus bens na França e Espanha, além de outros atrasos, evitaram que os
britânicos pudessem se retirar da ilha nos três meses estipulados pelo tratado.
A
República Helvética foi estabelecida pela França quando eles invadiram a Suíça
em 1798. Os franceses retiraram suas tropas, mas violentas revoltas aconteceram
contra o governo, que muitos suíços viam como centralizado demais. Alarmado,
Bonaparte reocupou o país em 1802 e impôs um acordo de mediação. Esta ação
causou ultraje na Grã-Bretanha, que protestou afirmando que este ato violava o
Tratado de Lunéville. Embora as potências continentais não estivessem
preparadas para agir, os britânicos decidiram enviar um agente para ajudar os
suíços a obter suprimentos e deu ordens para as suas forças armadas não
devolverem a Colônia do Cabo para a Holanda, como eles haviam prometido no
Tratado de Amiens. Contudo, a resistência suíça acabou entrando em colapso
antes de qualquer mudança significativa nas políticas internacionais e depois
de um mês os ingleses decidiram revogar a ordem de não entregar a Colônia do
Cabo. Ao mesmo tempo, a Rússia também entrou nas discussões sobre a ilha de
Malta. Preocupada com a possibilidade de recomeço das hostilidades quando Bonaparte
descobrisse que a Colônia do Cabo não havia sido retida, os britânicos
começaram a deliberadamente procrastinar sua evacuação de Malta. Em janeiro de
1803, um artigo oficial do governo francês publicou um relatório de um agente
comercial que dizia com quanta facilidade a França havia conquistado o Egito.
Os britânicos usaram isso como motivo para exigir algum tipo de satisfação e
segurança antes de evacuar Malta, que podia ser usado como rota para o Egito. A
França negou qualquer intenção de tentar anexar o Egito e perguntou que tipo de
garantias os ingleses precisavam, mas estes não responderam. Ainda não havia um
interesse das partes em recomeçar as hostilidades, com o primeiro-ministro
Henry Addington afirmando publicamente que a Grã-Bretanha estava em um profundo
estado de paz.
No
começo de março de 1803, o governo de Addington recebeu a notícia de que a
Colônia do Cabo havia sido reocupada pelo Exército Britânico, de acordo com as
ordens dadas. No dia 8, novas ordens foram passadas aos militares para se
prepararem para uma retaliação francesa, mas a propaganda estatal afirmou
falsamente que isso era uma resposta as preparações que os franceses estavam
fazendo e que negociações com Paris estavam sendo feitas. Napoleão reagiu
repreendendo o embaixador britânico na frente de 200 espectadores a respeito
das preparações militares não justificadas do seu país.
O
governo do primeiro-ministro inglês, Henry Addington, sabia que haveria uma
investigação para saber se o motivo das recentes preparações militares eram
justificadas ou não. Durante o mês de abril ele tentou, sem sucesso, buscar
apoio de William Pitt para se blindar de qualquer dano político. Nesse mesmo
período, o governo britânico fez um ultimato a França, exigindo a retenção de
Malta por pelo menos dez anos, a permanente aquisição da ilha de Lampedusa do
Reino da Sicília e a evacução da Holanda. Em retorno, eles reconheceriam as
conquistas territoriais francesas na Itália, se Napoleão se retirasse da Suíça
e recompensasse o Reino da Sardenha por suas perdas territoriais. A França
ofereceu, em contra partida, colocar a ilha de Malta em mãos russas, para
aliviar as preocupações britânicas, se retirar da Holanda, uma vez que a saída
inglesa de Malta estivesse concluída, e formar uma convenção para dar
satisfação ao Reino da Grã-Bretanha em outros temas. Porém os britânicos
falsamente afirmaram que a Rússia nunca se ofereceu e o seu embaixador deixou
Paris. Ainda tentando evitar uma guerra, Bonaparte tentou fazer um acordo
secreto com os ingleses onde estes poderiam se manter em Malta se aos franceses
fosse permitido ocupar a península de Otranto, em Nápoles. Porém todos os
esforços foram infrutíferos e a Inglaterra oficialmente declarou guerra a
França em 18 de maio de 1803.
Em
1804, Napoleão foi coroado Imperador dos Franceses. Sua ascensão não foi
diretamente reconhecida por nenhuma potência europeia.
Guerra entre o Reino Unido e a
França (1803–1814)
Motivações britânicas
Os
britânicos terminaram sua paz fraca criada pelo tratado de Amiens quando declarou
guerra a França em maio de 1803. O governo do Reino da Grã-Bretanha estava
ficando cada vez mais irritado com Napoleão alterando a ordem política na
Europa Ocidental, especialmente na Suíça, na Alemanha, na Itália e na Holanda.
O acadêmico Frederick Kagan diz que os britânicos estavam insultados e
alarmados com o controle de Napoleão sobre o território suíço. O líder francês
falou que os ingleses não tinham nada a dizer a respeito dos acontecimentos na
Europa continental e queria interromper a circulação de jornais ingleses que
difamavam Napoleão.
A
Grã-Bretanha imaginava estar perdendo o controle político e sua hegemonia, além
da perda de mercados, e se preocupava que Napoleão iria tentar ameaçar suas
colônias fora do continente europeu. O autor Frank McLynn afirma que a decisão
britânica de ir a guerra contra a França em 1803 foi uma "mistura de
motivações econômicas e neurose nacional – uma ansiedade irracional sobre os
motivos e intenções de Napoleão". Contudo, McLynn argumenta que, no longo
prazo, a decisão de fazer guerra foi correta, pois as intenções de Napoleão
eram hostis e iam de encontro aos interesses britânicos. Além disso, Bonaparte
não estava preparado para a guerra naquele momento e era o melhor período para
os britânicos irem a ofensiva. A Inglaterra então tomou conta de Malta, se
recusando a acatar os termos do tratado de Amiens.
O
maior medo dos britânicos era que Napoleão estaria tomando controle da Europa,
tornando o sistema internacional instável e excluindo a Grã-Bretanha do cenário
político.
Muitos
acadêmicos afirmam que a postura agressiva de Napoleão fez dele inimigo de
muitos países e lhe custou aliados. Em 1808 os franceses já estavam em controle
de boa parte da Europa continental, mas o conflito constante com a Inglaterra
levou a Guerra Peninsular e a Campanha da Rússia, onde muitos afirmam que foram
erros de cálculo de Napoleão.
Nunca
houve uma tentativa séria de encerrar um conflito por meio de um acordo de paz.
O pedido mais relevante foi feito por Charles James Fox, secretário de relações
exteriores inglês, em 1806 e terminou em fracasso. Os britânicos queriam reter
suas possessões coloniais no exterior e ainda manter Hanôver sob seu controle,
e em retorno reconheceriam as conquistas territoriais francesas. Os franceses
aceitaram deixar aos ingleses Malta, Colônia do Cabo, Tobago e a Índia
Francesa, mas queriam a Sicília em troca da restauração de Hanôver, uma
condição que os britânicos recusaram.
Ao
contrário dos seus aliados nas Coalizões, o Reino da Grã-Bretanha esteve sempre
em guerra contra a França no curso das Guerras Napoleônicas. Protegidas por sua
superioridade naval, os britânicos travaram poucas batalhas terrestres contra a
França no curso da década, preferindo travar guerra por procuração. O governo
britânico gastou enormes quantidades de dinheiro para apoiar outros Estados
europeus guerrearem contra Napoleão, chegando a pagar por exércitos inteiros.
Foi dinheiro inglês, por exemplo, que manteve viva a rebelião espanhola na
Guerra Peninsular (1808–1814), apoiando os guerrilheiros. Uma força
Anglo-portuguesa, liderada por Arthur Wellesley, apoiada pelos espanhóis,
realizaram uma campanha bem sucedida por terra para expulsar os franceses da
Espanha, dando a Inglaterra a oportunidade de invadir a França pelo sul. Em
1815, o exército britânico venceu as tropas de Napoleão em Waterloo.
Além
de algumas pequenas batalhas navais travadas em alguns cantos do império
colonial britânico, as guerras napoleônicas tiveram um aspecto global bem menor
se comparado com a Guerra dos Sete Anos (1756–1763), que foi o primeiro
conflito a ser caracterizado como uma "guerra mundial".
Em
resposta ao bloqueio naval imposto pelos ingleses contra a costa francesa iniciado
em maio de 1806, Napoleão firmou o Decreto de Berlim, em 21 de novembro do
mesmo ano, que iniciou o Bloqueio Continental. O objetivo era isolar a
Grã-Bretanha economicamente ao tentar encerrar o seu comércio com o continente.
O Reino Unido manteve um exército de 220 000 soldados profissionais no auge das
Guerras Napoleônicas, onde apenas metade estavam disponíveis para campanhas,
com o resto sendo alocado na Irlanda e em outras possessões coloniais inglesas
pelo mundo para garantir sua proteção e que estas próprias não tentassem se
rebelar. Cerca de 2,5 milhões de homens serviram nos exércitos napoleônicos
(incluindo milícias e guardas nacionais). Muitos destes soldados eram
fornecidos pelos países satélites de Napoleão. O maior exército que ele conseguiu
mobilizar para uma campanha foi de 685 000 homens para lutar na Rússia (em
1812), sendo que metade desta tropa eram franceses.
A
marinha real britânica conseguiu impedir o comércio extra-continental francês —
ao atacar navios franceses em alto-mar e até tomando pela força possessões
coloniais francesas no exterior — mas não pode fazer muita coisa com as
relações comerciais dentro do continente europeu. Além disso, a França tinha
uma população bem maior que a do Reino Unido e também tinha uma agricultura
muito maior. Contudo, a Grã-Bretanha tinha os maiores parques industriais da
Europa e sua dominância militar nos oceanos garantiu que o país manteria sua
riqueza através do comércio marítimo. Isso garantiu que a França não
conseguiria manter a Europa sob seu controle pela paz, pois os países de lá
sempre precisariam de bens e matérias primas encontradas fora do continente.
Ainda assim, o governo francês acreditava que conseguiria enfraquecer a
Inglaterra ao isola-la do continente e acabar com sua influência econômica na
região.
Sucesso britânico
Um
fator importante para o sucesso britânico foi sua habilidade de mobilizar todos
os recursos financeiros e industriais da nação para derrotar a França. O Reino
da Grã-Bretanha tinha uma população de 16 milhões de pessoas, metade da
população francesa (que era de um pouco mais de 30 milhões). Então, com uma
população maior, é natural que a França tivesse um exército maior. Contudo, os
britânicos compensavam isso ao subsidiar, através de empréstimos, as forças
armadas de países como Áustria e Rússia, que tinham pelo menos 450 000 homens
em armas em 1813. Pelos termos do tratado Anglo-Russo de 1803, os britânicos
pagariam ₤1,5 milhões de libras por cada 100 000 soldados que a Rússia
conseguisse mobilizar.
Mais
importante, a produção nacional britânica manteve-se forte e seu setor bem
organizado de negócios canalizava a produção para as necessidades militares. O
Reino Unido usou seu poder econômico para expandir a marinha real, dobrando o
seu número de fragatas e aumentando em 50% o seu inventário de navios de linha,
enquanto aumentava o número de marinheiros de 15 000 para 133 000 em oito anos
após o começo das guerras contra a França em 1793. Os franceses, enquanto isso,
viram sua marinha ser reduzida pela metade.
O
Bloqueio Continental, que visava isolar a Inglaterra economicamente do restante
do continente europeu, acabou fracassando devido a corrupção, contrabando e da
dificuldade de impôr tal bloqueio a todos os portos da região. No final, a
economia britânica sofreu pouco. Os subsídios britânico a Rússia e a Áustria
mantiveram estes países na guerra. O orçamento britânico em 1814 chegou a
£66,000,000 de libras, incluindo £10 milhões para a marinha de guerra, £40
milhões para o exército, £10 milhões em empréstimos aos aliados e £38 milhões
em juros da dívida nacional. De fato, a dívida pública subiu para £679 milhões,
o dobro do PIB nacional na época. Fundos vinham de investidores privados e
impostos sobre os cidadãos. Um imposto que viu um acentuado crescimento foi o
de terras e sobre novas rendas. O custo total da guerra foi estipulado em £831
milhões de libras. Em contraste, o sistema financeiro francês era inadequado e
Napoleão se viu forçado a adquirir fundos e requisições nas novas terras
conquistadas.
Terceira Coalizão (1803)
O navio britânico HMS Sandwich
disparando contra o navio-almirante
francês Bucentaure durante a
Batalha de Trafalgar.
|
Em
1803, o Reino Unido reuniu seus aliados pelo continente para formar a Terceira
Coalizão contra a França. Em resposta, Napoleão contemplou invadir a
Grã-Bretanha, e reuniu um efetivo de 200 000 homens na cidade de Bolonha para a
operação. Contudo, antes que ele pudesse autorizar uma invasão, ele precisava
conquistar superioridade naval ou pelo menos afastar a esquadra britânica do
Canal Inglês. Um complexo plano para distrair a marinha inglesa foi feito ao
ameaçar as possessões coloniais britânicas nas Índias Ocidentais, mas fracassou
quando a frota Franco-espanhola, sob comando do almirante Villeneuve, foi
forçada a recuar após a mal sucedida batalha de Cabo Finisterra, a 22 de julho
de 1805. A marinha britânica então bloqueou Villeneuve em Cádiz, na costa de
Andaluzia (sul da Espanha), até ele partir para Nápoles em 19 de outubro. Por
fim, a esquadra combinada da marinha francesa foi derrotada na decisiva batalha
de Trafalgar, em 21 de outubro. O comandante da frota britânica, o almirante
Horatio Nelson, morreu no combate. Napoleão então não veria outra oportunidade
de desafiar o poderio inglês no mar, nem ameaçaria mais uma invasão das ilhas
britânicas. Ele então voltou sua atenção para os inimigos no continente, que
naquela altura estavam se mobilizando contra ele.
Em
abril de 1805, a Rússia e o Reino Unido assinaram um tratado que visava remover
a França da República Batava (atual Holanda) e da Confederação Suíça. A Áustria
se juntou a aliança após a anexação da cidade de Gênova pelos franceses e a
proclamação de Napoleão como Rei da Itália em 17 de março de 1805. A Suécia,
que já havia concordado em emprestar a região da Pomerânia sueca como base
militar para que as tropas britânicas atacassem a França, se juntou a coalizão
em 9 de agosto.
Os
austríacos foram os primeiros a partir para a ofensiva na guerra ao invadir a
Baviera com um exército de 70 000 homens sob comando de Karl Mack von
Leiberich. Napoleão então moveu seu exército, que estava estacionado na
Bolonha, para confrontar os austríacos. Em Ulm (25 de setembro – 20 de outubro)
Napoleão cercou as forças de Leiberich e forçou sua rendição, sofrendo
pouquíssimas baixas no processo. Com o principal exército austríaco ao norte
dos Alpes derrotado, os franceses marcharam em Viena. Então, afastado de suas
linhas de suprimimento, Napoleão teve que enfrentar agora uma força
austro-russa comandado pelo marechal Mikhail Kutuzov, acompanhado pelo
imperador russo Alexandre I em pessoa. A 2 de dezembro, ele esmagou essa tropa,
nas cercanias de Morávia, na Batalha de Austerlitz. Mesmo em menor número,
Bonaparte infligiu cerca de 25 000 baixas ao inimigo, sofrendo apenas 7 000
dentre a sua própria tropa.
Derrotada,
a Áustria não teve escolha se não sair da Coalizão e buscar a paz com a França.
A 26 de dezembro de 1805 foi firmado o Tratado de Pressburg, que forçou os
austríacos a ceder a região de Vêneto para o Reino de Itália (governado por
Napoleão) e Tirol para a Baviera. Com a saída da Áustria da guerra, um impasse
apareceu. Napoleão venceu diversas batalhas, mas o poderio completo do exército
russo não havia sido testado, com o grosso de suas tropas ainda em seu
território. Bonaparte agora tinha comando absoluto da França e havia expandido
seu novo império ao conquistar a Bélgica, os Países Baixos, a Suíça, e boa
parte da Alemanha ocidental e o norte da Itália. Seus apoiadores afirmam que
Napoleão pretendia encerrar suas conquistas ali, mas sua mão foi forçada a
continuar lutando e ganhar novos territórios para o país a fim garantir
segurança nacional diante de países que se negavam a aceitar os seus feitos. O
escritor Esdaille, contudo, discorda e afirma, ao fim da terceira coalizão, as
potências europeias estavam dispostas a aceitar Napoleão como ele era. O autor
afirma:
"Em 1806, tanto a Rússia
quanto o Reino Unido possivelmente estava ansiosos para fazer paz e eles podiam
até concordar com os termos apresentados e deixar intacto as conquistas de
Napoleão. Já a Áustria e a Prússia queriam simplesmente serem deixadas em paz.
Para firmar uma paz sólida, então, poderia até ser fácil. Mas... Napoleão não
estava preparado para fazer concessões".
Quarta Coalizão (1806–1807)
Napoleão em Berlim (Meynier). |
Alguns
meses após o término da Terceira Coalizão contra a França, iniciou-se a Guerra
da Quarta Coalizão (1806–07) formada pelo Reino Unido, Prússia, Rússia, Saxônia
e Suécia para, novamente, lutar contra Napoleão. Em julho de 1806, Bonaparte
formou a Confederação do Reno que firmou uma aliança entre vários pequenos
Estados no coração da Alemanha, na região da Renânia, e no oeste do país. Ele
amalgamou muitos pequenos países em um conjunto de ducados e reinos para fazer
a governança de países na Alemanha não prussiana mais fácil. Napoleão elevou os
governantes dos dois maiores reinos da Confederação, a Saxônia e a Baviera,
para os status de rei.
Em
agosto de 1806, o rei prussiano, Frederico Guilherme III, decidiu fazer guerra
contra a França, independente da ajuda das outras potências. O exército russo,
principal aliado da Prússia, em particular, estava longe demais. A 8 de
outubro, Napoleão avançou com suas tropas para o leste do Reno e sobre a
Prússia. Napoleão pessoalmente derrotou um exército prussiano na Batalha de
Jena (14 de outubro de 1806), enquanto o marechal Louis Nicolas Davout também
os derrotou na Batalha de Auerstedt no mesmo dia. No auge, cerca de 160 000 soldados
franceses participavam da campanha contra a Prússia, usando sua mobilidade para
derrotar o inimigo. Os prussianos conseguiam mobilizar até 250 000 soldados,
sendo que eles sofreram 25 000 baixas, com outros 150 000 sendo feitos
prisioneiros. Pelo menos 4 000 peças de artilharia e 100 000 mosquetes foram
capturados. Em Jena, o combate não foi tão significativo. Mas em Auerstädt o
grosso do exército prussiano foi destruído. Então, a 27 de outubro de 1806,
Napoleão marchou em Berlim. Lá ele visitou a tumba de Frederico, o Grande e
ordenou que seus marechais removessem seus chapéus quando entraram na tumba
para reverencia-lo.
No
total, levou apenas 19 dias para Napoleão subjugar a Prússia e entrar em
Berlim. O ponto decisivo da campanha foi sua vitória nas batalhas de Jena e
Auerstädt. A Saxônia decidiu então se afastar dos prussianos e, junto com
vários Estados menores alemães, se aliaram de vez a França.
No
próximo estágio da guerra, os franceses lutaram para forçar os russos para fora
da Polônia. Os nacionalistas poloneses imediatamente se levantaram em favor da
França. Soldados alemães também ajudaram as tropas de Napoleão, principalmente
em cercos militares nas regiões da Silésia e Pomerânia, com assistência também
de soldados holandeses e italianos. Napoleão então virou-se para o norte para
confrontar o que sobrou das tropas russas e para capturar a capital nova da
Prússia em Königsberg. Após uma vitória contestada em Eylau (7–8 de fevereiro
de 1807), Bonaparte conseguiu forçar a rendição da cidade de Danzig após um
curto cerco (24 de maio de 1807). Outra vitória contestada veio na Batalha de
Heilsberg (10 de junho de 1807), onde forçou os russos a recuar novamente. Uma
vitória mais definitiva veio na Batalha de Friedland (14 de junho de 1807),
onde conseguiu derrotar o grosso do exército imperial russo. Após esta derrota,
o Czar Alexandre I da Rússia decidiu buscar a paz com a França e firmou então o
Tratados de Tilsit (7 de julho de 1807). Na Alemanha e na Polônia, novos
estados satélites de Napoleão, como o Reino de Vestfália, o Ducado de Varsóvia
e a República de Danzig, foram estabelecidos.
Em
setembro de 1807, o marechal Guillaume Brune completou a ocupação da Pomerânia
sueca, permitindo ao exército sueco, contudo, fugir com toda a sua munição.
Impossibilitado
de invadir a Inglaterra devido a superioridade naval desta, Napoleão impôs o Bloqueio
Continental, proibindo os países do continente europeu de comercializar com o
Reino Unido. Os britânicos responderam lançando uma grande ofensiva naval
contra o aliado mais fraco da França, a Dinamarca. Apesar de declaradamente
neutros, os dinamarqueses eram pressionados pelos franceses e russos para
apoiar a frota de Napoleão. Londres não podia simplesmente ignorar a ameaça
dinamarquesa. Em novembro de 1807, a marinha real britânica bombardeou a cidade
de Copenhague, capturando a frota dinamarquesa, garantindo o fluxo de navios
ingleses na região. A Dinamarca não lutou na guerra ao lado da França e agora
com a perda de suas bases navais ficou ainda mais irrelevante no conflito.
No
Congresso de Erfurt (setembro–outubro de 1808), Napoleão e Alexandre I
concordaram que a Rússia deveria forçar a Suécia a se unir ao Bloqueio
Continental, o que levou a Guerra Finlandesa de 1808–09 e a divisão do
território sueco em duas partes no Golfo de Bótnia. A parte leste se tornou o
Grão-Ducado da Finlândia, pertencente a Rússia.
Polônia
Em
1807, Napoleão fortaleceu sua base de poder na Europa oriental. A Polônia
sempre fora dividida pelos seus três vizinhos, mas Bonaparte criou o chamado
Ducado de Varsóvia, mas este Estado se tornou muito dependente da França. O
Ducado incorporava territórios que outrora pertenciam a Áustria e Prússia. Sua
população era de 4,3 milhões e em 1814 enviou 200 000 homens para lutar ao lado
de Napoleão. Incluindo 90 000 que marcharam com ele até Moscou (a maioria não
retornou). Os russos fortemente se opuseram a ideia de uma Polônia soberana e
independente, e isto foi um dos motivos que levou a França a invadir o Império
Russo em 1812. O Ducado polonês foi dissolvido em 1815, após a queda de
Napoleão. A Polônia só voltaria a ser um Estado independente em 1918.
A
influência de Napoleão no território polonês foi imensa, incluindo a
implementação do código napoleônico, a abolição da servidão, e a introdução das
burocracias que firmaram a classe média local.
Quinta Coalizão (1809)
A Rendição de Madri (Gros), 1808. |
A
Quinta Coalizão (1809) começou com uma aliança entre o Reino Unido e a Áustria
contra a França, enquanto os ingleses instigavam a Guerra Peninsular com
Portugal e a Espanha contra as tropas francesas de ocupação. Mais uma vez, os
britânicos se tornaram a principal figura do conflito, tomando as maiores ações
já que o principal teatro de operações contra Napoleão foi, inicialmente, no
mar. A marinha do Reino Unido liderou uma série de operações bem sucedidas
contra os franceses em suas colônias ultramarinas.
Em
terra, a guerra da Quinta Coalizão viu menos movimentações militares que as
anteriores. Uma delas foi a Expedição de Walcheren de 1809, que envolveu um
esforço duplo do exército e marinha do Reino Unido para distrair as forças
francesas no leste e aliviar a situação dos austríacos. Esta operação terminou
em desastre quando o comandante, John Pitt, falhou em capturar seu objetivo, a
base naval francesa na Antuérpia. Durante boa parte da guerra, as operações
militares britânicas em terra (com exceção da península ibérica) viraram apenas
ações isoladas executadas pela marinha real, que dominavam os mares após ter
derrotado boa parte da oposição naval por parte da França e seus aliados,
bloqueando seus portos e bases navais e outras fortificações costeiras. Estas
ações isoladas visavam interromper o trafego naval (civil e militar) francês,
atrapalhando suas linhas de comunicação e suprimentos. Quando os países da
coalizão tentavam lançar expedições perto da costa, a marinha britânica os
ajudava pelo mar ou desembarcava tropas e suprimentos para eles.
A
guerra econômica continuava com o Bloqueio Continental imposto pela França
contra o Reino Unido, proibindo o comércio da Europa com as ilhas britânicas.
Devido a falta de suprimentos militares e má organização nos territórios
controlados pela França, muitas brechas foram encontradas no bloqueio e muitos
líderes em nações dominadas por Napoleão toleravam e até encorajavam o comércio
contrabandista com os ingleses. Em termos de danos econômicos a Grã-Bretanha, o
bloqueio foi majoritariamente ineficiente. Na verdade, implementa-lo era mais
dispendioso para a França. Assim, Napoleão rapidamente percebeu que países como
a Espanha, Portugal e Rússia abertamente desrespeitavam seu bloqueio e
invadi-los seria a única opção. Essas acabaram sendo decisões táticas erradas,
pois o custo da ocupação do território espanhol e da ofensiva contra o Império
Russo foram astronômicos e comprometeram um elevado número de vidas francesas e
de aliados, o que acelerou a derrota de Napoleão.
Ambos
os lados lançaram dispendiosas campanhas militares para forçar os seus
bloqueios. Os britânicos travaram um conflito contra os Estados Unidos na
Guerra anglo-americana (1812–15), enquanto os franceses travaram a Guerra
Peninsular (1808–14) para manter a Espanha sob controle e impedir a
comercialização da Península Ibérica com a Inglaterra. O conflito ibérico
começou quando Napoleão invadiu Portugal pois estes se recusaram a tomar parte
do Bloqueio Continental e continuaram a comercializar com o Reino Unido. Quando
o governo espanhol falhou em manter o sistema continental, a tênue aliança
entre a França e a Espanha acabou terminando. Tropas francesas avançaram e
tomaram grandes porções do país, incluindo a capital Madri, e instalaram um
novo rei no poder, o próprio irmão de Napoleão, José Bonaparte. Isso levou a revolta
da população local e uma onda de nacionalismo tomou conta da nação. Os
britânicos intervieram, apoiando o movimento de guerrilha espanhola contra a
ocupação francesa.
A
Áustria, que estava em paz com a França, aproveitou-se do fato que os franceses
estavam voltando sua atenção para a Espanha, decidiu reivindicar seu território
perdido na Alemanha após sua derrota em Austerlitz (durante a guerra da
terceira coalizão). O Império Austríaco conseguiu avançar bem inicialmente, já
que as tropas do marechal Louis Berthier estavam espalhadas pela frente leste.
Napoleão deixou cerca de 170 000 homens sob comando de Berthier para defender
toda a Europa Oriental.
Após
ver seu exército sofrer diversas derrotas na Espanha, Napoleão decidiu
pessoalmente tomar conta da situação e liderou a contra-ofensiva, conquistando
algum sucesso. Ele retomou Madri, derrotou o grosso do exército rebelde
espanhol e forçou a retirada dos britânicos da Península Ibérica (Batalha de
Corunha, 16 de janeiro de 1809). Mas quando Bonaparte partiu, uma campanha de
guerrilha contra a ocupação francesa começou em larga escala, terminando em
milhares de mortos e forçando Napoleão a deixar para atrás uma grande tropa
(soldados que seriam úteis em outras frentes). Enquanto isso, o ataque
austríaco no leste forçou Napoleão a desviar o olhar das forças britânicas
devido a sua necessidade de partir para enfrentar a Áustria no coração da
Alemanha. Os britânicos então enviaram Sir Arthur Wellesley com um novo
exército para a Espanha, garantindo que a luta na região não parasse.
A
guerra na Península Ibérica foi desastrosa para a França. Enquanto Napoleão
comandava as tropas pessoalmente, a luta esteve bem. Mas quando ele deixou a
Espanha, a situação voltou a desandar e o número de mortos se multiplicou.
Bonaparte subestimou a quantidade de tropas que seria necessário para manter
aquele país sob controle. No final, o território espanhol se tornou um beco sem
saída, drenando dinheiro, recursos e soldados da França. O historiador David
Gates chamou a Guerra Peninsular de a "Úlcera Espanhola". Uma vez
afastado em definitivo do trono da França, Napoleão teria dito: "Aquela
malfadada guerra me destruiu... Todas as circunstâncias dos meus desastres
estão unidos por aquele fatal nó".
Enquanto
isso, os austríacos avançavam sobre o Ducado de Varsóvia (atual Polônia), mas
acabaram sendo derrotados na Batalha de Raszyn em 19 de abril de 1809. O
exército polonês, aliados dos franceses, tomaram então de volta a Galícia
ocidental, após conquistarem mais sucessos.
De
volta da campanha na Espanha, Napoleão então tomou controle das tropas no leste
e levou seu exército para lançar uma contra-ofensiva ao Império Austríaco.
Depois de algumas batalhas de intensidade baixa, os austríacos começam a
recuar, abandonando a Baviera. Bonaparte então lançou-se sobre a Áustria.
Tentando atravessar rapidamente o rio Danúbio ele enfrentou os austríacos na
Batalha de Aspern-Essling (22 de maio de 1809). Os franceses não conquistaram
seus objetivos e ambos os lados sofreram pesadas baixas. Mas o comandante
austríaco, o arquiduque Carlos, não se aproveitou do cenário favorável e
permitiu que Napoleão se reagrupasse. Em julho, o exército imperial francês
marchou em Viena novamente. Napoleão então infligiu uma grande derrota aos
austríacos na Batalha de Wagram, no começo de julho de 1809. Foi nesta batalha
que o marechal francês Carlos Bernadotte foi privado do seu comando quando ele
recuou, contrariando as ordens de Napoleão. Um tempo depois, Bernadotte aceitou
a oferta de se tornar o príncipe herdeiro da Suécia. Ele mais tarde se tornaria
um dos maiores incentivadores dos suecos para se voltar contra os franceses.
A
Guerra da Quinta Coalizão terminou com a assinatura do Tratado de Schönbrunn
(14 de outubro de 1809). No leste, apenas rebeldes, liderados por Andreas
Hofer, na região alemão de Tirol, continuavam a lutar contra os exércitos
franco-bávaros até novembro de 1809. Enquanto isso, a guerrilha na Península
Ibérica continuava.
Em
1811, o Império Francês de Napoleão chegou ao auge de sua extensão territorial.
No leste, a Áustria e a Prússia, cansadas de lutar, tiveram de firmar a paz com
Bonaparte novamente. No oeste, britânicos e portugueses permaneciam restritos em
uma área ao redor de Lisboa (atrás das inexpugnáveis linhas de Torres Vedras) e
resistindo no Cerco de Cádis. Na Espanha, a situação ainda não se acalmara, com
os rebeldes lutando contra as tropas francesas por todo o território.
Para
tentar sedimentar a paz, Napoleão desposou Maria Luísa, uma arquiduquesa
austríaca e filha do monarca Francisco I. Bonaparte esperava firmar um boa
aliança com a Áustria, ao mesmo tempo que segurava sua própria posição como
imperador ao gerar um filho e herdeiro (algo que sua primeira esposa, Josefina,
não conseguiu). Além do Império Francês, Napoleão controlava a Confederação
Suíça, a Confederação do Reno, o Ducado de Varsóvia e o Reino da Itália. Outros
territórios aliados a França eram:
o
Reino da Espanha (governado por José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão)
o
Reino de Vestfália (governado por Jerônimo Bonaparte, irmão mais novo de
Napoleão)
o
Reino de Nápoles (governado por Joaquim Murat, marido da irmã de Napoleão,
Carolina)
o
Principado de Luca e Piombino (governado por Elisa Bonaparte, irmã de Napoleão,
e seu marido Félix Baciocchi);
Guerra de 1812
Ao
mesmo tempo que acontecia a Guerra da Sexta Coalizão, apesar de tecnicamente
não ser considerada parte das Guerras Napoleônicas, aconteceu também a Guerra
de 1812, com os Estados Unidos declarando guerra contra a Grã-Bretanha. Uma das
principais causas do conflito entre essas nações foi a constante interferência
britânica em assuntos navais americanos, com embarcações dos Estados Unidos
sendo atacadas pelos ingleses e seus marinheiros capturados sendo alistados a
força na marinha real britânica. Os franceses também interferiram (em um ponto
os americanos cogitaram declarar guerra a França por isso). Esta guerra acabou
terminando em um impasse militar e não houve mudanças territoriais. A paz entre
o Reino Unido e os Estados Unidos foi formalmente acertada no Tratado de Gante
de 1815. Naquela altura, Napoleão já estava no seu primeiro exílio em Elba. O
efeito maior da Guerra de 1812 no contexto dos conflitos na Europa da época foi
que os americanos conseguiram distrair a marinha inglesa o suficiente para dar
uma pequena vantagem aos franceses. A compra da Luisiana em 1803, por sua vez,
foi pacífica com Napoleão desistindo da ideia de construir um império colonial
nas Américas. Ele então tomou a Luisiana dos espanhóis e vendeu a terra para os
estadunidenses por US$ 15 milhões de dólares, incluindo US$ 11 milhões em ouro.
Revoluções na América Latina
Com
a abdicação dos reis Carlos IV e Fernando VII e a instalação de José Bonaparte
como novo rei da Espanha por Napoleão, guerras civis e revoluções nas Américas
acabou acontecendo. Entre 1808 e 1833, as colônias espanholas no continente
latino-americano começaram, uma após a outra, a se separar do Império Espanhol.
Enfraquecida pelas questões internas, a Espanha não teve como resistir por
muito tempo.
A Invasão francesa da Rússia
(1812)
A Batalha de Borodino, pintado por Louis Lejeune |
O
Tratados de Tilsit de 1807 resultou na Guerra Anglo-Russa (1807–12). O
imperador da Rússia, Alexandre I, declarou guerra ao Reino Unido após um ataque
inglês contra a Dinamarca em setembro de 1807. Os ingleses apoiavam a frota
sueca durante a Guerra Finlandesa e conseguiram vitórias contra os russos no
Golfo da Finlândia em julho de 1808, e novamente em agosto de 1809. Contudo, o
sucesso do exército russo em terra forçou a Suécia a assinar a paz, em 1809, e
com a França, em 1810, se juntando então ao Bloqueio Continental contra a
Grã-Bretanha. Ainda assim, após 1810, as relações entre os franceses e os
russos começou a se deteriorar. Em abril de 1812, o Reino Unido, a Rússia e a
Suécia assinaram um pacto secreto contra Napoleão.
Um
dos assuntos centrais na tênue paz que se seguiu ao tratado de Tilsit foi a
questão polonesa. Napoleão e Alexandre I divergiam sobre a forma como o país
deveria ser, tornando-se uma nação semi-independente sob controle de ambos.
Como o autor Charles Esdaile notou, "havia a ideia implícita de que uma
Polônia russa seria, é claro, uma guerra contra Napoleão". O historiador
Paul Schroeder diz que a questão polonesa foi "a causa maior" da
guerra de Napoleão contra a Rússia, mas ele completa afirmando que o fato do
governo russo passar a se recusar a se unir ao Bloqueio Continental também foi
um fator importante.
Em
1812, no auge do seu poder e influência na Europa, Napoleão invadiu a Rússia
com seu Grande Armée (o exército imperial), apoiado por milhares de soldados de
Estados satélites e aliados. Sua força de invasão consistia de quase 650 000
homens (incluindo 270 000 franceses e os demais sendo de nações subservientes
ao Império, como alemães, poloneses e italianos). Os exércitos napoleônicos
cruzaram o rio Neman, em 24 de junho de 1812. A Rússia convocou então a
"Grande Guerra Patriótica" para resistir a invasão estrangeira.
Napoleão afirmou que o motivo central da guerra era pela Polônia. Assim, os
poloneses, em apoio, forneceram 100 000 homens a Bonaparte. Apesar das expectativas
polonesas, Napoleão não fez concessões para a Polônia, pois ele queria usar
aquele território para futuras negociações com a Rússia.
O
Grande Armée de Napoleão foi avançando pela Rússia, enfrentando pouca
resistência e travando batalhas de pequena intensidade. O primeiro grande
confronto, a Batalha de Smolensk, ocorreu entre 16 e 18 de agosto, resultando
em uma contestada vitória francesa. Durante esse período, o marechal Nicolas
Oudinot foi detido na Batalha de Polotsk por uma tropa russa comandada pelo
general Peter Wittgenstein. Isso impediu que os franceses chegassem a São
Petersburgo. A principal coluna do exército francês, liderado por Napoleão,
marchava até Moscou.
Os
russos implementaram táticas de terra arrasada, importunando o Grande Armée com
a cavalaria leve cossaca. O exército francês não conseguiu se adaptar ao novo
cenário adverso. Assim, logo nas primeiras semanas, os franceses começaram a
sofrer pesadas baixas.
Ao
mesmo tempo, o exército russo recuou por pelo menos três meses. A tática de
retirada era liderada pelo marechal Michael Andreas Barclay de Tolly e o
príncipe Mikhail Kutuzov, feito comandante-em-chefe pelo czar Alexandre I. A
política de evitar combates e destruir o terreno, era interrompida por batalhas
pequenas. Porém alguns confrontos de grande intensidade aconteceram, como a
Batalha de Borodino, em 7 de setembro de 1812. A luta aconteceu nas cercanias
de Moscou e foi uma das mais sangrentas das Guerras Napoleônicas, envolvendo
250 000 homens e resultando em 70 000 baixas. Seu resultado foi, no quadro
geral, indecisivo, mas deu uma leve vantagem a Napoleão. Bonaparte terminou
controlando a região, mas não destruiu o exército russo e nem capturou seus
líderes. Longe da França, Napoleão foi forçado a esticar suas linhas de
suprimento e ele não tinha como receber reforços, fazendo com que cada perda
fosse sentida. Já a Rússia, com uma população enorme, podia repor suas baixas
rapidamente.
Napoleão
entrou em Moscou a 14 de setembro de 1812, após uma nova retirada por parte do
exército russo. A população de Moscou já havia, em sua grande maioria, seguido
o governo e abandonou a cidade. Então, o governador da cidade, Fyodor
Rostopchin, ordenou que Moscou fosse queimada. Alexandre I se recusava a
capitular e qualquer proposta de paz feita pelos franceses era recusada. Em
outubro, sem possibilidade clara de uma vitória, Napoleão começou a desastrosa
retirada do seu exército da Rússia.
Na
Batalha de Maloyaroslavets, em outubro de 1812, os franceses tentaram chegar na
cidade de Kaluga, onde poderiam encontrar comida e outros suprimentos. Mas o
exército russo bloqueou o seu caminho. Napoleão foi forçado a se retirar pela
mesma rota que o levou a Moscou, indo pelas áreas destruídas nas estradas
próximas a Smolensk. Nas semanas seguintes, o Grande Armée de Napoleão foi pego
no meio do inverno russo, sofrendo com, além do frio, a falta de suprimentos e
as constantes ações de guerrilha das milícias russas.
Quando
o que sobrou do exército de Napoleão cruzou o rio Berezina em novembro de 1812,
apenas 27 000 retornaram em boa ordem, com outros 380 000 sendo mortos ou dado
como desaparecidos, além de outros 100 000 capturados. Bonaparte foi direto
para Paris, para preparar sua defesa contra os russos e a campanha se encerrou
formalmente em 14 de dezembro, quando os últimos soldados franceses retornaram
da Rússia. Os russos também sofreram, perdendo 210 000 homens, mas eles podiam
repor essas baixas rapidamente, algo que os franceses não conseguiam.
Napoleão se retirando da Rússia,
pintado por Adolph Northen.
|
Sexta Coalizão (1812–1814)
A
França estava aparentemente exaurida após a fracassada invasão da Rússia, com
Napoleão perdendo mais da metade do seu exército. Vendo nisso uma oportunidade,
a Prússia, a Suécia, a Áustria e vários Estados alemães decidiram reiniciar as
hostilidades e declaram guerra a França. O imperador francês afirmou que
ergueria um novo exército, tão grande quanto aquele que havia levado à Rússia.
Bonaparte rapidamente recrutou entre 30 000 e 130 000 homens de nações do leste
que ainda eram leais a ele. Conscrições também começaram na França e depois de alguns
meses, ele já tinha 400 000 soldados (a maioria com pouca experiência em
combate). Os franceses eventualmente fizeram avanços na Europa oriental,
infligindo aos aliados 40 000 baixas nas batalhas de Lützen (2 de maio de 1813)
e Bautzen (20–21 de maio de 1813). Estas batalhas envolveram mais de 250 000
soldados, fazendo desta uma das maiores fases das guerras. O ministro de
relações exteriores da Áustria, Klemens von Metternich, propôs, em novembro de
1813, uma oferta de paz a Napoleão. Seria permitido a Napoleão reter o título
de Imperador da França, mas o país teria que restaurar suas "fronteiras
naturais", abrindo mão das suas possessões na Itália, Alemanha e Holanda.
Napoleão ainda tinha esperanças de vencer a guerra e rejeitou os termos
apresentados. Em 1814, contudo, os franceses estavam recuando em todas as
frentes. Os aliados da Coalizão agora avançavam rumo ao norte da França e
ameaçavam flanquear a cidade de Paris (a capital do império). Napoleão teria
então aceitado as propostas de Metternich para paz, mas já era tarde demais e
os aliados rejeitaram qualquer termo de paz que não fosse sua abdicação.
A Batalha de Leipzig
|
Enquanto
isso, na Guerra Peninsular, Arthur Wellesley lançou novamente os exércitos
anglo-portugueses em ofensivas pela Espanha após o ano novo de 1812, cercando e
capturando as cidades fortificadas de Cidade Rodrigo e Badajoz. Em julho, uma
tropa francesa foi derrotada na importante Batalha de Salamanca. Enquanto os
franceses tentavam se reagrupar, os aliados entraram em Madri e depois
avançaram sobre a cidade de Burgos, antes de ter que recuar de volta a Portugal
após os franceses ameaçarem um grande contra-ataque. Uma consequência da
campanha em Salamanca, a França teve que encerrar seu longo cerco a Cádis e
recuar das províncias Andaluzia e Astúrias.
Em
um movimento estratégico, Wellesley planejou mover sua base de suprimentos
principal de Lisboa até a cidade de Santander. Tropas anglo-portuguesas,
apoiadas por rebeldes espanhóis, avançaram então pelo norte da Espanha e
tomaram o estratégico município de Burgos. Em 21 de junho, na Batalha de
Vitória, tropas inglesas, portuguesas e espanholas venceram as forças de José
Bonaparte, encerrando de vez o poder francês na Espanha. Os franceses então
recuaram para fora de praticamente toda a Península Ibérica, indo além da
região de Pireneus.
Os
beligerantes declararam então um armistício a 4 de junho de 1813 (que continuou
até 13 de agosto) onde ambos os lados usaram o período para recuperar suas
perdas e se reorganizar. Neste meio tempo, a Áustria se comprometeu a se unir
em sua totalidade a Coalizão contra a França (mesmo com a filha do imperador
Francisco I sendo a esposa de Napoleão). Os austríacos mobilizaram dois grandes
exércitos, adicionando 300 000 homens as forças da Coalizão na Alemanha. No
total, os Aliados mobilizaram 800 000 soldados no teatro de operações alemão.
Napoleão
reuniu as tropas imperiais, recrutando soldados de todas as regiões
subordinadas a ele, chegando a 650 mil homens — porém apenas 250 mil estavam
sob seu controle direto, com outros 120 mil liderados por Nicolas Charles
Oudinot e 30 mil com Louis Davout. A maioria de suas tropas não francesas
vinham dos Estados alemães da Confederação do Reno, especialmente da Saxônia e
da Baviera. Além disso, ao sul, na Itália, havia Joaquim Murat no comando dos
exércitos de Nápoles e Eugênio de Beauharnais, rei da Itália, que comandavam
mais 100 mil homens. Na Espanha havia mais 150 mil a 200 mil tropas francesas
fatigadas, que recuavam da luta na Península Ibérica e com 100 mil tropas
inglesas, espanholas e portuguesas no seu encalço. No geral, as forças aliadas
tinham mais que o dobro de tropas do que os franceses. Após os Estados alemães
desertarem Napoleão, sua desvantagem numérica passou a ser superior a 4 para 1.
A Batalha de Hanau (30–31 de
outubro de 1813)
|
Após
o fim do curto armistício de junho-agosto de 1813, Napoleão retomou a
iniciativa e partiu para a ofensiva, derrotando uma tropa russa, austríaca e
prussiana na Batalha de Dresden (Agosto de 1813). A vitória foi importante, com
os franceses vencendo uma luta contra um inimigo numericamente superior e
sofrendo poucas baixas no processo. Contudo, a segunda parte da ofensiva, que
estava nas mãos dos seus marechais, acabou fracassando e assim Bonaparte não
conseguiu capitalizar em cima desta vitória. Napoleão recuou para além do rio
elba e se posicionou ao redor da cidade de Leipzig, no leste da Alemanha, para
proteger sua principal rota de suprimentos. As forças da Coalizão convergiram
sobre ele, com as tropas prussianas vindo de Wartenburg, e os russos e austríacos
vindo de Dresden (que havia sido reconquistada após a vitória aliada sobre os
generais de Napoleão na Batalha de Kulm), além de reforços vindos do norte
constituído majoritariamente por militares suecos. Na subsequente Batalha das
Nações, travada no norte da Saxônia (entre 16 e 19 de outubro de 1813), 191 000
soldados franceses lutaram contra mais de 430 000 soldados da Coalizão. O
combate foi violento, com quase 100 000 homens perecendo (somando as baixas de
ambos os lados). Os franceses acabaram sendo superados pelo absurdo número de
tropas dos aliados e Napoleão foi forçado a recuar até a fronteira
franco-alemã. Uma série de batalhas de média e pequena intensidade foram
travadas (incluindo a Batalha de Arcis-sur-Aube, lutada em solo francês), mas a
desvantagem numérica era demasiada grande e Napoleão não conseguiu montar uma
defesa coesa. Após a sua derrota em Leipzig, os Estados alemães da Confederação
do Reno (outrora seus aliados) se voltaram contra ele e passaram a apoiar a
Coalizão. Seu último aliado significativo era o Reino da Dinamarca e Noruega,
mas estes estavam isolados e preferiram fazer a paz com as demais potências
europeias, firmando o Tratado de Kiel de janeiro de 1814.
Ao
fim de março de 1814, após uma curta batalha, tropas da Coalizão marcharam em
Paris. Antes disso, Napoleão travou, no nordeste da França, a chamada Campanha
dos Seis Dias, onde tentou desesperadamente deter o avanço aliado sobre a
capital do seu império. Apesar de ter conquistado algumas vitórias
estratégicas, ele não cumpriu seu objetivo maior de salvar Paris. Naquele
momento, ele detinha pelo menos 70 000 homens, contra mais de 500 000 soldados
da Coalizão que invadiam a França pelo leste. Nesse meio tempo, pelo Tratado de
Chaumont (9 de março de 1814), as potências europeias da Coalizão se
comprometeram a continuar lutando até que Napoleão estivesse derrotado
totalmente.
Mesmo
com a derrota iminente, a queda de Paris e o colapso do seu exército, Napoleão
estava determinado a continuar lutando. Ele continuou a convocar o povo francês
a lutar e chamou suas tropas e conscritos a se apresentar, mas o retorno foi
pouco. Seus marechais também não tinham intenção de seguir com a guerra,
reconhecendo que a situação havia chegado a um ponto sem retorno. Finalmente, a
6 de abril de 1814, Napoleão abdicou do trono. Contudo, ainda havia combates de
pequena intensidade acontecendo na Itália, Espanha e Holanda durante a
primavera daquele ano.
As
potências aliadas da Coalizão decidiram exilar Napoleão na ilha de Elba,
garantindo a ele soberania sobre o lugar mas sob vigilância marítima da
esquadra inglesa (que patrulhava a região) do Mediterrâneo. Foi decidido também
restaurar os Bourbons no trono francês, colocando no poder Luís XVIII. Tudo foi
formalizado pela assinatura do Tratado de Fontainebleau, em 11 de abril de
1814. Representantes das principais potências europeias então se reuniram no
Congresso de Viena e começaram a trabalhar no processo de reconstrução do mapa
político da Europa.
Sétima Coalizão (1815)
Napoleão retornando a França, em fevereiro de 1815, |
Ao
fim da Guerra da Sexta Coalizão a paz veio a Europa novamente, mas não por
muito tempo ou da forma desejada. As potências que outrora lutaram juntas
contra Napoleão começaram a bater boca no Congresso de Viena a respeito do novo
mapa do continente. Na França, o novo governo de Luís XVIII se tornava cada vez
mais impopular. Percebendo a situação agora mais favorável, Napoleão Bonaparte
planejou sua fuga da Ilha de Elba, que ficava a apenas dois ou três dias pelo
mar da costa francesa. Com pequenos barcos e acompanhado de um pequeno
destacamento de membros da sua Guarda Imperial, ele desembarcou em Golfe-Juan,
na Costa Azul da França, em 28 de fevereiro de 1815. Tropas reais francesas
foram enviadas para intercepta-lo mas estas mudaram de lado ao vê-lo e
marcharam com Bonaparte até Paris.
A
notícia que Napoleão regressara ao poder na França, em fevereiro de 1815,
varreu a Europa e logo uma nova Coalizão anti-Bonapartista (a sétima) foi
formada, composta pelo Reino Unido, a Rússia, a Prússia, a Suécia, a Suíça, a
Áustria, a Holanda e vários pequenos Estados alemães. A restauração de Napoleão
foi curta (período conhecido como o Governo dos Cem Dias). As potências
Europeias rapidamente reuniram um gigantesco exército de mais 700 000 homens
inicialmente, com mais reforços a caminho. O imperador francês conseguiu apenas
280 000 soldados. Ele tentou convocar uma conscrição em massa, mas não foi
muito bem sucedido. Veteranos também foram chamados de volta ao serviço. Mesmo
assim, a desvantagem numérica era demasiada grande. A Coalizão pretendia unir
suas tropas e marchar juntos com um poder avassalador e superar os franceses
com seu grande número.
Napoleão
sabia que suas chances de vitória eram pequenas se enfrentasse de frente as
forças unificadas da Coalizão. Ele preferiu pega-los separadamente e
derrota-los um a um, antes que pudessem combinar suas forças. Bonaparte tomou
124 000 homens do Exército do Norte e atacou as tropas aliadas estacionadas na
Bélgica. Ele pretendia investir sobre as tropas inglesas e separa-las dos
prussianos, inutilizando seus exércitos. Seu ataque inicial pegou seus inimigos
de surpresa, forçando o recuo das tropas anglo-holandesas. Os prussianos haviam
sido mais cautelosos, concentrando boa parte dos seus exércitos ao redor de
Ligny (nas província de Namur). Eles então lutaram para tentar deter ou ao
menos atrasar o avanço francês, com o objetivo de dar tempo para as demais
tropas aliadas se reagruparem. A 16 de junho de 1815, prussianos e franceses se
enfrentaram na Batalha de Ligny, vencida por Napoleão. No mesmo dia, a ala
esquerda do exército imperial da França, comandada pelo marechal Michel Ney,
foi bem sucedido em deter o avanço do Duque Wellington, comandante das tropas
inglesas, que pretendia se unir ao marechal Blücher e os prussianos. Os
britânicos, apoiados por holandeses e alemães, acabaram não resistindo ao
avanço francês na Batalha de Quatre Bras. Ney não conseguiu cortar a retirada
de Wellington, mas estes foram forçados a recuar, junto com os prussianos. Os
ingleses montaram uma nova posição defensiva, no meio de uma escarpa, em
terreno elevado, a alguns quilômetros das vilas de Waterloo, na Bélgica.
Napoleão
levou então suas tropas para o coração da Bélgica, reunindo seus homens com os
de Ney, para perseguir o exército britânico de Wellington. Ao mesmo tempo ele
ordenou ao marechal Emmanuel de Grouchy para pegar a ala direita do exército e
detivesse os prussianos enquanto estes estavam se reagrupando. Após uma série
de erros de cálculos, tanto Grouchy e Napoleão falharam em perceber que os
prussianos já haviam conseguido se reorganizar e já estavam se reagrupando
perto do vilarejo de Wavre, mais perto de Wellington do que o antecipado. O
sucesso dos exércitos da Prússia em se reagrupar rapidamente foi na falha de
Napoleão em não conseguir quebrar sua retirada. Grouchy também não conseguiu
persegui-los adequadamente. Assim, enquanto três corpos do exército prussiano
marchavam rumo a Waterloo para apoiar os britânicos e seus aliados, a outra
metade da tropa prussiana conseguiu segurar por um tempo as forças francesas do
marechal Grouchy antes de recuar (batalha de Wavre, 18-19 de junho de 1815). No
final, os 17 000 prussianos (comandados pelo general Johann von Thielmann)
mantiveram ocupados 33 000 franceses por tempo suficiente para que estes não
chegassem a tempo em Waterloo para ter um papel importante. Napoleão poderia
ter sido bem sucedido se esses homens tivessem chegado antes e reforçado suas
linhas.
A batalha de Waterloo, em 1815.
|
Os
franceses evitaram por um tempo avançar contra as posições britânicas em
Waterloo, mas a 18 de junho de 1815 foi iniciada a batalha decisiva da Guerra
da Sétima Coalizão. As tropas imperiais francesas atacaram logo pela manhã,
avançando lentamente pelo terreno ruim (havia chovido na região durante toda a
noite anterior). Ao fim da tarde, apesar de terem feito alguns progressos, os
franceses falharam em expulsar as forças de Wellington das regiões elevadas de
Waterloo. Quando os reforços prussianos chegaram e atacaram o flanco direito
francês, ficou claro então que a estratégia de Napoleão deu errado. Os
franceses tiveram de bater em retirada em desordem. Agora unidas, as tropas da
Coalizão lançaram-se sobre a França. Bonaparte sabia que desta vez, o golpe
proferido havia sido fatal.
O
marechal Grouchy conseguiu recuar de forma organizada e levou seus soldados até
Paris, onde o também marechal Davout tinha reunido 117 000 soldados prontos
para enfrentar os 116 000 homens sob comando de Blücher e Wellington. Davout
acabou sendo derrotado na Batalha de Issy (na região de Île-de-France) e
decidiu então negociar sua rendição com a liderança das tropas da Coalizão.
Três
dias após o fracasso em Waterloo, Napoleão chegou a Paris. Ele ainda tinha
esperanças de conseguir montar uma nova defesa e se segurar no poder. Contudo,
a Assembleia Nacional, e até mesmo a população francesa em geral, já não lhe
favorecia mais. Sem apoio político, Napoleão foi forçado a abdicar do trono uma
segunda vez em 22 de junho de 1815. A 15 de julho se rendeu aos britânicos em
Rochefort. Para evitar de cometer os mesmos erros do ano anterior, os Aliados
desta vez exilaram Bonaparte na ilha de Santa Helena, milhares de quilômetros
de distância da Europa. O antigo imperador francês ficaria lá, solitário, até
sua morte em 5 de maio de 1821. Na França, os Bourbon foram novamente
restaurados no trono. As potências regionais então começaram o chamado
"Concerto da Europa", para restabelecer o balanço do poder no
continente e garantir a velha ordem.
Enquanto
isso, na Itália, a Joachim Murat, marechal e aliado de Napoleão, foi permitido
que ele mantivesse o título de rei Nápoles. Percebendo porém que sua posição
era precária ele partiu para lutar por seu trono na chamada Guerra Napolitana
(março–maio de 1815). Murat esperava conquistar apoio de nacionalistas
italianos que temiam o aumento da influência dos Habsburgos na península
itálica. Murat fez então a Proclamação de Rimini incitando o povo italiano a
guerra. Contudo, ele conseguiu pouco apoio popular e seu exército foi esmagado
pelos austríacos na Batalha de Tolentino (2–3 de maio de 1815), forçando Murat
a fugir. O ramo italiano da Casa de Bourbon foi recolocada no trono de Nápoles,
com a ascensão de Fernando I em 20 de maio de 1815. Murat ainda fez outra
tentativa de recuperar seu poder, mas foi preso e executado em outubro do mesmo
ano. Este foi o último grande confronto instigado pelo legado direto de
Napoleão na Europa.
Efeitos
políticos
As
Guerras Napoleônicas trouxeram mudanças radicais a Europa, mas forças
reacionárias voltaram ao poder no continente e tentaram reverter o legado da
Revolução Francesa e do reinado de Napoleão. Em poucos anos, o imperador
francês conseguiu trazer quase toda a Europa ocidental ao seu controle.
Contudo, as guerras constantes de quase duas décadas contra a França feita
pelas maiores potências do continente acabaram por colocar o país no chão. Ao
fim dos conflitos, a França já havia perdido boa parte do seu poder e
influência na Europa continental. Já o Reino Unido emergiu como a principal e
inquestionável maior força do continente, com sua marinha de guerra alcançando
supremacia naval pelo globo até meados do século XX.
Para
muitos países europeus, ser subjugado pela França significou acesso a várias
políticas liberais que ganharam notoriedade durante a Revolução Francesa, como
democracia inclusiva, acesso ao devido processo legal nas cortes, abolição da
servidão, redução do poder da Igreja Católica e exigência de alterações das
monarquias para uma face mais constitucional e democrática. O clamor da
emergente classe média, esta que cresceu através do comércio e da indústria,
fez com que fosse difícil as classes dominantes restaurar as monarquias
absolutistas. Assim, muitas nações conquistadas por Napoleão tiveram que manter
várias reformas impostas a eles. Legados institucionais persistem até os dias
atuais como os sistemas legais de códigos civis, baseados no chamado Código
Napoleônico.
Durante
o período napoleônico, o sentimento de nacionalismo, um movimento relativamente
novo, se tornou mais significativo pelo continente. Isso moldaria o futuro da
Europa pelo próximo século. Esse sentimento acabou com alguns países e fez
outros surgirem, redesenhando drasticamente o mapa político europeu no século
posterior a era Napoleônica. Governos de feudos e aristocracias foram
substituídos por ideologias nacionais baseadas em culturas em comum e origens.
Mais importante, o reino de Bonaparte sobre a Europa plantou as sementes para
as fundações das nações-estado da Alemanha e Itália, consolidando a identidade
nacional dos povos, reinos e principados que formavam esses países, facilitando
sua unificação. Ao fim das guerras, a Dinamarca teve que ceder a Noruega a
Suécia, mas como os noruegueses haviam assinado sua própria constituição em 17
de maio de 1814, os suecos tiveram que lutar pelo direito de ter a Noruega. O
resultado da união da Suécia com a Noruega deu mais independência aos
noruegueses do que quando estava sob o jugo dinamarquês. A Noruega se tornaria
uma nação completamente independente em 1905. Outro país criado foi o Reino
Unido dos Países Baixos, feito com o propósito de ser um Estado tampão contra
as pretensões da França. Esta nação foi dissolvida em duas quando a Bélgica se
tornou independente em 1830.
As
guerras napoleônicas também influenciaram acontecimentos na América Latina, nas
colônias da Espanha e Portugal. O conflito enfraqueceu a autoridade e poder
militar espanhol, especialmente após a sua marinha ter sido destroçada na
batalha de Trafalgar. Várias revoltas aconteceram na América espanhola como
consequência da deterioração política na metrópole. Na América portuguesa, o
Brasil experimentou pela primeira vez uma maior autonomia política após a
transferência das cortes de Lisboa para o território brasileiro, que
posteriormente recebeu os status de Reino Unido. Após a ocupação francesa de
Portugal, as ramificações políticas se espalharam e levaram a chamada Revolução
Liberal de 1820. Com o retorno da Corte real para Lisboa, o Brasil não aceitou
retornar aos status de colônia, declarando sua independência em 7 de setembro
de 1822.
Após
as guerras, foi instaurado o Congresso de Viena (1814–15) para restaurar as
velhas fronteiras e restabelecer governos que haviam sido depostos, tentando
formar um novo equilíbrio de poder no continente. Este novo balanço garantiu
umas décadas de paz pela Europa entre as nações (mas não internamente, com
revoluções ainda acontecendo). Houve também mais integração política e
econômica, além de novas ondas migratórias. A instabilidade política instigou,
principalmente, a imigração europeia para as Américas, especialmente para os
Estados Unidos,[93] que recebeu mais de 30 milhões de imigrantes europeus entre
1815 e 1914.
Outro
conceito que emergiu do Congresso de Viena foi a noção de uma Europa mais
unificada. Após sua derrota, Napoleão se remoeu com o fato de que sua ideia de
uma "Associação Europeia" pacífica e livre não aconteceu. Contudo, as
guerras Napoleônicas de fato empurraram esta noção para a realidade, trazendo
uma maior padronização entre os países em relação a formas de governo, moedas e
sistemas legais. Mais ou menos um século e meio depois, contudo, a ideia de uma
maior unificação no continente novamente ganhou força e em 1957 foi criada a
União Europeia.
Legado militar
As
Guerras Napoleônicas tiveram um grande impacto militar. Antes de Napoleão, os
países europeus tinham exércitos regulares relativamente pequenos, composto de
soldados nacionais e mercenários. Os militares regulares eram bem
profissionais. Os exércitos dos Antigos Regimes podiam apenas colocar pequenas
quantidades de tropas em campo de uma vez, com uma logística limitada. Assim,
era difícil reunir exércitos maiores que 30 000 homens sob um único comando em
uma batalha.
Napoleão nos campos de Eylau.
|
Contudo,
foi na segunda metade do século XVIII que os visionários militares começaram a
reconhecer o potencial de todo um país em guerra: a chamada "nação em
armas".
A
escala do tamanho dos conflitos na Europa aumentou consideravelmente no período
das guerras revolucionárias francesas e no subsequente conflito na era
Napoleônica. Antes disso, era incomum ver em batalha mais do que 30 000
soldados em cada lado. A inovação francesa de dividir o exército em corpos
(permitindo a um único oficial comandar mais do que 30 000 homens de uma vez) e
também viver da terra (o que permitia aos exércitos convocar mais homens sem
ter que igualmente pedir por mais suprimentos através de reservas e cargas)
permitiu a república francesa a conseguir reunir mais tropas em campo do que
seus tradicionais oponentes. Napoleão subsequentemente assegurou que as
divisões no exército fossem separadas de forma eficiente nos tempos em que a
República operava como um único exército quando ficaram sob seu comando direto,
como imperador, permitindo que ele reunisse um exército maior que os seus oponentes.
Isso forçou seus adversários a reunir tropas cada vez maiores, inovando também,
forçando as tradicionais nações europeias a iniciar conscrições em massa, que
tiveram enormes consequências políticas.
Na
batalha de Marengo, a luta final que encerrou a Guerra da Segunda Coalizão, foi
travada com pelo menos 60 000 homens em cada lado. Na batalha de Austerlitz,
que encerrou a Terceira Coalizão, envolveu mais de 160 000 soldados. Na batalha
de Friedland, que levou a paz com a Rússia, em 1807, envolveu 150 000 homens.
Esses tipos de batalhas, com um número tão grande de combatentes, eram raros em
conflitos anteriores.
Napoleão se retirando da Rússia, em 1812. |
Com
as derrotas sofridas em terra para Napoleão, as potências europeias tiveram de
se renovar e convocaram conscrições em massa para que eles pudessem superar o
exército francês no campo. Já na batalha de Wagram de 1809, cerca de 300 000
soldados se digladiaram. Em Leipzig, pelo menos 500 000 homens lutaram no
geral, sendo que 150 000 terminaram mortos ou feridos.
Durante
as guerras napoleônicas, pelo menos um milhão de soldados franceses foram
mortos ou feridos (ou sofreram alguma invalidez), uma proporção maior para o
país, se comparado com o tamanho da população, do que durante a Primeira Guerra
Mundial. No geral, pelo menos 5 000 000 de soldados europeus foram mortos
(incluindo por doenças).
A
França tinha a segunda maior população da Europa (atrás da Rússia) no fim do
século XVIII com seus 27 milhões de habitantes (comparado com 12 milhões do
Reino Unido e 30 a 40 milhões do Império Russo). Os estrategistas militares
franceses então se aproveitaram do levée en masse (as conscrições em massa).
Antes dos esforços de Napoleão, Lazare Carnot foi um dos líderes na
reorganização dos exércitos franceses de 1793 a 1794. Neste período, a situação
da França nas guerras revolucionárias havia melhorado, com os exércitos
republicanos avançando em todas as frentes.
O
tamanho crescente dos exércitos europeus sinalizava uma mudança nítida na
história militar do continente. Durante os conflitos nos séculos anteriores,
como a Guerra dos Sete Anos (1756–1763), poucos países tinham exércitos superiores
a 200 000 no total, com as nações não conseguindo reunir mais do que 30 000
soldados no campo. Em contraste, o exército francês recrutou, durante a década
de 1790, cerca de 1,5 milhão de homens, apesar de não conseguir manter todos ao
mesmo tempo no serviço ativo. Problemas com suprimentos e doenças impediam que
exércitos grandes fossem postos em campo. Na verdade, a França não tinha
condições financeiras de recrutar grandes quantidades de tropas.
Nas
guerras napoleônicas, cerca de 2,8 milhões de franceses lutaram no solo e
outros 150 000 no mar. Assim, no geral, 3 milhões de cidadãos franceses
serviram nas forças armadas nos vinte e três anos de guerra desde a fundação da
República (em 1792) até a queda do Império (em 1815).
O
Reino Unido tinha 750 000 homens em armas entre 1792 e 1815, uma grande
expansão considerando que eles tinham apenas 40 000 soldados regulares em 1793.
O auge chegou em 1813, quando 250 000 soldados estavam no serviço ativo. No
decorrer desta guerra, pelo menos 250 000 marinheiros serviram na Royal Navy (a
marinha de guerra britânica). Em setembro de 1812, a Rússia tinha mais de 900
000 homens em sua infantaria. Entre 1799 e 1815, cerca de 2,1 milhão de homens
serviram no exército. Outros 200 000 estavam na marinha. Na época, havia uma
discrepância entre o tamanho dos exércitos no papel e a força que os países
realmente podiam colocar em campo. Os russos, por exemplo, tinham uma tropa de
900 000 homens, mas dificilmente poderiam recrutar mais do que 250 000 para
campanhas.
Não
há números consistentes para o tamanho dos exércitos dos outros beligerantes.
No auge do conflito (na Sexta Coalizão), os austríacos tinham pelo menos 576
000 nas forças armadas e praticamente nenhuma marinha. Porém, não conseguiam
reunir mais do que 250 000 em campo. Depois da Grã-Bretanha, a Áustria foi o
inimigo mais persistente da França no decorrer da guerra, com mais de um milhão
de soldados servindo no exército durante o desenrolar do conflito. Seu maior
exército operacional foi uma força homogênea e sólida reunida em 1813 quando
conseguiram colocar 140 000 homens em campo durante campanhas na Alemanha e 90
000 na Itália e nos Bálcãs. Contudo, a Áustria começou a sofrer enormemente
devido a falta de pessoal. Assim, seus generais e oficiais começaram a adotar
táticas mais conservadoras e não tomar tantos riscos, em uma tentativa de
limitar suas perdas.
A
Prússia tinha um dos melhores exércitos da Europa. Contudo, eles não conseguiam
mobilizar mais que 320 000 soldados em um determinado tempo. Entre 1813 e 1815,
enquanto o grosso do seu exército (cerca de 100 000 homens) era de fato
conhecido por sua determinação e competência, o resto não era uma força
estável, composto por milicianos e voluntários de talentos variados. Ainda
assim, a maioria destas tropas se saiam bem e mostravam bravura diante de
situações adversas, mesmo que as vezes faltasse profissionalismo e bons
equipamentos, se comparado aos soldados regulares. Durante as campanhas feitas
em 1813, 130 000 homens estavam envolvidos nas operações militares, sendo 100
000 atuando na Alemanha e os outros 30 000 sendo usados para cercar as
guarnições francesas perto das fronteiras.
Já
a Espanha não conseguia recrutar mais do que 200 000 soldados no exército, além
de 50 000 homens que lutavam nas guerrilhas. Além disso, o Império Otomano, a
Itália, o Reino de Nápoles e o Ducado de Varsóvia não conseguiam reunir e
organizar mais do que 100 000 homens em armas. Ainda assim, países pequenos
pela Europa também podiam recrutar bons exércitos, mas apenas no papel pois na
realidade havia falta de recursos e essas tropas eram, na maioria dos casos, de
qualidade duvidosa. O tamanho e a qualidade das tropas das nações
co-beligerantes, ainda que não muito significativo, era bem-vindo por parte das
potências continentais da Coalizão.
Durante
a invasão da Rússia de 1812, o percentual de tropas de origem francesa que
serviam no Grande Armée de Napoleão era de aproximadamente 50% dos 685 000
soldados recrutados. Os outros aliados do Império Francês forneceram os demais
homens, como as nações da Confederação do Reno, a Polônia, os países que
formavam a península itálica e a Espanha. Quando, entre 1813 e 1814, várias
dessas nações mudaram de lado e passaram a apoiar a Coalizão, eles
providenciaram uma boa ajuda a Coalizão, enquanto privavam Napoleão do seus
muito necessários buchas de canhão.
Inovações
Os
estágios iniciais da Revolução Industrial foram muito ligados as crescentes
necessidades militares para produzir armamentos e outros suprimentos para
tropas cada vez mais crescentes em números. O Reino Unido se tornou o maior
produtor de armas do continente. Esta produção de arsenal foi usado para suprir
as forças da Coalizão no decorrer dos conflitos. A França era a segunda maior
produtora de armamentos, equipando suas tropas e das nações da Confederação do
Reno e seus aliados.
O
próprio Napoleão mostrou tendências inovadoras para o uso da mobilidade de suas
forças para enfrentar problemas como, principalmente, desvantagens numéricas
nos campos de batalha, como ele mostrou nas suas campanhas contra tropas
austro-russas em 1805, especialmente na Batalha de Austerlitz. O exército
francês reorganizou o papel da artilharia, formando grupos móveis e
independentes, ao invés das arcaicas formações militares.
Outras
áreas que afetaram a arte da guerra: melhorias na comunicação entre os comandos
e suas tropas. Uso de aeronaves de vigilância quando os franceses usaram balões
de ar para espiar em posições de tropas da Coalizão e guiar a artilharia, sendo
usado pela primeira vez na batalha de Fleurus, de junho de 1794.
Guerra total
Historiadores
discutem como as Guerras Napoleônicas se tornaram guerras totais. A maioria dos
acadêmicos apontam que o aumento de tamanho e intensidade do conflito vem de
duas fontes. A primeira era o choque ideológico entre os ideais
revolucionários/igualitários e o sistema conservador/hierárquico. A segunda é o
aumento do nacionalismo na França, Alemanha, Espanha e em outros países que fez
deste conflito a "guerra do povo" ao invés de confrontos entre
monarcas. O historiador David Bell argumenta que mais importante que ideologia
ou nacionalismo, foi a transformação intelectual na cultura da guerra, que veio
do Iluminismo. Um fator, ele diz, é que a guerra já não era mais um evento
rotineiro, mas sim uma experiência transformadora para a sociedade. Em segundo
lugar, os militares emergiram em seu próprio direito como uma esfera separada
da sociedade, se distanciando do ordinário mundo civil. A Revolução Francesa
fez de cada cidadão parte da máquina de guerra nacional, desde um soldado
conscrito, até uma peça vital do maquinário apoiando a luta de casa, dando
suprimentos ao exército (trabalhando nas indústrias e fazendas). Assim, segundo
Bell, surgiu a ideia de "militarismo", a crença de que os membros das
forças armadas tem um papel moralmente superior ao de um civil em tempos de
crise. O exército se tornou a essência da alma da nação. Como o próprio
Napoleão uma vez proclamou, "é o soldado que fundou a República e é o
soldado que a mantém".