O Taj Mahal é um mausoléu situado em Agra,
na Índia, sendo o mais conhecido dos monumentos do país. Encontra-se
classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Foi recentemente
anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo em uma celebração em
Lisboa no dia 7 de Julho de 2007.
A
obra foi feita entre 1632 e 1653 com a força de cerca de 20 mil homens,
trazidos de várias cidades do Oriente, para trabalhar no suntuoso monumento de
mármore branco que o imperador Shah
Jahan mandou construir em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu
Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal
("A joia do palácio"). Ela morreu após dar à luz o 14º filho,
tendo o Taj Mahal sido construído sobre seu túmulo, junto ao rio Yamuna.Mumtaz Mahal |
Supõe-se
que o imperador pretendesse fazer uma réplica do Taj Mahal original na outra
margem do rio, em mármore preto, mas acabou morto antes do início das obras por
um de seus filhos.
Origem e inspiração
O
imperador Shah Jahan foi um prolífero mecenas, com recursos praticamente
ilimitados. Sob a sua tutela construíram-se os palácios e jardins de Shalimar
em Lahore, também em honra da sua esposa.
Mumtaz
Mahal deu ao seu esposo 14 filhos, mas faleceu no último parto e o imperador,
desolado, iniciou quase de seguida a construção do Taj como oferta póstuma.
Todos os pormenores do edifício mostram a sua natureza romântica e o conjunto
promove uma estética esplêndida. Aproveitando uma visita realizada em 1663, o
explorador francês François Bernier realizou o seguinte retrato do Taj Mahal e
dos motivos do imperador que levaram à sua edificação:
“[...]
Completarei esta carta com uma descrição dos maravilhosos mausoléus que
outorgam total superioridade a Agra sobre Deli. Um destes foi erigido por
Jehan-guyre em honra do seu pai Ekbar, e Shah Jahan construiu outro de
extraordinária e celebrada beleza, em memória da sua esposa Tage Mehale, de
quem de diz que o seu esposo estava tão apaixonado que lhe foi fiel toda a sua
vida e, após a sua morte, ficou tão afectado que não tardou em segui-la para a
morte. “
—
A
pouco tempo do término da obra em 1657, Shah Jahan adoeceu gravemente e o seu
filho Shah Shuja declarou-se imperador em Bengala, enquanto Murad, com o apoio
do seu irmão Aurangzeb, fazia o mesmo em Gujarat. Quando Shah Jahan, caído
doente no seu leito, se rendeu aos ataques dos seus filhos, Aurangzeb
permitiu-lhe continuar a viver exilado no forte de Agra. A lenda conta que
passou o resto dos seus dias observando pela janela o Taj Mahal e, depois da
sua morte em 1666, Aurangzeb sepultou-o no mausoléu lado a lado com a esposa,
gerando a única ruptura da perfeita simetria do conjunto.
Em
finais do século XIX vários sectores do Taj Mahal estavam muito deteriorados
por falta de manutenção e durante a época da rebelião hindu, em 1857, foi
arrestado por soldados britânicos e oficiais do governo, que lhes arrancavam as
pedras embutidas nas paredes e o lápis-lazúli dos seus muros. Em 1908
completou-se a restauração ordenada pelo vice-rei britânico, Lord Curzon, que
também incluiu o grande candelabro da câmara interior segundo o modelo de um
similar que se encontrava numa mesquita no Cairo. Curzon ordenou a remodelação
dos jardins ao estilo inglês que ainda hoje se conservam.
Durante
o século XX melhorou o cuidado com o monumento. Em 1942 o governo construiu um
andaime gigantesco cobrindo a cúpula, prevendo um ataque aéreo da Luftwaffe e,
posteriormente, da força aérea japonesa. Esta protecção voltou a erguer-se
durante as guerras indo-paquistanesas, de 1965 a 1971. As ameaças mais recentes
provêm da poluição ambiental nas ribeiras do rio Yamuna e da chuva ácida
causada pela refinaria de Mathura. Ambos os problemas são objecto de vários
recursos ante a Corte Suprema da Justiça da Índia.
Em
1993, foi eleito como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, e é hoje um
importante destino turístico. Recentemente, alguns sectores sunitas reclamaram
para si a propriedade do edifício, baseando-se de que se trata do mausoléu de
uma mulher desposada por um membro deste culto islâmico. O governo indiano
rejeitou a reclamação considerando-a mal-fundamentada, já que o Taj Mahal é
propriedade de toda a nação indiana.
Desenho
Elementos formais
Os
elementos formais e decorativos são empregues repetida e consistentemente por
todo o complexo, unificando o vocabulário estético. As principais
características do mausoléu refletem-se no resto da construção:
1 Finial:
remate ornamentado das cúpulas usado nos pagode asiáticos igualmente.
2. Decorações de lótus: esquemas cujo motivo é a flor de lótus, esculpidos nas cúpulas.
3. Amrud: Cúpula em forma de cebola, típica na arquitectura islâmica e que, mais tarde, seria usada na Rússia.
4. Tambor: base cilíndrica da cúpula, que serve de apoio e transição formal sobre o resto do edifício.
5. Guldasta: agulha decorativa fixa no rebordo das balaustradas.
6. Chattri: galeria de colunas e cúpula, utilizado principalmente em monumentos de carisma comemorativo.
7. Cenefas: painéis esculpidos sobre as arcadas.
8. Caligrafia: escritura estilizada de versos do Corão sobre as arcadas principais
9. Arcadas ou portais: também denominados pishtaq (palavra persa para os portais).
10. Dados: painéis decorativos sobrepostos às parede da fachada frontal do edifício.
2. Decorações de lótus: esquemas cujo motivo é a flor de lótus, esculpidos nas cúpulas.
3. Amrud: Cúpula em forma de cebola, típica na arquitectura islâmica e que, mais tarde, seria usada na Rússia.
4. Tambor: base cilíndrica da cúpula, que serve de apoio e transição formal sobre o resto do edifício.
5. Guldasta: agulha decorativa fixa no rebordo das balaustradas.
6. Chattri: galeria de colunas e cúpula, utilizado principalmente em monumentos de carisma comemorativo.
7. Cenefas: painéis esculpidos sobre as arcadas.
8. Caligrafia: escritura estilizada de versos do Corão sobre as arcadas principais
9. Arcadas ou portais: também denominados pishtaq (palavra persa para os portais).
10. Dados: painéis decorativos sobrepostos às parede da fachada frontal do edifício.
Influências
O
Taj Mahal incorpora e amplia as tradições idílicas do Islão, da Pérsia, da
Índia e da arquitectura mogol antiga.
O
desenho geral do projecto inspirou-se numa série de edifícios mogóis, entre os
quais a tumba de Itmad-Ud-Daulah e a Jama Masjid, em Deli. Sob o mecenato de
Shah Jahan, a arquitectura mogol alcançou novos níveis de refinamento. Antes do
Taj Mahal era habitual edificar com pedra vermelha, mas o imperador promoveu o
uso de mármore branco com incrustações de pedras semipreciosas.
Os
artesãos indianos, especialmente escultores e decoradores, percorriam os países
asiáticos durante esta época e o seu trabalho era particularmente apreciado
pelos construtores de mausoléus. A arquitectura palaciana mogol, aplicada
noutros edifícios indianos (como o palácio Man Sing, em Galore), foi a grande
fonte inspiradora dos chattris que se vêem no Taj Mahal.
Simetria
O
conjunto do Taj Mahal, com a sua fachada principal perpendicular a uma ribeira
do Yamuna, foi construído com os seguintes elementos arquitectónicos:
1.
Portal
de acesso
2.
Tumbas
secundárias
3.
Pátios
4.
Pátio
(esplanada) de acesso principal
5.
Darwaza
ou forte de acesso
6.
Jabaz
7.
Mesquita
8.
Mausoléu
9.
Minaretes
No
centro, os amplos jardins divididos em quadrados, organizam-se mediante a cruz
formada pelos canais. A superfície da água reflete os edifícios, produzindo um
efeito adicional de simetria.
Os jardins
O
complexo encontra-se rodeado de um grande chahar bagh que mede 320 x 300 metros
e inclui canteiros de flores, caminhos elevados, avenidas de árvores, fontes,
cursos de água, e pilares que refletem a imagem dos edifícios na água.
Cada
secção do jardim é dividida por caminhos em 16 canteiros de flores, com um
tanque central de mármore a meio caminho entre a entrada e o mausoléu, que
devolve a imagem refletida do edifício.
O
chahar bagh foi introduzido na Índia por Babur, o primeiro imperador Mogol,
segundo um desenho inspirado na tradição persa a fim de representar os jardins
do paraíso. Nos textos místicos do Islão no período Mogol, o paraíso é descrito
como um jardim ideal, pleno de abundância. A água tem um papel-chave nestas
descrições, já que se referem quatro rios que surgem de uma fonte central,
constituída por montanhas, que dividem o Éden em quatro partes segundo os
pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste).
A
maioria destes jardins mogóis são de forma rectangular, com um pavilhão
central. O Taj Mahal é invulgar neste sentido, já que situa o edifício
principal, o mausoléu, num dos extremos. Mas a recente descoberta da existência
do "Mahtab bagh" (Jardim da Lua) na ribeira oposta do rio Yamuna
permite uma interpretação distinta, incorporando o vale no desenho global de
tal forma que se converta em um dos rios do paraíso.
O
traçado dos jardins e as características arquitectónicas principais, como as
fontes, caminhos de mármore e azulejo, e canteiros lineares do mesmo material —
similares ao jardim de Shalimar — sugerem que podem ter sido desenhados pelo
mesmo engenheiro, Ali Mardan.
As
descrições mais antigas do jardim mencionam sua profunda vegetação, com
abundância de rosas, narcisos e árvores frutíferas. Com a declinação do império
Mogol também decresceu o mantimento, e quando os britânicos assumem o controle
do Taj Mahal, introduzem modificações paisagísticas para refletir melhor o
estilo dos jardins de Londres.
No
entanto, os visitantes poderão admirar-se ao ver os jardineiros cortar a relva
com uma máquina puxada por bois.
Edifícios secundários
Darwaza de acesso ao Taj Mahal |
Do
lado interior os muros completam-se com uma colunata coroada por vários arco,
característica comum nos templos hindus, incorporada nas mesquitas mogóis. A
distâncias fixas incluem-se os chattris e outras pequenas construções que podem
ter sido utilizadas como miradouros, incluindo a que atualmente se chama «Casa
da Música», utilizada como museu.
A
entrada principal, a "darwaza", é um edifício monumental construído
também em pedra vermelha. O estilo recorda a arquitetura Mogol e os primeiros
imperadores. As suas arcadas repetem as formas do mausoléu, e incorporam a
mesma caligrafia decorativa. Se utilizam decorações florais em baixo-relevo e
incrustações. As paredes e os tetos abobadado apresentam elaborados desenhos
geométricos, similares aos que existem em outros edifícios do complexo.
Originalmente a entrada fechava-se com duas grandes portas de prata, que foram
desmontadas e fundidas pelos jats em 1764.
No
extremo do complexo erguem-se dois grandes edifícios laterais ao mausoléu,
paralelos aos muros leste e oeste. Ambos são fiéis ao reflexo um do outro. O
edifício ocidental é uma mesquita e o seu oposto é o, cujo sentido original era
balancear a composição arquitetônica e crê-se que foi usado como hospedaria. As
diferenças consistem em que o jawab não tem minarete e os seus pisos apresentam
desenhos geométricos, enquanto os da mesquita estão decorados com um desenho em
mármore negro que marca a posição das tapeçarias para a oração de 569 fiéis.
O masjid, a mesquita |
O mausoléu
O
foco visual do Taj Mahal, ainda que não se localize no centro do conjunto, é o
mausoléu de mármore branco. Como a maioria dos edifícios funerários mogóis, os
elementos básicos são de origem persa. Um edifício simétrico com um iwan e
coroado por uma grande cúpula.
O Iwan principal do mausoléu |
A
base é essencialmente um cubo com vértices cortados, de 55 metros de lado.
Sobre cada lado, uma grande pishtaq ou arcada rodeia o iwan, com um nível
superior similar de balcões. Estes arco principais elevam-se até ao teto da
base, gerando uma fachada integrada.
A
cada lado da arcada principal, há arcadas menores em cima e em baixo. Este
motivo repete-se nas esquinas. O projeto é completamente uniforme e consistente
nos quatro lados da base. Em cada esquina do pedestal base, um minarete
complementa o conjunto.
A
cúpula de mármore branco sobre o mausoléu é visivelmente o mais espetacular
elemento do conjunto. A sua altura é quase igual à da base, em torno de 35
metros, dimensão que se acentua por estar apoiada num tambor circular de sete
metros de altura.
Base, cúpula e minarete |
A
figura central mostra um forte parecido com o kalash ou kumbh, o barco sagrado
da tradição hindu. A forma da cúpula enfatiza-se também pelos quatro chattris
em cada esquina. As cúpulas destes replicam a forma da central. As suas bases
decoradas com colunas abrem através do teto do mausoléu um espaço para a
entrada de luz natural no interior do espaço fechado. Os chattris também estão
rematados por finiais.
Nas
parede laterais, as estilizadas espirais decoradas em relevo ajudam a aumentar
a sensação de altura do edifício, e repetem-se os motivos de lótus ao longo
desta e das restantes, assim como em todos os chattris.
Em
cada esquina do pedestal eleva-se um minarete: quatro grandes torres de mais de
40 m de altura que novamente mostram a atração do Taj pelo desenho simétrico e
repetitivo, criando em parte vários padrões. As torres estão desenhadas como
minaretes funcionais, elemento tradicional das mesquitas onde o almuadem chama
os fiéis islâmicos à oração. Cada minarete está dividido em três partes iguais
por dois balcões que o rodeiam com anéis. No topo da torre, um terraço coberto
por um chattri repete o desenho do mausoléu.
Estes
chattris têm todos os mesmos detalhes de acabamento: o desenho de flor de lótus
e o finial dourado sobre a cúpula. Cada minarete foi construído levemente
inclinado para fora do conjunto. Desta maneira, em caso de queda, algo não tão
improvável nesse tempo para construções de semelhante altura, o material iria
cair longe do templo.
Decoração
Exterior
Detalhe da cúpula do mausoléu. |
·
Caligrafia;
·
Elementos
geométricos abstratos;
·
Motivos
vegetais;
Estas
decorações efetuaram-se com três técnicas diferentes:
· Pintura ou estuque aplicado sobre as paredes;
· Pintura ou estuque aplicado sobre as paredes;
·
Incrustação
de pedras e esculturas
Caligrafia
Caligrafia sobre o grande portal de acesso ao mausoléu. |
A
letras estão incrustadas com quartzo opaco sobre os painéis de mármore branco.
Alguns dos trabalhos são extremamente detalhados e delicados, especialmente os
que se encontram no mármore dos cenotáfios da tumba. Os painéis superiores
estão escritos com caligrafia proporcionada para compensar a distorção visual
ao observá-los desde baixo.
Estudos
recentes sugerem que foi também Amanat Khan quem selecionou as passagens do
Corão. Os textos referem em geral temas de justiças, de inferno para os
incrédulos e de promessa de paraíso para os fiéis. Entre as principais
passagens, incluem-se as seguintes suras: 91 (o sol) , 112 (pureza da fé) , 89
(descanso diário) , 93 (luz da manhã), 95 (as figueiras), 94 (a abertura), 36
(Ya Sin) , 81 (a escuridão), 84 (a ferida), 98 (a evidência), 67 (o domínio) ,
48 (a vitória), 77 (os enviados) e 39 (os grupos).
Decoração geométrica abstrata
As
formas de arte abstratas são utilizadas especialmente no pedestal do mausoléu,
nos minaretes, na mesquita, no jawab, e também em superfícies menores do
templo. As cúpulas e abóbadas dos edifícios de pedra estão trabalhadas com
traceria. As cúpulas e abóbadas dos edifícios de pedra estão trabalhadas com
traceria para criar elaboradas formas geométricas.
Decoração geométrica: «espinha de peixe». |
O
chão está coberto por mosaicos de cores e formas distintas combinados em padrões
geométricos diferentes.
A
técnica da incrustação sobre as placas de mármore apresenta tal perfeição que
as juntas entre as pedras e gemas incrustadas apenas se distinguem com uma
lente de aumento, uma lupa. Uma flor, de apenas sete centímetros quadrados, tem
60 incrustações ou marchetarias diferentes, que oferecem ao teto uma superfície
irregular.
Motivos vegetais
Motivos vegetais: detalhe do painel junto a um arco. |
Interior
A
sala central do Taj Mahal apresenta uma decoração que vai para além das
técnicas tradicionais, e aparenta com formas mais elevadas da arte manual, como
a ourivesaria e a joalharia. Aqui o material usado para as incrustações já não
é mármore ou jade, mas sim gemas preciosas e semipreciosas. Cada elemento
decorativo do exterior foi redefinido mediante a forma das joias. A sala
principal contém ainda os cenotáfios de Mumtaz e Shah Jahan, obras-primas de
artesanato, sem precedentes na época.
A
forma da sala é octogonal e ainda que o desenho permita ingressar por qualquer
dos lados, só a porta sul, em direção aos jardins é usada habitualmente. As
paredes interiores têm aproximadamente 25 metros de altura, sobre as quais se
construiu uma falsa cúpula interior decorada com motivos solares. Oito arco
definem o espaço a nível do solo. Similar ao que se sucede no exterior, a cada
meio arco sobrepõe-se um segundo a meia altura na parede. Os quatro arcos
centrais superiores formam balcões com miradouros para o exterior. Cada janela
deste balcões leva um intrincado trabalho de mármore, o o jali. Além da luz
proveniente dos balcões, a iluminação complementa-se com a que ingressa através
dos chattris em cada esquina da cúpula exterior.
Cada
uma das paredes da sala foi detalhadamente decorada com frisos em baixo-relevo,
intrincadas incrustações de pedraria e refinados painéis de caligrafia,
refletindo inclusivamente o nível minimalista do complexo. Com estes elementos,
cria-se uma espécie de ligação ou fusão simétrica do espaço interior e
exterior, numa linha decorativa que permite que contatem diretamente os dois
espaços do complexo funerário.
A
tradição muçulmana proíbe a decoração elaborada das campas, pelo que os corpos
de Mumtaz e Shah Jahan descansam numa câmara relativamente simples debaixo da
sala principal do Taj Mahal. Estão sepultados segundo um eixo norte-sul, com os
rostos inclinados para a direita, em direção a Meca.
Todo
o Taj Mahal se centra em redor dos cenotáfios que duplicam em forma exata a
posição das duas campas e são cópia idêntica das pedras do sepulcro inferior.
Os cenotáfios, as campas vazias. |
O cenotáfio de Shah Jahan está junto ao de Mumtaz, formando a única disposição assimétrica de todo o complexo. É maior que o da sua esposa, mas contém os mesmos elementos: uma grande urna com base alta, também decorada com maravilhosa precisão mediante incrustações e caligrafia identificadora. Sobre a tampa da urna existe uma escultura de uma pequena caixa de penas de escrever.
Placas do cenotáfio, em mármore talhado e com incrustações de pedras preciosas. |
A
construção do Taj Mahal iniciou-se com a fundação do mausoléu. Escavou-se e
formou-se com os escombros uma superfície de aproximadamente 12.000 m² para
reduzir o risco de infiltrações do rio. Toda a área foi levantada a uma altura
de quase 15 metros sobre o nível da ribeira. O Taj Mahal tem uma altura
aproximada de 60 metros e a cúpula principal mede 20 metros de diâmetro e 25 de
altura.
Na
zona do mausoléu cavaram-se poços até encontrar água e preencheram-se com pedra
formando as bases da fundação. Deixou-se um poço aberto em torno do edifício
para monitorizar as mudanças do nível da água subterrânea.
Ao
invés da utilização de andaimes de bambu, comuns na época, os trabalhadores
construíram colossais andaimes de ladrilho por fora e por dentro das parede do
mausoléu. Estes andaimes eram tão grandes, que muitos estimam anos como o tempo
que se demorou a desmantelá-los. De acordo com a lenda, Shah Jahan decretou que
qualquer um poderia levar os ladrilhos e, em consequência, muitos foram
levados, pela noite, pelos camponeses locais.
Para
transportar o mármore e outros materiais desde Agra até ao local da edificação,
construiu-se uma rampa de terra de 15 km de comprimento. De acordo com os
registos da época, para o transporte dos grandes blocos utilizaram-se carreiras
especialmente construídas, tiradas por carros de vinte ou trinta bois.
Para
colocar os blocos em posição foi necessário um elaborado sistema de roldanas
montadas sobre postes e vigas de madeira, e a força de juntas de bois e mulas.
A
sequência construtiva foi:
. A
base ou pedestal;
2.
O
mausoléu com a sua cúpula;
3.
Os
quatro minaretes;
4.
A
mesquita e o jawab;
5.
O
forte de acesso;
O
pedestal e o mausoléu consumiram doze anos de construção. As restantes partes
do complexo tomaram mais dez anos. Como o conjunto foi construído por etapas,
os historiadores da época informam diferentes datas de «término», a causa
possivelmente de opiniões divergentes sobre a definição da palavra «término».
Por exemplo, o mausoléu em si foi completado em 1643, mas o trabalho continuou
no resto do complexo.
Infraestrutura hidráulica
A
água para o Taj Mahal provinha de uma complexa infraestrutura que incluía
séries de purs, movidos por animais, que levavam a água a grandes cisternas,
onde, mediante mecanismos similares, se elevava a um grande tanque de
distribuição erguido sobre a planta baixa do mausoléu.
Do
tanque principal de distribuição, a água passava por três tanques subsidiários,
desde os quais se conduzia a todo o complexo. A uma profundidade de 1,50
metros, corre a conduta de barro que completa o sistema de rega dos jardins.
Outros canos em cobre alimentam as fontes no canal norte-sul, e escavaram canas
secundários para regar o resto do jardim. As fontes não se conectaram de forma direta
com os tubos de alimentação, mas sim a um tanque intermediário de cobre debaixo
de cada saída, com o fim de igualar a pressão em todas.
Os
purs não se conservaram, mas sim o resto das instalações.
Artesãos e construtores
O
Taj Mahal não foi projetado por uma só pessoa, mas exigiu talento de várias
origens. Os nomes dos construtores das diversas especialidades que participaram
na obra chegaram aos nossos dias através de diversas fontes.
Dos
discípulos do grande arquiteto otomano Koca Mimar Sinan Agha, Ustad Isa e Isa
Muhammad Effendi, tiveram um papel-chave no desenho do complexo. Alguns textos
em idioma persa mencionam Puru de Benarus como arquiteto supervisor.
A
cúpula principal foi desenhada por Ismail Khan do Império Otomano, considerado
o primeiro arquiteto e construtor de cúpulas daquela época. Qazim Khan, um
nativo de Lahore, moldou o finial de ouro maciço que coroa a cúpula principal.
Chiranjilal, um artesão de Deli, foi o escultor chefe e responsável pelos
mosaicos. Amanat Khan de Shiraz, Pérsia), foi o responsável da caligrafia
Muhammad Hanif foi o capataz dos artistas pedreiros, que produziram aí a arte
de trabalhar a pedra. Mir Abdul Karim e Mukkarimat Khan de Shiraz, Pérsia,
supervisionaram as finanças e a gestão da produção diária.
O
grupo de artistas incluindo escultores de Bucara, calígrafos da Síria e Pérsia,
mestres em incrustação do sul da Índia, cortadores de pedra de Baluchistão, um
especialista em construir torres, outro que gravava flores sobre os mármores,
completando um total de 37 artesãos principais. Esta equipe diretriz esteve
acompanhada por uma força laboral superior a 20.000 trabalhadores recrutados em
todo o norte da Índia.
Os
cronistas europeus, especialmente durante o primeiro período do Raj britânico,
sugeriram que alguns dos trabalhos do Taj Mahal tinham sido obra de artesãos
europeus. A maioria destas suposições eram puramente especulativas, mas uma
referência de 1640, segundo a carta de um frade espanhol que visitou Agra,
menciona que Geronimo Veroneo, um aventureiro italiano na corte de Shah Jahan,
foi o responsável principal do desenho. Não há prova científica demonstrável
para provar esta afirmação, nem se citou nenhum Veroneo nos documentos
relativos à obra que ainda se conservam. E.B. Havell, o principal investigador
britânico de arte indiana no último Raj descartou esta teoria por não se
encontrar evidência alguma e por resultar inconsistente com os métodos
empregados pelos desenhistas.
Em
agosto de 2004 funcionários da organização Pesquisa Arqueológica da Índia, de
Nova Délhi, anunciaram a descoberta dos nomes de 671 pessoas envolvidas na
construção, divididos por funções, como "construtor de cúpula" e
"jardineiro". Os nomes estavam gravados numa parede soterrada, e
estavam nos idiomas urdu, árabe e persa, confirmando a liderança da construção
por Ahmad Lahori (um dos nomes descobertos).
Materiais
O
principal material empregado para a construção é o mármore branco trazido em
carros puxados por bois, búfalos, elefantes e camelos desde as pedreiras de
Makrana, no Rajastão, situadas a mais de 300 km de distância.
O
segundo material mais utilizado é a pedra arenisca rochosa, empregada na
construção da maioria dos palácios e fortes muçulmanos anteriores à era de Shah
Jahan. Este material foi utilizado em combinação com o mármore negro, nas
muralhas, no acesso principal, na mesquita e no jawab.
O
Taj Mahal inclui, aliás, outros materiais trazidos de toda a Ásia. Mais 1.000
elefantes transportaram materiais de construção dos confins do continente. O
jaspe foi importado do Punjab, e o cristal e o jade, da China.
Do
Tibete trouxeram-se turquesas e do Afeganistão o lápis-lazúli, enquanto as
safiras provinham de Ceilão e os quartzos da Península arábica. No total
utilizaram-se 28 tipos de gemas e pedras semipreciosas para fazer as
incrustações no mármore.
Custo
O
custo total da construção do Taj Mahal é estimado em 50 milhões de rupias
indianas. Naquele tempo, um grama de ouro tinha valor aproximado de 1,40
rupias, de modo que segundo a cotação atual, a soma poderia significar por
volta de quinhentos milhões de dólares estado-unidenses. Deve ser levado em
conta, que qualquer comparação baseada no valor do ouro entre distintas épocas
resulta em valores inexatos.
Lendas e hipóteses
Origem do nome
Taj
Mahal significa "Coroa de Mahal".
A
palavra "Taj" provém do persa, linguagem da corte mogol, e significa
"Coroa", enquanto que "Mahal" é uma variante curta de
Mumtaz Mahal, o nome formal na corte de Arjumand Banu Begum, cujo significado é
"Primeira dama do palácio". Taj Mahal, então, refere-se à "coroa
de Mahal", a amada esposa de Shah Jahan. Já em 1663 o viajante francês
François Bernier mencionou o edifício como "Tage Mehale".
O Taj Negro
Uma
lenda afirma que se previu construir um mausoléu idêntico na margem oposta do
rio Yamuna, substituindo o mármore branco por negro. A lenda sugere que Shah
Jahan foi destronado por seu filho Aurangzeb antes de que a versão negra fosse
edificada, e que os restos de mármore negro que são encontrados no rio são as
bases inacabadas do segundo mausoléu.
Estudos
recentes desmentem parcialmente esta hipótese e projetam novas luzes sobre o
desenho do Taj Mahal. Todos os restantes grandes túmulos mogóis situavam-se em
jardins formando uma cruz, com o mausoléu no centro. O Taj Mahal, pelo
contrário, está disposto em forma de um grande "T" com o mausoléu num
extremo. O rastro das ruínas na margem oposta do rio estende o desenho até
formar um esquema de cruz, em que o próprio rio se converteria em canal central
de um grande chahar bagh. A cor negra parece ser produto da ação do tempo sobre
o mármore brancos originalmente abandonados no local. Os arqueólogos chamaram a
este segundo e nunca construído Taj como "Mahtab Bagh", ou seja,
"Jardim da Luz da Lua".
O
programa do History Channel sobre o Taj Mahal especula que o Taj Negro seria a
imagem do Taj Mahal refletido na água.
O túmulo assimétrico de Shah
Jahan
De notar que o cenotáfio de Shah Jahan está deslocado do centro, como foi colocado na sua morte. |
O
filho de Shah Jahan era um homem piedoso, e o Islão evita todo o tipo de
ostentação, especialmente no aspecto funerário. Assim, em lugar de utilizar um
ataúde, era normal usar simplesmente um sudário para sepultar os mortos.
Os
livros islâmicos descrevem a sepultura em ataúdes como "um gasto inútil,
que poderia ser melhor utilizado para alimentar o faminto ou ajudar o
necessitado". Segundo a visão de Aurangzeb, construir um mausoléu novo
para Shah Jahan teria sido um desperdício. Por isso sepultou o seu pai junto a
Mumtaz Mahal sem mais complicações.
Mutilação dos trabalhadores
Um
sem-fim de histórias descrevem, muitas vezes com detalhes horripilantes, a
morte, desmembramento e mutilação que Shah Jahan teria infligido a vários
artesãos relacionados com a construção do mausoléu. Talvez a história mais
repetida é a de que como o imperador teve à sua disposição os melhores
arquitetos e decoradores, depois de completar o seu trabalho fazia-os cegar e
cortar as mãos para que não pudessem voltar a construir um monumento que
igualasse a superioridade do Taj Mahal. Nenhuma referência respeitável permite
assegurar estas hipóteses, na qual alguns creem, por outro lado, que fosse uma
prática bastante comum em relação a alguns grandes monumentos da Antiguidade.
Elementos
desaparecidos
São
várias as lendas em relação a muitos elementos roubados pertencentes ao Taj
Mahal. Alguns foram deteriorados pelo tempo, mas muitos dos supostos elementos
em falta são apenas lendas.
Entre
as falsas perdas mais difundidas, destacam-se:
As
folhas de ouro, que supostamente cobriam toda a parte da cúpula principal.
A
Varanda dourada, que teria rodeado os cenotáfios, possivelmente por confusão
com os limites provisórios colocados e logo substituídos ao terminar as
cantarias de mármore.
Os
diamantes, supostamente incrustados nos cenotáfios.
O
tecido de pérolas, que segundo alguns cobria o cenotáfio de Mumtaz.
Outros
elementos perderam-se ao longo do tempo, entre eles:
·
Os
portões de prata do forte de acesso.
·
As
folhas douradas que cobriam as juntas metálicas das cantarias de mármore em
torno dos cenotáfios.
·
Numerosas
tapeçarias que cobriam os interiores do mausoléu.
·
As
lâmpadas esmaltadas do interior.
Plano britânico para demolir o
Taj Mahal
Uma
historia frequentemente repetida narra que Lord William Bentinck (governador da
Índia na década de 1830) pensou em demolir o Taj Mahal e vender o mármore. Em
algumas versões do mito, a demolição esteve iminente, mas não começou porque
Bentinck foi incapaz de criar uma projeto viável do ponto de vista financeiro.
Não há provas da época sobre tal plano, que pode ter sido difundido no final do
século XIX quando Bentinck era criticado por seu insistente utilitarismo e Lord
Curzon enfatizava a negligência em que haviam incorrido os anteriores
responsáveis do monumento, apresentando-se a si mesmo como um salvador do
património indiano.
De
acordo com John Rosselli, biógrafo de Bentinck, a história foi criada a partir
de outros acontecimentos, de tipo diferente: a venda de mármore proveniente do
forte de Agra e a de um famoso embora obsoleto canhão, em ambos casos com fins
de beneficência.
O templo de Shiva
O
presidente do instituto revisionista indiano, P.N. Oak, tem afirmado
repetidamente que o Taj Mahal foi na realidade um templo hindu dedicado ao deus
Shiva, usurpado e remodelado por Shah Jahan. Segundo ele, o nome original do
templo era "Tejo Mahalaya", que logo passou a "Taj Mahal"
mediante corrupção fonética.
Oak
assegura também que os túmulos de Humayun, Akbar e Itimiad-u-Dallah, tal como a
cidade do Vaticano em Roma, a Kaaba em Meca, Stonehenge, e "todos os
edifícios históricos" na Índia, foram templos ou palácios hindus.
O
Taj é apenas uma mostra típica de como todos os edifícios históricos de origem
hindu desde Caxemira ao Cabo Comorim, têm sido atribuídos a este ou aquele
governo muçulmano.
Em
seguida assegurou que o Taj "não era" um templo de Shiva, mas que
poderia ter sido o palácio de um rei do Rajput. De qualquer modo mantinha a sua
acusação de que o monumento era de origem indiana, roubado por Shah Jahan e
adaptado como túmulo. Oak assegurava que Mumtaz não estava sepultada ali. Disse
também que os numerosos testemunhos da época relativos à construção do Taj
Mahal, incluindo os volumosos registos financeiros de Shah Jahan e das suas
directivas sobre a obra eram fraudes elaboradas para ocultar a origem hindu.
Estas
provocantes acusações fizeram que Oak fosse conhecido pelo público através dos
media. Chegaram a iniciar-se demandas judiciais para conseguir a abertura dos
cenotáfios e a demolição por parte da alvenaria do primeiro piso, já que nesses
"falsos túmulos" e em "salas seladas" se ocultariam vários
elementos correspondentes ao Shivalingam ou outro monumento.
As
acusações de Oak não são aceites pelos especialistas, mas estes mitos têm sido
igualmente utilizados por vários activistas do nacionalismo hindu.
Em
2000 a Supremo Tribunal de Justiça indeferiu as petições de Oak relativas à
declaração de origem hindu do Taj Mahal, e condenou-o a pagar os custos
judiciais. De acordo com Oak, a rejeição pelo governo indiano da sua petição é
parte de uma conspiração contra o hinduísmo.
Cinco
anos depois, o tribunal de Allahabad rejeitou uma petição similar, neste caso
interposta por Amar Nath Misrah, um pregador que assegura que o Taj Mahal foi
construído pelo rei hindu Parmar Dev em 1196.
Visões do Taj Mahal
Ao
longo dos séculos o Taj Mahal inspirou a prosa de viajantes, escritores, e
outras personalidades de todo o mundo, colocando em relevo a grande carga
emocional que representa o monumento:
‘Apesar dos seus adornos severos,
puramente geométricos, o Taj Mahal flutua. Na cúpula, a imensa cúpula, há algo
levemente excessivo, algo que todo o mundo sente, algo doloroso. Documenta a
mesma irrealidade. Porque a cor branca não é real, não pesa, não é sólida.
Falso abaixo do Sol, falso na claridade da Lua, espécie de pez prateado
construído pelo homem com uma ternura nervosa.’
—
Henri Michaux
‘O Taj Mahal parece a encarnação
de todas as coisas puras, de todas as coisas sagradas e de todas as coisas
infelizes. Este é o mistério de edifício.’
—
Rudyard Kipling
‘Uma lágrima no limiar dos
tempos.’
—
Rabindranath Tagore